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Análise: Ori and the Blind Forest: Definitive Edition (XBO/PC) é um pouco mais do que ótimo

Um dos melhores jogos de 2015 recebe um relançamento. Será que é possível melhorar algo que já era excelente?



O anúncio de uma "edição definitiva" de Ori and the Blind Forest há algumas semanas me deixou perplexo. Afinal, quando joguei a versão original no PC, em 2015, eu já havia achado o jogo excelente e, com certeza, não havia nada que estivesse fazendo falta para considerá-lo completo. Agora, após jogar a Definitive Edition do começo ao fim, continuo incerto se a decisão por trás desse lançamento veio da Microsoft querendo uma grana a mais, ou da própria Moon Studios querendo polir um pouco mais o seu jogo.


Independentemente das motivações por trás do relançamento, o resultado é o mesmo. Ao abrir o jogo, é impossível não se surpreender com a qualidade e a atenção a detalhes que a Moon Studios proporciona à arte e à música de Ori. É perdoável acreditar que se trata de um jogo feito na UbiArt Framework, a mesma de Rayman Legends e Child of Light. No entanto, Ori foi feito em Unity e ele não deixa de ser um dos mais belos jogos 2D já lançados. A direção de arte é absolutamente fenomenal e os efeitos visuais, as animações e a música trabalham juntos para contribuir com isso. Em certos momentos, a melhor coisa a se fazer é parar e apreciar.



Antes de deixar o jogador explorar Nibel, o nome da tal "floresta cega" do título, o jogo exibe um prólogo que nos faz lembrar muito a abertura de Up (o filme da Pixar, não o carro da Volkswagen), contando de forma sucinta a história de dois personagens, Ori e Naru, que se encontram, vivem juntos e, por força do destino, se separam. Nesse ponto, acredito que o jogo perdeu uma oportunidade de ser realmente único. Durante o jogo, há a narração da Spirit Tree, com frases soltas que explicam a história que está se desenvolvendo. Estas frases são dispensáveis para o entendimento do enredo e se elas não existissem este prólogo teria sido um exímio exemplo de "mostre, não conte".

Uma das mecânicas mais originais de Ori and the Blind Forest é o sistema de salvamento do jogo. Ao contrário de ter locais específicos para salvar ou ativar checkpoints, o jogador pode gastar energia (representada pelas bolinhas azuis no HUD) para criar um Soul Link. Soul Links são basicamente checkpoints personalizados, pois podem ser posicionados de acordo com a preferência do jogador. Demora um pouco para se acostumar com isso; no começo do jogo, é comum ter que repetir um segmento relativamente longo por ter esquecido de criar Soul Links mais frequentemente. À medida em que a mecânica se torna natural e Ori tem mais energia disponível, isso deixa de ser um problema e se torna uma questão de atenção para sempre criar Soul Links antes e depois de um trecho desafiador.

Um jogo orgulhoso de suas origens

Apesar de ser financiado e publicado pela Microsoft, Ori and The Blind Forest exibe com orgulho suas influências de outros jogos; em particular, Metroid e Zelda. Como em Metroid, Ori começa como uma criatura frágil num mundo hostil e, no decorrer do jogo, se torna extremamente ágil e poderoso. Alguns desses poderes são previsíveis, como o pulo duplo, mas outros são bem interessantes, como a habilidade de se lançar utilizando projéteis dos inimigos. Como em Zelda, há uma narrativa de salvar o mundo que progride à medida em que Ori coleta itens mágicos e completa três segmentos que são isolados do mapa principal. Estes segmentos funcionam como se fossem dungeons, cada um caracterizado pela exploração de alguma mecânica de gameplay ao máximo, mas trocando chefes por sequências de fuga (que também remetem a Metroid). E, é claro, existe Sein, a bolinha mágica que flutua, brilha, dá dicas e me faz lembrar de uma certa fada.



Quando comecei a jogar a Definitive Edition, tive uma sensação de preguiça pensando em quanto tempo eu levaria para ter aquela sensação de poder. Mas, o mundo aberto, cujos limites são definidos pelos poderes adquiridos, coloca o jogo no gênero metroidvania, um dos meus favoritos. Então, assim que eu comecei a jogar, não consegui mais parar. Como é tradição nesse gênero, a campanha não é muito longa: levei em torno de cinco a seis horas para terminá-la, pegando todos os itens que estavam no meu caminho, mas não retornei para coletar 100% deles no final (já fiz isso na versão original e, apesar de tentador, foquei em experimentar tudo que a Definitive Edition podia ter de diferente). O level design é intuitivo o suficiente para que um iniciante saiba sempre para onde ir, mas o mundo é muito grande e elaborado para ser facilmente memorizado. Então, não fiquei incomodado em estar jogando tudo novamente.

