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Análise: Momodora: Reverie Under the Moonlight (PC) é beleza e desafio 2D

Explore um mundo sombrio nesse ótimo indie 2D que oferece uma aventura intensa e recompensadora.

Um dos gêneros recorrentes no mundo dos jogos independentes é o metroidvania. Com tantos títulos com conceitos parecidos, é meio complicado se destacar. Momodora: Reverie Under the Moonlight é um representante desse gênero e consegue ser único ao focar em algumas poucas características. O resultado é um jogo que faz muito bem o que propõe e sem exageros, o que torna ótima a experiência.

Reverie Under the Moonlight é, na verdade, o quarto título da série Momodora. Idealizada pelo desenvolvedor brasileiro rdein  e produzida com a ajuda de pessoas espalhadas pelo mundo, a franquia tem como foco ação e plataforma 2D e gráficos pixel art. Momodora 4, como também podemos chamar, é um prequel, logo, novos jogadores não se sentirão perdidos nesse universo.

Mundo decadente

Confesso que quando comecei a jogar Momodora: Reverie Under the Moonlight a minha expectativa era a de que ele fosse mais um representante qualquer do gênero metroidvania, ou seja, uma aventura de progressão 2D que se passa em um grande mapa labiríntico repleto de segredos e perigos, com eventuais locais que só podem ser acessados depois de se obter certas habilidades. Sim, Momodora 4 tem essas características, contudo, ele me surpreendeu e me conquistou com alguns certos detalhes.

O primeiro deles foi a ambientação. Não se deixe enganar pelo visual que lembra animes japoneses: o mundo de Momodora é sombrio. Isso é evidenciado pelos cenários escuros, locais abandonados e uma atmosfera um pouco sufocante. Tudo combina perfeitamente com a trama, que retrata um mundo corrompido por uma maldição gerada pela ganância de uma rainha. Em sua jornada, Kaho, a protagonista da história, conhece alguns poucos personagens. A maioria deles são desesperados ou desacreditados, o que reforça ainda mais a temática sombria — nunca irei me esquecer de uma garota em uma casa abandonada que dizia “Faça isso parar!”, mas quando voltei ao local depois, só existia uma grande poça de sangue. Conhecer e entender mais sobre esse universo foi uma das minhas principais motivações para continuar a aventura.


A ambientação é complementada pela excelente direção de arte e gráficos, que se utilizam do estilo pixel art. Os cenários são muito belos e repletos de pequenos detalhes, como a grama que se mexe quando a protagonista passa por ela ou as folhas secas flutuando no ar em um jardim desconcertante. As animações são bem elaboradas e estilosas — Kaho, especialmente, possui movimentos que dão gosto de ver. A música completa a ambientação com belas composições.

Ação sem exageros

O belo mundo de Momodora 4 apresenta muitos lugares para explorar, mas o foco aqui é a ação. Na maior parte do tempo, você estará enfrentando (ou escapando de) inimigos e perigos, tentando sobreviver. O mapa não é imenso e isso é algo que eu vejo como um ponto positivo: é mais fácil navegar pelo mundo e a necessidade de revisitar locais é menos penosa. Existem salas escondidas e pequenas missões paralelas envolvendo os personagens, o que é um bom incentivo para vasculhar todos os cantos dos mapas — encontrar tudo exige dedicação e atenção, pois alguns segredos estão bem escondidos.


Uma característica que gostei muito foi a ausência de exageros. Kaho recebe pouquíssimas novas habilidades durante a jornada, mas nem por isso a aventura deixa de ser interessante. O motivo disso é que cada área possui seus recursos próprios, o que traz sempre uma sensação de novidade sem ficar apelando para firulas comuns do gênero, como uma técnica especial que você usaria pouquíssimas vezes no jogo. A variedade de situações é boa: um local, por exemplo, tem pouca visibilidade; já outro está repleto de água, o que dificulta a movimentação. Isso, aliado ao posicionamento inteligente de inimigos e perigos, deixa a experiência bem contida e divertida.

