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Record of Lodoss War: Deedlit in Wonder Labyrinth (PC) transforma a série japonesa em um ótimo metroidvania

O jogo comemora os 30 anos da franquia em uma aventura bem produzida, mas que ainda está em desenvolvimento.


Record of Lodoss War é uma série japonesa de fantasia que surgiu no final da década de 1980, com adaptações para diferentes mídias, como mangás, animes e videogames. Em 2019 a franquia completou 30 anos e foram produzidos vários itens para comemorar a ocasião, sendo prometido, inclusive, um novo jogo. Record of Lodoss War: Deedlit in Wonder Labyrinth é o título comemorativo, que tem como protagonista a elfa Deedlit. Produzido pelo Team Ladybug, que é conhecido por Touhou Luna Nights, o jogo é uma aventura de ação e plataforma 2D com características de metroidvania. Deedlit in Wonder Labyrinth foi lançado no PC via Acesso Antecipado e já empolga, mesmo apresentando só uma fração do produto completo.

Uma elfa perdida em um labirinto

A série Record of Lodoss War teve origem em RPGs de mesa na forma de histórias para enriquecer a ambientação de partidas de Dungeons & Dragons. Seus personagens e tramas se tornaram populares, o que resultou em adaptações para romances, mangás e animes. O foco é as aventuras de Parn, um rapaz que deseja restaurar a honra de sua família. Ele é acompanhado por inúmeros personagens, como a elfa Deedlit, o anão Ghim, o clérigo Etoh, o mago Slayn, e vários outros — é como se cada uma das classes de D&D tivessem um correspondente no grupo. O cenário é a ilha de Lodoss, cuja paz está ameaçada por uma bruxa maligna que deseja espalhar o caos.


Wonder Labyrinth tem como protagonista a elfa Deedlit. A poderosa feiticeira, que também é conhecida como “A Elfa da Luz”, saiu da Floresta Sem Retorno para acompanhar Parn em suas aventuras — secretamente a garota nutre um amor não correspondido pelo rapaz. No jogo, Deedlit acorda em um lugar misterioso e, sem outra opção, decide explorá-lo. Aos poucos seus aliados (e até mesmo rivais) aparecem subitamente no labirinto, e a elfa vai tentar descobrir o que está acontecendo de fato. A história é independente, logo quem não conhece a série conseguirá aproveitar o jogo, por mais que muitas das referências podem não ser entendidas.

Na prática, Wonder Labyrinth é um título de ação e plataforma 2D. No controle da elfa, exploramos vastos cenários com trechos de navegação, inimigos e puzzles. O labirinto conta com configuração complexa e muitos pontos exigem habilidades ou itens específicos para serem alcançados, como é de praxe de metroidvanias.


Deedlit tem vários recursos para enfrentar os monstros do lugar. A heroína pode atacar os inimigos próximos com armas brancas, como espadas, lanças e clavas. Já o arco e flecha é uma opção para acertar alvos distantes, sendo possível mirar em diferentes ângulos. Por fim, a elfa consegue desferir feitiços, como esferas mágicas que perseguem automaticamente os inimigos próximos. O arco e flecha também são utilizados na resolução de puzzles: as setas rebatem em superfícies metálicas e algumas salas contam com desafios que exigem lançá-las no ângulo certo para acertar dispositivos de difícil acesso.

Além de armas, Deedlit conta com o apoio de criaturas mágicas de poderes elementais. Sylph domina o vento e faz com que a heroína flutue no ar, o que permite alcançar locais altos ou evitar perigos. Já os poderes de Salamander adicionam fogo a ataques e flechas, possibilitando destruir obstáculos específicos. O espírito ativo também provê proteção contra o seu elemento correspondente, algo essencial para atravessar paredes de fogo ou não receber dano de feitiços de vento lançados pelos inimigos. Os monstros também contam com fraquezas e resistências elementais, logo é importante trocar de espírito de acordo com a situação.

