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Análise: CONVERGENCE: A League of Legends Story (Multi) nos desafia a rebobinar o tempo em um frenético plataformer

Corra, salte e manipule o tempo nessa aventura dinâmica e de ótimo visual.


Controlar o fluxo do tempo é o principal chamariz de CONVERGENCE, a mais nova adição à série de títulos inspirados no universo de League of Legends. Na pele do jovem inventor Ekko, exploramos a cidade de Zaun para tentar impedir uma catástrofe. Produzido pelo estúdio Double Stallion (responsável pelo criativo beat ‘em up Speed Brawl), o jogo tem como principal mecânica a possibilidade de rebobinar alguns segundos da ação para desfazer erros nos saltos ou evitar dano no combate. Bom desafio e momentos intensos de plataforma são os maiores destaques da aventura que poderia ter ousado um pouco mais em suas ideias.

Presente e futuro se encontrando para impedir uma catástrofe

Ekko vive na cidade subterrânea de Zaun e tem fama de prodígio por causa de suas inúmeras invenções. A principal delas é o Revo-Z, um dispositivo que o permite voltar no tempo por alguns segundos. Na companhia de seus amigos, ele trabalha para que um dia Zaun seja libertada da opressão dos habitantes de Piltover, a metrópole localizada na superfície. Por causa de seus talentos, Ekko é alvo de interesse de grupos de poder das duas cidades.

Um dia, uma torre explode, espalhando por Zaun um estranho minério laranja. Conhecido como sintixi, esse componente é uma versão mais instável dos hextec, cristais utilizados para ativar tecnologia no mundo de Runeterra. Isso cria o caos, com gangues tentando coletar o minério e guardas de Piltover patrulhando as ruas violentamente. No meio dessa confusão, Ekko é abordado por seu eu do futuro, que voltou ao passado para tentar impedir uma guerra causada pelos cristais sintixi. Com isso, a dupla decide trabalhar em conjunto para tentar impedir um amanhã nefasto.


A aventura do jovem inventor é estruturada em momentos de combate, plataforma e exploração, sendo essencial usar com frequência os dispositivos para avançar. O principal deles é o Revo-Z, que permite rebobinar a ação por alguns segundos, sendo perfeito para desfazer saltos incorretos ou evitar ataques dos inimigos — reverter erros é importante, pois Ekko é frágil e é derrotado com poucos acertos. Outra engenhoca é o Giratempo, que pode ser lançado nos inimigos como um bumerangue ou ser utilizado para também destrancar portas e ativar plataformas.

No decorrer da jornada, Ekko adquire poderes que nos permitem alcançar novos lugares, como uma bolha temporal que desacelera objetos e um movimento de teletransporte. Além disso, podemos construir e equipar engenhocas que alteram as habilidades do herói, trazendo um aspecto de customização ao jogo. Por fim, personagens auxiliam o protagonista ensinando novas técnicas de combate, aumentando a quantidade de cargas de rebobinação e liberando roupas alternativas — naturalmente, é necessário pagar por esses serviços com engrenagens ou outros itens encontrados pelo mundo do jogo.



Deslizando e correndo por uma cidade intrincada

Dinamismo e velocidade definem a experiência de CONVERGENCE. Controlar Ekko é muito agradável, pois o personagem é bem ágil: nos momentos de exploração, corremos por paredes, deslizamos por trilhos e saltamos por obstáculos com grande facilidade. E a precisão é necessária, pois a cidade de Zaun é repleta de desafios de plataforma que exigem perícia, como congelar plataformas no meio do ar enquanto pulamos por vários elementos. A mecânica de rebobinar o tempo é ótima para desfazer erros sem tirar o desafio em si — frequentemente precisei desfazer movimentos e tentar de outras maneiras para conseguir superar os trechos mais complicados, e em nenhum momento eu senti frustração.


Em uma primeira olhada, parece que o jogo é um metroidvania com seus mapas elaborados e trechos que só podem ser acessados por meio de habilidades específicas. No entanto, na prática, a progressão é majoritariamente linear, com áreas funcionando como estágios separados. Há rotas alternativas opcionais com segredos e um pouco de exploração na área principal, mas os incentivos para desbravar esse conteúdo opcional é fraco: normalmente, no fim de um caminho difícil, há um colecionável. Particularmente, apreciei essa abordagem mais direta, pois o ritmo se mantém ágil.