Luta e morte

Momodora 4 é um jogo difícil, mas raramente frustrante. Kaho, a protagonista da aventura, não é muito resistente e bastam alguns ataques dos inimigos para morrer. Além disso, os inimigos e armadilhas ficam posicionados em locais estratégicos, o que torna as coisas ainda mais complicadas. Por fim, os pontos de salvamento ficam relativamente distantes entre si. Sendo assim, precisei tomar muito cuidado ao avançar pelos cenários — morrer é fácil e isso significa refazer trechos razoáveis da jornada. Um modo “Fácil” está disponível para aqueles que desejam só explorar o mundo sem muitas dificuldades.


Kaho tem à sua disposição alguns equipamentos para acabar com os inimigos: uma folha para ataques físicos e um arco e flecha para acertar monstros distantes. A garota também consegue rolar para escapar de investidas inimigas. Os comandos são simples, mas aprendi rapidamente que é extremamente importante dominá-los para se sair ileso das situações, já que bastam apenas alguns erros para você morrer. Para mim, o maior destaque de Momodora 4 fica por conta das batalhas contra os chefes. Esses confrontos são intensos, frenéticos e exigem muita habilidade. Os mestres apresentam padrões de ataques mais complexos e é necessário prestar atenção para atacar e desviar nos momentos certos — morri muito tentando derrotar os vários chefes.

Combate recompensador e muito desafio

Eu gostei muito do combate de Momodora 4 por ser extremamente fluído, fácil de entender e muito recompensador. Também gostei de como o jogo brinca com o nosso desleixo. No começo da aventura eu morri muito por ser descuidado, sendo assim, aos poucos eu aprendi a não subestimar os inimigos comuns. Com o tempo, a dificuldade diminuía por eu ter aprendido a derrotar os monstros, mas aí eu encontrava algum chefe que me destruía por conta da minha afobação — isso me lembrava sempre que não é tudo tão fácil assim em Momodora 4. No nível “Difícil” a dificuldade é ainda mais intensa, o que resulta em uma experiência bem diferente (e complicada).


Entretanto, eu sinto que o combate do jogo pareceu limitado em alguns momentos: Kaho tem à disposição dela somente alguns poucos movimentos durante toda a aventura. Existem itens que ajudam a deixar as coisas mais interessantes e variadas (feitiços, melhorias temporárias), mas, no fim das contas, não vi muita necessidade em utilizá-los com frequência. O sistema de esquiva é sólido, contudo, são poucos os inimigos que exigem o uso dele para serem derrotados — exceto no nível “Difícil”, em que qualquer deslize é morte na certa. O combate é divertido, contudo, eu acredito que algumas outras opções de armas ou ataques deixariam tudo mais interessante.

Uma aventura excepcional

Momodora: Reverie Under the Moonlight é divertido e empolgante. Foram muitos os momentos em que eu pensava “vou avançar só mais um pouco antes de parar” e, quando me dava por mim, já tinham se passado vários minutos. O maior trunfo do jogo é não inventar demais, o que faz com que todas as mecânicas utilizadas fiquem bem trabalhadas. Além disso, Momodora 4 tem visual incrível e ótima ambientação — dá vontade de explorar todos os cantos. A aventura possui duração na medida certa e existem modos extras (e difíceis) para os mais corajosos.

Momodora: Reverie Under the Moonlight é extremamente recomendado para aqueles que gostam de títulos de plataforma e ação 2D e especialmente para quem gosta de um bom desafio.

Prós

  • Excelente visual, música e ambientação;
  • Jogabilidade simples e precisa;
  • Dificuldade intensa, porém justa;
  • Muitos segredos e extras.

Contras

  • O combate pode parecer limitado em alguns momentos.
Momodora: Reverie Under the Moonlight — PC — Nota: 9.0
Revisão: Érika Honda

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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