Analógico

Pequena enciclopédia dos metroidvanias — Parte 2: categorias e listas com mais de 150 jogos

Apresentamos alguns dos principais tipos e listas transbordando de metroidvanias.


Na primeira parte desta pequena enciclopédia dos metroidvanias, vimos que gênero é um conceito relativo que serve mais para descrever e fornecer reconhecimento do que para definir fronteiras claras. Em seguida, abordamos um pouco da história e as principais características desse estilo de jogos tão prolífico na atualidade.

Nesta segunda e última parte, o assunto será as listas de metroidvanias sob diversas categorias. Não, a intenção não é classificar todos os jogos em vários tipos, mas apontar alguns conceitos que já fazem parte desse nicho cultural dos jogos e, por fim, apresentar um grande número de títulos já lançados e outros apenas anunciados.

Vale destacar que não pretendo separá-los entre “metroidlike” e “castlevanialike” porque essa não é uma divisão integrada ao senso comum do ecossistema em questão. Talvez seja uma conceituação desnecessária por ser redutiva: jogos de ficção científica espacial com alienígenas e armas de fogo seriam aparentados a Metroid, enquanto os de fantasia com castelos, magia e combate corpo a corpo seriam rebentos de Castlevania.
Prince of Persia: The Lost Crown
Não vale a pena tentar fazer uma organização com rótulos tão amplos e diretos. Como vimos antes, ser metroidvania significa mais do que ser um clone dessas duas séries. Com o tempo, tentarei atualizar as informações para deixar a lista mais completa com ano de lançamento, plataformas disponíveis e links para nossas análises.

Hoje os tópicos serão:
  • Nomenclaturas
  • Precursores
  • Igavania
  • Minivania
  • Soulsvania
  • Roguevania
  • Metroidvanias 3D
  • Hollowlike
  • Parentes próximos
  • Lista de títulos já lançados
  • Futuros lançamentos

Nomenclaturas

Como o próprio nome é um neologismo, ele serve como trampolim para mais brincadeiras que misturam nomes para expressar uma identidade para o jogo. Algumas são apenas trocadilhos para marketing, como o ratoidvania de Curse of the Sea Rats e o scandivania de Teslagrad 2, mas outros realmente destacam uma variação da fórmula, como o motorvania de Laika: Aged Through Blood e o stealthvania de The Siege and the Sandfox (ainda não lançado na época desta escrita).

Outros nomes são mais gerais e servem para enfatizar algumas características e organizar os subgêneros que existem dentro do espectro de metroidvanias. Vamos ver alguns deles adiante.

Como parênteses, vale mencionar um nicho paralelo chamado metroidbrainia (aglutinação com brain, cérebro em inglês), para jogos que estão bem longe de serem metroidvanias, mas baseiam seu progresso gradual no conhecimento adquirido pela própria pessoa que joga, conseguindo desbloquear o avanço no jogo apenas por saber os segredos. Exemplos são Outer Wilds, Tunic, Chants of Sennaar, The Witness e Heaven’s Vault. Fim dos parênteses.

Precursores

Mapa de Montezuma's Revenge
  • Montezuma's Revenge (1984, Atari 2600, Atari 5200, Master System)
  • H.E.R.O (1984, Atari 2600/Atari 5200/ColecoVision/Commodore 64)
  • Xanadu (1985, PC/Saturn)
  • Metroid (1986, NES)
  • Super Pitfal (1986)
  • Faxanadu (1987, NES)
  • Castlevania II: Simon’s Quest (1987, NES)
  • The Goonies II (1987, NES)
  • Blaster Master (1988, NES)
  • Strider (1989, NES)
  • Wonder Boy III: The Dragon’s Trap (1989, Master System/Game Gear. Remake: PC/PS4/XBO/Switch/Mobile)
  • Metroid II: Return of Samus (1991, GB)
  • Ufouria: The Saga (1991, NES)
  • Demon’s Crest (SNES, 1994)
  • Monster World IV (1994, Mega Drive. Remake: Wonder Boy: Asha in Monster World, 2021, PC/PS4/Switch)
  • Super Adventure Island II (SNES, 1994)
  • Magical Pop’n (SNES, 1995)

Igavania

O nome vem de Koji Igarashi, um dos responsáveis por Castlevania: Symphony of the Night, de 1997. Por seu trabalho como produtor da série ao longo da década seguinte, talvez ele seja o principal nome envolvido com a popularização dos metroidvanias antes do gênero se difundir pela cena independente.

Em 2019, Igarashi lançou Bloodstained: Ritual of the Night, um sucessor espiritual ao seu trabalho com Castlevania, mantendo as características de uma aventura que ocorre dentro de um grande castelo dividido em diversas áreas.
Outros jogos não-metroidvania do produtor também levam a alcunha de igavania, mas não fazem parte dos propósitos deste artigo.

