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Análise: Ori and the Will of the Wisps (Multi) é uma aventura ágil por um mundo estonteante

A sequência do metroidvania da Moon Studios expande as mecânicas do original ao mesmo tempo em que mantém a excepcional ambientação.

Ori and the Will of the Wisps
, continuação do aclamado metroidvania Ori and the Blind Forest, parece, em um primeiro momento, conservador: o visual continua impressionante e o protagonista ainda se move com uma fluidez excepcional. No entanto, bastam alguns poucos momentos para perceber que a experiência é bem distinta, pois muitas mecânicas e conceitos foram expandidos ou completamente retrabalhados. O resultado é uma aventura simultaneamente familiar e inédita, sem deixar de ser envolvente e muito divertida.

Em busca de uma amiga perdida

Depois dos acontecimentos da aventura anterior, o espírito Ori e seus amigos acabam adotando a pequena coruja Kun, filha da antagonista do primeiro jogo. Logo o grupo se torna uma família focada em apoiar a pequena ave, que tem um problema na asa e não consegue voar naturalmente. Com a ajuda de uma pena da mãe, Ori dá um jeito e logo Kun está planando feliz pelos ares. Mas a alegria dura pouco: uma tempestade pega a dupla de surpresa e eles caem em diferentes partes de um estranho local. Sem outra opção, Ori vai explorar as regiões da floresta de Niwen em busca de sua amiga alada.


Rapidamente o espírito descobre que tem algo de errado com a floresta: a escuridão corrompeu a flora e a fauna, deixando o local perigoso. Ori começa a jornada praticamente indefeso, mas logo ele encontra árvores contendo uma luz especial que o permitem aprender novas habilidades, como uma espada de energia para atacar inimigos, um pulo adicional no ar ou um golpe capaz de lançá-lo em diferentes direções. Conforme avança, Ori entende que não está ali por acaso e percebe que também precisará limpar a corrupção de Niwen.

No controle de um herói ágil

Ori and the Will of the Wisps, em sua essência, é uma aventura de ação e plataforma com alguns elementos de metroidvania, ou seja, certas áreas só podem ser acessadas após adquirir certas habilidades. No entanto, o ritmo é mais focado e direto, com direito a um marcador no mapa explicitando o próximo objetivo. Na maior parte do tempo, percorremos áreas lineares com desafios de plataforma e alguns pequenos puzzles, porém há vários caminhos alternativos, objetivos opcionais e segredos escondidos pelo caminho.

Controlar Ori é um deleite, pois a movimentação do espírito é fluida. Conforme avança, o personagem adquire várias habilidades de locomoção bastante interessantes, como um gancho de energia para se agarrar a plantas distantes, um golpe que usa inimigos e projéteis como impulso para se lançar pelo ar e uma investida para movimentação lateral. Particularmente, gosto bastante do movimento que transforma Ori em uma broca capaz de atravessar a terra, principalmente em trechos que usamos isso como impulso para lançar o personagem no ar.


A dificuldade é moderada e morri bastante, pois muitas vezes basta um deslize para errar um salto e cair em uma armadilha. Felizmente os checkpoints são generosos e raramente parei em algum lugar distante após morrer. A sequência não conta com o criativo sistema de criação manual de checkpoints do primeiro, mas as alterações tornaram o fluxo mais ágil, afinal não precisamos mais nos preocupar se criamos um ponto de retorno ou não.

Meus momentos preferidos no jogo são os vários trechos em que precisamos utilizar as habilidades para navegar por locais repletos de obstáculos. É muito recompensador conseguir fazer uma série de movimentos complexos para evitar espinhos, água venenosa e inimigos, ou então usar uma combinação de técnicas para alcançar locais de difícil acesso. Os movimentos são naturais e fáceis de executar e no final da aventura Ori é tão versátil que dá gosto de simplesmente explorar todos os cantos. Há também corridas opcionais bem interessantes que nos desafiam a usar com precisão as habilidades de Ori, com direito a placares online.
 


