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Impressões: The Rogue Prince of Persia (PC) tem estilo e boas ideias, apesar de ainda incipiente

A nova incursão da franquia é um plataformer competente que precisa receber mais conteúdo para alcançar seu real potencial.

em 27/05/2024

The Rogue Prince of Persia leva a série de príncipes, acrobacias e areias que manipulam o tempo para o universo dos roguelikes. Produzido pelo Evil Empire, estúdio responsável pelo sucesso indie Dead Cells, o jogo traz uma aventura de plataforma repleta de agilidade, ação e estilo. Lançado em Acesso Antecipado, o título apresenta mecânicas e ideias sólidas, porém ainda precisará de muito refinamento para se tornar uma experiência completa e envolvente.

Preso em um loop temporal para tentar salvar o reino

Um dia, os Hunos invadiram a Pérsia, usando magia xamânica das trevas para dizimar as forças do rei. Durante um confronto, o Príncipe é ferido por ser impulsivo e é levado para um oásis para ser tratado. Uma vez recuperado, o herdeiro parte para a capital para salvar sua família e expulsar de vez os invasores.

A tarefa não é nada fácil, pois o local está infestado de Hunos corrompidos pela magia sombria. Por sorte, o Príncipe tem em mãos um artefato que o leva de volta no tempo quando está prestes a morrer — infelizmente, o ponto de retorno é só alguns dias, então ele recomeça de um período avançado no conflito. Preso em um laço temporal, o herói precisará persistir inúmeras vezes e aprender com seus erros para alcançar os seus objetivos.


A aventura é estruturada como um plataformer tradicional: no controle do Príncipe, enfrentamos inimigos e atravessamos inúmeros cenários, com alguns chefes em áreas específicas. O grande diferencial é a agilidade do protagonista, que é capaz de saltar em mastros e correr curtas distâncias pelas paredes, permitindo alcançar locais altos ou de difícil acesso.

No combate, o Príncipe desfere sequências ágeis de golpes com armas de curto alcance, como uma dupla de facas, um sabre ou uma lança. Além disso, há equipamentos secundários, como arco e flecha e chakram, que consomem uma barra de energia para serem utilizados. Para escapar, o herói é capaz de saltar para as costas dos inimigos com uma pirueta, e um chute é uma ótima opção para lançar os oponentes em armadilhas.


Pelo caminho, encontramos novas armas que podem ser trocadas livremente. Há também medalhões com efeitos diversos, como criar uma nuvem tóxica ao lançar inimigos em obstáculos, recuperar vida ao encontrar pontos de teletransporte ou lançar chamas no solo ao executamos um golpe em direção ao chão. É possível equipar até quatro medalhões e a posição influencia o poder das habilidades.

Ao morrer, o artefato mágico do Príncipe rebobina o tempo e o leva de volta para o oásis. Como é de praxe de roguelikes, ao sermos derrotados, perdemos todos os itens coletados e precisamos recomeçar a jornada desde o início. Os mapas são gerados proceduralmente, ou seja, cada região muda a cada tentativa, apresentando itens e desafios únicos. Novos equipamentos e recursos são liberados entre as partidas, expandindo aos poucos as possibilidades.



Fluindo acrobaticamente entre combate e exploração

Roguelike é um dos meus gêneros favoritos e nunca tinha imaginado um Prince of Persia neste estilo. Surpreendentemente, a ideia funciona muito bem, em uma ótima interpretação das características da série.

De longe, o meu aspecto favorito no jogo são as acrobacias do Príncipe. Correr pelas paredes localizadas nos fundos dos cenários é uma ação fácil de executar, além de ser versátil: o movimento pode ser utilizado para atravessar longos fossos, para subir em locais altos ou até mesmo para evitar ataques de inimigos. A fluidez é grande e fui capaz de fazer uma série de saltos complicados e estilosos sem dificuldades, tornando muito divertida a exploração dos estágios.


As fases nos convidam a utilizar as habilidades do Príncipe com a presença de muitos obstáculos e caminhos alternativos. Em certos momentos, por exemplo, precisamos saltar por paredes para alcançar uma alavanca para abrir um portão. Um destaque são as salas de desafio, que contam com uma sequência de armadilhas dispostas de formas complicadas. Para atravessá-las e coletar um baú no final, é necessário destreza e atenção para saltar e correr pelas paredes com precisão, sendo muito recompensador chegar ao final em segurança.

Elementos acrobáticos também estão presentes no combate. Na maior parte do tempo, o Príncipe está cercado ou enfrentando muitos inimigos ao mesmo tempo, então se mover com inteligência se torna essencial. Para se esquivar de ataques, o herói salta para as costas do oponente, o que achei estranho no começo, mas logo dominei para fazer contra-ataques impressionantes.


