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Análise: Yohane the Parhelion -BLAZE in the DEEPBLUE- (Multi) é um metroidvania belo, mas trivial demais

Inspirado no universo de um anime com idols, este título decepciona com a execução morna de conceitos consagrados.


Em uma primeira olhada, Yohane the Parhelion -BLAZE in the DEEPBLUE- parece competente. O metroidvania explora os conceitos básicos do gênero em uma aventura colorida e agradável inspirada no universo da animação nipônica de mesmo nome. Porém, logo o título produzido pela Inti Creates (de Gunvolt e Mega Man Zero) se revela insípido com level design mediano, ritmo inconsistente e decisões questionáveis em suas mecânicas. Será que o carisma das idols é capaz de salvar essa aventura?

Investigando uma masmorra misteriosa

Yohane the Parhelion é um spin-off de fantasia de Love Live! Sunshine!!, anime no qual garotas no colegial decidem formar um grupo de idols. Na série alternativa, a jovem Yohane volta para Numazu, sua cidade natal, depois de não conseguir engrenar uma carreira de idol na cidade grande. Agora, ela trabalha como cartomante, mas, na prática, ela se torna uma faz-tudo da cidade.

A aventura de Blaze in the Deepblue começa quando estranhas ruínas surgem do oceano próximo da cidade. A situação fica tensa quando algumas garotas adentram o local para investigá-lo, mas não voltam mais. Determinada a salvar suas amigas, Yohane decide explorar o calabouço com a ajuda da loba Lailaps. Além disso, a garota também deseja entender os mistérios que cercam o aparecimento das ruínas.


A aventura é estruturada como um metroidvania 2D tradicional, ou seja, exploramos um mapa elaborado com pontos que só podem ser acessados após adquirir certas habilidades. Yohane por si só é indefesa, e para atacar ela evoca suas amigas. No início só está disponível a loba Lailaps, que golpeia com suas garras, mas o repertório de ataques e habilidades aumenta conforme resgatamos as outras meninas.

Pelo caminho a cartomante coleta materiais, que podem ser utilizados para construir itens e armas secundárias, como espadas, machados e bestas. É importante ficar atento a esse sistema de montagem de equipamentos, pois é por meio deles que as características básicas de Yohane se fortalecem. Além disso, em praticamente qualquer momento, podemos voltar para o escritório da cartomante para comprar itens curativos.



Perdida em um labirinto pouco notável

A jornada de Yohane é uma agradável e básica aventura de plataforma 2D, bastando pular e atacar para dar conta dos desafios. As salas do calabouço normalmente contam com muitos inimigos e armadilhas, mas não há nada de muito complicado ou difícil pelo caminho, bastando ser cuidadoso para avançar. Por ser direto, é ideal para quem não tem costume de experimentar títulos deste gênero.

Como metroidvania, o jogo é bem modesto e tradicional. Pelo caminho, encontramos muitos obstáculos que só podem ser eliminados por algumas habilidades específicas, que são adquiridas ao resgatar as garotas. Chika empurra blocos com sua pistola de ar; Riko derrete blocos de gelo ao lançar um feitiço de fogo; Hanamaru consegue eliminar espinhos no chão ao sair rolando; já You usa um canhão para lançar Yohane por longas distâncias. Apesar do extenso mapa, é fácil navegar pelo mundo, pois é possível se teletransportar livremente para qualquer sala de salvamento desde o início da aventura.


O jogo é uma interpretação razoável do gênero, mas logo se torna tedioso. Para começar, o desenho dos níveis é preguiçoso: todas as salas são extremamente parecidas entre si, com uma mistura desinteressante de trechos de plataforma básicos com inimigos. Há algumas câmaras cujo design é gerado proceduralmente, mas elas pouco se diferem das partes fixas. Nem mesmo os diferentes biomas conseguem trazer variedade, pois mal apresentam diferenças fora o visual. No fim, fiquei com a sensação de estar atravessando os mesmos corredores, só que com gráficos diferentes.

Os aspectos de metroidvania também são subdesenvolvidos. Apesar de ter um mapa elaborado, a progressão é majoritariamente linear e com um único caminho para fazer a aventura avançar. Além disso, as habilidades funcionam unicamente como recursos para eliminar alguns poucos obstáculos, e tais técnicas são utilizadas pouquíssimas vezes em toda a duração da aventura. Por fim, para piorar, o mapa é extremamente básico e dificulta identificar com clareza o próximo ponto que precisamos ir.



Poderes e armas em batalhas mornas

A simplicidade de Yohane the Parhelion também se estende ao combate, que é bem direto: basta atacar repetidamente todos os monstros que aparecem pelo caminho. Só é necessário ficar atento aos Pontos Sombrios, que são consumidos ao usar a arma secundária ou ao chamar certas garotas. É durante o combate que aparece um dos problemas mais irritantes do jogo, que é a sensação de falta de fluidez. Praticamente todos os ataques têm um atraso entre o comando e a execução, tornando o combate truncado e desajeitado.

