Impressões: Hollow Knight: Silksong é majestoso e se dá ao luxo de não fazer concessões

Nessa nova terra encantadora, há espaço para o familiar e o novo tecerem um conjunto que almeja alcançar maiores alturas.

em 05/09/2025

Após seis anos, seis meses e 21 dias, Hollow Knight: Silksong finalmente foi lançado. Nesse meio tempo, ele se tornou o jogo com maior número de lista de desejo no Steam de todos os tempos, ultrapassando as cinco milhões, e, no momento em que escrevo isto, há 436 mil pessoas curtindo a obra naquela plataforma.

Silksong simplesmente não foi enviado para reviews, então comecei a jogar ontem, como todo mundo (exceto que, jogando no PlayStation, ele só ficou disponível para compra três horas depois dos demais).

Consegui me dedicar à campanha por sete horas até agora, e sinto que mal arranhei a superfície do reino de Fiarlongo, onde se passa a aventura. É pouco para uma análise final, mas, tenho explorado várias áreas, derrotado sete chefes e desbloqueado sete pontos de viagem rápida, venho trazer minhas impressões iniciais.

Antes disso, um pouco de história.



Um longo projeto

Houve um motivo para a Team Cherry ter anunciado com tanta antecedência assim, no já distante ano pré-pandêmico de 2019. Quando Hollow Knight teve uma campanha de financiamento coletivo no Kickstarter, em 2014, a última meta atingida nos 37 mil dólares americanos arrecadados foi a de uma nova missão com uma personagem adicional. Já naquele tempo estava clara a silhueta de Hornet, aquela que seria a rival do Cavaleiro Vazio.


O trio de desenvolvedores australianos provavelmente sofre de perfeccionismo, levando-os a fazer uma expansão tão vasta que superaria o escopo do próprio jogo base. O resultado foi transformar o DLC em uma sequência com toda a pompa merecida. Para ser justos com os apoiadores do financiamento, Silksong foi prometido a eles gratuitamente.

Assim, para prestar contas sobre o que aconteceu à tal nova missão no comando de Hornet, a Team Cherry precisou anunciar a sequência. O projeto virou uma bola de neve silenciosa, sem muitas dicas e sem se comprometer com uma janela de lançamento. Até agora.



Diferentes filhos dos mesmos desenvolvedores

Silksong não é apenas um mais do mesmo que Hollow Knight. É muito óbvio que ambos compartilham do mesmo DNA, claro, mas já de cara vemos como a nova protagonista se move de forma diferente. Não espere um “copia e cola” do nosso besourinho heróico, sua rival é um inseto de traços próprios.

Hornet (que é uma aranha, apesar do nome) é mais acrobática e usa uma agulha como espada. Ela foi uma chefona no título anterior e seus velhos ataques estão aqui novamente, costurados de forma a encaixar com a progressão.



O golpe para baixo que dá impulso (conhecido como “pogo”) agora é em diagonal, o que exige bom posicionamento para usá-lo com eficiência. Os principais trechos de plataforma que vi requerem aprender bem a técnica e, como o ângulo é fixo, tive alguns momentos frustrantes quando a guerreira passava direto por cima do alvo por estar muito próxima a ele.

Talvez o principal no aspecto dos controles seja o fato de Hornet se apoiar em beiradas assim que as toca, lançado-se para cima. Isso altera muito a maneira como a movemos, podendo até mesmo fazê-lo em sequência.

Para citar o básico do combate, o arremesso horizontal da agulha e os “carrapichos” pontudos, também vistos na luta contra Hornet, também estão de volta e precisam ser recuperados nas primeiras horas da campanha, embora o segundo seja opcional.



Vozes para uma canção

Uma grande diferença entre Hollow Knight e Silksong é que, desta vez, a protagonista fala. Não, não me refiro a dublagem completa; além dos textos, só temos os grunhidos e interjeições carismáticas de cada personagem. Ela tem um tom confiante, formal e heróico, conversando com os muitos insetos em seu caminho.

Com mais importância nos diálogos, também há mais bichos para conversar e uma abordagem mais clara para a história. Ainda que seja contada de forma linear, pode-se percebê-la sendo construída pouco a pouco.



Hornet é vista como uma “concessora de desejos”, o que, em termos de videogame, significa que ela realiza missões opcionais para os NPCs, consistindo em encontrar coisas escondidas por aí, o que contribui para o ímpeto de explorar cada cantinho.

Tem também um quadro de missões na primeira vila, o que, à primeira vista, parece design duvidoso de encher linguiça com objetivos de derrotar N inimigos e recolher X itens. No fundo, é bem semelhante a isso mesmo. Como o quadro não vive cheio de missões, elas não se tornaram interrupções indesejadas, mas espero que tenham desdobramentos mais interessantes no decorrer da campanha.

Uma boa notícia é que todas as missões podem ser devidamente acompanhadas em uma aba do menu, que registra o progresso em cada uma.



