Makis Adventure é um jogo difícil de ser avaliado. Ele cai no paradoxo de ser um jogo do qual gostei e, ao mesmo tempo, ter limitações muito óbvias em diversos aspectos. Há nele uma identidade própria e algum carisma, ajudado pelo empenho colocado por seu desenvolvedor solo, o alemão Mateo Covic. Na época do lançamento para PC, em 2023, ele tinha 20 anos de idade.
Um dos problemas de reconhecer valores como “paixão” e “esforço”, que envolvem um primeiro trabalho, é o risco de parecer condescendente ou paternalista, especialmente ao mencionar a idade do criador, algo destacado por ele mesmo em uma das opções do menu inicial. É visível que Mateo tem orgulho de sua obra — ele incluiu até um editor de níveis na versão de Steam (como joguei no PS5, não pude testar essa adição)!
Esse tom pode amenizar a parte negativa, mas incorrer no efeito colateral de diminuir o mérito, o que não é minha intenção. Realmente apreciei Makis Adventure pelo que ele oferece e vejo o potencial de ser um jogo maior e melhor — potencial não alcançado.
Mesmo sendo um jogo curto, com três horas de duração, a estrutura espelha um formato muito maior, o que não se concretiza e deixa a sensação de que acaba antes da hora. É uma aventura completa, com começo, meio e fim definidos. A questão é que o começo é bem desenvolvido e dá uma boa base para um meio cortado pela metade e um fim decepcionantemente apressado.
♫“Demon shark doo, doo, doo, doo, doo, doo”♫
Tem bastante coisa acontecendo em Makis Adventure. Trata-se de uma campanha com a aquisição de habilidades de metroidvania em locais bidimensionais de visão lateral, ligados por um mundo de gráficos 3D dos anos 1990 (algo como em Vernal Edge), lutas contra chefes, missões opcionais a mando de NPCs, muitos minigames e modos extras de boss-rush e corrida contra o tempo.
Nosso herói, Maki, é um tubarão-demônio do bem (!) que quer livrar o mundo da tirania de um demônio maligno invasor. Ele começa em um calabouço, onde há o tutorial e vemos um pouco de cada coisa, inclusive na capacidade dele de se transformar em um tubarão completo assim que entra na água, o que muda o modo de controle, adicionando verticalidade, e acelera a gameplay. É algo simples, mas eficiente em transmitir a sensação de agilidade dessa raça inusitada e é um dos pontos que dão identidade própria ao game.
Após explorarmos o lugar rumo ao topo, jogarmos um minigame de dardos na taverna e enfrentarmos dois chefes, ficamos soltos no mundão poligonal com cara de PS1. Eu digo mundão porque parece grande, mas as localidades exploráveis são poucas. O que chama atenção em primeiro lugar é que, nesse mundo 3D, Maki está em sua forma de tubarão. Novamente, é bastante simples e serve mais para demonstrar o empenho criativo que dá ao jogo um aspecto único.
Dessa forma, Makis Adventure constrói uma apresentação carismática, incluindo seus NPCs excêntricos com diálogos levemente divertidos (apenas em inglês ou alemão) e a diversidade de minigames espalhados por aí, compensando a grande simplicidade da arte dos cenários e das músicas, que são apenas funcionais.
Pouco mar para um tubarão desse porte
Nessas alturas, já estamos falando do “meio” do jogo, seguindo a clássica fórmula “consiga certa quantidade de poderes para conseguir enfrentar o chefão do mal”. O problema é que essa quantidade é baixa: apenas dois poderes, que são os dentes de antigos tubarões místicos, que dão a Maki a capacidade de quebrar pedras e nadar rapidamente.
Cada dente está em uma área diferente, é claro, o que nos dá duas grandes ilhas para explorar e enfrentar os chefões que causam problemas por lá. Fora isso, há apenas uma cidade central e um ou outro local menor, que não envolvem exploração.
Esse foi o miolo do jogo e logo em seguida chegamos ao final apressado, quando a história nos leva à última “dungeon”. Coloquei a palavra entre aspas porque é a que o jogo utiliza, mas que, na verdade, contém apenas a arena da luta final, quebrando a expectativa de ter pelo menos mais um local relevante para usar as habilidades de tubarão.
Eu entendo que Makis Adventure é um minivania e, portanto, tem na brevidade sua essência, sendo divertido enquanto dura. Meu ponto, porém, é que o jogo traz mais bagagem do que sua curta duração dá conta, o que faz os tais detalhes carismáticos terem pouca relevância no quadro geral.
A história de salvar o mundo, os NPCs para conversar e ajudar, a boa quantidade de minigames e, principalmente, o overworld tridimensional combinam com uma campanha mais robusta e comunicam expectativas de que há mais a vasculhar. Há pelo menos dois locais que achei que seriam acessados, mas são apenas decoração do mundo externo.
Minha sensação é de que, invertendo o ditado, Makis Adventure deu um passo menor que as pernas — o resultado final merecia mais. Eu entendo que se trata do primeiro jogo de um desenvolvedor solo e que aumentá-lo exigiria muito dele. Mesmo assim, a concisão não contribui para o bom proveito e fica aquém da proposta, parecendo o resumo de uma aventura maior.
Um exemplo prático disso é que os minigames não têm recompensas práticas. Tem um de lançamento de dardo, de apanhar maçã no cesto, vôlei aquático, voar por dentro de anéis e outros mais. Eles são razoavelmente divertidos e me esforcei para conseguir o ouro em quase todos, mas param por aí, sem se conectar ao restante da campanha. O combate também fica na simplicidade, assim como a utilidade do dinheiro obtido ao derrotar inimigos.
Meu sentimento é que se trata do tipo de jogo que, com mais experiência e recursos de seu criador, merece ser refeito, como já aconteceu antes com Phoenotopia: Awakening e, em breve, com Xanthiom Zero ReSimulated, por exemplo.
Antes de seguir para a conclusão, uma curiosidade: o nome Makis Adventure realmente quer dizer “aventura de Maki”, mas é uma mistura do caso genitivo em alemão, Makis, que só acrescenta o “s” e não usa o apóstrofo como na língua inglesa, e Adventure em inglês mesmo.
Um lago com coração de mar
Com gameplay variada em seus minigames e alternância de perspectivas, Makis Adventure é um agradável e divertido primeiro jogo de um desenvolvedor solo, mas não atinge o potencial de sua proposta e acaba justamente quando poderia aprofundar suas boas ideias. As três horas de duração valem aos curiosos e entusiastas de aventuras compactas com elementos de metroidvania.
Prós
- A apresentação de mundo variada confere identidade própria;
- Gameplay agradável de plataforma e exploração;
- Muitos minigames para experimentar casualmente.
Contras
- A brevidade é incoerente com a proporção de mundo grande apresentada, deixando o desenrolar da campanha muito apressado e algumas mecânicas superficiais;
- Estética audiovisual pouco marcante;
- Sem português brasileiro.
Makis Adventure — PC/PS5/PS4/XSX/XBO/Switch — Nota: 6.0Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Beatriz Castro
Análise produzida com cópia digital cedida pela eastasiasoft