É interessante a ideia de convocar as garotas para executarem diferentes golpes, mas, na prática, é mais um conceito subutilizado. O problema é que a maior parte dos movimentos é lenta demais, inútil ou nada prática, então o ideal é focar somente nos poucos que funcionam bem — depois que resgatei a espadachim Dia, não usei mais nenhuma outra garota para atacar. As armas secundárias sofrem do mesmo problema com suas execuções desajeitadas, mas ao menos são fortes o bastante para derrotar os inimigos rapidamente.


O sistema de criação de equipamentos tem pouco impacto. Há uma infinidade de itens com características distintas, como proteção contra veneno, aumento da taxa de dano crítico e diminuição do custo de Pontos Sombrios. Porém, na prática, não é necessário ficar atento a nada disso. Escolher os itens com melhor aumento de vida e defesa já é suficiente, os outros efeitos são irrelevantes.

O ponto alto do combate está nas batalhas contra os chefes, que são interessantes e apresentam sequências de golpes intrincadas que exigem maior atenção. No entanto, esses embates têm sua parcela de pontos negativos. Há uma clara discordância entre a velocidade dos ataques dos mestres e a velocidade de reação de Yohane, o que torna difícil escapar dos perigos. Além disso, a partir da segunda metade da aventura, os chefes se tornam bem poderosos do nada, com golpes capazes de drenar boa parte da vida da heroína, sendo o único jeito de sobreviver comprar o máximo possível de poções. Faltou muito equilíbrio na hora de montar as batalhas contra os chefes.



Em um universo pouco inspirado

Olhando para a ambientação, Yohane the Parhelion é competente até certo ponto. Os cenários são coloridos e os personagens são detalhados e bem animados, em especial os chefes. As localidades em si, em contrapartida, são um pouco genéricas (floresta, caverna com lava, navio abandonado). Há uma dissonância estranha entre elementos em baixa e em alta resolução, mas o resultado final é agradável, resultando em um jogo com vibe 16-bits.

Como uma aventura baseada em um anime, o título falha terrivelmente. Para começar, não há nenhum esforço para tentar situar o jogador neste universo, ou seja, pressupõe-se que ele já conheça o material de origem. Mas, mesmo assim, tudo é mal aproveitado: a história é basicamente inexistente e os inúmeros diálogos são irrelevantes.


É tudo tão genérico que seria possível perfeitamente substituir as personagens que não faria diferença para o resultado final. Até mesmo o aspecto de idols e de música do material de origem foi ignorado, pois há uma única música cantada. Ao menos o texto está em português e os fãs da série poderão se divertir um pouco com interações simples entre as garotas, que são dubladas pelas mesmas vozes do anime.

Na parte de conteúdo, o jogo também decepciona. A aventura pode ser terminada em menos de quatro horas, um pouco mais caso o jogador vá atrás de colecionáveis necessários para liberar os ataques alternativos das garotas. Fora isso, não há mais nada, como modos alternativos, versão mais difícil da jornada ou até mesmo uma galeria de imagens. A sensação final é de um título produzido de qualquer jeito para tentar capitalizar em cima do anime sem se preocupar em ser interessante o suficiente.



Uma jornada para os fãs mais dedicados

Yohane the Parhelion -BLAZE in the DEEPBLUE- oferece uma primeira impressão promissora, mergulhando os jogadores em um mundo colorido inspirado na animação nipônica derivada de Love Live! Sunshine!!. Contudo, a experiência revela-se, ao longo do tempo, insatisfatória devido a diversas falhas.

A estrutura metroidvania do jogo é comprometida por um design de níveis preguiçoso e uma falta de diversidade nas ambientações, resultando em uma sensação de repetição constante. A mecânica de convocar as garotas para auxiliar nas batalhas, embora interessante em teoria, é subutilizada na prática, contribuindo para um combate monótono e desajeitado. Além disso, a conexão com o universo do anime é minimamente explorada e a falta de elementos característicos do original, como a música e a atmosfera idol, desaponta.

No fim, Yohane the Parhelion -BLAZE in the DEEPBLUE- deixa a desejar, resultando em uma experiência que parece ter sido produzida apressadamente sem o cuidado necessário para torná-la verdadeiramente cativante.

Prós

  • Mecânica de ação e plataforma 2D descomplicada;
  • Progressão ágil com muitos pontos de teletransporte;
  • Batalhas contra chefes com elementos interessantes;
  • Visual agradável com bons elementos em pixel art.

Contras

  • Level design banal e com áreas mecanicamente similares tornam a exploração enfadonha;
  • Combate prejudicado pelo atraso na hora de desferir ataques e técnicas especiais;
  • Sistemas de criação de equipamento e de habilidades especiais na exploração são subutilizados;
  • Muitos problemas de balanceamento nos chefes;
  • Ambientação genérica que não explora direito o material original.
Yohane the Parhelion -BLAZE in the DEEPBLUE- — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 5.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela INTI CREATES


é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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