Usar o cenário também é importante: chutar inimigos em buracos, lançá-los uns contra os outros ou correr pelas paredes para evitar ataques é crucial para sobreviver. Além disso, as batalhas contra os chefes exploram a movimentação de maneiras criativas, como correr para pontos de difícil acesso para evitar ataques complicados.

Perdido nas limitações

A soma das qualidades faz com que The Rogue Prince of Persia seja uma experiência de ritmo acelerado, alternando com fluidez entre os momentos de plataforma e combate. A base das ideias e das mecânicas já funcionam muito bem, mas nos demais aspectos o jogo ainda precisa melhorar muito.

Roguelikes são conhecidos por oferecerem experiências distintas entre as partidas, mas, no momento, o jogo é bem limitado nesse aspecto. Apesar de contar com a geração procedural de mapas, há uma forte sensação de mais do mesmo com estágios muito similares. A versão de lançamento conta com seis diferentes áreas, mas só uma delas, a Academy, se destaca ao apresentar uma estrutura mais complexa com um mapa mais denso.


O maior problema é que falta variedade de situações em todos os aspectos do jogo. Basicamente todos os estágios se resumem a correr para a direita, enfrentar alguns inimigos e fazer alguns saltos, sem grandes variações. Alguns detalhes tentam trazer diversidade, como diferentes rotas, inimigos com escudo, armadilhas exclusivas e salas de desafio, mas não são suficientes para diminuir a sensação de mais do mesmo.

Também falta diversidade no arsenal do Príncipe. As armas até são diferentes entre si, porém senti falta de variações de um mesmo armamento. Já o sistema de medalhões consegue introduzir algumas ideias interessantes que nos incentivam a testar outras abordagens, em especial os combos elementais: fogo explode nuvens de veneno, já o óleo espalha chamas entre inimigos. O problema é que a quantidade de poderes passivos e interações elementais é bem pequena, faltando maior impacto entre os efeitos e as interações.


Sendo assim, a meu ver, o jogo precisa diversificar seu conteúdo para explorar melhor o seu potencial. É necessário incluir mais eventos, mais variações de estágios, armas mais distintas, habilidades passivas mais relevantes e, principalmente, surpresas. O conteúdo é tão limitado que não vi motivos para continuar jogando depois que derrotei pela primeira vez o último chefe disponível nesta versão. Isso deve mudar no decorrer do desenvolvimento, e torço para que os produtores sejam mais ousados nas inclusões.

Desbravando um estiloso mundo

Um ponto que The Rogue Prince of Persia acertou muito bem foi em sua ambientação. O visual é inspirado em antigas e elaboradas ilustrações persas, utilizando cores intensas, traços fortes e cel shading para criar um visual vibrante, belo e único. Isso é explorado em ambientes diversos, como uma vila no deserto, um aqueduto, uma torre repleta de mecanismos e jardins em um palácio — cada área usa uma paleta de cores própria que reforça sua personalidade.


Para dar som às aventuras do Príncipe, foi convidado o músico Asadi, cuja música usa instrumentos tradicionais do Oriente Médio, como sitar e daf, combinados com elementos eletrônicos. Essa mistura resulta em melodias que remetem ao ambiente persa, ao mesmo tempo que soam modernas, trazendo identidade ao jogo.

A narrativa também chamou a atenção, com pontos da trama que se desenvolvem entre diferentes partidas ao resolver puzzles e missões. Há, inclusive, um mapa mental com informações colhidas pelo Príncipe que ajudam a definir os próximos passos. É uma maneira interessante de desenvolver a história em um roguelike, mas, assim como os outros sistemas, está em estado inicial — somente uma pequena parte da trama está presente no momento.



Um início auspicioso

The Rogue Prince of Persia leva a icônica série para o universo dos roguelikes em uma experiência que combina elementos tradicionais da franquia com a dinâmica desafiadora e repetitiva típica do gênero. O grande destaque é a fluidez da ação, que alterna suavemente entre momentos de plataforma acrobáticos e combates ágeis, em um mundo cuja ambientação visual e sonora são elaborados e cativantes.

Apesar disso, o título ainda enfrenta desafios em termos de variedade e profundidade de conteúdo. A repetição de cenários e a limitada diversidade de armas e habilidades reduzem a sensação de descoberta e inovação crucial para manter o interesse a longo prazo. Há muitas ideias notáveis, porém, no momento, elas ainda se encontram em estado inicial.

No mais, The Rogue Prince of Persia é um roguelike sólido que ainda precisa melhorar significativamente. O potencial já está presente, só resta explorá-lo com criatividade e ousadia para tornar a aventura memorável.

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Texto de impressões produzido com cópia digital cedida pela Ubisoft

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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