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Análise: Record of Lodoss War: Deedlit in Wonder Labyrinth (PC) é uma bela homenagem a uma franquia de sucesso

Aventure-se em um vasto labirinto repleto de ameaças e segredos no controle da elfa Deedlit.



Record of Lodoss War: Deedlit in Wonder Labyrinth faz parte de uma série de comemorações que começaram em 2018 em homenagem ao aniversário de 30 anos da franquia Record of Lodoss War. De lá para cá, os jogadores tiveram uma prova do que estava por vir através de um período em Acesso Antecipado.

Agora, na versão final, o jogo acompanha Deedlit em um novo episódio que se passa em um local misterioso e ao mesmo tempo com traços familiares para a personagem. A aventura sucede a jornada de Parn e seus companheiros, e nos brinda com belas doses de nostalgia ao trazer muitas referências e participações de figuras marcantes da obra principal, enquanto entrega uma experiência sólida nos moldes de clássicos do gênero aventura e plataforma 2D.

Utopia em forma de labirinto

 A franquia Record of Lodoss War nasceu como fruto dos jogos de RPG tradicionais, mais precisamente a série Dungeons & Dragons. A ideia surgiu em meados de 1986, quando o escritor Ryo Mizuno decidiu transcrever as aventuras que ele e seus amigos tinham nas sessões do famoso jogo de mesa. 

Essa prática no exterior era chamada de “replay” e era uma forma de atrair novos fãs que, muitas das vezes, não jogavam RPG, mas se encantavam com as histórias bem construídas. Quem aproveitou esse hobbie no Brasil durante a década de 1990 certamente teve contato com esse tipo de publicação por meio da revista Dragão Brasil. A fama das crônicas de Lodoss foi crescendo rapidamente, levando seu autor a criar graphic novels que renderam novas adaptações em séries animadas, mangás e jogos para videogames.´




Para aqueles que desconhecem o mundo de Lodoss, é importante conhecer pelo menos o básico para estar inteirado de alguns acontecimentos no jogo. A história gira em torno de Parn, o filho de um valente cavaleiro que acaba sendo desonrado perante todos no reino ao qual servia. Motivado por um forte senso de justiça e pelo desejo de inocentar seu pai, Parn decide seguir em uma jornada ao lado de seus companheiros: o clérigo Etoh, o mago Slayn, o anão Ghim e a poderosa elfa, Deedlit. O mundo de Lodoss é totalmente construído nos moldes de um clássico RPG de mesa, portanto, ele é repleto de reinos, criaturas medievais fantasiosas e as típicas classes de personagem representadas em cada membro do grupo de Parn.

A trama de Wonder Labyrinth se passa cerca de 100 anos após a série original, e antecede o mais recente livro da franquia,The Pledged Diadem (no original: Seiyaku no Hōkan). Aqui encontramos Deedlit despertando em um estranho labirinto que carrega traços de locais familiares. Sem outra alternativa, ela decide seguir adiante e explorar o lugar a fundo a fim de descobrir o que está acontecendo. O mais estranho de tudo é que pessoas marcantes em sua trajetória começam a aparecer de forma repentina, carregando mensagens enigmáticas que instigam a “Elfa da Luz” a desvendar o mistério do lugar.




Ao meu ver, o enredo de Record of Lodoss War: Deedlit in Wonder Labyrinth é o seu ponto forte, levando-se em conta a necessidade de estar minimamente familiarizado com a obra. Seria importante uma introdução na campanha para contextualizar aqueles que nunca tiveram contato com a obra, pois vilões e heróis icônicos aparecem a todo momento e Deedlit interage com eles levando em conta acontecimentos anteriores ao jogo. Os desenvolvedores do Team Ladybug conseguiram me contagiar com o clima de confusão e mistério que predominam na jornada. Reencontrar figuras conhecidas como Ghim, Slayn, Pirotess e Parn, o par romântico da protagonista, traz uma boa nostalgia e ajuda a criar ainda mais questionamentos a respeito da história, já que se passaram muitos anos e os elfos, como Deedlit, são os únicos dotados de imortalidade.