Combate e exploração com toques de flexibilidade

A customização de Ori em Will of the Wisps foi bastante expandida em relação ao original e agora conta com sistemas que lembram RPGs. No combate, o espírito conta com várias armas para enfrentar os inimigos, como uma espada de energia, um martelo lento e poderoso e um arco e flecha para acertar alvos distantes. Os embates são ágeis, assim como a movimentação, e é possível trocar de habilidades ofensivas a qualquer momento — flexibilidade e experimentação são constantes nesses momentos.

Há também um sistema de características passivas que expande as possibilidades, e as opções afetam tanto o combate quanto a exploração. Para utilizar estes efeitos, primeiro Ori precisa encontrar os Fragmentos, que estão escondidos pelo mundo. No começo da aventura só é possível equipar três amuletos, mas os espaços aumentam conforme avançamos na jornada. Os efeitos são variados, como aumentar o ataque ao custo de diminuir a defesa, coletar automaticamente itens deixados pelos inimigos, disparar flechas adicionais, não escorregar ao subir as paredes ou até mesmo possibilitar um terceiro pulo no ar.


Apreciei a grande gama de opções na hora de customizar Ori, mas fiquei decepcionado com a falta de incentivo para alterar constantemente as configurações. O combate, na maior parte do tempo, é extremamente básico, bastando utilizar as mesmas armas e estratégias para vencer. Um ou outro inimigo exige um passo diferente, como usar o martelo para quebrar o escudo de um leão ou atacar um besouro por trás depois dele bater em uma parede, mas raramente fui forçado a tentar coisas diferentes. O mesmo acontece com as habilidades passivas: equipei os Fragmentos mais úteis desde o início e praticamente não vi a necessidade de alterá-los no decorrer da aventura.

No fim, é uma pena que estas características sejam implementadas de forma tímida, mas, no geral, pouco atrapalham a experiência. O melhor de Ori está em sua movimentação e no uso de técnicas de navegação, e as customizações pouco afetam esses aspectos. O combate pode não ser muito elaborado, porém é impossível não se impressionar com as batalhas contra os chefes: os mestres são imponentes e os embates exigem estratégia e observação para serem vencidos. Além disso, o andamento desses encontros contam com cenas de tirar o fôlego com partes de perseguição, arenas que se modificam e cenas visualmente elaboradas.
 


Perdido em um universo convidativo

Mesmo sendo mais linear que outros metroidvanias, Ori and the Will of the Wisps tem um mundo extenso a ser explorado. Cada área tem itens e colecionáveis espalhados, alguns, inclusive, muito bem escondidos por trás de paredes que parecem sólidas. Fora os vários segredos e áreas opcionais, o jogo tem também inúmeras missões paralelas envolvendo os habitantes da floresta. Algumas tarefas são simples, como obter recursos para revitalizar a clareira que serve de lar para a maioria dos animais, mas há também algumas missões mais complexas, como uma longa sequência de troca de itens.

Apreciei como o jogo oferece recursos para agilizar a locomoção e o histórico de passos das missões. O mapa exibe informações detalhadas de pontos de interesse do mapa, como itens já vistos (mas ainda não obtidos), localização de obstáculos e posição de personagens. O recurso de viagem rápida, depois de desbloqueado, agiliza bastante a locomoção pelo mundo, pois pode ser feito de praticamente qualquer lugar. As marcações dão somente uma ideia de onde estão localizados os itens e objetivos, pois raramente o caminho até eles é direto.


A estrutura do mundo é bem balanceada entre partes lineares e momentos de exploração. Certas áreas, inclusive, lembram pequenos calabouços com puzzles que exigem utilizar as habilidades de Ori com sabedoria para avançar. É uma pena que boa parte das ideias e mecânicas sejam subutilizadas e muitas vezes restritas a pequenas áreas. O arco e flecha, por exemplo, só é utilizado em puzzles assim que é adquirido, depois nunca mais precisamos dele. Algumas técnicas também são redundantes, como os ganchos para se agarrar a objetos distantes — há três movimentos com funcionamento similar.

