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Análise: KUNAI (PC/Switch) — salvando o mundo com um tablet ninja

Controle um robô ágil nesse carismático título indie de plataforma 2D.


Um tablet equipado com inúmeros armamentos ninja é o protagonista de KUNAI. O herói inusitado precisa enfrentar robôs em uma aventura de ação e plataforma com algumas características de metroidvania. O destaque do jogo é a sua movimentação ágil: o tablet usa duas kunai como ganchos para se locomover rapidamente pelos cenários. É um título que não traz ideias inéditas, no entanto é bem competente no que se propõe.

Um tablet ninja contra uma IA maligna

Uma entidade de inteligência artificial chamada Lemonkus acabou se descontrolando e se voltou contra a humanidade. Com seu poder de processamento, a IA dominou máquinas e dispositivos para atacar as pessoas, o que resultou na quase eliminação da humanidade. Alguns robôs ainda são leais aos seus criadores e enfrentam os capangas de Lemonkus, mas a resistência está cada vez mais difícil por causa da diferença numérica. A esperança é Tabby, um guerreiro-robô no formato de tablet encontrado em um laboratório abandonado. Segundo registros antigos, somente suas habilidades letais podem ser capazes de dar um fim na IA descontrolada.

É neste mundo desolado que acontece a trama de KUNAI. No controle de Tabby, exploramos várias regiões em uma aventura de ação e plataforma 2D. O protagonista do jogo é chamado de “tablet ninja” e o motivo disso são os seus equipamentos e sua agilidade. Além de atacar com uma katana e lançar várias shuriken, o simpático robô usa uma dupla de kunai presas em cordas para alcançar locais de difícil acesso ou para se balançar pelos cenários em alta velocidade. Há também armamento moderno, como uma metralhadora e um lança-mísseis.


KUNAI lembra um título de plataforma clássico, mas ele apresenta também características de metroidvania. As áreas do mundo apresentam mapas elaborados com muitos trechos que só podem ser acessados após obter equipamentos específicos. Além disso, é possível fortalecer o herói por meio de itens escondidos ou melhorias obtidas por meio de dinheiro. Como é de praxe do gênero, há o que ver e explorar fora do caminho principal.

O passado é uma das inspirações para o visual de KUNAI. O jogo uma uma paleta de cores reduzida que lembra títulos de Game Boy em conjunto com iluminação dinâmica, sendo que cada área conta com um esquema de tonalidades único: marrom e vermelho em uma área com lava, bege e verde na floresta, cinza e azul em uma fábrica abandonada, e assim por diante. O resultado é um mundo com ares retrô sem deixar de ser elaborado, e a trilha sonora repleta de composições com chiptune reforça essa ambientação.


Alguns conceitos da história do jogo contam com algumas sacadas bem legais. Melhorias para Tabby precisam ser compradas na loja de aplicativos de seu sistema operacional, que só pode ser acessada ao conseguir sinal WiFi de algum roteador sem fio próximo. Os diálogos são divertidos e bem pensados, como um robô que diz que um sapato não serve por não ser compatível com seu SO e suas interfaces. Mesmo silencioso, Tabby esbanja personalidade com emojis divertidos que aparecem em sua tela ao realizar ações no jogo — ao agachar, por exemplo, a tela do herói mostra uma face que lembra um gatinho. O humor é sutil, mas traz charme ao mundo de KUNAI.


Usando truques de ninja para sobreviver

O foco de KUNAI é a agilidade da ação. Tabby tem à disposição ferramentas e habilidades que o permitem se locomover rapidamente pelos cenários. A principal forma de exploração é por meio das kunai: as facas se prendem a quase todo tipo de superfície, o que possibilita alcançar locais altos ou distantes com facilidade. Já alguns outros pontos exigem dominar a inércia do personagem para atravessar trechos repletos de perigos e sem plataformas ao lançar as kunai continuamente na hora certa, por exemplo.

