Ainda que de forma modesta, a indústria brasileira de games cada vez mais traz novos lançamentos ao mercado. Mais legal ainda é saber que alguns desses títulos mostram parte da nossa cultura, que assim pode ser aproveitada por novos e maiores públicos. Gaucho and the Grassland é mais um ótimo exemplo desse grupo, fazendo uso da cultura gaúcha para oferecer um game divertido e agradável, como vamos conferir nesta análise.
Vista tua bombacha, esquente a água para o chimarrão e não esqueça do teu cusco fiel, pois a matéria vai começar!
Desta terra que eu amei desde guri
Antes de falar do jogo em si, quem está atento ao GameBlast talvez já tenha ouvido falar dele desde
2022. O ciclo de desenvolvimento foi longo, inclusive para padrões indie, mas, como sempre, o importante é o resultado. Lançado para PC no dia 16 de julho, esta produção brasileira prima pelo capricho e respeito às suas fontes e referências.
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| Tchê, que bela paisagem! |
A história do game é simples, mas tem seu charme: após customizar a aparência do seu personagem, somos apresentados a uma cena um tanto triste, que é o enterro do pai do jogador. A tristeza, entretanto, dura pouco, pois o fantasma dele, conhecido como “Velho Pai”, volta e revela que era uma espécie de guardião dos pampas gaúchos.
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| O vivente está pronto para tomar um cagaço |
Dessa forma, agora cabe ao protagonista, seu filho, cuidar das tarefas de ajudar as pessoas e espíritos. Sim, Gaucho and the Grassland tem uma pegada mística, trazendo elementos fantásticos bastante interessantes. Apesar de usar algumas coisas mais genéricas, como formigas vilãs e uma espécie de “dragão”, o game foca sobretudo na mitologia brasileira.
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| A primeira reforma a gente não esquece |
Inicialmente, o “pai fantasma” traz algumas missões bem básicas – como um tutorial –, nas quais aprendemos como fabricar itens, fazer construções, coletar materiais, andar a cavalo, etc. Conforme avançamos, novas áreas são liberadas, contendo desafios como apagar incêndios e salvar animais, assim como pessoas para conhecer e recursos para utilizar.
Onde tudo que se planta, cresce
Gaucho and the Grassland guarda muitas similaridades com jogos simuladores de fazenda, bastante comuns há algum tempo no mercado. Afinal, temos que coletar recursos para construir coisas, cuidar de animais e interagir com pessoas para resolver problemas e obter novos itens. O game brasileiro vai bem nessas atividades, tão divertidas quanto em qualquer título semelhante.
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| As missões são surpreendentemente variadas |
Divertidas e simples, preciso adicionar. Não espere processos de criação muito complexos ou receitas muito mirabolantes. É como o estilo visual do game: modesto, mas competente, com personagens bastante carismáticos (mesmo com os olhos “escondidos”). Tudo é bastante colorido e cheio de vida, em áreas que permitem alguma exploração.
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| Barbaridade, que baita Boitatá! |
O trabalho de som é igualmente positivo, com melodias sanfonadas e frases engraçadas. Digo “frases” porque o game não é totalmente dublado, contando somente com algumas palavras e pequenas falas por parte dos personagens. Inclusive, a maioria delas é bem gaudéria, com um sotaque tipicamente gaúcho, tais como “vamo, guaipeca" e "louco de especial”.
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| Ajude os amigos sempre que possível |
Bom, com um nome de “Gaucho and the Grassland”, era de se esperar que o game tivesse uma temática bastante característica do Rio Grande do Sul. O ponto interessante é que o game vai além disso, trazendo elementos de outras partes do nosso grande Brasil e sua vasta cultura. Não quero trazer spoilers, pois a descoberta dessas surpresas é um dos pontos positivos do game.
Nascido entre a poesia e o arado
Mas mesmo não querendo dar spoilers, creio que citar alguns exemplos seja algo importante para motivar os leitores. Nomes como Rita Alli, Tio Bino (que cai em ciladas), Boitatá, Seu Zé Pequeno (que lida com galinhas), entre outros, são referências conhecidas em todo o Brasil. Obviamente, os gaúchos vão ter uma quantidade maior de coisas para se identificar, incluindo nomes e piadas.
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| Os diálogos podem reservar boas piadas |
Um exemplo são os biomas que podem ser acessados após a parte tutorial inicial, cada um baseado em uma região do Rio Grande do Sul: praia, serra e pampas (além do mundo místico). Ao entrarmos nessas áreas, cada uma com seu charme próprio, encontramos algum tipo de situação ruim que afeta os moradores, bem como novos segredos e missões para completar e salvar o local.