A variedade e a beleza de um elaborado mundo de fantasia

Record of Lodoss War: Deedlit in Wonder Labyrinth é uma experiência familiar que explora conceitos já consagrados de ação e plataforma. No entanto, vários detalhes fazem com que o jogo tenha personalidade. Ao contrário de outros metroidvanias, este título tem progressão mais contida e linear, com áreas que lembram fases. Claro, há um mapa elaborado, rotas alternativas e segredos para encontrar, mas é fácil perceber uma rota mais definida. Felizmente há uma boa variedade de desafios para superar no decorrer do caminho.


Boa parte do tempo temos que enfrentar inimigos, em um combate simples e funcional que tem como foco observar os monstros para atacar na hora certa. Na maior parte do tempo basta atacar repetidamente para derrotar os inimigos, mas algumas criaturas exigem mais cuidado. Já as batalhas contra os chefes são mais elaboradas, pois eles apresentam padrões de ataques complexos, com momentos em que precisamos trocar de espírito para não levar dano. Esta versão conta com dois chefes: Abram, um dragão imenso que só pode ser acertado quando está fora da água; e a elfa negra Pirotess, rival de Deedlit, que ataca com agressividade — morri algumas vezes até conseguir derrotá-la

Os puzzles exigem utilizar os equipamentos e habilidades da feiticeira. Os enigmas de rebater flechas para acertar dispositivos distantes começam banais, mas logo se tornam complexos e interessantes. Há também pontos em que precisamos acertar mecanismos para abrir portas e, em seguida, atravessá-las rapidamente. Por fim, existem trechos de navegação que só podem ser superados com os poderes dos espíritos elementais — os mais interessantes exigem trocar de elemento rapidamente para superar armadilhas.
O ponto que mais chama a atenção é o belíssimo visual de Wonder Labyrinth, cujo mundo de fantasia conta com pixel art elaborado. As animações, em especial, apresentam detalhes e movimentos sutis que, juntos, tornam os personagens e o mundo impressionantes. Destaco a própria Deedlit: ela se move de maneira graciosa, e tanto ataques quanto simples ações, como parar ou saltar, têm vários quadros interessantes de animação. Efeitos visuais, como explosões, sombras translúcidas e brilhos mágicos deixam as cenas de ação mais elaboradas, mas às vezes achei o uso exagerado — fiquei um pouco perdido nas batalhas dos chefes por causa da grande quantidade de elementos gráficos.

Como título lançado em Acesso Antecipado, Deedlit in Wonder Labyrinth é bem limitado. A versão de lançamento conta com uma área pequena e dois chefes, e o conteúdo pode ser terminado em meia hora. Também não há desenvolvimento da história e muitas das mecânicas parecem ser só provas de conceito. Imagino que o desenvolvimento seja parecido ao de Touhou Luna Nights, título anterior da desenvolvedora Team Ladybug, que foi lançado em estado similar e recebeu novas áreas e mecânicas significativas aos poucos. Mesmo assim, a base é sólida e variada, e estou curioso para saber como a aventura vai se desenvolver.


Um metroidvania promissor

Record of Lodoss War: Deedlit in Wonder Labyrinth usa a série nipônica para criar uma aventura de ação e plataforma 2D ímpar. O jogo explora conceitos familiares de forma sólida em um metroidvania mais contido, com combate e exploração competentes. Além disso, há ideias interessantes, como puzzles envolvendo rebater flechas e a presença de poderes elementais com diferentes usos. Uma ambientação bem trabalhada com visual e música impecáveis também é um ponto notável. No momento o único revés é a quantidade limitada de conteúdo, o que é justificável pelo jogo ter acabado de ser lançado no programa Acesso Antecipado, mas isso deve mudar no decorrer do desenvolvimento. No fim, Record of Lodoss War: Deedlit in Wonder Labyrinth já encanta e a versão final promete ser imperdível para entusiastas da franquia e para aqueles que gostam de aventuras de plataforma.

Texto de impressões produzido com cópia digital cedida pela PLAYISM

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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