O combate é direto e rápido, sendo que a principal arma de Tabby é uma katana. Golpear de qualquer jeito não é o ideal, pois cada inimigo conta com particularidades importantes: samurais bloqueiam todos os ataques e só podem ser acertados quando saltam; um grande canhão só recebe dano de balas rebatidas pela lâmina; um robô com galão explode após ser golpeado, sendo necessário atacar à distância. Outras armas aumentam as possibilidades do combate, mas não muda o foco de atacar no momento certo. A dificuldade é moderada, principalmente nos complicados chefes, e morri bastante mesmo sendo cuidadoso — nem mesmo a habilidade de recuperar parte da energia ao derrotar inimigos com a espada é capaz de superar a estratégia cuidadosa.

O mundo do jogo explora os movimentos do herói em áreas com configuração complicada de obstáculos, sempre exigindo domínio das habilidades e ferramentas de Tabby. No começo é um pouco difícil entender como funciona se balançar pelas fases pendurado nas cordas das kunai, mas bastam alguns minutos para conseguir fazer acrobacias em sequência. Há grande variedade de situações para superar pelas áreas: em um trecho precisamos enfrentar inimigos enquanto escapamos de grandes blocos que caem do teto; outra fase demanda se pendurar para não cair na lava; em um templo antigo precisamos acertar dispositivos com shuriken na hora certa para criar plataformas, e mais.


Há variedade de situações em KUNAI, porém o level design conta com um problema irritante. Pelas áreas, existem vários pontos em que não é possível ver o que há na parte de baixo do cenário: às vezes não há nada, alguns desses buracos têm armadilhas (como espinhos ou lava), ou então é justamente o próximo trecho do estágio. Isso cria momentos em que precisamos fazer saltos cegos, e muitas vezes não há tempo hábil em reagir aos perigos que aparecem de repente nesses buracos — foram várias as vezes que morri por causa disso. A situação poderia facilmente ser resolvida com a possibilidade de mover a câmera, nem que fosse levemente, mas infelizmente o recurso não foi implementado.

O jogo se autointitula metroidvania e de fato ele conta com algumas das características do gênero, como mapa imenso para desbravar e áreas que só podem ser acessadas depois de se adquirir certas habilidades. Mesmo assim, a progressão é linear, com a história nos forçando a ir a um local específico, tornando o desenvolvimento do jogo parecido com uma aventura de plataforma tradicional. Não é uma decisão ruim e funciona bem no contexto do título, cujo andamento tem bom ritmo. Acontece que as áreas contam com segredos opcionais, mas a ausência de atalhos ou teletransporte torna custosa a atividade de revisitar locais ou simplesmente explorar — eu mesmo não animei andar bastante em busca de chapéus para mudar a aparência de Tabby.


Ninjutsu robótico carismático e divertido

KUNAI cativa com sua ação flexível bem explorada em uma aventura de plataforma. A jornada do tablet ninja é repleta de ótimos momentos de exploração e combate, sendo o destaque a agilidade do movimento do protagonista: as kunai permitem alcançar inúmeros lugares com facilidade. O desenho dos níveis é inspirado e conta com desafios diversos, porém a câmera atrapalha no momento de fazer alguns saltos. Além disso, o andamento é bem linear e elementos de metroidvania, como revisitar locais e desbravar livremente regiões, não são bem explorados. Por sorte a ambientação carismática, o visual único e o tom bem humorado amenizam alguns dos defeitos. No fim, KUNAI é um ótimo representante do gênero e é recomendado para aqueles que buscam uma experiência mais tradicional.  

Prós

  • Mecânicas de plataforma sólidas focadas em agilidade;
  • Boa mistura de progressão direta e metroidvania;
  • Ótima ambientação com visual e direção de arte únicos.

Contras

  • Câmera mal posicionada resulta em saltos cegos em alguns pontos;
  • Revisitar áreas é custoso e desinteressante.
KUNAI — PC/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Análise produzida com cópia digital cedida pela The Arcade Crew

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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