Bloodstained: Ritual of the Night

Minivania

Em princípio, são metroidvanias curtos, não costumando chegar às cinco horas de duração, geralmente com pixel art muito simples. 

Estes são os metroidvanias menores, projetos humildes muitas vezes conduzidos por uma pessoa só e lançados apenas em plataformas do PC devido às facilidades de publicação em relação aos consoles. Podem ser desenvolvidos como a realização de um sonho antigo de fazer um jogo, um hobby despretensioso ou ainda a prática de aprendizado de design e programação que antecede um projeto maior.

Como eu jogo unicamente em consoles, conheço poucos minivanias. Considero que Gato Roboto é uma boa referência para o limite entre um formato mini e o tradicional. Sheepo se diferencia dos demais por ter produção visual mais rebuscada com seus gráficos desenhados à mão.
  • Eternal Daughter (2002, PC. Gratuito, disponível para download aqui
  • Gato Roboto (2019, PC/XBO/Switch)
  • Minivania (2021, PC. Gratuito no navegador, aqui)
  • Sheepo (PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch)
  • Super Skelemania (2017, PC/PS4/Switch)
  • Trash Quest (2021, PC/XBO/XSX/Switch)
  • Xeodrifter (2014, PC/PS4/PS Vita/3DS/Switch)
Sheepo

Soulsvania

Com seu mundo feito de áreas interconectadas e não-lineares, Dark Souls, de 2011, tem uma estrutura muito similar aos metroidvanias. No entanto, a progressão não é baseada em habilidades, desbloqueando novas áreas mediante o avançar da história, o uso de itens ou de portas que só podem ser destrancadas por um lado. Mesmo assim, a semelhança tornava óbvio que misturá-lo aos MVs seria uma boa ideia e foi isso que Salt and Sanctuary fez, em 2016.

Desde então, numerosos títulos embarcaram na onda, alguns mais próximos de Dark Souls, outros apenas usando-o de inspiração inicial, sem precisar apresentar todas as características principais.

São elas: o combate compassado e intencional, o gerenciamento de energia, os quadros de invencibilidade durante a esquiva, o foco em chefes desafiadores e marcantes, os pontos de salvamento que também servem para subir de nível e recuperar os itens de cura, a perda de pontos de experiência ao morrer, os NPCs que viajam pelo mundo em missões secundárias não marcadas, a construção de mundo comunicada por descrições de itens e diálogos obscuros, a atmosfera opressiva de andar por um mundo em ruínas, entre outras.

Títulos diferentes entre si encaixam na categoria por vias diversas. Alguns dos principais são:
Ender Lillies: Quietus of the Knights

Roguevania

Esta é polêmica. O termo “roguelike” refere-se a jogos que retém certas características do jogo Rogue, de 1980, especialmente as masmorras de mapas gerados aleatoriamente e a morte permanente, o que garante que cada nova tentativa seja diferente da anterior. 

Quando os jogos passaram a adicionar a possibilidade de guardar alguns aspectos ao morrer, criando uma pequena curva ascendente de progresso, o nome recebeu a variação roguelite.

Ainda que alguns sejam claramente inspirados em design de metroidvania, a falta de certos elementos podem excluí-los da categoria. Logo, roguevania é um rótulo que sugere uma mistura, mas que não depende totalmente das características que vimos no texto anterior.
Sundered: Eldritch Edition

Metroidvania 3D

Os metroidvanias são diretamente associados a jogos de plataforma 2D, que correspondem à esmagadora maioria do gênero. Mesmo assim, a própria série Metroid se lançou à terceira dimensão ainda em seu quarto título, Metroid Prime, de 2002. Isso mostrou que a estrutura definidora é flexível, podendo ser misturada a outros formatos, como, nesse caso, o tiro em primeira pessoa.

Mesmo assim, jogos tridimensionais têm produção e execução mais complexa do que os 2D. Como quase todos os metroidvanias são frutos de desenvolvedoras independentes, a tendência é que seja mantida a primazia do plano de visão lateral, como tem acontecido até agora.

Portanto, são poucos os MVs que se arriscam aos mundos poligonais em 3D, geralmente sendo um jogo de outro tipo mais comum aos AAA que assume claras inspirações nos conceitos que vimos acima. Por exemplo: para muitas pessoas, ao longo da campanha de Batman: Arkham Asylum, de repente veio o insight de que aquele era, no fundo, um metroidvania enrustido.

Certos títulos, como Star Wars Jedi: Fallen Order e Control, carregam DNA do gênero, segundo declarações de seus criadores. 
Metroid Prime Remastered

Hollowlike

Esta é uma tendência recente, mas já perceptível. Não se trata apenas de algo simples como “ei, Ori and the Will of the Wisps usa o sistema de amuletos de Hollow Knight!”, nem necessariamente clones exatos. É mais uma questão de conjunto estético que engloba atmosfera, proporções e movimento, algo que pode ser sutil, uma sensação de semelhança que não conseguimos afastar desde a primeira olhada.

