Jogamos

Análise: Hollow Knight (PC) é um metroidvania sombrio e muito desafiante

Com ótimos visual e ambientação, este indie se destaca pela vastidão dos cenários e pelas ótimas mecânicas.

Hollow Knight é um metroidvania lançado para PCs (e futuramente Nintendo Switch) que, em um primeiro momento, chama a atenção com sua direção de arte única e bela. A fórmula básica do gênero está ali, porém bastam alguns minutos para perceber que o jogo traz conceitos interessantes e não muito explorados no estilo, como grande liberdade de exploração e combate desafiante. A combinação das características gera uma aventura que consegue ser imersiva e tensa, resultando em uma experiência única.

Liberdade para explorar um mundo vasto

Hollow Knight segue a fórmula clássica do gênero metroidvania: o protagonista explora um grande mundo labiríntico interconectado, com vários locais que só podem ser acessados após se obter certas habilidades. O principal diferencial desse jogo é a vastidão, pois o seu mundo é imenso e há muitas opções de lugares para visitar. Também não há uma ordem clara de como avançar na aventura e sempre existem muitas regiões disponíveis a serem exploradas. O legal é que existem vários caminhos para chegar em algum ponto do mapa, todos eles com coisas para ver e segredos para encontrar.

Pelo caminho, há um misto de desafios de plataforma e combate. É muito comum sessões em que é necessário fazer saltos precisos ao mesmo tempo em que se evita armadilhas e ataques de inimigos. No geral, o desafio é de mediano para alto e perdi a conta das vezes em que morri. É impossível não perceber também as inspirações da série Dark Souls, como na cadência e dificuldade do combate e no desenho dos mapas. Outra referência está no ato de morrer: o personagem deixa uma sombra maligna no local da morte e é necessário voltar lá e derrotá-la para recuperar todo o dinheiro. Enquanto jogava, sempre fiquei tenso ao explorar uma nova área, pois não sabia que tipos de perigos podiam aparecer — qualquer erro é fatal.


A liberdade faz com que a aventura seja bem imersiva, mesmo que o ritmo seja um pouco inconstante. No início, tudo isso me trouxe a sensação de uma jornada cansativa, pois andava bastante e parecia que não conseguia avançar na aventura. Também me perdi bastante, sem saber exatamente para onde seguir. Contudo, insisti na jornada, principalmente pela vontade de saber o que vinha a seguir, que tipo de área e que desafios me esperavam. Com o tempo, me acostumei com os lugares e ficou bem mais fácil navegar pelo mundo de Hallownest, principalmente com a ajuda de algumas habilidades que me permitiam chegar mais rápido nos lugares. No fim da aventura, já estava completamente habituado a tudo.

Contudo, há alguns problemas com essa abordagem de ter um mapa bem grande e com muitas opções de exploração. O primeiro deles é que é extremamente fácil se perder, ainda mais por conta de que o jogo não te dá uma direção muito clara de qual é possivelmente o próximo objetivo — foram muitos os momentos em que eu fiquei vagando sem saber exatamente onde deveria ir. O outro problema é que é tudo muito distante e perde-se muito tempo só indo de um local para outro. Até há um sistema de transporte rápido, mas esses pontos são bem distantes entre si. Por fim, os locais de salvamento são escassos e afastados, o que significa andar um bocado depois de morrer.


Um detalhe é que Hollow Knight sofre com problemas de performance: engasgos e travamentos eventuais, principalmente quando há muitos efeitos visuais na tela. O problema é que esses defeitos costumam acontecer justamente em momentos em que é necessária precisão para atacar um inimigo ou superar um obstáculo, o que resulta em dano desnecessário e até mesmo mortes injustas. Foram inúmeras as vezes em que isso aconteceu comigo e é sempre muito irritante quando isso acontece. O problema afeta vários jogadores (mesmo aqueles com máquinas poderosas) e a desenvolvedora promete resolvê-los no futuro.

Um mundo inusitadamente belo

Hollow Knight se passa em um antigo reino subterrâneo vítima de alguma catástrofe e hoje só sobraram ruínas. Ali, todos os habitantes são insetos de todos os tipos. Algumas criaturas têm aparência bem amigável, outras são grotescas e assustadoras, o tom geral lembra um desenho animado sombrio e macabro. Todos os personagens são únicos e conseguem transmitir personalidade e carisma somente com seu visual. Sendo assim, sempre fiquei me perguntando que tipo de criatura iria aparecer pelo caminho. A trama é bem críptica e para entendê-la é necessário investigar todos os cantos e inferir algumas coisas — me concentrei mais nos habitantes exóticos desse mundo do que em sua história.

