Jogamos

Análise: UNSIGHTED (Multi) traz liberdade e ação em uma elaborada aventura

Diferentes abordagens para resolver os desafios e vasto conteúdo são alguns dos destaques deste indie brasileiro.


Em UNSIGHTED, uma androide precisa correr contra o tempo para conseguir salvar seus amigos e seu amor. Para isso, ela explora uma imensa cidade em uma aventura de ação com toques de RPG que oferece progressão aberta. O primeiro trabalho da desenvolvedora brasileira Studio Pixel Punk impressiona com seu mundo intrincado, jogabilidade ágil, muitas possibilidades na hora de resolver os desafios e vasto conteúdo. O resultado de tanto esmero é um jogo excepcional e muito divertido.

Em uma missão com prazo apertado

O mundo mudou completamente quando um meteoro caiu na cidade de Arcadia. Ele trouxe consigo a Anima, uma substância que deu consciência às máquinas, o que resultou em uma guerra sangrenta entre humanos e autômatos. A situação se alterou drasticamente quando uma estranha torre isolou o meteoro, impedindo que os androides consumissem Anima. Sem essa substância, as máquinas se tornam Unsighted, criaturas violentas e sem consciência.


A esperança é Alma, uma autômata guerreira que perdeu parte de sua memória. Para salvar seus amigos, ela precisa reunir partes do meteoro para forjar uma lâmina capaz de destruir as estranhas criaturas que guardam a torre. O problema é que esses materiais estão sob a guarda de poderosos autômatos que possivelmente já perderam a consciência.

Sem outra opção, Alma decide enfrentar os perigos de Arcadia em uma missão que precisa ser completada rapidamente — pois se nada for feito, tanto ela quanto seus amigos se tornarão Unsighted. A heroína também está em busca de seu amor, a autômata Raquel, que desapareceu misteriosamente. No decorrer da jornada, Alma recupera parte de suas memórias, o que nos ajuda a entender melhor o que aconteceu em belas cenas em pixel art.



No controle de uma guerreira habilidosa

A trama de Unsighted se desenrola por Arcadia, em uma aventura de ação e exploração com toques de RPG. O mapa é gigantesco e podemos desbravar livremente boa parte dos locais, pois não há uma ordem definida para a progressão. Muitos trechos necessitam de equipamentos específicos para ser acessados, mas normalmente há rotas alternativas ou a possibilidade de utilizar algum outro item.

O combate em tempo real é uma constante na jornada de Alma, que precisa enfrentar inúmeros robôs Unsighted. Para atacar, ela conta com inúmeras armas, como espadas, machados, pistolas e escopetas. Os inimigos são bastante agressivos, sendo importante agir com precisão, pois defender na hora certa desestabiliza os oponentes, que ficam suscetíveis a dano crítico.


Para se fortalecer, a androide é capaz de equipar chips com efeitos diversos, como aumentar vida, vigor ou ataque. Alguns desses dispositivos têm funções mais distintas, entre as quais estão recarregar as balas ao acertar um golpe físico ou recuperar energia após derrotar determinado número de inimigos. Fora isso, é possível construir itens e equipamentos com recursos coletados pelos cenários, o que oferece ainda mais opções na hora de customizar a protagonista.

A exploração é livre, porém há um detalhe importante que inspira urgência. Alma e seus companheiros têm tempo de vida limitado a algumas horas, e caso elas se esgotem o personagem em questão se torna Unsighted. É possível estender esse tempo com um item chamado pó de meteoro, mas ele é raro e difícil de achar. Por ser um recurso limitado, precisamos pensar com cuidado em como utilizá-lo — é bastante difícil salvar todo mundo. Alguns minutos correspondem a horas no mundo de Unsighted, portanto precisamos avançar com agilidade.



Explorando livremente uma cidade imensa

Unsighted mescla vários conceitos de outros jogos consagrados e o resultado é uma aventura única e surpreendentemente criativa. O aspecto que mais me impressionou foi a vastidão do mundo, que conta com um imenso mapa interconectado repleto de atividades, segredos e rotas alternativas. O ritmo é constantemente ágil, o que é proporcionado pela presença balanceada de combates, sessões de plataforma, exploração e puzzles. Há também atividades paralelas, como uma caça a tesouros enterrados e pescaria.

“Liberdade” é uma palavra que eu usaria para definir a jornada de Alma pela cidade de Arcadia. A progressão da aventura é bastante aberta, nos permitindo explorar as áreas em qualquer ordem. Existem partes mais contidas que funcionam como pequenos calabouços, mas até mesmo essas áreas oferecem diferentes caminhos. Claro, alguns trechos só podem ser acessados com equipamentos específicos, mas me surpreendi que até nesse aspecto existem outras possibilidades e rotas alternativas.


Em um museu antigo, por exemplo, consegui acessar salas antes da hora ao construir uma arma que lança granadas para destruir pedras imensas; depois, nas profundezas do local, encontrei um equipamento que tinha função parecida. Já para atravessar trechos com água, montei uma shuriken de gelo para congelar o líquido, e depois consegui avançar por trechos parecidos com maior agilidade ao utilizar um par de ganchos para me prender às paredes.

O universo do jogo está repleto de momentos que nos convidam a testar as possibilidades com diferentes equipamentos. Inclusive, são raros os puzzles em que há uma única solução e adorei tentar abordagens distintas para alcançar baús distantes ou acessar áreas supostamente inalcançáveis. Mesmo correndo contra o tempo, fiz questão de explorar o máximo possível do mapa e, mesmo assim, não consegui ver tudo, e em alguns trechos fiquei sem a mínima ideia de como alcançar.