Mesmo com uma curta duração, eu me vi envolvido na motivação de Deedlit por investigar a situação e o desfecho da campanha, que consegue ser tocante e traz mensagens importantes sobre a vida e a morte, além de uma forte carga emotiva no fardo carregado pela poderosa elfa em trilhar o caminho de um ser imortal.




Bebendo de uma boa fonte

Jogadores mais assíduos no gênero aventura e plataforma 2D, mais precisamente na franquia Castlevania, irão se sentir em casa em Wonder Labyrinth. A jogabilidade possui traços muito semelhantes aos de Castlevania: Symphony of the Night. A própria movimentação de Deedlit é idêntica a de Alucard. Apesar de ser algo notório e escrachado, ele não ficou ruim, pois a graciosidade e destreza do nobre vampiro combinam perfeitamente com o estilo da elfa.

Durante a exploração, encontramos cenários com muitos obstáculos e plataformas para ultrapassar, além de inimigos comuns na série. Para lidar com eles, contamos com opções variadas, pois, assim como no anime, Deedlit é versada na arte da espada, arco e flecha e magia. É possível coletar e comprar diferentes tipos de armas e equipá-las, dentre elas, espadas, adagas e lanças. Os arcos também possuem variações e seu uso vai além do combate, já que os quebra-cabeças do jogo envolvem um esquema de rebater as flechas através de passagens estreitas a fim de acertar um alvo protegido. É algo diferente do que estamos habituados e que vai ganhando maior variedade conforme a jornada evolui.




Os poderes de Deedlit estão presentes e bem diversificados. A elfa deixa claro o motivo de ser considerada uma das feiticeiras mais poderosas na ilha de Lodoss. Invisibilidade, orbes teleguiados e manipulação de elementos são alguns dos exemplos que estão disponíveis em seu arsenal. Cada um deles estão escondidos em locais secretos. 

Fora isso, ela conta com a presença constante de dois espíritos importantes: Sylph, o mestre dos ventos; e Salamander, o elemental do fogo. Eles podem ser alternados a qualquer momento e, assim como Deedlit ganha níveis de experiência conforme derrota criaturas pelo caminho, os dois espíritos também possuem uma barra de progressão que vai até o terceiro nível. Mantê-la no máximo garante uma melhora importante no dano enquanto concede regeneração de vida constante para nossa heroína. Fora isso, eles garantem habilidades únicas, como a capacidade levitar dada por Sylph, fundamental para alcançar locais mais distantes.

Alternar entre esses dois elementos é fundamental para passar em determinadas partes do mapa, pois além dos benefícios já mencionados, manter um dos espíritos ativos nos permite absorver ataques com a propriedade do elemento no qual ele domina e convertê-los em mana, algo que se mostra essencial, principalmente nas lutas contra os chefes.




E por falar em embates, os inimigos possuem boa variação. Prepare-se para enfrentar toda a sorte de criaturas míticas que estamos habituados a ver na série animada e mangá. Contudo, eles não apresentam grande ameaça. Cada um deles possui seu tipo de ataque e, em alguns casos, trarão uma maior resistência a determinado elemento. Ainda assim, se aproximar rapidamente e “esmagar” o botão de ataque foi o suficiente para dar cabo de boa parte deles.

A dificuldade se acentua quando falamos dos confrontos contra os chefes. Além da vasta barra de energia, eles impressionam e elevam o desafio ao trazer uma gama de movimentos maiores e mais velozes, exigindo uma boa leitura por parte do jogador. As lutas contra guerreiros, como Pirotess, a rival da protagonista, são tão frenéticas quanto uma partida em um jogo de luta. Já criaturas mais imponentes e gigantes, como os Dragões Cromáticos, conferem um tom épico à luta e exigem uma boa estratégia para sair vitorioso.