É algo nos cenários escuros desenhados em detalhes; as linhas simples de cartum dos personagens; o movimento fluido de pequenas criaturas; o tamanho, postura, agilidade e movimentação da protagonista em um mundo de desafios de plataforma. São coisas que nos remetem ao legado do cavaleiro vazio, uma herança tão marcante que, enquanto o Team Cherry não lança a sequência Silkong, os admiradores farão seus sucessores espirituais.

Como eu disse, é algo recente, então, da lista abaixo, apenas o primeiro já foi lançado.
  • Lone Fungus (2023, PC)
  • Biogun (16/04/2024, PC)
  • Bo: Path of the Teal Lotus
  • Chiaroscuro
  • Constance
  • Crowsworn
  • Deviator
  • Fatalclaw
  • Never Grave: The Witch and The Curse
  • Voidwrought
Biogun

Parentes próximos de mundo aberto ou com mapa de mundo

Este aqui já foi explicado na parte anterior. São jogos que não necessariamente dependem de aquisição de habilidades para progredir no mapa, que tem maior grau de abertura. Alternativamente, podem ser jogos em que as diferentes áreas são indiretamente ligadas por um mapa externo, como no caso do excelente Phoenotopia.
  • Animal Well (09/05/2024, PC/PS5/Switch)
  • Earthblade (futuro lançamento)
  • Knytt Underground (2012, PC/PS3/PS Vita/Wii U)
  • Phoenotopia Awakening (2020, PC/PS4/XBO/XSX)
  • Rain World: Downpour (2017, PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch)
  • Vvvvv (2010, PC/PS4/PS Vita/Switch/Mobile)
Phoenotopia Awakening

Metroidvanias brasileiros

O nome já é autoexplicativo. Não é exatamente uma categoria de semelhança entre jogos, mas apenas de origem, tendo uma lista separada porque acho interessante observar a indústria de games no Brasil e seus passos dados na última década. Na verdade, dois dos títulos abaixo estão entre os melhores metroidvanias e merecem bastante destaque: Unsighted e Dandara.
Dandara: Trials of Fear Edition

Metroidvanias já lançados até 2024

A lista não pretende incluir todos os títulos do gênero, uma vez que há um grande ecossistema no PC de títulos autopublicados e pouco conhecidos. Alguns destes também estão aqui e atualizarei a lista à medida que conhecer mais metroidvanias.

Para evitar redundância, não incluí os títulos já citados em categorias acima.
Apotheon

Futuros lançamentos

Aqui ficam os títulos já anunciados, mas ainda não lançados. Como o gênero está mais popular do que nunca, a lista também não é pequena:
  • Aeterna Lucis
  • Akatori
  • Being and Becoming (PC)
  • Blade Chimera (PC/Switch)
  • Bo: Path of the Teal Lotus (18/07/2024)
  • Castle in the Darkness II
  • Crypt Custodian (PC)
  • Ender Magnolia: Bloom in the Mist
  • Environmental Station Alpha II
  • Fallen Tear: The Ascension
  • Frontier Hunter: Erza's Wheel of Fortune
  • Gestalt: Steam & Cinder
  • Grime II (PC)
  • Hayaku! Island of Darkness (PC)
  • Heart Forth, Alicia
  • Hollow Knight: Silksong
  • Last Vanguard
  • Mandragora (PC/PS5/XSX/Switch)
  • Mark of the Deep
  • Mariachi Legends (PC/Switch)
  • Metroid Prime 4 (Switch)
  • Mira and the Legend of the Djinns (PC/Switch)
  • Nine Sols (PC/PS5/Switch)
  • Rune Fencer Illya (PC/PS5/XSX/Switch)
  • Saviour (PC)
  • Somber Echoes
  • Tales of Kenzera: ZAU (23/04/2024, PC/PS5/XSX/Switch)
  • The Siege and the Sandfox
  • The Spirit of the Samurai (PC/PS5/XSX)
  • Timespinners 2: Unwoven Dream
  • Turbo Kid (10/04/2024)
  • Venture to the Vile (07/05/2024 para PC, sem data: PS4/PS5)
The Siege and the Sandfox

Encerramos nossa Pequena Enciclopédia de Metroidvania. Com o passar do tempo e dos lançamentos, tentarei atualizar as listas como puder!

Ainda tenho vontade de fazer um panorama cronológico com os principais lançamentos de cada ano, então uma terceira parte permanece possível.
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli

Admiro videogame como uma mídia de vasto potencial criativo, artístico e humano. Jogo com os filhos pequenos e a esposa; também adoro metroidvanias, souls e jogos que me surpreendam e cativem, uma satisfação que costumo encontrar nos indies.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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