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Análise: Castlevania Requiem: Symphony of the Night & Rondo of Blood (PS4) – a mediocridade da nostalgia

A Konami traz de volta dois clássicos de sua famosa franquia no PlayStation 4 — e da pior forma possível.

Castlevania é uma das mais clássicas franquias dos videogames. Por mais de 30 anos vivenciamos a luta do clã Belmont e seus aliados contra as forças das trevas lideradas por Drácula, e a cada nova entrada da série somos apresentados a mais desta riquíssima mitologia.


Infelizmente não tivemos nenhum novo jogo da série na atual geração de consoles. Em vez disso, a Konami relançou, em 2018, dois clássicos em uma espécie de pacote intitulado Castlevania Requiem: Symphony of the Night & Rondo of Blood. O valor histórico desses dois títulos é inquestionável, mas a forma como a empresa os inseriu de volta ao mercado deixou bastante a desejar. Vamos entender um pouco sobre isso na análise de hoje.

“A miserable little pile of secrets!”

Akumajou Dracula X: Chi no Rondo – posteriormente traduzido como Castlevania: Rondo of Blood no Ocidente – foi lançado para o PC Engine CD em outubro de 1993, exclusivamente para o mercado japonês.
Akumajou Dracula X: Chi no Rondo (PC Engine CD)
O ano é 1792. Richter Belmont, descendente direto de Simon Belmont, é o atual membro vivo do clã de caçadores e parte em uma jornada para resgatar sua noiva Annette, sequestrada pelo feiticeiro Shaft, que ressuscitou Drácula e planeja auxiliar seu mestre na dominação do mundo.

O jogo é do gênero de ação em plataforma e conta com um sistema de progressão de fases linear e com um grau de dificuldade bastante desafiador para a época. Cada fase até o quinto estágio possui dois caminhos a seguir, levando o jogador a estágios alternativos dependendo da rota que tomar, culminando nas fases finais que precedem o duelo decisivo contra Drácula.
A batalha secular entre o clã Belmont e Drácula
No decorrer do jogo, Richter resgata a jovem Maria Renard, que se torna uma personagem jogável detentora de uma jogabilidade distinta, capaz de se mover mais rapidamente, executar saltos duplos e atacar com o auxílio de animais.

As grandes inovações do título foram o uso de músicas em formato digital, por ser o primeiro jogo da franquia lançado em CD, e as cutscenes que eram totalmente dubladas em japonês. Quando disponibilizado como um extra em Castlevania: The Dracula X Chronicles (PSP) em 2007, foi a primeira vez que o título recebeu uma tradução oficial para o idioma inglês, incluindo as cutscenes.
O jogo foi um dos primeiros da franquia a contar com cutscenes e dublagens
Castlevania: Symphony of the Night é uma sequência direta do título de 1993. Lançado para o PlayStation em 1997, foi o jogo que deu origem ao termo hoje conhecido como metroidvania. Tem início justamente no final de Rondo of Blood, no momento do duelo entre Richter Belmont e Drácula. Com a destruição do lorde das trevas, o mundo vive um breve período de paz.
Castlevania: Symphony of the Night (PS)
Como Drácula só consegue reviver uma vez a cada cem anos, o ressurgimento do castelo quatro anos após o triunfo de Belmont chama à atenção, levando o caçador novamente ao lar do vampiro e desaparecer. A forte presença maligna de Drácula faz surgir um inesperado herói para salvar o mundo: Alucard, filho único de Drácula, e que até então adormecia profundamente após auxiliar Trevor Belmont e Sypha Belnades na batalha contra seu pai a mais de três séculos.
Alucard, o filho de Drácula
O “jovem” vampiro, que é meio-humano por parte de mãe, se torna o único ser com poder para evitar a dominação diabólica do lorde das trevas e, consequentemente, se tornar um dos mais notórios e adorados personagens da franquia Castlevania.

“It is not by my hand that I am once again given flesh”

Castlevania Requiem: Symphony of the Night & Rondo of Blood pode ser descrito como uma “ressuscitação” dos dois jogos exclusivamente para o PS4 em formato digital. Para quem teve a oportunidade de jogar o título para o primeiro PlayStation, é uma ótima forma de reviver a aventura de Alucard no console da Sony, com a vantagem de obter junto com ele jogo do PC Engine CD, que é considerado uma raridade e, até então, mais complicado de se ter acesso.

Entretanto, alguns pontos sobre estas duas versões dos jogos precisam ser consideradas para não pegar alguns jogadores desavisados. “Rondo of Blood” é o título que mais se beneficia deste relançamento, por estar totalmente traduzido para o inglês, tornando-o mais acessível para quem não sabe japonês — ou seja, muita gente
Esta versão de Castlevania: Rondo of Blood está oficialmente traduzida para o inglês
Já “Symphony of the Night” pode decepcionar um pouco os jogadores mais saudosistas. A versão disponível no pacote é a versão inclusa como extra no remake de “Rondo of Blood” para PSP. Para simplificar, vamos chamá-la de versão para PSP. As principais diferenças ao compará-la com sua versão original são alguns detalhes gráficos e sonoros, ajustes na jogabilidade e correção de bugs.


