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Análise: Iconoclasts (Multi) — plataforma e puzzle em um mundo complicado

Controle uma mecânica em uma sociedade dominada por um governo totalitário nesse simpático título indie.



Iconoclasts, em uma primeira olhada, parece ser um jogo vindo direto da era 32 bits com seus gráficos coloridos e pixel art detalhada. Esforço de um único desenvolvedor, que levou sete anos para terminar o trabalho, o título explora vários conceitos consagrados, como plataforma, mapas repletos de segredos e habilidades que permitem revisitar áreas anteriormente inalcançáveis. Pode parecer mais do mesmo, porém Iconoclasts tem algumas características que o destaca em relação a outros jogos do gênero.


No mundo de Iconoclasts, as pessoas são obrigadas a exercer uma profissão definida pela organização One Concern, e desobedecer essa regra é uma transgressão passível de morte. A protagonista Robin é uma mecânica que age clandestinamente, claramente indo contra a lei. Depois de alguns problemas, a garota se vê em uma jornada para fugir do governo e acaba se envolvendo em inúmeras situações capazes de influenciar o futuro do planeta.


A aventura de Robin segue a estrutura tradicional de um jogo de plataforma 2D com inimigos para derrotar e muitos locais para visitar. Há alguns aspectos de metroidvania, como locais que só podem ser explorados depois de se adquirir certas habilidades, porém a progressão, no geral, é bem linear. O título não conta com opções para incentivar jogar mais de uma vez, salvo dificuldades maiores.

A garota conta com uma pistola, que recebe novos tipos de projéteis no decorrer da jornada, e uma chave inglesa, capaz de desferir golpes físicos e ativar mecanismos. Há algumas poucas melhorias, como a capacidade de acumular eletricidade, entretanto todas são utilizadas constantemente. De posse de itens especiais escondidos em baús, Robin consegue montar equipamentos que melhoram levemente suas habilidades, mas é um sistema estranho: ser atingido faz com que a melhoria seja desativada. Para mim, esses equipamentos não adicionaram nada à experiência de jogo.


Chave inglesa na resolução de puzzles

A característica que impera no título são os puzzles. Pelo caminho, a protagonista precisa resolver pequenos enigmas para conseguir progredir. A maior parte deles envolve algum uso da chave inglesa de Robin, que é utilizada para operar máquinas, fazer girar rodas dentadas e alcançar locais de difícil acesso. Gostei bastante desses desafios, pois, em sua maioria, eles envolvem manipular o cenário de alguma maneira. Em um momento, por exemplo, precisei mexer pistões em uma ordem específica para mover uma plataforma. Já em outra situação, precisei energizar uma máquina e, em seguida, atravessar um trecho com muitos obstáculos antes que uma porta se fechasse. Os desafios vão ficando cada vez mais complicados com a introdução de novos tipos de munição para a arma e a capacidade de gerar eletricidade.

A experiência é uma mistura bem dosada de momentos de plataforma, puzzle e ação, por mais que confrontos com inimigos sejam bem esparsos — mesmo assim, fiquei impressionado com o cuidado despendido em cada um deles, todos eles bem animados e com fraquezas específicas. Entretanto, algumas questões me incomodaram. Iconoclasts se classifica como metroidvania, porém a maior parte da revisitação de locais está focada em baús contendo itens para a construção de melhorias para a protagonista. Fora isso, não há muito incentivo a explorar minuciosamente as áreas — eu mesmo não me dei o trabalho de procurar por esses itens. Outro problema são alguns puzzles com soluções obtusas ou muito mal sinalizadas, o que me trouxe momentos de frustração. Por fim, fiquei com a sensação de que o jogo tenta ser muita coisa ao mesmo tempo (puzzle, plataforma, tiro, metroidvania) e, por conta disso, não consegue ser excepcional em nenhum desses estilos.


Grandes chefes e muitos personagens

O combate pode não ser grandes coisas em Iconoclasts, mas isso é compensado pelos chefes. O jogo conta com mais de 20 mestres e esses confrontos são intensos e muito criativos: os inimigos costumam ser imensos e a ação é frenética. Pelo caminho, Robin enfrenta robôs gigantes, pessoas com poderes especiais, criaturas estranhas (como um imenso gato feito de partes disformes de pedras e outros objetos), entre outras coisas.

Algo legal nessas batalhas é que elas também incorporam elementos de puzzle. Um dos meus chefes favoritos, por exemplo, é um totem mecânico em que Robin conta com a ajuda de uma amiga e precisamos alternar entre as personagens: a mecânica precisa mover engrenagens para que a outra garota consiga alcançar o ponto fraco do mestre. Já outros são voltados para a ação e exigem agir rápido, como um imenso trem subterrâneo em que precisamos usar a chave inglesa para nos pendurarmos em um trilho para não sermos atropelados. Assim como nos puzzles de plataforma da aventura, há momentos em que as dicas visuais não são claras, o que me fez morrer várias vezes contra chefes sem ter ideia do que precisava ser feito para derrotá-los.


Essa aventura repleta de chefes malucos e desafios com puzzles conta com história elaborada e mundo bem construído, algo incomum no gênero. A trama trata de várias questões interessantes, como governos totalitários e teocráticos, várias ideologias de organização social e um pouco de fantasia. O que me incomodou um pouco foi a grande quantidade de diálogos que cansam por causa das falas que mal contribuem para a trama — acredito que conversas mais concisas e em menos ocasiões deixariam melhor o fluxo de jogo.

Gostei, principalmente, do diverso elenco de personagens: a vilã ressentida Black, a inconsequente pirata Mina, o iludido Royal, o irritante Elro. O mais curioso é que não me afeiçoei por Robin, principalmente por ela ser uma típica representante do estilo “protagonista muda” — por causa disso, não ficam claras as suas reais motivações, o que tornam um pouco estranhas as suas ações. A trama também apresenta algumas coisas previsíveis e o jogo termina sem explicar direito inúmeras questões.


Beleza que diverte

Iconoclasts cativa com uma boa mistura de plataforma, puzzle e exploração. O jogo conta com ótimos enigmas e impressionantes batalhas contra chefes, momentos esses intensificados pelo ótimo visual. Além disso, o mundo é interessante e seus personagens são intrigantes. Entretanto, fiquei com a sensação de que o título tenta fazer coisas demais ao mesmo tempo, mas não consegue desenvolver tudo satisfatoriamente bem — exemplos são o sistema de melhorias praticamente irrelevante e os poucos incentivos para revisitar os locais. Mesmo assim, Iconoclasts diverte e é um ótimo representante do gênero plataforma 2D.

Prós

  • Boa combinação de plataforma e puzzle, com momentos de metroidvania;
  • Batalhas contra chefes divertidas e visualmente impressionantes;
  • Visual pixel art detalhado e vibrante.

Contras

  • Subdesenvolvimento dos sistemas, no geral;
  • Alguns desafios têm solução obtusa;
  • Poucos incentivos para revisitar áreas e o jogo.
Iconoclasts — PC/PS4/PS Vita — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Alberto Canen

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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