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Análise: Sheepo é um divertido metroidvania que sabe usar a concisão a seu favor

Um jogo que entende que, quando o todo é curto, as partes precisam ser bem executadas.

em 09/06/2024

Você provavelmente já jogou um metroidvania ou ao menos conhece o gênero. Eu abordei o assunto em dois artigos dedicados a esse tipo de jogos, incluindo os “minivanias”. Já ouviu falar desses? O nome já diz tudo: são metroidvanias em doses menores.

Sheepo é um deles. Não só isso, é uma boa referência entre eles. Lançado em 2020, ele foi desenvolvido por uma única pessoa, Kyle Thompson, que depois produziu Islets e agora trabalha para completar o promissor Crypt Custodian.




Islets foi muito bem-recebido pela crítica e pelo público, mas minha plataforma de escolha, Playstation, é a única em que o jogo não foi lançado. Para ter um gostinho do trabalho desse criador, decidi conhecer Sheepo, e o que encontrei foi o bastante para querer mais.

Apenas mais um dia uma tarde de trabalho

A primeira coisa a se ter em mente é que Sheepo é um metroidvania curto. Cheguei ao final em três horas e meia, faltando ainda alguns colecionáveis. Após isso, quem quiser extrair mais do jogo pode tentar os desafios dos troféus/conquistas, que geralmente envolvem concluir o jogo sob um limite de tempo ou chegar a determinado ponto o mais rápido que puder. Logo, a brevidade é um elemento de incentivo a speedruns.



A história nos coloca na pele de Sheepo, uma criatura-ovelha que, em seu primeiro dia de trabalho, recebeu a tarefa de preservar todas as espécies do universo! Calma, um planeta de cada vez, começando por Cebron. Como a vida local será destruída pelo aquecimento global após algumas gerações, Sheepo terá que coletar um ovo de cada uma das seis espécies não catalogadas, para que estas possam se safar da extinção futura.

Essa trama fica na comédia e aproveita para fazer sátira à exploração do trabalho e à hipercomercialização da arte, mas segue o caráter conciso do restante e está aí apenas para fornecer uma identidade mais sólida para o jogo e poder ter NPCs para conversar. Mesmo que de forma sutil e descompromissada, o contexto narrativo é agradável e faz sua contribuição ao todo. Ah, infelizmente, nada de português brasileiro para nós.



Caçando ovos e penas

Como esperado de um metroidvania, Sheepo ganhará habilidades no decorrer da aventura para conseguir acessar certas partes de Cebron. Nesse ponto, a gameplay casa com a história: cada ovo encontrado permite ao herói se transmutar na nova criatura.

No entanto, ele não carrega os poderes consigo, ativando-os apenas quando entra em contato direto com um espécime conhecido e por um curto período. Ou seja, em vez de ter um leque de habilidades para forjar seu avanço, cada parte será explorada com os recursos que estão por perto — o pássaro permite voar, a minhoca espinhal atravessa o solo, a gosma gruda e escala paredes e teto, e por aí vai.



Os ovos são obtidos após derrotar um chefão, mas Sheepo não ataca. Tanto o jogo quanto o protagonista são pacifistas. Os desafios, então, consistem em sobreviver tempo suficiente até que os golpes dos bichos atinjam a eles mesmos. Considerando sua duração, o game tem uma ótima quantidade de chefes bem elaborados e diferentes entre si, de forma que gostei de todos esse encontros.

Há também bastante exploração, é claro, especialmente na aquisição de colecionáveis. O principal são as penas espalhadas e escondidas por todo o mundo, necessárias para entrar em determinados locais. Algumas estão ocultas e, outras, guardadas por puzzles ou percursos de plataforma, garantindo mais tempo de jogo para quem quiser pegar todas. No entanto, elas não têm mais utilidades, o que limita a sensação de recompensa ao encontrá-las.



A aventura é curta, mas não repetitiva nem monótona. As mecânicas dos ambientes variam e os poderes mantêm as coisas bastante fluidas, com movimento ágil e precisão adequada às seções de plataforma.

Os visuais também entram nessa vertente: simples, enxutos, diretos ao ponto, mas distintos o bastante para não parecer que estamos andando pelos mesmos lugares. Como é tudo desenhado à mão, os cenários de fundo e as paletas de cores marcaram bem a personalidade individual do jogo com o estilo artístico de Kyle Thompson. Dessa forma, Sheepo não se confunde com seus pares, evitando cair no mar genérico no qual, não raro, a simplicidade estética navega.




O jogo em si já vale a pena, mas quando consideramos os preços, isso fica ainda mais claro. Nos consoles, o preço cheio varia de R$ 41 a R$ 59, mas as promoções frequentes o cortam para o patamar dos R$ 17. No Steam, então, nem se fala: custa R$ 20 e, no momento em que escrevo, está saindo por meros R$ 8.

Um exemplo de simplicidade bem executada

Como um minivania exemplar, Sheepo entrega um mundo conciso e bem elaborado para explorar cada canto, fazendo bom proveito da brevidade para uma campanha ágil, focada e divertida. Se contar ainda que o preço segue a proporção e faz um ótimo custo-benefício, é um jogo recomendável a qualquer um que goste de metroidvania e plataforma 2D em geral.



Prós

  • Um metroidvania conciso, bem estruturado e completo em si mesmo;
  • O enredo bem-humorado mantém a leveza da experiência;
  • O minimalismo visual atende à atmosfera da experiência de exploração lúdica;
  • O preço é compatível com a brevidade do jogo.

Contras

  • A produção humilde e direta pode não satisfazer quem procura algo mais rebuscado;
  • Baixa variedade de colecionáveis para encontrar, com utilidade limitada e de longo prazo, sem recompensas de curto prazo;
  • Sem localização para o português brasileiro.
Sheepo — PC/PS5/PS4/XSX/XBO/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia adquirida pelo redator

Admiro videogame como uma mídia de vasto potencial criativo, artístico e humano. Jogo com os filhos pequenos e a esposa; também adoro metroidvanias, souls e jogos que me surpreendam e cativem, uma satisfação que costumo encontrar nos indies.
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