O ponto que mais chama à atenção nesta versão é a mudança na dublagem. A original possui uma qualidade questionável, mas se tornou um clássico ao eternizar frases como “Die monster!” e “What is a man!”, pérolas que nasceram por conta de erros de tradução da versão japonesa do game na época. A versão para PSP possui falas com tradução mais coerente com a versão original japonesa e melhor atuação dos atores, que também são outros. A opção de jogar como Maria Renard, exclusiva da versão para Sega Saturn, também está disponível e esse é mais um ponto positivo para a escolha desta para “Requiem”.
Maria Renard também é um personagem jogável, como na versão para Sega Saturn
O que torna “Requiem” controverso é a forma como a Konami realizou a apresentação dos jogos. E para entender um pouco melhor sobre isso vamos voltar um pouco até Castlevania: The Dracula X Chronicles (PSP). O remake de “Rondo of Blood” traz uma história recontada de forma magistral, com um jogo totalmente refeito com gráficos poligonais e uma trilha sonora com excelentes releituras das faixas originais. Como extras, estão as adições do jogo original do PC Engine CD e da versão para PSP de “Symphony of the Night”, até então exclusivas deste título.
O pacote é, na verdade, uma versão "mutilada" de Castlevania: The Dracula X Chronicles (PSP)
“Requiem” peca por fazer uma espécie de caminho reverso na proposta apresentada no título do PSP, trazendo apenas os extras do jogo para o portátil, sem o remake. A princípio poderíamos esperar algumas novidades como modos extras de jogo, galerias de imagens, tocadores de músicas ou coisas do tipo. A Konami não teve a decência de fazer nada disso para agregar valor ao pacote.

A impressão que a empresa passou aqui é de “vamos pegar esse dois jogos e vender novamente”. Simples assim! A interface de seleção, as opções, os filtros gráficos e seleção de idiomas são as mesmas apresentadas quando lançadas para o portátil da Sony. Acho que não era difícil, pelo menos, ter a opção de jogar “Rondo of Blood” com as excelentes músicas da trilha sonora usadas no remake para o PSP. Confira abaixo o álbum oficial com as músicas do jogo, disponível no Spotify.


Em “Symphony of the Night”, fica escancarado que estamos jogando uma versão emulada, pois a interface de botões apresentada nas opções são as do PSP, impossibilitando o uso dos botões L2 e R2.
Por ser uma versão emulada do jogo para o PSP, os botões L2 e R2 não podem ser usados.
Nada contra a atitude da Konami. Os jogos são dela e ela pode fazer o que bem entender com eles. A forma como trouxe de volta dois jogos tão importantes para a história dos videogames, de uma forma tão nua e crua, é que chateia quem tem um apreço por estes, e isso mostra um escancarado desleixo da empresa com a franquia. Para os fãs de longa data destes jogos, é realmente bom ter como jogá-los novamente em um console atual. O que incomoda mais não é apenas a falta de zelo que a Konami deu para estes jogos, mas sim não adicionar nada para agregar mais valor a eles.

Qualquer uma das coisas que citei alguns parágrafos acima já dariam um ar de novidade em “Requiem”. A única coisa que a Konami realmente trouxe de novo foi a tela inicial e esta tela que é apresentada quando executamos o Konami Code logo na tela de início. Ofensivo e dispensável! E aquela arte de “Rondo of Blood” na capa desta análise é do remake. Sentiram o desleixo agora?
Tente usar o famoso Konami Code e você será chamado de trapaceiro, na cara dura!
Alguns podem dizer que o maior chamariz aqui é o suporte a troféus, mas isso é algo que 99% dos jogos para o PS4 possuem, então não dá pra chamar isso de vantagem. Para alguns é simplesmente a única motivação para jogar novamente estes jogos além do fator nostálgico, ou de novidade, para quem não teve a oportunidade de jogar suas contrapartes originais.

“Die monster! You don’t belong in this world!”

Longe de mim desmerecer o valor histórico destes dois excelentes jogos. Acho que todos que não tiveram como jogá-los em algum momento da vida têm aqui uma das melhores oportunidades da atualidade para fazê-los. Ainda mais com suporte a troféus, incluindo a valiosa platina que pode ser obtida e ostentada por quem quer um verdadeiro atestado de dominação nestes dois títulos.
Pelo menos dá pra "platinar" o jogo.
Porém, Castlevania Requiem: Symphony of the Night & Rondo of Blood, como produto, é um péssimo trabalho da Konami. Me atrevo a dizer que é uma maneira preguiçosa da empresa ganhar mais dinheiro em cima de uma franquia tão valiosa e importante. Não temos nenhum conteúdo adicional para agregar valor ao pacote. A exclusividade do jogo ao PS4 também é questionável. Pessoalmente, não vejo motivos que impeçam o lançamento de “Requiem” para outras plataformas como PC ou até mesmo o Switch, o que seria uma ótima adição à biblioteca do console por conta de sua portabilidade.

Por fim, como fã de longa data de Castlevania desde minha infância, finalizo reforçando que são dois jogos excelentes, mas caso você ainda tenha como jogar as versões originais, “Requiem” é dispensável.

Prós

  • Dois dos melhores jogos da série Castlevania disponíveis em um console da geração atual;
  • Versão para PSP de “Castlevania: Symphony of the Night” é a mais completa, com correções de bugs e modo Maria disponível;
  • Suporte a troféus, incluindo o troféu de platina.

Contras

  • Nenhum conteúdo extra para agregar valor ao pacote, como galerias de arte, tocador de músicas, mais filtros visuais ou modos extras para os jogos;
  • Exclusividade para o PlayStation 4 numa época em que coletâneas e relançamentos estão favorecendo uma maior variedade de plataformas.
Castlevania Requiem: Symphony of the Night & Rondo of Blood – PS4 – Nota: 5.0
Análise feita com cópia digital adquirida pelo redator
Revisão: Thiago Monte

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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