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Análise: La-Mulana 1&2 Hidden Treasures Edition (Multi) traz aos consoles duas aventuras desafiantes

Dois jogos que funcionam bem juntos para desafiar todos que ousarem tentar desvendar os segredos das ruínas de La-Mulana.

Um arqueologista equipado com seu fiel chapéu e um chicote parte rumo às ruínas de uma antiga civilização para encontrar um valioso artefato místico que carrega o segredo da vida. Lemesa Kosugi pode até parecer um cosplayer barato de Indiana Jones, mas os desafios enfrentados por ele facilmente colocam nosso herói da vez ao lado do icônico aventureiro dos cinemas. E não sendo suficiente, sua filha Lumisa Kosugi também nasceu com uma sede de aventura e protagoniza a segunda aventura do pacote.




La-Mulana 1&2 Hidden Treasures Edition é um bundle que traz duas grandes aventuras para os consoles da atual geração. Os jogos são dois metroidvanias onde o foco está na resolução dos puzzles para acessar novas áreas e conquistar tesouros. Parece simples, mas inúmeros inimigos, armadilhas – Muitas! Se prepare! – e chefes imensos não vão facilitar a vida de Lemesa e Lumisa dentro das ruínas de La-Mulana.

Toda aventura tem uma boa história por trás

La-Mulana foi originalmente lançado para PC em 2005 como um jogo gratuito com estética similar a um jogo do console MSX. Está disponível até hoje, inclusive. Nele, nosso objetivo é ajudar o arqueólogo Lemesa Kosugi na exploração das ruínas de La-Mulana e realizar o sonho de seu falecido pai, que morreu tentando encontrar um valioso tesouro nas entranhas do local.
De muito antigo, só as ruínas.
Em 2011, no Japão, a Nicalis e a Nigoro lançaram o jogo comercialmente com uma estética mais atualizada, com uma direção de arte que lembra os jogos de plataforma para consoles como o primeiro PlayStation e o Sega Saturn. O jogo foi lançado exclusivamente na extinta loja online do Wii como um Wiiware, e no ano seguinte também foi disponibilizado fora do Japão, ganhando uma versão para PC pela Playism. Elepassou a ser conhecido pela comunidade como La-Mulana (Remake) e também recebeu uma versão para o PlayStation Vita em 2014, chamado de La-Mulana EX.
A Playism e a Nigoro mantiveram a parceria para desenvolver uma continuação para La-Mulana, e uma campanha de arrecadação de fundos no Kickstarter foi aberta pela Playism. O projeto alcançou a meta estipulada de 200 mil dólares e La-Mulana 2 foi lançado para PC em julho de 2018.

O título é a sequência direta do anterior, e traz Lumisa Kosugi no papel principal em busca de seu pai, que desapareceu após o final do primeiro jogo. Ela parte para La-Mulana e descobre que existem outras ruínas dentro do lugar, chamadas de Eg-Lana. Mais mistérios e desafios aguardam a srta. Kosugi nesta aventura que possui uma jogabilidade muito semelhante ao primeiro jogo, com a adição de novas habilidades que podem ser obtidas por Lumisa em sua jornada.

Lapidando o jogador

La-Mulana 1 e 2 são jogos difíceis, que não considero recomendar para jogadores mais casuais. Apesar de parecerem bonitinhos, podem te tirar do sério em alguns momentos. Ambos têm como foco principal a resolução de puzzles em um grande mapa, dividido em diversas áreas. Os jogos não contam com seções com aspecto linear, que guiam o jogador a um determinado local. Você tem total liberdade de ir para qualquer lugar que conseguir desde o início. O que te limita é a dificuldade dos inimigos naquela área e as habilidades do seu personagem, como um salto duplo ou item de proteção contra algum efeito de área que você não possui naquele momento.
Uma grande aventura aguarda Lemesa Kosugi
Armadilhas! Estas estão em abundância nas ruínas e sempre nos piores lugares. Você vai cair em várias, muitas vezes nos momentos mais críticos, como quando estiver cercado de inimigos ou com pouca vida, ou nos mais inusitados, como quando acessar um local e uma estátua gigante desabar na sua cabeça.
Eu já disse que tem muitas armadilhas aqui?
Ah! E a forma como você recupera seus pontos de vida também não é fácil! Em La-Mulana a vida é recuperada de duas formas: acessando a piscina de águas termais na vila da superfície ou completando a barra de pontos abaixo da barra de vida, coletando pequenos orbes verdes deixados por alguns inimigos derrotados. Cada vez que você completa a barra, sua vida é totalmente restaurada. Em La-Mulana 2, além destas duas, uma terceira forma é encontrando fadas que possuem essa habilidade.
Quem não gosta de relaxar na água quente?
Outra característica compartilhada nos dois títulos é a forma como investigamos e navegamos pelas áreas do jogo. Cada área conta com várias tabuletas de pedra, que costumam ter dicas para a resolução de puzzles ou informações sobre a história do lugar. É importante ler todas, pois nunca se sabe quando encontramos uma que pode, literalmente, salvar nossa vida. Mas cuidado com a tabuleta amaldiçoada, pois ela ativa o modo difícil – como se o jogo já não fosse difícil o suficiente.
A curiosidade matou o gato, e a mim também.
Cada área possui uma tabuleta principal, que permite salvar o jogo, criar um salvamento temporário para retorno cada vez que você morrer, e a viagem rápida para aquele local. O deslocamento só pode ser feito depois de ler a tabuleta e se o jogador possuir o Holy Grail, um item usado para permitir a viagem rápida entre as várias áreas do jogo.

