Análise: Awita: Journey of Hope poderia ser um bom metroidvania, mas fica pela metade do caminho

Bonito e ágil, mas carente de substância.

em 17/06/2025
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Awita: Journey of Hope
é declaradamente inspirado em Momodora: Reverie Under Moonlight, inclusive na abertura idêntica: uma jovem de branco chega de barco à beira de uma floresta, rumo à capital do reino, onde buscará uma solução para a praga que assola seu vilarejo. No esboço do visual e da atmosfera imediata, o jogo é digno de alardear sua inspiração, mas a execução deixa a desejar com grandes limitações de conteúdo.

Vamos considerar um jogo como o que ele é: o resultado de um processo de desenvolvimento. É preciso estabelecer prioridades, ter ideias, colocá-las à prova em testes internos e externos, adaptar e modificar o que for necessário em todos os campos do jogo. Código, visual, gameplay, design de níveis; são muitas partes que formam um todo e todas elas estão interligadas e afetam umas às outras.

Minha impressão é que Awita: Journey of Hope, na forma atual de lançamento, não foi bem-sucedido enquanto processo. É uma obra contraditória ao apresentar muitos elementos bem-feitos, outros malfeitos e uma porção de vazios. De certa maneira, não é um jogo ruim, mas “apenas” muito incompleto. O ruim, portanto, é que tenha sido lançado antes de estar satisfatoriamente formado.

Meio lá, meio cá

A sensação é de que partiu do protótipo direto para o acabamento estético, tentando primeiro concretizar a idealização visual e o controle de Awita, mas, uma vez alcançado o patamar pretendido, houve dificuldade em aprofundá-lo e estendê-lo o bastante para construir um jogo completo. Deixe-me descrever melhor.

O desequilíbrio da produção fica claro quando vemos que os sprites de personagens e inimigos são bem-feitos e bem animados, mas são poucos em variedade e número. Os cenários são bonitos e detalhados, dotados de elementos gráficos animados, como cachoeiras e plantas que balançam ao vento, mas o vazio de finalidade do layout é problemático.



O design de níveis visto nos primeiros quinze minutos representa tudo o que veremos nas três horas de duração da campanha: corredores, escadas, plataformas para descer e subir e buracos com lanças como principais obstáculos. É uma arquitetura repetitiva e sem criatividade, desafio, mistério ou mesmo diversão — os caminhos nunca passam de meros caminhos. A brevidade é uma bênção, pois o jogo acaba antes de ficar realmente enjoativo, mas a densidade de objetos de interesse é baixa até mesmo para essas proporções concisas.

Já a agilidade de movimento é instantânea e bem executada, mas só há duas habilidades de travessia para adquirir no decorrer da campanha e, como disse, os cenários são simples demais para tirar proveito desse controle fluido que temos da protagonista.



O combate é igualmente ágil, mas consiste apenas de um combo básico de três golpes de curto alcance, esquiva e aparada. Há apenas mais um golpe a ser aprendido mais tarde. Os inimigos são repetitivos e esparsos, pois as salas só têm um deles de cada vez e muitas não têm nenhum, servindo apenas de travessia vazia de qualquer ponto de interesse.

Awita pode equipar até três acessórios, mas só há um punhado deles disponíveis, sendo que alguns são repetidos (para acumular seus efeitos). Um deles diminui o peso em 6%, embora não haja um atributo de peso explícito. A barra de energia se recupera tão lentamente que poderia até fazer com que os itens que a recuperam fossem úteis, mas só me serviram para obrigar a me desfazer deles e dar espaço a itens melhores no inventário.



Os únicos colecionáveis para procurar são 12 flores e 16 notas da história. Talvez encontrar todas as flores resulte em algum propósito, mas, como ficaram me faltando duas, não tenho qualquer mínima pista sobre o motivo e contexto para elas estarem ali. Já as notas da história não são escritas de uma maneira que torne o enredo interessante. Tudo se resume ao básico: “doenças e monstros assolam a terra, quem buscou respostas não voltou; vá você descobrir o mal por trás de tudo”. Pelo menos, está em português brasileiro.

Até a interface de usuário sofre da contradição de ter um belo retrato da protagonista ao lado da barra de vida, mas menu e espaços de salvamento nada atraentes, como se fossem rascunhos provisórios.

Portanto, com tão pouco material relevante para encontrar e inimigos para lutar, o que resta são os cenários bonitos e vazios de ideias, sendo o fator mais determinante em derrubar o jogo a um nível abaixo da média do gênero do qual faz parte.



Problemas solucionados

Antes de concluir, preciso dizer que tive alguns problemas técnicos, contando com dois congelamentos que me forçaram a fechar o jogo ao finalizar lutas contra chefes. Embora eu não tenha como verificar objetivamente o estado de lançamento, a Ant Games informou que esses dois problemas já foram solucionados com uma atualização. Ao menos, posso atestar que outro bug, o mais grave que tive (o terceiro chefe ficava invisível), foi consertado com sucesso e pude prosseguir no jogo até o final.

Bonitinho, mas vazio

Ainda há esperança para melhorar a jornada, mas vai depender do trabalho que a Ant Game estiver disposta a executar para colocar mais substância no esqueleto do seu jogo.

Awita: Journey of Hope é visualmente bonito e entrega controles ágeis e animações fluidas. Isto é, tem o esqueleto de um bom metroidvania, mas lhe falta substância que cubra esses ossos finos. A pobreza de conteúdo em termos de sistemas, design de níveis e itens ainda é atenuada pela breve duração, pois o jogo acaba antes que o jogador se canse dele. Sem algo que compense suas faltas, não há nada que o faça alcançar a média de suas inspirações.



Prós

  • Visual bonito de pixel art, com cenários detalhados e animações de personagens e inimigos fluidas;
  • A movimentação é ágil e divertida de controlar;
  • Textos em português brasileiro.

Contras

  • O design de níveis é desinteressante e pobre de conteúdo;
  • Os poucos sistemas de RPG de ação apresentados são superficiais;
  • A interface de usuário não é atraente;
  • A narrativa simplista não incentiva o envolvimento.
Awita: Journey of Hope — PC — Nota: 5.5
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ant Game
OpenCritic
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Victor Vitório
Admiro videogame como uma mídia de vasto potencial criativo, artístico e humano. Jogo com os filhos pequenos e a esposa; também adoro metroidvanias, souls e jogos que me surpreendam e cativem, uma satisfação que costumo encontrar nos indies. Veja minhas análises no OpenCritic.
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