Sem concessões

Talvez eu já devesse esperar por isso, mas Silksong vai contramão de uma tendência dos últimos anos entre os metroidvanias, inclusive entre os que se inspiraram em Hollow Knight: as opções que modificam o jogo. Algumas vezes, isso pode acontecer de forma simples, com um modo fácil (Crypt Custodian) ou mais complexas, como medidores de dano (Prince of Persia: The Lost Crown, Nine Sols) e até mais plataformas para dar apoio nos caminhos tortuosos (Aeterna Noctis, Lone Fungus).

Seja bem ou mal, Silksong ignora tudo isso, sem se preocupar em oferecer formas de modificar a experiência. Creio que os 15 milhões de jogadores de Hollow Knight (imagino que seja o metroidvania mais vendido da história) foram argumento suficiente para a Team Cherry decidir manter seu próprio caminho, apesar das críticas a algumas mecânicas do jogo anterior.

Duas das mais polêmicas, em especial, foram mantidas no novo título: a perda de recursos ao morrer, com uma chance de recuperá-los no local da tragédia (conhecida como “corpse run”, no sentido de “corrida ao cadáver”) e o mapa que precisa ser comprado e só é atualizado nos pontos de salvamento.



No caso da corpse run, o material perdido fica em um casulo de seda, às vezes bem no local da morte e, em arenas de chefes, por exemplo, logo na entrada, permitindo até mesmo recuperar o conteúdo sem ter que ativar a batalha novamente. Ao menos não precisamos enfrentar um fantasminha para isso, como acontece no antecessor.

Também acho que esse ponto está mais equilibrado porque sempre há motivos para gastar os rosários (dinheiro), diminuindo o risco de andar por aí se tremendo de preocupação por estar com grandes quantias nos bolsos. Tem até uma forma de pagar uma taxinha para trocar os rosários individuais por colares com vários deles, que não são perdidos ao morrer.

Já o mapa está tal qual no passado: precisamos encontrar a vendedora e pagar pelo mapa local, a preços módicos. Também é necessário desembolsar dinheiro para comprar marcadores e a bússola, a qual precisa ocupar um espaço de equipamento se quisermos acompanhar nossa posição atual no mapa.



Sinto que o posicionamento dos banquinhos de salvamento e a viagem rápida tornam a progressão mais amistosa, especialmente no fato de termos uma inventário de missões no menu, mas sou sempre favorável a opções, vendo seus benefícios para o melhor proveito de uma parcela maior do público. Respeito a decisão da Team Cherry e não pretendo deixar isso me atrapalhar, mas com certeza seria minha preferência ao menos ter a atualização automática dos mapas já comprados (Lone Fungus, por exemplo, dá essa opção, e é mérito dela que eu tenha podido apreciar melhor a exploração).

Não digo que Silksong é para poucos e não acho que — até agora — tenta superar o desafio do anterior. Ao contrário, acho que as estruturas em geral motivam mais a persistir na missão de Hornet, tanto para os mais hábeis que, seguem de peito aberto, quanto para os que precisam avançar com cautela, alternando entre o medo do desconhecido e o orgulho a cada novo passo desbravado (como eu).

Majestoso

Vendo agora minhas capturas de tela, percebo que elas não fazem justiça ao quanto o jogo é deslumbrante. Há tantas camadas móveis de profundidade nos cenários que eles muitas vezes parecem realmente ser tridimensionais. Acabei pegando muitas imagens de ambientes escuros e eles, de fato, eles são frequentes no jogo, mas também há grutas verdejantes, musgo que amassa sob os pés de Hornet, polem dançando pelo ar, raios de luz escorrendo pelo teto, cores quentes e efeitos de luz atmosféricos.

Os efeitos sonoros são encantadores, tanto nas vozinhas dos personagens, seus cantos ecoantes nos corredores mais fechados, tilintar de metal e ruídos de criaturas. É uma experiência sonora tão detalhada quanto sua contraparte visual, superando em muito o que já era belo em Hollow Knight.



Uma aventura muito esperada

Minhas impressões nessas sete horas iniciais têm sido muito positivas. Ao mesmo tempo em que refresca a experiência com uma estrutura de mundo mais convidativa e uma nova protagonista que se move e desenvolve de maneira totalmente própria, Hollow Knight: Silksong mantém tudo o que fez o seu antecessor se destacar em qualidade — e também alguns designs punitivos polêmicos.

É não apenas recomendável a qualquer um que tenha apreciado Hollow Knight, mas também aos interessados que, por algum motivo, não chegaram a jogá-lo. A ascensão de Hornet é um majestoso desafio por um mundo encantador e repleto mistérios, medos, recompensas e primor artístico.

Impressões produzidas com cópia digital adquirida pelo redator no PS5
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Victor Vitório
Admiro videogame como uma mídia de vasto potencial criativo, artístico e humano. Jogo com os filhos pequenos e a esposa; também adoro metroidvanias, souls e jogos que me surpreendam e cativem, uma satisfação que costumo encontrar nos indies. Veja minhas análises no OpenCritic.
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