Aliás, algumas outras coisas me incomodaram. Ocasionalmente, ocorreram quedas de desempenho que atrapalhavam a sensação tão deliciosa e fluída que é controlar Ori. Em dois momentos, isso foi tão notável que me perguntei se o meu Xbox One estava superaquecendo. Não me lembro de ter passado por isso na versão original, no PC, mas não sei dizer se já estava presente no Xbox ou não. Além disso, durante a última cutscene, o jogo travou e me chutou para o painel do Xbox. Tive que jogar toda a sequência final do jogo novamente, o que foi bem anticlimático.

Edição um-pouco-mais-definitiva

A principal mudança da Definitive Edition é a adição de uma área no mapa, chamada de Black Root Burrows. Nela, são encontrados dois poderes novos: Dash, que faz Ori se mover horizontalmente à la Mega Man X, e Light Burst, que permite a Ori lançar granadas de energia. Dentro de Black Root Burrows, são encontrados desafios que dependem desses poderes, mas, fora desta região, percebe-se que o mundo foi criado sem eles em mente. Em particular, o Dash é tão redundante em relação às outras opções de mobilidade de Ori que frequentemente me esquecia que ele existia; só foi útil algumas vezes para conseguir um item um pouco antes da hora. O Light Burst, por outro lado, é interessante e desafiador de se usar. Também foram adicionados ao mapa todo alguns colecionáveis que dependem da sua utilização.



Em Black Root Burrows também são exibidas breves cutscenes que contam a história de Naru antes de conhecer Ori. Essas cenas exploram um pouco a personagem, mas não adicionam nada que mude drasticamente os acontecimentos do jogo.

Além disso, a Definitive Edition também ajuda os complecionistas a coletarem 100% dos itens no jogo. Enquanto no jogo original o seu save era bloqueado após completar a sequência final, nesta edição é possível retomar seu progresso e voltar à floresta para pegar o que ficou faltando. Também foi adicionado fast travel, que permite ao jogador viajar rapidamente entre as regiões do jogo utilizando Spirit Wells. Não recomendo usar isso antes de terminar a campanha, pois atravessar novamente o mundo munido de novas habilidades é uma excelente forma de se acostumar com elas e conseguir mais itens. Se você sabe que já coletou tudo que poderia naquela região, o fast travel é certamente conveniente.



Ori and the Blind Forest: Definitive Edition consegue cumprir a tarefa difícil de adicionar a um jogo excelente sem parecer forçado nem piorar o conteúdo já existente como consequência.  Mas, no fim das contas, a versão não adiciona conteúdo suficiente para ser obrigatório para quem já jogou o original. Ainda assim, o jogo original é tão bom que a Definitive Edition pode ser encarada apenas como desculpa para jogar tudo de novo. Já aqueles que não jogaram podem aproveitar a oportunidade para corrigir essa gravíssima falha e experimentar um dos mais belos jogos dos últimos anos. Além disso, os jogadores receberão a versão original no mesmo pacote quando comprarem a Definitive Edition, então podem conferir por si mesmo as mudanças. Espero que a Moon Studios esteja finalmente satisfeita com a história de Ori, porque eu, certamente, aguardarei ansiosamente por qualquer que seja o seu próximo projeto.

Ori and the Blind Forest: Definitive Edition já está disponível no Xbox One, mas a versão de PC foi adiada pela Moon Studios e ainda não tem data definida. Ela estará disponível na Steam e na Windows Store. Quem já tiver o jogo original poderá atualizar para a nova com um desconto, enquanto jogadores novos receberão o original ao comprar a edição definitiva.

Prós

  • Visualmente impecável
  • Trilha sonora sempre condiz com o que está na tela
  • Controles precisos que contribuem para uma jogabilidade deliciosa
  • Level design e construção de mundo incríveis

Contras

  • Edição definitiva adiciona pouco conteúdo em relação à original
  • Ocasionais problemas de desempenho

Ori and the Blind Forest: Definitive Edition — XBO/PC — Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: Xbox One

Revisão: Érika Honda


Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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