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Análise: Batbarian: Testament of the Primordials (Multi) – bom humor para fugir de um abismo

Lute com seu morcego para escapar dos perigos de uma masmorra antiga infestada de monstros e muitos outros obstáculos.


A Dangen Entertainment e a Unspeakable Pixels apresentam Batbarian: Testament of the Primordials. O game traz uma aventura de plataforma com nuances do gênero conhecido como metroidvania, onde assumimos o papel de um guerreiro bárbaro e seu fiel morcego para escapar de uma masmorra antiga. O local é o túmulo de seres mitológicos chamados de Primordials, e nossos heróis terão que passar por “altas confusões” para sobreviver e conseguir rever a luz do dia.


Lançado para PC e Switch em outubro de 2020, o game agora está disponível para PlayStation 4 e Xbox One com o mesmo charme, desafio e bom humor que o destacam neste gênero. Afie sua espada, ajeite sua tanga de texugo, e vamos à luta.

O bárbaro e seu morcego

Nossa história tem como protagonista um guerreiro bárbaro — ou guerreira, dependendo da opção do jogador — e seu morcego mágico Pip. Os dois estavam descansando sob a sombra de uma árvore quando um grupo de orcs aparece e os acusa de terem roubado seu ouro. Numa tentativa falha de passar a conversa nos monstrengos, os dois são lançados para a morte certa em um gigantesco e profundo abismo.


Os dois aventureiros, que milagrosamente sobreviveram à queda, são surpreendidos com o que existe ali: uma masmorra. Pip é capaz de emitir luz própria, e graças a essa habilidade eles têm condições de explorar o local em busca de uma saída desta tremenda enrascada. Como se isso não fosse problema suficiente, a dupla então descobre que as ruínas abrigam um antigo mal, e que eles não estão sozinhos naquele lugar.

Cabe a nós ajudar nossos improváveis heróis a transpor as dezenas de desafios que os aguardam naquele local, desde encontros com monstros, armadilhas e companheiros inusitados que surgirão em seu caminho.

Hello darkness my old friend ♪ ♫

Um dos pontos que destaca a experiência em Batbarian é justamente o que não podemos ver. As andanças do bárbaro e Pip pelas entranhas das masmorras são acompanhadas pela escuridão. O morcego, como já citado, é capaz de emitir luz, se tornando a principal fonte de iluminação durante a jornada.


O pequeno mascote adora frutinhas, e é com o uso delas que podemos explorar visualmente as salas do mapa. Existem locais onde a escuridão é tão intensa que não é possível enxergar nada. Sendo assim, ao lançar um dos petiscos favoritos de Pip, o animal avança para pegar seu lanche e consequentemente ilumina o local onde ele está, revelando uma armadilha, um buraco, inimigo ou rota que devemos tomar.

Algumas frutas diferentes são utilizadas para permitir que o morcego fique mais tempo em determinada posição ou realize ataques. O bárbaro também tem, além de sua fiel espada, pedras que podem ser usadas para atordoar inimigos menores e acionar alavancas que estão fora de seu alcance. É com o uso destas mecânicas que diversos quebra-cabeças devem ser resolvidos para avançar em algumas salas.

A aventura revela trechos da história através de flashbacks, contando como os dois se conheceram e outras coisas que aconteceram até o fatídico momento em que foram jogados no abismo. Documentos encontrados pelas diversas áreas da masmorra revelam um pouco da mitologia dos Primordials e suas intenções, e um dos pontos que deixa a aventura gostosa é o humor.


Em diversos momentos somos bombardeados com piadas oriundas dos diálogos dos personagens. Em boa parte deles podemos escolher a resposta para os questionamentos feitos ao rufião. Ele dá respostas mais básicas e até esperadas para a ocasião, chegando até a algumas falas totalmente inesperadas e engraçadas, com direito a referências e muitas vezes abusando do estereótipo de “fortão burro” do bárbaro. Como a fonte das falas dele sempre estão em caixa alta, já se vê que ele só fala gritando. Um detalhe bem-manjado.

Um metroidvania não tão “vania”

Não sou muito fã do termo metroidvania, mas entendo a importância que o “nome de batismo” desta mistura tem para a indústria, ainda mais no cenário independente. Além disso, é um dos meus gêneros favoritos, então sou facilmente fisgado por algo que se proponha a esse tipo de experiência. Com Batbarian temos alguns elementos que flertam com ele, mas aproveitam de forma rasa tudo que ele pode oferecer.

Primeiro temos a construção do personagem. No início da aventura, nosso herói tem como habilidades básicas seu ataque com a espada — ou garras, no caso do personagem feminino —, o auxílio de Pip e, obviamente, a capacidade de pular. No fim, o que temos não é muito diferente disso. O bárbaro pode obter um anel que permite que ele execute um golpe carregado, botas que o fazem correr mais rápido… e só! Ao derrotar inimigos e acumular pontos de experiência suficientes, o bárbaro sobe de nível e três atributos base (ataque, defesa e consciência) são melhorados de forma aleatória por meio de uma roleta.


