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Análise: Star Wars Jedi: Survivor (Multi) apresenta ambição e grandiosidade, mas ainda peca tecnicamente

O segundo episódio da saga de Cal Kestis traz uma grande evolução em todos os seus aspectos, menos na performance.


Desde 2020 criei o hábito de usar a coluna Blast from the Past para, humildemente, celebrar meu apreço por Star Wars no 4 de maio, o Star Wars Day. Neste ano, ao invés de falar de mais um jogo do passado, tenho o privilégio de publicar minha opinião sobre o mais recente jogo baseado na franquia criada por George Lucas.

Em Star Wars Jedi: Survivor voltamos a acompanhar o agora cavaleiro Jedi Cal Kestis em sua incansável luta pela liberdade contra o tirânico Império Galáctico. Passando-se cinco anos após os acontecimentos de Star Wars Jedi: Fallen Order, o jovem Jedi e seu droide BD-1 enfrentarão perigos inimagináveis em busca de uma paz que pode estar finalmente ao seu alcance.

O inimigo número 1 do Império

Por anos o jovem Cal Kestis lutou incansavelmente contra a opressão do Império. Viajando por diversos mundos, o jovem e seus aliados foram um verdadeiro estorvo para diversas operações imperiais, o que lhe rendeu uma reputação conhecida desde o mais simplório stormtrooper até os mais altos oficiais.

Em Survivor somos apresentados a um Cal mais maduro e experiente, que atua liderando grupos rebeldes em operações para desmantelar atividades imperiais pela galáxia. Entretanto, o rapaz ainda se questiona sobre a decisão que tomou anos antes ao destruir o Holocron de Eno Cordova para preservar a identidade das crianças sensitivas à Força que poderiam ser a base para reerguer a Ordem Jedi. O rapaz, por vezes, se questiona se todo o tempo que ainda passa lutando ainda vai levá-lo ao objetivo que almeja: paz e segurança para si e seus aliados.


Após uma operação em Coruscant, Cal acaba em Koboh, um planeta situado na Orla Exterior, e encontra uma droide da época da Alta República, centenas de anos antes da época em que ele nasceu. O Jedi descobre sobre um planeta escondido que pode se tornar um refúgio contra a influência do Império e isso se torna uma obsessão. Cal quer descobrir mais sobre o local e como chegar lá.

Em meio a uma conspiração secular envolvendo um Jedi da época da Alta República que esteve conservado em Bacta por 200 anos, Cal se vê em uma verdadeira corrida contra o tempo para tentar alcançar o tal planeta e não deixar que os imperiais descubram sobre o único lugar que ainda não foi tocado pela mão de ferro do imperador.

Camadas de um jogo grandioso

Trazendo novamente um dos principais destaques de seu antecessor, Star Wars Jedi: Survivor conta com um roteiro que faz juz ao nome da franquia, com personagens marcantes e uma trama que consegue prender nossa atenção a todo momento. O retorno de rostos que conhecemos em Fallen Order como Cere Junda, a irmã da noite Merrin e o exótico Greez Ditrus não estão ali apenas para agradar quem se tornou fã do bando no primeiro jogo.


Além destes, novos personagens “disputam” nossa atenção com suas histórias e trejeitos únicos. Dentre eles está o mercenário Bode Akuna, que se mostra um dos novos grandes amigos de Cal após a violenta atividade em Coruscant no capítulo de abertura do jogo. A droide Zee e o barman Monk são outros que me ganharam no meio do extenso elenco de figuras que surgem na trama.

Alguns deles acompanham o herói durante as investidas nos planetas, fornecendo um apoio tático e ofensivo no combate. É possível dar ordens para que executem ações especiais para ajudar nas lutas, mas o uso deles é bem limitado e pouco usado durante o jogo. São realmente úteis para executar ações roteirizadas pelo mapa sob o comando do jogador. Fora isso, se não fosse pelo troféu obtido ao usar suas assistências, a presença deles passaria batida.


Assim como no antecessor, Survivor traz de volta a exploração por diferentes planetas do universo de Star Wars. Entretanto, não são tantos quanto no jogo anterior, mas essa falta de quantidade é compensada com a gigantesca área construída pela Respawn nas novas localidades. Nesse aspecto destaco novamente o planeta Koboh, que além de ser o maior em extensão, é onde as principais atividades do jogo acontecem.

