Análise: Wuchang: Fallen Feathers acerta como soulslike em uma China de fantasia sombria

As limitações técnicas da produção não são empecilho para apreciar as paisagens e o combate — mas, talvez, a dificuldade seja.

em 22/07/2025

Nos anos recentes, a indústria chinesa de videogames tem investido em RPGs de ação, sendo o maior representante deles até agora o aclamado Black Myth: Wukong, de 2024. Em breve teremos Lost Soul Aside (29 de agosto) e Phantom Blade Zero (previsto para 2026), mas, agora, é a vez de Wuchang: Fallen Feathers abrir suas asas.

Era uma vez, na China

A desenvolvedora Leenzee ambientou a história em uma versão de fantasia antiga de sua terra, a região de Sichuan, no sudoeste chinês. Temos em tela uma China de fins do período Ming (1368 a 1644), tão bela quanto devastada por conflitos, bandidos e uma doença sobrenatural que é central à história. A empresa diz que alguns locais da campanha existem até hoje, mas um leigo como eu só identificou a referência ao Grande Buda de Leshan, localizado bem no começo da campanha.



É nesse cenário que se desenrola a história de Wuchang, a protagonista desmemoriada acometida pela doença conhecida como Plumagem. É um nome bastante apropriado, pois esse mal se manifesta com o surgimento de penas pelo corpo, perda de memória e loucura progressiva, até que a vítima se torna por completo um pássaro comedor de carne humana.

A população está sendo assolada pela epidemia e pelos bandidos que se aproveitam do caos. Restam poucos locais seguros, onde taoístas e sacerdotes tentam entender o surto e buscam uma cura.

Misteriosamente, a Plumagem não se desenvolve com a mesma gravidade em Wuchang, que continua sã apesar de já ter perdido suas memórias. Na verdade, a doença confere a elas poderes especiais que a tornam uma importante força na luta contra os terrores macabros que afligem a terra.



“Feather Souls”

À primeira vista, Wuchang: Fallen Feathers é um soulslike bastante tradicional, seguindo o combate cadenciado pelo medidor de energia, os elementos de RPG, os checkpoints que restauram itens de cura e trazem os inimigos de volta, o design de menus e até parte dos efeitos sonoros. Contudo, à medida que jogamos fica claro como a Leenzee se empenhou em incluir sistemas que dão uma versão própria desses esquemas.

O principal é que, cada vez que gastamos experiência para subir de nível, ganhamos um ponto para aplicar em uma gigantesca árvore de habilidades. Tudo fica ali: os pontos de atributo para aumentar as estatísticas, as habilidades de armas, o aumento dos itens de cura recarregáveis e muitas outras melhorias.



É interessante que até a melhoria das armas é feita por esse meio e, em vez de ter efeito para cada equipamento individual, vale para todo o grupo de armas do mesmo tipo, representando que a heroína se aprimorou naquele estilo como um todo.

Também é na árvore de habilidades que são aprendidos novos golpes para os tipos de armas e o aperfeiçoamento do Poder Celeste, um pequeno estoque de pontos que são obtidos ao se realizar esquivas perfeitas e conseguir certos acertos de golpes. Eles são consumidos tanto para lançar feitiços quanto para aumentar o dano dos ataques, fornecendo uma camada dinâmica de risco-recompensa a mais ao combate.



É importante ressaltar que a árvore de habilidades pode ser redefinida ponto a ponto ou por ramificações inteiras e sem qualquer custo, permitindo tentar novas abordagens e testar builds voltadas para as diferentes armas e efeitos, o que é importante para enfrentar o desafio crescente representado pelos chefes.

Tal desafio é um ponto relevante para quem tem interesse em encarar o jogo, pois há picos súbitos de dificuldade que podem levar à frustração ao morrer vez após vez contra chefes muito agressivos. Não é raro que soulslikes tenham problemas com balanceamento dos chefes e até recorram a ajustes em atualizações após o lançamento, como aconteceu com Lies of P e também sua expansão Overture. Honestamente, espero que Wuchang siga o mesmo caminho na busca pelo equilíbrio.



De longe encanta, mas de perto…

Não tome o subtítulo acima de forma pejorativa, mas como mera constatação que precede o juízo de valor. Quando olhamos de longe, Wuchang é realmente um jogo muito bonito, com paisagens amplas, caminhos serpenteantes em meio à vegetação densa e arquitetura ornamentada — mas nada disso passa na prova do olhar de perto, pois as texturas são de baixa resolução (bem que achei estranho quando vi que a instalação ocupa apenas 15 GB no PS5). Em muitos casos, nem precisamos olhar de pertinho para notar a limitação.

Embora as texturas sejam o principal nisso, há uma granulação geral dos elementos que compromete a qualidade da visualização. Nas opções visuais podemos ainda ajustar a nitidez, mas não consegui produzir uma diferença positiva.



No PS5, há três modos gráficos e não notei vantagem no que prioriza a resolução nem no que tenta equilibrar as coisas. Mesmo no modo dedicado à taxa de quadros a performance pode ser inconstante, então recomendo ativar a bem-vinda opção Travar FPS, que deixa a experiência suave o bastante para ser apreciada sem problemas.

No aspecto técnico, é um jogo que habita as zonas limítrofes, então podemos vê-lo pelos dois ângulos distintos dessa fronteira: uma obra que conseguiu aproveitar ao máximo seus recursos limitados para oferecer visuais rebuscados que elevam a experiência de baixo-médio orçamento, ou uma obra que não conseguiu produzir e polir à altura de seus pares no gênero soulslike.



No meu caso, digamos que fiquei em cima do muro: eu logo me resignei ao resultado final, mas não pude deixar de perceber e lamentar ao longo da campanha como as texturas não correspondem à perceptível beleza conceitual.

Também precisamos considerar que Wuchang é um jogo grande, com 40 horas de duração. O início estritamente linear engana, pois logo as áreas passam a se ramificar e dar voltas em si mesmas em um design de níveis instigante, oferecendo bifurcações e conteúdo opcional para quem gosta de explorar e se aventurar fora do caminho principal.

Um pássaro orgulhoso de belas plumas borradas

As texturas de baixa resolução não anulam a grande beleza de Wuchang: Fallen Feathers. Como soulslike, ele oferece combates desafiadores — com desagradáveis picos de dificuldade — e exploração por ambientes interconectados, mas a progressão de personagem vai além da fórmula do gênero e apresenta uma grande árvore de habilidades que centraliza os diferentes aspectos de evolução e pode ser reconfigurada à vontade para modificar a abordagem e testar diferentes builds.



Prós

  • Bela direção de arte, com cenários amplos e profundos;
  • Todas as melhorias são centralizadas em uma extensa árvore de habilidades que pode ser redefinida item a item para modificar a build;
  • Textos em português brasileiro.

Contras

  • A resolução da imagem em geral e das texturas é baixa, desvalorizando a beleza que há na direção de arte e dando aspecto de produção inferior;
  • As primeiras horas são muito lineares e simplistas;
  • Os picos de dificuldades nos chefes podem representar barreiras frustrantes para o progresso na campanha.
Wuchang: Fallen Feathers — PC/PS5/XSX — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS5

Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela 505 Games
OpenCritic
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Victor Vitório
Admiro videogame como uma mídia de vasto potencial criativo, artístico e humano. Jogo com os filhos pequenos e a esposa; também adoro metroidvanias, souls e jogos que me surpreendam e cativem, uma satisfação que costumo encontrar nos indies. Veja minhas análises no OpenCritic.
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