Nos anos recentes, a indústria chinesa de videogames tem investido em RPGs de ação, sendo o maior representante deles até agora o aclamado Black Myth: Wukong, de 2024. Em breve teremos Lost Soul Aside (29 de agosto) e Phantom Blade Zero (previsto para 2026), mas, agora, é a vez de Wuchang: Fallen Feathers abrir suas asas.
Era uma vez, na China
A desenvolvedora Leenzee ambientou a história em uma versão de fantasia antiga de sua terra, a região de Sichuan, no sudoeste chinês. Temos em tela uma China de fins do período Ming (1368 a 1644), tão bela quanto devastada por conflitos, bandidos e uma doença sobrenatural que é central à história. A empresa diz que alguns locais da campanha existem até hoje, mas um leigo como eu só identificou a referência ao Grande Buda de Leshan, localizado bem no começo da campanha.
É nesse cenário que se desenrola a história de Wuchang, a protagonista desmemoriada acometida pela doença conhecida como Plumagem. É um nome bastante apropriado, pois esse mal se manifesta com o surgimento de penas pelo corpo, perda de memória e loucura progressiva, até que a vítima se torna por completo um pássaro comedor de carne humana.
A população está sendo assolada pela epidemia e pelos bandidos que se aproveitam do caos. Restam poucos locais seguros, onde taoístas e sacerdotes tentam entender o surto e buscam uma cura.
Misteriosamente, a Plumagem não se desenvolve com a mesma gravidade em Wuchang, que continua sã apesar de já ter perdido suas memórias. Na verdade, a doença confere a elas poderes especiais que a tornam uma importante força na luta contra os terrores macabros que afligem a terra.
“Feather Souls”
À primeira vista, Wuchang: Fallen Feathers é um soulslike bastante tradicional, seguindo o combate cadenciado pelo medidor de energia, os elementos de RPG, os checkpoints que restauram itens de cura e trazem os inimigos de volta, o design de menus e até parte dos efeitos sonoros. Contudo, à medida que jogamos fica claro como a Leenzee se empenhou em incluir sistemas que dão uma versão própria desses esquemas.
O principal é que, cada vez que gastamos experiência para subir de nível, ganhamos um ponto para aplicar em uma gigantesca árvore de habilidades. Tudo fica ali: os pontos de atributo para aumentar as estatísticas, as habilidades de armas, o aumento dos itens de cura recarregáveis e muitas outras melhorias.
É interessante que até a melhoria das armas é feita por esse meio e, em vez de ter efeito para cada equipamento individual, vale para todo o grupo de armas do mesmo tipo, representando que a heroína se aprimorou naquele estilo como um todo.
Também é na árvore de habilidades que são aprendidos novos golpes para os tipos de armas e o aperfeiçoamento do Poder Celeste, um pequeno estoque de pontos que são obtidos ao se realizar esquivas perfeitas e conseguir certos acertos de golpes. Eles são consumidos tanto para lançar feitiços quanto para aumentar o dano dos ataques, fornecendo uma camada dinâmica de risco-recompensa a mais ao combate.
É importante ressaltar que a árvore de habilidades pode ser redefinida ponto a ponto ou por ramificações inteiras e sem qualquer custo, permitindo tentar novas abordagens e testar builds voltadas para as diferentes armas e efeitos, o que é importante para enfrentar o desafio crescente representado pelos chefes.
Tal desafio é um ponto relevante para quem tem interesse em encarar o jogo, pois há picos súbitos de dificuldade que podem levar à frustração ao morrer vez após vez contra chefes muito agressivos. Não é raro que soulslikes tenham problemas com balanceamento dos chefes e até recorram a ajustes em atualizações após o lançamento, como aconteceu com Lies of P e também sua expansão Overture. Honestamente, espero que Wuchang siga o mesmo caminho na busca pelo equilíbrio.
De longe encanta, mas de perto…
Não tome o subtítulo acima de forma pejorativa, mas como mera constatação que precede o juízo de valor. Quando olhamos de longe, Wuchang é realmente um jogo muito bonito, com paisagens amplas, caminhos serpenteantes em meio à vegetação densa e arquitetura ornamentada — mas nada disso passa na prova do olhar de perto, pois as texturas são de baixa resolução (bem que achei estranho quando vi que a instalação ocupa apenas 15 GB no PS5). Em muitos casos, nem precisamos olhar de pertinho para notar a limitação.
Embora as texturas sejam o principal nisso, há uma granulação geral dos elementos que compromete a qualidade da visualização. Nas opções visuais podemos ainda ajustar a nitidez, mas não consegui produzir uma diferença positiva.
No PS5, há três modos gráficos e não notei vantagem no que prioriza a resolução nem no que tenta equilibrar as coisas. Mesmo no modo dedicado à taxa de quadros a performance pode ser inconstante, então recomendo ativar a bem-vinda opção Travar FPS, que deixa a experiência suave o bastante para ser apreciada sem problemas.
No aspecto técnico, é um jogo que habita as zonas limítrofes, então podemos vê-lo pelos dois ângulos distintos dessa fronteira: uma obra que conseguiu aproveitar ao máximo seus recursos limitados para oferecer visuais rebuscados que elevam a experiência de baixo-médio orçamento, ou uma obra que não conseguiu produzir e polir à altura de seus pares no gênero soulslike.
No meu caso, digamos que fiquei em cima do muro: eu logo me resignei ao resultado final, mas não pude deixar de perceber e lamentar ao longo da campanha como as texturas não correspondem à perceptível beleza conceitual.
Também precisamos considerar que Wuchang é um jogo grande, com 40 horas de duração. O início estritamente linear engana, pois logo as áreas passam a se ramificar e dar voltas em si mesmas em um design de níveis instigante, oferecendo bifurcações e conteúdo opcional para quem gosta de explorar e se aventurar fora do caminho principal.
Um pássaro orgulhoso de belas plumas borradas
As texturas de baixa resolução não anulam a grande beleza de Wuchang: Fallen Feathers. Como soulslike, ele oferece combates desafiadores — com desagradáveis picos de dificuldade — e exploração por ambientes interconectados, mas a progressão de personagem vai além da fórmula do gênero e apresenta uma grande árvore de habilidades que centraliza os diferentes aspectos de evolução e pode ser reconfigurada à vontade para modificar a abordagem e testar diferentes builds.
Prós
- Bela direção de arte, com cenários amplos e profundos;
- Todas as melhorias são centralizadas em uma extensa árvore de habilidades que pode ser redefinida item a item para modificar a build;
- Textos em português brasileiro.
Contras
- A resolução da imagem em geral e das texturas é baixa, desvalorizando a beleza que há na direção de arte e dando aspecto de produção inferior;
- As primeiras horas são muito lineares e simplistas;
- Os picos de dificuldades nos chefes podem representar barreiras frustrantes para o progresso na campanha.
Wuchang: Fallen Feathers — PC/PS5/XSX — Nota: 8.0Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela 505 Games