Os mapas são gigantescos, com inúmeros segredos para descobrir e desafios a superar. Quem gosta de explorar com certeza vai gostar de gastar boas horas andando pelas localidades em busca de todos os coletáveis e no cumprimento das atividades, principalmente se tiver deixado boa parte delas para depois da conclusão da história principal.

Felizmente, desta vez contamos com comodidades muito bem-vindas para ajudar quem quer se dedicar a esta atividade. Diferente do jogo anterior, em que o mapa não era tão funcional e não tínhamos o “luxo” de uma função de viagem rápida, a Respawn ouviu nossas preces e tornou o mapa mais prático e adicionou a função de viagem rápida para agilizar nossa locomoção pelos planetas. De quebra, Cal agora também pode fazer uso de animais da fauna local para que sirvam como montarias, acelerando nossas andanças.


Os inimigos estão em maior número e variedade. Alguns continuam sendo obstáculos extremamente simples de serem sobrepujados, enquanto outros, principalmente os chefes, se mostram desafios formidáveis para quem curte jogos de ação. A fórmula de jogabilidade inspirada em títulos soulslike – como Dark Souls, Sekiro, Nioh, dentre outros – está mais aperfeiçoada em Survivor.

Cal também dispõe de uma generosa árvore de habilidades em Survivor. Além de melhorias nos pontos de saúde e de Força, o cavaleiro consegue evoluir suas técnicas com sabre de luz e com a Força ao ponto de torná-lo um guerreiro extremamente poderoso. Depois de várias horas de jogo é possível sentir o quanto Kestis cresceu durante a jornada, o que deixa nossa jogatina cada vez mais estimulante.

A sensação de ser um Jedi

Logo de início já sentimos o poder de Cal no momento em que ele ativa pela primeira vez seu sabre de luz no jogo. O jovem já conta com todas as habilidades que aprendeu em Fallen Order e, cumprindo uma promessa da própria Respawn, o sistema de combate foi totalmente concluído e aprimorado para esta nova aventura.

Um dos maiores destaques da experiência em Star Wars Jedi: Survivor está em sua jogabilidade. Aqui temos uma das melhores representações de como é lutar com um sabre de luz e fazer uso das habilidades com a Força. É, de longe, o ponto que traz maior satisfação dentro do jogo.
Matar um leão por dia é fácil. Quero ver matar um Rancor por dia!
Além das duas posturas de combate do jogo anterior (sabre simples e de lâmina dupla) que estão disponíveis desde o início, Cal também já pode lutar com uma terceira postura: os dois sabres. No decorrer da campanha, o Jedi também aprende outras duas: a Guarda, em que faz uso de um sabre com emissor aprimorado, com uma lâmina mais extensa; e a Blaster, em que ele faz uso do sabre em conjunto com uma pistola.

Podendo equipar apenas duas por vez, cada uma delas tem seus prós e contras. A exemplo, a postura de duas lâminas permite ataques muito rápidos e com dano moderado ao custo de uma defesa e alcance menos eficientes. Já a Guarda é a mais forte ofensivamente, mas peca na velocidade de movimento dos ataques. É válido que o jogador experimente bastante cada uma das posturas para fazer uso das que achar melhor.


O uso da Força, combinado ou não com o combate, por Cal é outro ponto com uma considerável evolução. O jovem faz uso de técnicas já conhecidas e outras novas para auxiliá-lo em combate e também ajudá-lo na resolução de puzzles no ambiente. Muitos deles são bem simples, mas outros já contam com formas engenhosas e criativas que nos fazem lembrar que um Jedi não conta apenas com habilidade na luta com sabre de luz, mas também com astúcia na resolução de problemas.

Assim como Cal, o jogador também pode testar suas habilidades como Jedi. Survivor conta com desafios chamados de Rasgos da Força e câmaras para testar nossas habilidades de luta e astúcia, respectivamente. A conclusão destas atividades premia o jogador com generosos pontos de experiência e talentos, um aprimoramento adicional para Cal. Encontrar e superar todos é uma experiência trabalhosa, mas muito recompensadora.

Em pontos já distantes na história, Cal aprende técnicas devastadoras de combate que nos mostram o verdadeiro poder de um cavaleiro Jedi. O que presenciamos em Fallen Order foi apenas um vislumbre. Neste departamento, a Respawn conseguiu entregar uma das experiências de combate mais satisfatórias e viciantes dentro de um jogo de Star Wars.