As áreas contam ainda com um mapa, que também precisa ser encontrado, mas que não chega a ser muito eficiente. A única informação útil que ele fornece é o tamanho e a quantidade de salas daquela área, assim você pode ter uma noção de que direção vai tomar. Não existe um mapa geral, mostrando quais áreas estão diretamente ligadas, como em outros jogos do gênero.
Norte ainda é "pra cima" né?
Outra particularidade destes jogos são os pedestais. Eles são ativados com pesos que podem ser adquiridos ao derrotar inimigos ou em lojas espalhadas pelas ruínas. Ativar esses pedestais é sempre um pequeno momento de tensão, pois alguns deles não são tão óbvios. Ao ativar um em uma tela, ele pode resultar em uma armadilha – eu disse que eram muitas armadilhas – destrancar um baú, abrir uma passagem secreta ou simplesmente nada, com o intuito de gastar um recurso valioso do jogador. Ter pesos sobrando no seu inventário nunca é demais. Eles são muito usados e importantes.
"Bem-vindo! Compre ou dê o fora!"
Não há um sistema de pontos de experiência para elevar o nível do personagem. A única coisa que realiza um upgrade de status dos heróis, nos dois jogos, são orbes sagrados que devem ser encontrados pelo jogo. Cada orbe aumenta a vida dos heróis em 32 pontos. A barra de pontos usados para recuperar saúde é igualmente acrescida, fazendo com que a quantidade de pontos que devem ser coletados para recarregar sua vida também aumente.

Cada área possui um chefe, chamado de Guardião. Para ativar a luta contra ele, Lemesa, ou Lumisa no segundo jogo, precisam encontrar uma espécie de artefato que é ativada por uma joia, que também precisa ser encontrada ou comprada em raras ocasiões. Esse ponto pode se tornar um problema, pois uma joia encontrada na “área A” pode ser utilizada na “área C”, e o da “área C” pode ser usado na “área B, por exemplo. Assim, caso o jogador não tenha uma certa organização na hora de encontrar os artefatos e as joias, pode ficar perdido sobre o rumo que tem que tomar no jogo. Uma verdadeira bagunça.
Lá vem mais um bichão!
Junto a esses detalhes, temos nos dois jogos outras características comuns do gênero: encontrar armas mais rápidas ou fortes; equipamentos que fornecem habilidades especiais, como escalar paredes ou executar um salto duplo; magias; aplicativos do laptop de Lemesa e no tablet de Lumisa que adicionam funções de menu adicionais; e dinheiro para usar nas lojas espalhadas pelas ruínas. Tudo com o objetivo de possibilitar a exploração de todos os cantos de La-Mulana e Eg-Lana.

Com estas informações, já temos uma boa ideia de como La-Mulana e La-Mulana 2 funcionam e o que exigem do jogador. A progressão deles se dá conforme conseguimos mais e melhores itens para aprimorar as habilidades de Lemesa ou Lumisa, e os artefatos para acessar as batalhas contra os principais chefes e áreas do mapa de jogo.

Dois jogos tecnicamente iguais

Até agora vocês devem ter percebido que os dois jogos são muito parecidos, dispensando uma análise separada de cada um. Nos aspectos técnicos isso também não chega a ser diferente.

Ambos contam com uma direção de arte bastante semelhante, sendo que o segundo jogo conta com mais vantagens técnicas neste departamento por conta do período em que foi lançado, possuindo um formato de tela widescreen e efeitos visuais mais bonitos e trabalhados. No som, ambos possuem uma trilha sonora ao mesmo tempo envolvente e empolgante, transmitindo bem a atmosfera de aventura e exploração, não chegando a ser chata caso você fique muito tempo em uma determinada área. No primeiro jogo há a opção de trocar a música para um gênero chiptune, como no MSX.