O mapa do jogo é amplo, mas apresenta uma linearidade excessiva que fica evidenciada nos locais que exigem habilidades de locomoção específicas ou por portas padronizadas em tipos de cores. Ainda assim, ele traz muitos locais secretos e pequenas rotas alternativas. A presença de portais que permitem um rápido deslocamento entre diferentes cenários evita o desgaste durante a necessidade de revisitar alguns trechos.

No geral, a jogabilidade consegue aplicar bons conceitos consagrados no gênero de aventura e plataforma 2D. O uso de habilidades na exploração do cenário é um aspecto que aprecio nesse tipo de jogo e aqui está bem presente. Já os combates regulares me decepcionaram por se resumirem a se mover e atacar desenfreadamente, é um aspecto que era muito comum nos jogos antigos desse tipo, mas que envelheceu mal nos dias de hoje. O ritmo assume um tom muito mais divertido e desafiador nos trechos que contam com grupos de inimigos, o único problema é que essas ocasiões são raras.




Já o esquema de alternar entre os elementos de fogo e vento é uma adição original e bem-vinda que adiciona um ritmo mais ágil durante os confrontos, principalmente na hora de enfrentar os chefes.

Um belo mundo pixelado

O visual do jogo é outro aspecto digno de elogios. A arte com pixels em 2D é muito bem executada tanto nas movimentações e efeitos especiais quanto nos detalhes dos cenários. Os ataques possuem uma animação elaborada que enfeita o cenário com partículas, como os jatos de água disparados pelo dragão Abram. Destaque também para os espíritos elementares, que conferem um rastro na silhueta de Deedlit, dando um aspecto bonito durante o caminhar da personagem. Tudo isso contribui para que a imersão na aventura seja ainda maior.

No lado das trilhas sonoras, é apresentado uma mistura de sinfonias orquestradas e mixagens eletrônicas que conseguem dar um tom medieval e ditam o ritmo frenético na hora de momentos mais tensos. O único ponto que me pareceu estranho são os efeitos sonoros quando absorvemos ataques elementares e uma voz masculina que entra em cena toda vez que um espírito atinge o nível máximo de poder. Por ser algo que acontece com frequência, somado ao som estranho e distante da proposta de aventura medieval, acaba atrapalhando na imersão tão bem proporcionada pelos gráficos e enredo.




Honrando o legado das Crônicas de Lodoss

Record of Lodoss War: Deedlit in Wonder Labyrinth consegue entregar uma experiência de aventura em plataforma 2D divertida. Sua jogabilidade traz características fortes de títulos consagrados do gênero, mas também adiciona sua própria identidade, como no caso dos espíritos elementais. Os combates pouco desafiadores contra criaturas comuns é um desagrado frequente e contrastante com os duelos empolgantes contra os chefes.

Seu enredo é pouco convidativo para quem desconhece o universo de Record of Lodoss. Não chega a comprometer a experiência, porém, limita o real potencial que a campanha teria se uma apresentação introduzisse acontecimentos anteriores. No lado da narrativa, testemunhar o choque de Deedlit ao rever seus companheiros após o passar de muitos anos resulta em momentos comoventes e nostálgicos, tornando o título uma bela comemoração aos 30 anos da franquia e uma excelente pedida para os fãs.




Prós

  • Bela arte pixelada;
  • Enredo com desfecho interessante para a série;
  • Combates intensos e fluídos contra chefes;
  • Originalidade na mecânica dos espíritos elementais;
  • Quebra-cabeças com arco e flechas bem elaborados.

Contras

  • Campanha curta;
  • Inimigos regulares com baixo desafio;
  • Falta de uma prévia para introduzir novos jogadores no contexto da franquia;
  • Alguns efeitos sonoros atrapalham a imersão.
Record of Lodoss War: Deedlit in Wonder Labyrinth — PC — Nota: 7.0
Revisão: Farley Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela PLAYISM

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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