A nova geração pesa

Diferente de muitos títulos recentes que continuam lançando seus jogos tanto para as plataformas atuais quanto nas da geração passada, o fato de Star Wars Jedi: Survivor ter sido desenvolvido pensando nas capacidades únicas proporcionadas pelos consoles atuais, PlayStation 5 e Xbox Series X|S, criou expectativas sobre como seria a apresentação do jogo nestas plataformas.

Falando do PlayStation 5, onde joguei, a experiência, em questão de performance, me fez lembrar da época em que joguei Fallen Order pela primeira vez, no PlayStation 4. Apontado como um dos principais problemas do título na análise de nosso colega de redação Mário Carvalho na época, a má performance se mostrou novamente um ponto negativo em minha experiência em Survivor.
O jogo tem problemas, mas o visu tá sempre em dia.
Sinceramente, eu esperava um desempenho semelhante ao que presenciei na versão para PlayStation 5 de Fallen Order, lançada em 2021. O que temos aqui é um jogo com problemas de performance com elementos sendo carregados com atraso, anomalias gráficas pontuais e uma constante queda na taxa de quadros nos dois modos de renderização do console.

Tanto no modo resolução (meta de 30fps) quanto no modo desempenho (meta de 60fps), temos quedas nas taxas de quadros, principalmente nas áreas de mundo aberto e algumas poucas outras em locais mais fechados, como salas ou cavernas. O vilão é o ray tracing, que se mantém ativado em ambos os modos, sem uma opção para desativá-lo.

Em um vídeo publicado recentemente, Thomas Morgan, do portal Eurogamer e Digital Foundry, apresentou uma análise técnica mais detalhada sobre o assunto, mostrando que a versão de Star Wars Jedi: Survivor de PS5 ainda é uma das melhores atualmente, apesar dos problemas técnicos. Deixo o convite para você conferir o vídeo depois. Projetos dessa magnitude, mostrando esse tipo de problemas, nos ajudam a lembrar que a nova geração ainda está no começo.

Em publicação recente, a equipe da Respawn já lançou um pacote adicional de correções para todas as versões do game. Mesmo com esse patch de correções, muitos dos problemas persistiram: texturas demorando para carregar, quedas de quadros em áreas com muitos detalhes, até mesmo nas cutscenes, anomalias gráficas na forma de sombras ou vultos e outras coisas que dão aquela incomodada em quem é bem exigente com esses aspectos.

É difícil recomendar o jogo nesse período de lançamento para quem leva desempenho muito a sério. No meu caso, deu pra fazer vista grossa para algumas coisas pois, de um modo geral, o jogo é muito bom em todo o resto.
Esperando correções tão eficientes quanto os estimulantes do BD-1
Apesar do desempenho questionável, que está bem mais problemático no PC, Survivor ainda traz gráficos impressionantes e uma direção geral primorosa. Realmente me senti imerso no universo de Star Wars a todo momento em que estive jogando. A trilha sonora, o som, a ambientação. Tudo no jogo nos transporta facilmente para este mundo de “Guerras nas Estrelas”.

A Força é poderosa na Respawn

Star Wars Jedi: Survivor é, sem dúvidas, a melhor experiência baseada em Star Wars da atualidade. Primoroso em tudo o que se propõe, o título confirma a competência da Respawn Entertainment em criar um jogo de ação viciante, que consegue evoluir todos os aspectos da experiência que tivemos em 2019 com Star Wars Jedi: Fallen Order. Falta apenas dar mais seriedade na questão da otimização para deixar a experiência geral realmente perfeita.

Prós

  • Ótimo roteiro, digno de Star Wars;
  • O trabalho de localização e dublagem em português está excelente;
  • O combate é viciante e visualmente impressionante;
  • A ambientação é fortemente favorecida pela direção de arte e som;
  • Os planetas contam com mapas substancialmente maiores e recheados de segredos;
  • A locomoção pelos planetas é mais fácil graças às funções de Viagem Rápida e montarias.

Contras

  • Problemas de desempenho constantes, com quedas na taxa de quadros e anomalias gráficas pontuais (mesmo com o patch de 02/05/2023);
  • A mecânica de uso dos parceiros é limitada e pouco usada de forma ativa durante o jogo.
Star Wars Jedi: Survivor — PC/PS5/XSX — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PlayStation 5
Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut
Análise feita com cópia digital cedida pela Electronic Arts

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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