As incríveis sequências de perseguição estão de volta em Will of the Wisps. Nelas, Ori precisa escapar de algum monstro imenso em trechos de plataforma que abusam de suas habilidades. Estas partes são visualmente impressionantes e tensas, e fiquei maravilhado com a ação intensa combinada com cenas dramáticas, sendo muito recompensador conseguir fazer a sequência correta de movimentos para sair ileso. Mas, infelizmente, nem sempre os passos são claros, o que resulta em tentativa e erro. É bem frustrante ter que repetir toda a perseguição do início por morrer para um obstáculo imprevisível ou por não ter decorado uma sequência de saltos.
 


Um conto de fantasia belo e cativante

Um aspecto de Will of the Wisps que é impossível de ignorar é a sua estonteante ambientação. A floresta de Niwen é retratada com belíssimos visuais desenhados à mão e é impressionante a variedade dos cenários. Há tradicionais clareiras com muita luz e verde, cavernas sombrias cobertas de musgo, picos nevados com inúmeras estruturas congeladas, um lago repleto de plantas de cores vibrantes, ruínas imponentes no deserto e mais.

Iluminação acertada, inúmeros pequenos detalhes e cenários com várias camadas de elementos dão vida a este incrível mundo fantástico. Fiquei maravilhado com a floresta de Niwen e praticamente todos os trechos são belíssimos — foi difícil não tirar fotos constantemente. A trilha sonora orquestrada dita o tom com composições suaves, mágicas e fascinantes que combinam bem com a ação, por mais que as melodias em si não sejam muito marcantes, salvo a música tema.


Fora isso, apreciei a trama simples e repleta de momentos emotivos. Me afeiçoei pelo carisma da corujinha Kun, compartilhei os dilemas de Ori e de outros personagens, senti a tensão palpável dos momentos mais intensos e me emocionei com os acontecimentos tristes. É notável, em especial, como o jogo explora temas de maneira suave e com camadas, fugindo do estereótipo simples de luz contra sombras. Um exemplo é o antagonista principal que, em um primeiro momento, pode parecer simplesmente mau, mas logo entendemos seus motivos, que são completamente razoáveis. A história aborda temas relatáveis de maneira suave, como se fosse uma fábula moderna, e o resultado é envolvente.
 


Uma jornada imperdível

Ori and the Will of the Wisps combina ambientação intrincada e ritmo ágil para criar uma aventura ímpar. É ótimo controlar Ori, pois seus movimentos são fluidos e variados, e sempre há muitas opções na hora de superar os obstáculos — é recompensador entender quando usar cada técnica, principalmente para alcançar locais de difícil acesso. As habilidades do espírito são colocadas à prova em um mundo extenso com diversos puzzles de navegação, trechos de plataforma e muitas áreas opcionais repletas de segredos. Além disso, a floresta de Niwen conta com locais belíssimos e ricamente construídos, explorados em uma fábula emocionante e suave de fantasia e amizade. No mais, Ori and the Will of the Wisps é uma experiência mágica e excepcional.

Prós

  • Protagonista com movimentação ágil e com muitas habilidades traz sensação de velocidade constante;
  • Estrutura de mundo variada que combina trechos lineares, partes de exploração e puzzles de navegação;
  • Muitos segredos e tarefas opcionais para completar;
  • Ambientação impressionante com belo visual desenhado à mão e trilha sonora orquestrada.

Contras

  • Combate desinteressante na maior parte do tempo;
  • Algumas ideias e poderes são subutilizadas;
  • Sequências de perseguição contam com irritantes momentos de tentativa e erro.
Ori and the Will of the Wisps — PC/Xbox One/Switch — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: José Carlos Alves
Análise produzida com cópia digital adquirida pelo próprio redator


é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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