Análise: Gestalt: Steam & Cinder é uma aventura steampunk bela, porém pouco inspirada

Apesar do ótimo visual, o jogo não consegue aproveitar e explorar suas premissas de forma competente.

em 23/07/2024

É difícil não ficar encantado com o visual elaborado de Gestalt: Steam & Cinder, que é inspirado na pixel art da era 32-bits. Por trás de toda beleza, há uma aventura de ação e plataforma com elementos metroidvania que até é mecanicamente competente, porém logo se revela rasa e repleta de problemas. É perfeitamente possível se entreter aqui, mas, no geral, a experiência é pouco memorável.

Desbravando os mistérios de um mundo movido à vapor

No passado distante, um conflito mudou profundamente o mundo e agora a população vive em Canaan, uma cidade repleta de apetrechos movidos a vapor. Criaturas e autômatos violentos ainda estão à solta, mas mercenários conhecidos como Soldners enfrentam esses perigos quando necessário — desde que o pagamento seja bom, claro.

Uma das mercenárias mais habilidosas de Canaan é Aletheia, uma jovem de cabelos ruivos e personalidade forte. Um dia, ela recebe a tarefa de resgatar um homem que ficou preso em ruínas perigosas. Lá, a dupla acaba ativando um estranho dispositivo que parece ter relação com o conflito do passado e as origens da cidade. A partir disso, Aletheia passa a ser o centro de uma jornada perigosa que promete mudar o mundo.


Gestalt se desenrola na forma de um plataformer 2D tradicional. No controle da protagonista, desbravamos diferentes localidades saltando por plataformas e enfrentando inimigos. Além da espada, a heroína conta também com uma pistola que lança balas normais e elétricas, sendo que essa última variação é capaz de atordoar oponentes. Golpes da lâmina recuperam a energia da arma de fogo, então é necessário balancear os tipos de ataques.

Pelo caminho, Aletheia aprende novos movimentos que a permitem alcançar locais anteriormente inacessíveis. Além disso, está disponível uma árvore de habilidades na qual podemos desbloquear vantagens diversas, como ataques especiais ou melhorias de atributos. Por fim, inúmeros equipamentos permitem customizar algumas características da garota.


A ação ágil e precisa é o maior destaque de Gestalt: Steam & Cinder. É fácil controlar Aletheia, e enfrentar os desafios de plataforma e combate é envolvente. A variedade de inimigos é razoável, sendo que muitos deles exigem estratégias diferentes para serem derrotados, como atordoá-los primeiro com tiros elétricos.

O mundo conta com mapas elaborados repletos de salas e regiões interconectadas. A progressão da trama principal é linear, mas há rotas alternativas, atalhos e segredos em todos os cantos, o que nos incentiva a explorar detalhadamente cada área. Como é de praxe, muito do conteúdo só pode ser acessado após aprender certas habilidades de navegação.



Em uma aventura repleta de conceitos subdesenvolvidos

Em sua essência, Gestalt é um plataformer competente, mas rapidamente os inúmeros problemas se tornam bem aparentes. Para começar, o jogo se autointitula metroidvania, mas, na prática, é um representante fraco do gênero: a progressão é completamente linear, sendo pouquíssimos os pontos que necessitam de alguma das poucas habilidades de navegação que a protagonista aprende. E as recompensas são decepcionantes, como dinheiro ou itens consumíveis.

Além disso, revisitar as áreas é custoso, pois a viagem rápida é bem limitada. Para piorar, o desenho dos níveis é sem criatividade, se resumindo a corredores com inimigos e algumas poucas plataformas na maior parte das vezes. Faltaram também elementos para diferenciar as áreas entre si, pois elas são mecanicamente similares. Por causa disso, não tive vontade alguma de explorar novamente as seções anteriormente completadas.


Outro ponto negativo é o combate. Apesar de ter inúmeros ataques à disposição, na maior parte do tempo só conseguimos utilizar poucos golpes básicos, pois os inimigos atacam muito rápido e interrompem a heroína. Por causa disso, a maioria dos embates se resume a repetir o ciclo de golpear duas vezes e esquivar. As inúmeras habilidades e possibilidades de customização são subutilizadas e irrelevantes quase que o jogo todo.

Agravando o sistema de batalha, temos inimigos extremamente limitados que repetem um único golpe eternamente, eliminando qualquer necessidade de estratégia. Isso fica ainda pior nos chefes: eles têm somente três ou quatro ataques que são repetidos durante todo o confronto, bastando esperar o movimento acabar para atacar. Para tentar compensar, todos os oponentes têm grande quantidade de vida, o que, na prática, deixa as batalhas ainda mais enfadonhas e arrastadas.



Na beleza e nos problemas de um intrincado universo pixel art

De longe, a atmosfera é um dos destaques de Gestalt: Steam & Cinder. O visual em pixel art, que simula o estilo das eras 16-bits e 32-bits, é agradável — destaco as estilosas animações da protagonista Aletheia. Fora isso, a temática steampunk é explorada de formas interessantes, como uma forja repleta de máquinas e aço derretido, pessoas com braços e pernas mecânicos e uma mistura curiosa entre arquitetura tradicional e tecnologia a vapor.


A construção do mundo é complexa, contando com uma história elaborada sobre as origens da cidade e dos conflitos. A intenção é boa, mas o resultado deixa a desejar. A aventura é interrompida constantemente por diálogos extensos que não contribuem nada para o desenvolvimento da trama, os personagens são rasos e extremamente estereotipados, e clichês são utilizados com frequência. Para piorar, a história termina de forma abrupta e o texto em português tem inúmeros erros, especialmente ausência de vírgulas, comprometendo o sentido em alguns diálogos.

Na parte do conteúdo, a campanha principal pode ser concluída em aproximadamente quatro horas, sendo possível espremer um pouco mais ao explorar o parco conteúdo opcional. No fim, os problemas e limitações trazem a sensação de uma aventura incompleta que claramente precisava de mais tempo de desenvolvimento e mais ousadia em suas ideias.



Uma jornada pouco memorável

Gestalt: Steam & Cinder apresenta ambientação steampunk cativante com visual inspirado na era 32-bits, mas falha em entregar uma experiência metroidvania memorável. Apesar de sua competente ação ágil e controles precisos, a progressão linear e a falta de criatividade nos mapas comprometem a exploração.

O combate, embora variado em teoria, se torna repetitivo e enfadonho devido a limitações nas mecânicas e inimigos; além disso, a história, apesar de elaborada, é prejudicada por diálogos desnecessariamente extensos e personagens estereotipados. No fim, o resultado é uma aventura que logo cai no esquecimento.

Prós

  • Razoável interpretação do gênero de ação e plataforma 2D;
  • Ritmo ágil com boa alternância entre combates e exploração;
  • Ambientação steampunk cativante e com ótimos visuais em pixel art.

Contras

  • Implementação fraca dos conceitos de metroidvania com desenho de níveis simplório, progressão linear e backtracking desnecessariamente custoso;
  • As mecânicas de combate são subutilizadas, tornando os combates repetitivos e simples;
  • Os chefes têm pouquíssimos ataques e movimentos, o que deixa esses confrontos arrastados e nada estratégicos;
  • Diálogos desnecessariamente extensos, em uma narrativa com clichês e ritmo irregular.
Gestalt: Steam & Cinder — PC — Nota: 5.5
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Fireshine Games
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é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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