Análise: Chronicles of the Wolf é um metroidvania clássico — nos acertos e tropeços

Novo jogo da Migami Games emula um “igavania” com maestria.

Chega a ser um absurdo estarmos em 2025 e não vermos nenhum sinal de Castlevania. A franquia da Konami foi relevante desde sua criação, nos anos 1980, mas simplesmente sumiu do radar após Castlevania: Lords of Shadows 2 em 2014. De lá para cá, o estilo metroidvania foi sendo exaustivamente abraçado por estúdios indies, que criaram diversas vertentes que evoluíram o gênero.


Contudo, alguns estúdios se mantêm na velha guarda do metroidvania — e esse é o caso da Migami Games, desenvolvedora formada pelo francês Mig Perez e pelo compositor Jeffrey Montoya. Eles são responsáveis pela amada duologia de fangames Castlevania: The Lecard Chronicles e chegaram a lançar seu próprio jogo: Wallachia: Reigns of Dracula.

E agora, eles voltaram para algo mais próximo da série dos caçadores da noite — mas ainda chamando de seu — com Chronicles of the Wolf. Fazendo uma ode ao “igavania” e unindo a experiência da dupla nos jogos anteriores, temos um metroidvania old school perfeito para os amantes do gênero.

O uivo da noite

Trocando vampiros por lobisomens, Chronicles of the Wolf usa uma lenda que existe como plano de fundo para a aventura. Ambientado em 1767, a região francesa de Gévaudan começou a passar por tempos sombrios após a suposta aparição de uma Besta, que começou a ceifar diversas vítimas na cidade.

No jogo, a Ordem de Cavaleiros Rosacruz foi criada para lidar com o mal das sombras. Em uma cruzada pelo sul da França, eles acabaram chegando a Gévaudan — apenas para serem brutalmente mortos pelo monstro. Entretanto, Mateo Lombardo, jovem prodígio da Ordem, sobreviveu ao ataque. Agora, Mateo deve lidar com o caso da fera, conhecendo as terras e os habitantes de Gévaudan enquanto tenta desvendar os mistérios místicos da região.

Essa primeira parte da aventura se assemelha fortemente a Castlevania II: Simon’s Quest. Devemos explorar regiões de Gévaudan em busca de habilidades e melhores equipamentos, enquanto conversamos com os habitantes locais. Logo, vamos descobrindo que há uma seita ao redor do monstro, que acaba levando a outros mistérios sobre as terras amaldiçoadas da região.

Como um metroidvania clássico, devemos andar para todo o canto atrás de qualquer novo recurso para o nosso herói, enfrentando inimigos para adquirir pontos de experiência, explorando salas e superando desafios de plataforma.

Mateo possui um leque generoso de recursos para subjugar as ameaças. Além de usar armas brancas e de fogo diferentes, pode contar com subarmas encontradas em objetos quebráveis, magias de diversos tipos, assim como fantasmas que foram mortos pela Besta e que concedem melhorias ao guerreiro, ao custo de pontos de mana.

Já em sua movimentação, há alguns problemas na parte de plataforma. Em combate, funciona bem, mas pular de um ponto a outro não é tão satisfatório quanto em outros jogos do gênero. Adquirir o pulo duplo também não ajuda tanto a melhorar essa sensação, sendo um dos saltos duplos menos satisfatórios que já vi em um jogo.

A dificuldade, embora elevada, vai ficando mais leniente com melhorias de vida e melhores equipamentos adquiridos. Ainda há picos esquisitos de dificuldade em certos pontos — especialmente contra chefes —, mas nada que poções de cura e algumas repetições não resolva as situações. Comparado a outros títulos da Migami, este é um dos mais tranquilos.

Nostálgico em tudo que se propõe a fazer

Eu estava com saudades de jogar um metroidvania mais retrô, e Chronicles of the Wolf atendeu a isso com êxito. Diversas vezes fiquei perdido, sem rumo — mas, bastava conseguir um avanço na progressão para que a empolgação por novas áreas me animasse na hora.