Hallownest é um mundo em ruínas, mas isso não significa que ele não tenha vida ou locais deslumbrantes, pelo contrário. As áreas do jogo são muito belas e repletas de pequenos detalhes construídos com esmero. Algo interessantíssimo é o uso da cor: cada região tem uma paleta de cores própria, o que as tornam ainda mais únicas. Ruined Crossroads, por exemplo, é a área inicial da aventura e apresenta tons de roxo escuro e cinza, reforçando o estado destruído do local. Já Greenwood é uma espécie de selva completamente verde, tão diferente que nem parece que está no subterrâneo. Um dos meus locais favoritos é City of Tears, a capital abandonada do reino: o azul escuro é a cor predominante que, em conjunto com a chuva constante, traz uma sensação de pesar.


Composições repletas de pianos e violinos permeiam a aventura e ajudam a construir a atmosfera do jogo. As faixas são belas e conseguem evocar sentimentos como melancolia, mistério e tensão. O tema da cidade Dirtmouth é o meu tema favorito, por conta de sua belíssima melodia com o piano.

Batalhas estratégicas

O combate de Hollow Knight é bem básico, porém todos os encontros são bem intensos e difíceis. O principal motivo disso é que o herói tem à disposição poucos e simples ataques, sendo que os inimigos são bem agressivos e apresentam vários padrões de ataque. Além disso, ainda é necessário ficar atento aos perigos dos cenários, como buracos e espinhos. O resultado é um combate que é sobre observar as investidas inimigas e o ambiente para poder esquivar de golpes e atacar nos momentos corretos.

Há também feitiços que utilizam Soul, uma espécie de medidor de magia que é recuperado ao atacar inimigos. A principal magia é o Focus, que permite recuperar vida ao custo de ficar completamente vulnerável. A outra mais importante é uma espécie de tiro, perfeito para acertar inimigos distantes. O personagem encontra algumas outras magias, mas as mais úteis são essas duas iniciais. O sistema de magia é interessante e incentiva a agressividade, pois só se ganha Soul ao atacar inimigos. E também é necessário ponderar seu uso: consumo Soul agora para acertar aquele monstro ou guardo para depois recuperar minha vida quando precisar?


É possível customizar levemente o herói por via de Charms, amuletos que dão habilidades. São coisas como maior alcance dos ataques, diminuição do custo de feitiços e pontos de vida temporários, sendo que há também combinações que mudam completamente os efeitos. Uma quantidade bem limitada de amuletos pode ser equipada e na maior parte do tempo usei coisas mais básicas (bússola, coletar automaticamente o dinheiro), porém eventualmente precisei usar configurações mais pensadas para o combate.

As batalhas com os chefes são uns dos meus momentos favoritos em Hollow Knight, mesmo que eu tenha ficado muito tenso em todas elas. Os mestres têm padrões de ataques complexos e atacam muito rápido, o que exige muita atenção. Em todas as vezes, precisei usar de estratégia e concentração para vencer — força bruta nunca funcionou. Alguns encontros são difíceis a ponto de serem frustrantes, porém consegui contornar isso mudando de estratégia ou então alterando os Charms.


No geral, o combate do jogo é ótimo e divertido. Foi uma escolha acertada focar em tentar entender os ataques dos inimigos para poder vencer, sendo que até os confrontos mais básicos podem ser intensos. Mesmo com muitos monstros atacando ao mesmo tempo, o título dá ferramentas e opções para sobreviver, porém pode acontecer de ser cercado e morrer — momentos assim são frustrantes. E há surpresa a todo momento: são mais de 120 inimigos diferentes, cada qual com características distintas.

Perdendo-se em uma ótima jornada

Hollow Knight é um metroidvania que prende por conta de sua excelente ambientação e ação intensa. Me diverti demais superando os desafios de Hallownest, principalmente por conta da constante sensação de tensão e deslumbramento. O principal motivo disso é a mistura equilibrada de sessões de plataforma e combate desafiante, combinados com com o ótimo visual. Alguns jogadores podem ficar frustrados com a dificuldade acentuada e com os mapas extensos demais, características essas que podem ser consideradas os maiores problemas do título. Sendo assim, Hollow Knight é uma experiência única e excepcional.

Prós

  • Ótimas mecânicas de exploração e combate;
  • Belíssimo visual e trilha sonora;
  • Mapa extenso e repleto de segredos.

Contras

  • Backtracking cansativo;
  • Engasgos e outros problemas técnicos.
Hollow Knight —PC — Nota: 9.5
Revisão: Vitor Tibério

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google