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Análise: Ufouria the Saga 2 (Multi): um plataforma curioso, fofo e levemente insano

Explorando um mundo que parece ter saído de um sonho febril, precisamos lidar com uma ameaça alienígena.

Ufouria the Saga 2
é um jogo um tanto quanto inesperado. Retomando a proposta de um título cult de NES, esta sequência traz um estilo visual que remete a um contexto de artes manuais e uma gameplay que aproveita a aleatoriedade dos roguelikes. O resultado é um plataforma simples, mas que brilha com o seu carisma peculiar.

Um mundo esquisito e colorido

Ufouria the Saga 2 nos coloca no controle de um pato de touca que encontra um alienígena. Os dois acabam se desentendendo e o ET (ironicamente chamado Utsujin, literalmente Alien em japonês) decide espalhar o terror por onde passa, distribuindo doses de sua gosma roxa nojenta e pegajosa.
 
A partir daí, cabe ao jogador explorar várias áreas em busca do paradeiro desse vilão. No caminho, encontramos novos aliados que também são jogáveis. Cada um deles possui uma habilidade especial, como a capacidade de nadar ou voar mais longe, o que abre novas áreas para exploração.
Em termos de ambientação, o jogo tem um estilo bastante peculiar. Primeiramente, chama a atenção a forma como os ambientes apresentam texturas que remetem a materiais reais. A proposta remete ao estilo de títulos da Nintendo desenvolvidos pela Good-Feel, como Yoshi’s Crafted World, mas de uma forma menos ambiciosa, sendo usada mais para passar a sensação de relevo.
 
A estrutura visual inclui também efeitos especiais espalhafatosos, que colorem os contornos da tela como em momentos de ênfase dramática em mangás. A história também acaba soando como uma viagem febril, com os personagens tendo falas peculiares e até quebrando a quarta parede ocasionalmente.
 
A trilha sonora super animada também faz com que esses elementos ganhem força. Ao combinar tudo, o que temos é um caldeirão de elementos que conseguem ser igualmente fofos e bizarros. Fiquei encantado com esse mundo que parece o sonho de uma criança.

Aventuras em série

Em termos de gameplay, o conceito de Uforia 2 é bastante simples, se tratando de um plataforma 2D básico. Em comparação com o usual, porém, as fases seguem moldes procedurais, alterando o seu layout sempre que as visitamos. O que antes era uma colina pode ser uma sequência de pequenos vales com moedas na próxima vez que explorarmos.
 
Para os padrões do gênero, a exploração é bem fácil, sem grandes transtornos para enfrentar. Lidar com os obstáculos é algo relativamente trivial para o gênero, e a mudança de design das áreas não dificulta o processo de aprendizado: ele traz apenas variações que nos motivam a rejogar as fases junto com o senso de colecionar itens.
Porém, isso não significa que não haja momentos com um pouco mais de dificuldade. Conforme progredimos na campanha, alguns obstáculos podem trazer mais desafio, como a área de lava, pois basta encostar no líquido quente para perder uma vida inteira, independentemente da quantidade de corações disponíveis.
 
De forma opcional, temos missões extras para completar enquanto exploramos cada fase. Elas são indicadas no superior direito da tela por ilustrações sem nenhuma descrição textual, o que pode fazer com que seja confuso adivinhar o que elas deveriam significar. Em geral, elas rendem dinheiro extra e costumam ter dificuldade baixa, com algumas exceções.
Próximo do final da trama principal, temos algumas missões obrigatórias que envolvem explorar áreas escondidas em tempo recorde ou evitando tomar dano. O segundo caso é a maior complicação que o título oferece, já que essas áreas são relativamente longas e basta um erro para ter que voltar para casa e começar novamente do zero.
 
Nem mesmo os chefes oferecem maior dificuldade do que esses pontos do jogo. Para lidar com esses inimigos, geralmente basta atirar um Popoon (uma espécie de balão com uma carinha) e depois pular em cima deles. Mesmo em casos diferentes, como o último chefe, as variações não são grandes o suficiente para exigirem estudo e técnicas precisas. O foco está em uma experiência confortável e simples de plataforma.

Desbloqueando mais funcionalidades

Um aspecto importante de Ufouria 2 é o fato de que coletamos moedas e latinhas nas fases. Quanto mais latas coletamos, mais itens ficam disponíveis para compra, alguns dos quais são essenciais para avançar na trama. Assim, as moedas guardadas se tornam formas de fazer upgrades nos nossos personagens e abrir funcionalidades importantes.
 
Até mesmo liberar novos aliados depende dessas compras, mas também há a opção de ampliar a vida e a quantidade de Popoons que podemos carregar. Nenhum dos dois é particularmente necessário devido ao baixo nível de desafio da experiência, mas o segundo pode ser interessante para lidar com áreas com muitas gosmas roxas.
Afinal, temos dois tipos básicos de ataques: o Butt Bounce, que nos faz pular em cima de um inimigo e bater nele com a bunda; e o já mencionado Popoon. O segundo serve apenas para desnortear os alvos, deixando-os mais vulneráveis para o pulo; porém, esses balões também são usados para eliminar os obstáculos de gosma, que não são afetados pelo Bounce.
 
No início, podemos carregar apenas um Popoon e atirá-lo quando quisermos, mas há uma taxa de espera para que o próximo seja produzido após o uso; com isso, ficamos sem acesso à técnica por um tempo. Portanto, o upgrade se torna bem útil para alguns momentos de plataforma que envolvem muitos obstáculos de gosma.
Vale destacar que a técnica de Butt Bounce tem algumas imprecisões, então é possível tomar dano ao atingir as laterais dos inimigos em vez de eliminá-los. Esse defeito leva à perda desnecessária de corações e é o único elemento que considero particularmente desconfortável no jogo.

Um charme peculiar

Ufouria the Saga 2
é um plataforma charmoso e engraçado que cativa com seu estilo. A obra é relativamente simples perto de alguns dos gigantes do gênero, mas é profundamente divertida no que se propõe a fazer.

Prós

  • Um plataforma simples e fácil de aproveitar;
  • Estilo artístico peculiar com um aspecto texturizado e elementos exagerados de efeitos especiais;
  • Um mundo colorido com personagens peculiares;
  • Trilha sonora descontraída e animada que reflete bem o clima das áreas exploráveis;
  • Coletar moedas para desbloquear novas funcionalidades gera um ciclo viciante de gameplay;
  • O elemento procedural das fases ajuda a dar um pouco de variedade toda vez que retornamos a um local.

Contras

  • O uso da mecânica de Butt Bounce tem algumas imprecisões nas laterais dos inimigos, podendo levar à perda desnecessária de corações;
  • Chefes pouco criativos e baixo desafio;
  • A falta de descrição pode tornar as missões secundárias das fases confusas.
Ufouria the Saga 2 —PC/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Red Art Games

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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