Contudo, esse preciosismo pelo antigo vem com seus poréns. Além de haver apenas o sistema de save manual — que nos coloca à mercê de perder o progresso, caso sejamos descuidados —, a visualização do mapa é praticamente idêntica a um Castlevania metroidvania.

Apesar de as áreas interconectadas de Gévaudan serem fáceis de localizar, a parte do castelo não conta com áreas separadas na interface, e não há nenhuma forma de interação para marcar pontos de interesse. Às vezes, eu perdia alguns bons minutos olhando para a tela do mapa, tentando lembrar para onde deveria ir e o que aquele local era, de fato.

E vale um aviso: na versão de PC, não há save na nuvem. Como preciso jogar em duas máquinas diferentes, tive que transferir manualmente o save de um ponto a outro — e, por algum motivo, ele não guarda o progresso do mapa.

Para quem está familiarizado com os jogos da Migami Games, Chronicles of the Wolf é facilmente reconhecível por sua direção de arte. Com uma pixel art detalhada, de cores contrastantes, o visual se assemelha aos Castlevania de Nintendo DS.

Na exploração de Gévaudan, há uma grande variedade grande de ambientes — embora comuns. Florestas, picos nevados e pântanos são alguns dos locais que visitamos, enquanto o castelo conta com bibliotecas, poços inundados e salas de ópera.

Apenas vemos ilustrações em raros momentos da narrativa e em conversas com alguns NPCs — normalmente, vendedores. Contudo, elas conseguem causar impacto quando utilizadas, especialmente nos diversos finais.

No entanto, creio que a parte sonora é a que carrega a apresentação de Chronicles of the Wolf. A trilha sonora de Jeffrey Montoya é espetacular, tanto nas músicas mais agitadas quanto nas ambientais. Ele já tinha mostrado talento nos jogos anteriores, mas creio que tenha se superado nesta aventura.

Para ajudar na narrativa — e até na sensação retrô —, o título apresenta vozes nos diálogos. A qualidade da atuação varia, mas o filtro abafado no áudio remete imediatamente a Castlevania: Symphony of the Night. E, falando nesse jogo, Robert Belgrade — o Alucard — empresta sua icônica voz para a narração, até me lembrando de seu trabalho em Tekken 5.

Um combate divertido contra a escuridão

Chronicles of the Wolf acerta em quase tudo que se propõe a fazer. Consegue ter sua própria identidade apesar da inspiração clara em Castlevania, apresentando um jogo desafiador, longo, com vários segredos e uma trilha sonora avassaladora.

Mas tenha em mente que é uma experiência verdadeiramente retrô, com praticamente nenhuma melhoria de qualidade de vida moderna. Por bem ou por mal, é uma clássica aventura contra as trevas como nos velhos tempos — e certamente uma das melhores com essa proposta.

Prós:

  • A sensação de exploração é satisfatória do início ao fim, com diversos ambientes distintos;
  • Combate simples, mas familiar e divertido;
  • Pixel art bonita, demonstrando a evolução da Migami Games.
  • Trilha sonora excelente e muito bem produzida.
  • Longas horas de conteúdo, com um bestiário variado, segredos para desvendar e chefes interessantes de enfrentar.

Contras:

  • O mapa pode ser confuso, devido à falta de detalhes que diferenciem as áreas e outras ferramentas de marcação;
  • O controle do protagonista é um tanto truncado nas sessões de plataforma, especialmente com o pulo duplo insatisfatório;
  • Ausência de save na nuvem na versão de PC.
Chronicles of the Wolf — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Mariana Marçal
Análise produzida com cópia digital cedida pela PQube
OpenCritic
Siga o Blast nas Redes Sociais
Alecsander "Alec" Oliveira
Estudante de enfermagem de 25 anos, está nesse mundo dos joguinhos desde criança. Fã de games com vibe mais arcade e arqueólogo de velharias, mas não abandona experiências mais atuais. Acompanha a mídia de podcasts, dublagem e ouvinte assíduo de VGM. Pode ser encontrado como @AlecFull e semelhantes por aí.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).