Além disso, só existe o incremento das bolsas de fruta de Pip, permitindo carregar mais delas, e melhorias de status, como ter mais pontos de vida, ataque, defesa e uma última chamada de Awareness (consciência), que aumenta os ganhos nos drops de inimigos e melhora ligeiramente a capacidade de enxergar em ambientes escuros. É tipo quando sua visão vai se acostumando a enxergar quando você entra num ambiente sem luz.

A falta de habilidades que tornam o protagonista mais poderoso com o passar do tempo me deixou um tanto frustrado. Acho que fiquei mal-acostumado com outros metroidvanias, onde começamos apenas com uma pistolinha e no final somos capazes até de voar enquanto atiramos laser pelos olhos. O principal motivo é que eles devem ser comprados, e não obrigatoriamente obtidos. Sendo assim, dá pra concluir que podemos terminar o jogo sem eles.

Pip continua sendo uma peça-chave da experiência. O pequeno adquire habilidades elementais que o permitem emitir auras de fogo e gelo, importantes para transpor determinadas áreas, derrotar inimigos específicos e resolver alguns quebra-cabeças. O morceguinho, na história do jogo, também é uma peça importante no meio de toda essa confusão.


O colecionismo em Batbarian fica por conta dos baús de tesouro, em sua maioria contendo gemas que são trocadas por poções que incrementam ligeiramente um dos três atributos-base do herói. A vitória na luta contra os chefes nos premia com um artefato que, além de também adicionar à taxa de coleta de itens, aumenta os pontos de vida máximos do bárbaro.

Fora isso, temos as clássicas andanças pelo mapa, onde pontos de salvamento, também usados para teleportagem, e lojas do cogumelo mercador — sim, e ele tem três filhos com nomes quase impronunciáveis — também estão inclusos. Aqui eu deixo um elogio a algo que sempre me faz falta nesse gênero, que são os marcadores personalizados no mapa. Não é um tremendo incômodo quando você chega em uma sala e não pode ou não consegue passar por lá, aí você sai e pensa “depois eu volto aqui”, mas se esquece onde a danada da sala está? Pois é! É nessas horas que um marcador faz falta, amigo!


Outro ponto que deixou minha experiência com Batbarian ainda mais agradável foi a trilha sonora, composta por melodias bastante marcantes e agradáveis de ouvir. Apesar dos momentos em que tive alguns problemas para jogar, seja pela dificuldade acentuada em horas mais avançadas do jogo ou pelo fato dos personagens serem tão pequenos na tela, dificultando um pouco minha vida nos segmentos de plataforma, a música foi o que me deixou animado para continuar, principalmente ao chegar em uma nova área onde um arranjo extra dava mais impacto ao momento.

Uma das minhas trilhas favoritas é a de quando estamos visitando a loja do “cogumelão”. Gostei tanto dessa melodia que acho até que vou usar como toque pro meu celular. Confira:


E ainda falando sobre subaproveitamento, uma mecânica que eu praticamente não usei simplesmente porque esqueci foi a dos companheiros. Em determinados momentos da história, encontramos outras pobres almas que ficaram presas na masmorra e que são convidadas a andar com o guerreiro e Pip para encontrar a saída. Acontece que, excluindo os momentos-chave em que esses personagens são usados, no geral eles são inúteis.

Um mago fanfarrão, um goblin ladrão, e um homem dragão — que eu matei sem querer, pois nem sabia que ele poderia ser um companheiro — podem usar habilidades ofensivas para ajudar os heróis, como lançar bolas de fogo e bombas. Mas para chegar ao ponto de eu ignorar totalmente a existência deles, mesmo andando do meu lado, sim, são inúteis em 99% do tempo.

No geral, uma aventura bem legal

Batbarian: Testament of the Primordials é o que eu posso chamar de metroidvania raso. Ele não aproveita tudo que o gênero tem a oferecer, mas apresenta o suficiente para ter o que um jogo precisa: diversão e desafio. Dificilmente ficaria na minha lista de melhores do gênero, mas o humor e a trilha sonora terão um lugarzinho guardado na memória e podem me levar a jogá-lo mais uma vez.

Prós

  • Jogabilidade viciante, destacada pelo uso das habilidades de Pip e do elemento da escuridão;
  • Trilha sonora marcante e gostosa;
  • Mapa de jogo imenso, com marcadores personalizados e uma grande quantidade de segredos;
  • O humor dá um tempero extra à jogatina.

Contras

  • Alguns elementos do gênero metroidvania são subaproveitados, com destaque para a evolução rasa das habilidades do herói e poucos upgrades para obter;
  • O sistema de uso dos companheiros é muito mal-aproveitado;
  • Os personagens são muito pequenos e isso atrapalha em alguns segmentos, como batalhas contra chefes e seções de plataforma.
Batbarian: Testament of the Primordials – PC/PS4/XBO/Switch – Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PlayStation 4
Revisão: Davi Sousa
Análise feita com cópia digital cedida pela Dangen Entertainment

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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