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| O mundo místico muda as paisagens de forma interessante |
As missões seguem padrões parecidos e, como o sistema de criação, são simples, mas competentes. Temos que acender fogueiras para pessoas com frio, laçar vacas desgarradas, reformar estruturas destruídas, tosar ovelhas para gerar lã e trocar por outros itens. Elas não exigem muita habilidade ou esforço, mas é importante ressaltar que essa simplicidade guarda uma diversão honesta.
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| Um verdadeiro CTG |
Aliás, Gaucho and the Grassland permite uma jogatina mais leve, em que não é preciso seguir a campanha freneticamente. É legal parar um pouco para construir e customizar a sua fazenda, incluindo animais e mobília, fazendo uso das receitas e itens obtidos ao longo do caminho. Pescar, disputar corridas com seu cavalo Alazão, criar animais, caçar tesouros com seu cão Cusco são outras atrações que merecem ser aproveitadas.
Como a aurora precursora
A jogatina mais leve também é válida devido ao game não ser muito longo; caso o jogador foque somente nas tarefas principais, em algumas poucas horas é possível terminar a campanha. A proposta, entretanto, não é essa: temos aqui um título agradável, que deve ser curtido no seu tempo e com muitos easter eggs (por falta de um termo melhor em português) para os brasileiros.
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| O Negrinho do Pastoreio é uma das atrações do game |
O game mistura mouse e teclado na sua jogabilidade, que embora clara, por vezes não é bem coerente. Parece uma frase conflitante, mas algumas ações de interação são por cliques, outras por teclas, sem muito critério. Felizmente, com o tempo, nos acostumamos aos comandos e tudo funciona bem o suficiente (usar um controle é uma boa pedida neste caso).
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| No melhor estilo The Sims, crie sua própria decoração |
A produção como um todo, como deve ter ficado claro ao longo do texto, segue essa dualidade: alguns probleminhas aqui e ali, mas superados por qualidades visivelmente pensadas com carinho pela produtora brasileira. Mais um exemplo: se o sistema de diálogo tem um layout estranho, as falas em si são cheias de charme e conteúdo.
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| Customize o visual do seu gaúcho bagual |
Os cenários são quase grandes demais pela quantidade reduzida de coisas para interagir, mas são coloridos e agradáveis o suficiente – além de musicalmente agradáveis – para fazer a exploração valer a pena. Seja sorvendo um chimarrão mágico ou laçando novilhos no seu Alazão, cada minutinho pode ser muito bem aproveitado neste ótimo indie brasileiro.
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| Muitas possibilidades para explorar e construir |
Finalmente, vale comentar que os produtores têm a intenção de lançar expansões para o futuro. Além de opções mais cosméticas – com direito a camisetas inspiradas nos clubes do Grêmio e do Internacional –, novos DLCs podem incluir missões e mais histórias, quem sabe até sobre a mãe do protagonista (que não é citada no game).
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| Mais corridas legais seria uma boa adição ao game |
Sirvam nossas façanhas
Misturando propostas diferentes que se complementam bem, Gaucho and the Grassland é um game tupiniquim digno de elogios. Se por um lado precisamos tomar conta de plantações, animais e fazendas, por outro temos que ajudar amigos e cuidar de um mundo místico. A jogabilidade é simples e divertida, com uma produção repleta de carisma e recheada com referências à cultura brasileira, em particular à gaúcha. Em suma, uma ótima e bairrista pedida para a sua biblioteca.
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| Barbaridade, que jogo tri massa! |
Prós
- Jogo mistura aventura e gerenciamento de recursos de forma agradável e competente;
- Excelente uso da cultura gaúcha na produção, bem como de outros elementos do Brasil no geral;
- Visuais coloridos e com bom nível de detalhes representam adequadamente a proposta;
- Trabalho de som é cheio de charme e personalidade;
- Jogabilidade simples e funcional, entregando desafios divertidos e acessíveis;
- Potencial para expansões futuras que enriqueçam a experiência do game, sobretudo em termos de referências ao Brasil e sua vasta cultura.
Contras
- As missões e desafios são, por vezes, simplistas demais;
- Controles com o mouse e teclado podem ser um pouco confusos no começo.
Gaucho and the Grassland — PC — Nota: 8.0
Revisão: Johnnie Brian
Análise redigida com cópia digital cedida pela Epopeia Games
Gaucho and the Grassland
8.0
PC
Combining two different themes that complement each other well, Gaucho and the Grassland is a Brazilian game worthy of praise. While on the one hand we need to take care of crops, animals, and farms, on the other we have to help friends and take care of a mystical world. The gameplay is simple and fun, with a production full of charisma, filled with references to Brazilian culture, particularly to the gaucha one. In short, a great and neighborly game that's a must-have for your library.