Somente um pequeno detalhe me incomodou ao desbravar a cidade: por causa do ângulo da câmera, às vezes é difícil calcular saltos ou ver com clareza diferentes elevações, pois certos elementos parecem estar visualmente no mesmo plano. Felizmente isso acontece com pouca frequência e não atrapalha muito na progressão.

No frenesi do combate

O combate de Unsighted é brutal e demanda bastante atenção, pois os inimigos são agressivos e normalmente avançam em grupo; golpear de qualquer jeito resulta em morte. Ataques com lâminas consomem vigor, ao passo que as armas de fogo precisam ser recarregadas frequentemente. Por causa disso, a melhor estratégia é observar os oponentes e agir na hora certa. Os embates são intensos e às vezes bem complicados, mas é muito recompensador conseguir aparar golpes e detonar os inimigos com poucos golpes.

Assim como a exploração, existem muitas possibilidades no combate, com uma grande diversidade de equipamentos. Na minha aventura, encontrei todo tipo de arma: uma espada elétrica capaz de diminuir a defesa dos inimigos, um lança-chamas, granadas congelantes, um imenso machado flamejante, uma escopeta e muito mais. Podemos trocar a configuração a qualquer momento e experimentação é essencial, pois os inimigos têm fraquezas específicas.


Como é de praxe, a aventura é pontuada por várias batalhas contra chefes. Gostei bastante desses embates, pois os mestres exigem estratégias bem específicas para ser derrotados. Algumas vezes tive dificuldade para avançar, mas bastou alterar os equipamentos e chips ou então tomar mais cuidado para sair vitorioso. Para facilitar, existem as Engrenagens, que dão vantagens temporárias, como bloquear uma quantidade de dano ou reviver Alma.

Assim como na exploração, o visual atrapalha em alguns momentos do combate. Em determinadas batalhas, os inimigos acabam se misturando com elementos do cenário, o que dificulta ver com clareza seus ataques. Esse tipo de situação acontece principalmente em salas com muitos objetos, mas por sorte é um problema pontual e perfeitamente contornável ao nos movermos para longe dos inimigos.



Em uma aventura tensa e com vários extras

Uma das características mais interessantes de Unsighted é o tempo de vida limitado dos personagens, o que traz uma sensação de urgência ao jogo. No começo da aventura não me importei muito, mas conforme conheci os outros autômatos passei a ficar constantemente angustiado com o possível fim deles. Podemos usar o pó de meteoro para estender o tempo dos personagens, mas eventualmente chegam os momentos de tomar uma decisão difícil: quem eu devo salvar com meu estoque reduzido de itens?

Além de ser um recurso da história, o tempo afeta o mundo do jogo em si. Na minha jornada, por exemplo, acabei não ajudando duas moradoras da vila, o que resultou em algumas lojas fechadas. Dependendo da rota, é capaz de você nunca ver certos personagens por não chegar a tempo . Investir em alguns poucos personagens traz também vantagens, pois cada um deles costuma dar um item exclusivo ao alcançar o relacionamento máximo. É possível até mesmo ser completamente egoísta e pegar para si a energia dos outros robôs.


O limite de tempo nos força a agir rápido, mas não achei ele opressor em nenhum momento, mesmo considerando a quantidade limitada de recursos que temos para estendê-lo. Ainda assim, existem opções para alterar essa caraterística, como mais tempo para uma experiência mais relaxada ou então um limite ainda mais curto para quem curte um desafio mais intenso. Também estão disponíveis recursos para facilitar a jornada, como um radar de pó de meteoro.

Fora a aventura principal, Unsighted conta com vários extras. O tradicional New Game+ começar a aventura novamente utilizando outro arquivo como base, o que nos permite explorar Arcadia com maior agilidade desde o início; no Boss Rush, enfrentamos os chefes da campanha principal em sequência; e por fim, o Dungeon Raid nos desafia a completar um calabouço gerado aleatoriamente. Um detalhe curioso desses dois modos extras é que vamos coletando equipamentos conforme avançamos, o que torna cada partida única. O jogo também conta com multiplayer cooperativo local e placares online.



Uma experiência excelente

UNSIGHTED é uma impressionante e elaborada aventura por um mundo devastado. Explorar a cidade de Arcadia é empolgante por causa de seu imenso mapa interconectado com várias rotas, puzzles e segredos, em uma progressão livre que oferece diferentes abordagens para superar os desafios. O combate se destaca com batalhas intensas focadas em precisão, em que várias armas nos permitem executar inúmeras estratégias.

Fora isso, o título conta com uma singular mecânica de limite de tempo que traz tensão e decisões difíceis às partidas. Isso também serve como incentivo para jogar a aventura mais de uma vez, pois dificilmente será possível ver tudo em uma única tentativa. Por fim, estão disponíveis modos extras notáveis e boas opções de acessibilidade. No mais, Unsighted é uma aventura imperdível e uma ótima estreia do Studio Pixel Punk.

Prós

  • Mapa interconectado imenso repleto de conteúdo e segredos;
  • Progressão aberta que permite avançar na trama de forma livre;
  • Muitas possibilidades na hora de resolver puzzles e situações;
  • Combate ágil e com dificuldade na medida certa;
  • Boa variedade de modos extras.

Contras

  • O ângulo de visão traz alguns problemas pontuais na exploração e no combate.
UNSIGHTED — PC/PS4/XBO/Switch — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Humble Games


é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google