Como jogo de plataforma, CONVERGENCE é competente ao apresentar desafios elaborados. Porém, é um pouco decepcionante a abordagem conservadora da manipulação de tempo. Os poderes de Ekko são basicamente utilizados para desfazer movimentos errados ou para congelar armadilhas ou plataformas, o que traz um ar de mais do mesmo no decorrer da aventura. Além disso, muitos dos trechos são apoiados em tentativa e erro, com elementos que aparecem de repente. No fim, gostei dos desafios, mas senti falta de situações mais criativas envolvendo os poderes, como pequenos puzzles.


Manipulando o tempo em batalhas alucinantes

A fluidez também está presente nos combates de CONVERGENCE. Ekko é frágil, sendo derrotado após levar três golpes, então abusamos de suas habilidades de manipulação temporal para sobreviver. Dominar isso é essencial, pois na maioria dos encontros o garoto está em desvantagem numérica. Já os chefes nos desafiam com padrões de ataques intrincados e, em muitas das vezes, algumas técnicas não funcionam direito neles, como a bolha de desaceleração temporal.


A combinação de diferentes inimigos faz com que o combate do jogo seja bem intenso e desafiador. Na maior parte do tempo, a dificuldade é decidir que alvo focar primeiro: golpeio primeiro um drone voador que lança bombas de longe ou é melhor acabar com os vários inimigos no solo? Rebobinar a ação se prova imprescindível, assim como a bolha de desaceleração — certos oponentes só ficam vulneráveis quando estão lentos. Isso, em conjunto às armadilhas nos cenários, cria embates frenéticos e variados. Opções diversas permitem customizar a dificuldade em vários aspectos.

O problema das batalhas está no caos visual. Com frequência a tela fica tomada por elementos e é difícil saber onde estamos e o que é obstáculo ou não. Além disso, personagens e cenários têm pouco contraste visual, e a câmera é um pouco afastada demais. Por causa de tudo isso, é comum se perder e ser acertado sem entender o que está acontecendo. A mecânica de rebobinar ajuda a mitigar a frustração de ser golpeado, mas acredito que maior clareza visual deixaria os embates mais agradáveis.



Beleza aproveitada de forma tímida

Na ambientação, CONVERGENCE acerta ao utilizar um visual 2D elaborado que lembra histórias em quadrinhos. Zaun é um lugar escuro e repleto de problemas, mas aqui o tom é mais cartunizado e vívido, com o uso de cores impactantes como roxo, vermelho e verde e uso de traços fortes em preto para trazer contraste. Os cenários são belamente construídos, contando com muitos elementos e camadas. É uma pena que a câmera fique muito afastada na maior parte do tempo, o que dificulta ver os detalhes — zoom manual faz falta.

Já a trama é, infelizmente, decepcionante: o andamento é previsível e o desenvolvimento de personagens é quase inexistente. Alguns detalhes, inclusive, ignoram elementos de narrativa do universo de Runeterra, com campeões sendo jogados de qualquer jeito na história — como acontece com Ekko e Jinx, que agem como se não se conhecessem. Além disso, não há nenhuma introdução para quem não conhece League of Legends, o que pode deixar novatos perdidos. Ao menos a dublagem em português é competente e momentos-chave da história são apresentados em ótimas animações.



Uma aventura temporal aceitável

CONVERGENCE: A League of Legends Story se destaca com seu dinamismo e andamento ágil. A jornada de Ekko pela cidade de Zaun nos envolve com seus elaborados trechos de plataforma, pitadas de exploração e combates frenéticos. As mecânicas de manipulação de tempo, como poder rebobinar alguns segundos de ação e uma bolha de desaceleração, trazem identidade ao jogo e têm alguns usos interessantes.

Mesmo com qualidades, faltou um pouco de ousadia: os elementos de alteração temporal são explorados de forma bem básica, deixando os desafios similares e repetitivos. Além disso, o universo de League of Legends é adaptado de maneira preguiçosa, com uma trama previsível e personagens subdesenvolvidos. Para compensar, pelo menos a ambientação é caprichada com belos visuais e ótima dublagem.

No mais, CONVERGENCE é um plataformer competente e de ritmo acelerado. Ele pode não aproveitar todas as oportunidades e ideias, mas o resultado final é razoável.

Prós

  • Progressão ágil com bom equilíbrio de momentos de plataforma, batalha e exploração;
  • Combates frenéticos e variados;
  • Bom desafio, principalmente no conteúdo opcional;
  • Ambientação com ótimo visual.

Contras

  • Mecânicas de manipulação temporal são exploradas de forma tímida;
  • Trechos de plataforma são um pouco repetitivos;
  • Confusão visual atrapalha a clareza dos combates;
  • História e personagens superficiais.
CONVERGENCE: A League of Legends Story — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Riot Forge

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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