Os inimigos possuem as mais variadas formas, cores e tamanhos. Alguns mais básicos como esqueletos vivos até os chefes que são, em sua maioria, gigantes monstruosos que assustam e impressionam ao mesmo tempo.
"Você é grande mas não é dois... Não, pera..."
Que bicho feio!
Um ponto que pode ser determinante para muitos jogadores, além da dificuldade elevada, são os controles. Além das ações básicas de pulo e ataque, o jogador faz uso de armas secundárias e itens, como escudos e artefatos que ativam habilidades. Estas podem ser equipadas pelo menu ou usando os botões de seleção rápida nos botões de ombro e gatilho.

O problema aqui são os pulos. O controle dos personagens ao saltar nos dois jogos é um pouco truncado, exigindo que o jogador mais acostumado com o gênero plataforma necessite de um tempo para se acostumar com esse detalhe. Depois de pegar o jeito, não tive muitos problemas ao executar pulos importantes, mas é um ponto importante a destacar.

Os jogos contam com um sistema de salvamento automático temporário, que é ativado quando tocamos uma tabuleta de viagem rápida da área. O salvamento permite que voltemos para este ponto no jogo após morrer.
Não me lembro se falei das armadilhas.
Um detalhe importante é que ele só funciona durante a sessão ativa do jogo. Vou exemplificar com uma pequena tragédia que aconteceu comigo durante a análise: estava jogando La-Mulana 2 e parei. No dia seguinte, quando fui jogar novamente, o jogo salvo que estava disponível foi o último que realizei manualmente, pois até então não sabia que o salvamento automático era temporário. O resultado foi cerca de 3 horas de jogo desperdiçadas, e tive que fazer tudo do dia anterior outra vez. Uma lástima!

Esse fato terrível me mostrou outra coisa sobre esses jogos, que está relacionada com a duração. Ao jogar qualquer um dos títulos pela primeira vez, o tempo que ele consumirá da sua vida pode ser bem longo. Porém, ao conhecer a estrutura do jogo, o jogador tem a liberdade de até ignorar algumas etapas e progredir, apesar de isso exigir muita habilidade. Pesquisei o tempo médio de jogo e ele pode chegar a cerca de 35 horas para cada um, mas varia muito de jogador para jogador. Você pode levar 15, talvez 18 ou 20 horas. Alguns podem extrapolar o tempo médio de 35 horas. Os speedrunners conseguem terminar os jogos em um tempo médio de impressionantes duas horas cada um!

Dois jogos, uma grande aventura

La-Mulana 1&2 Hidden Treasures Edition é um pacote interessante para quem busca jogos com foco no alto grau de desafio dentro do gênero metroidvania. Apesar de estarem estreando nos consoles da atual geração, os jogos não trazem nenhuma melhoria ou novidade, como galerias ou modos novos de jogo, coisas que costumam existir em jogos lançados em formato de coletânea ou relançamentos. A única novidade são os brindes contidos na edição em mídia física.
Edição traz CDs com a trilha sonora, um artbook e um quebra-cabeças.
A NIS America propôs duas coisas com este lançamento: que os jogadores dos consoles da atual geração merecem ter acesso a estes jogos e que os dois funcionam melhor juntos, devendo ser vendidos e analisados desta forma.

São jogos que modelam sua maneira de jogar, e depois de algum tempo explorando as ruínas, chega a ser recompensador saber prever um perigo ou se sobressair de uma situação complicada. Os jogadores mais casuais podem não curtir muito por conta da dificuldade elevada, mas quem não tem medo de desafios e tem sede de aventura vai achar aqui dois jogos que podem até superar suas expectativas. E te tirar do sério também.

Prós

  • Bom custo-benefício, dois jogos pelo preço de um;
  • Direção de arte esbanja capricho e carisma nos dois jogos;
  • Trilhas sonoras envolventes e empolgantes;
  • Mapas de jogo imensos;
  • Liberdade de exploração.

Contras

  • Alta dificuldade pode frustrar ou afastar jogadores mais casuais;
  • Não há um mapa geral, como em outros jogos do gênero;
  • Controle de pulo dos personagens é meio truncado nos dois jogos;
  • Salvamento automático temporário, exigindo atenção do jogador para que lembre de salvar manualmente de forma periódica;
  • Nenhuma novidade ou função extra foi adicionada na versão para consoles.
La-Mulana 1&2 Hidden Treasures Edition – PS4/XBO/Switch – Nota: 7.5

Versão utilizada para análise: PS4
Análise feita com cópia digital cedida pela NIS America
Revisão: Davi Sousa

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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