Meus jogos favoritos de 2025 — Hiero de Lima

Os redatores do GameBlast falam sobre os títulos que mais curtiram entre os lançamentos deste ano.

em 15/12/2025

2025 foi uma loucura em minha vida, no âmbito profissional. Foi meu primeiro ano completo como jornalista de games; foi quando decidi fazer freelas para sites gringos (com algum sucesso); foi quando entrevistei os criadores do meu GOTY; e, claro, foi quando recebi o “carinho da torcida” por ter dado nota 2 para o pavoroso e inexplicavelmente popular FANTASY LIFE i: The Girl Who Steals Time (ainda defendo essa decisão). 

No meio de tudo isso, ainda consegui um tempo para jogar videogames, veja só! Separei seis dos meus favoritos deste ano, sendo a imensa maioria composta de lançamentos que cobri aqui para a casa; ou seja, para quem acompanha minhas análises, não vai ter muita surpresa. Vamos lá!

Promise Mascot Agency

Pode-se dizer que a presença de Promise Mascot Agency nesta lista é uma profecia autorrealizada. Como fã apaixonada de Paradise Killer, segui cada passo divulgado de seu sucessor, desde antes do anúncio oficial, e fui recompensada com um jogo excelente, que junta todas as minhas paixões: mundos abertos diminutos, histórias de yakuza, narrativas feministas e muito, mas muito caos. 

Não sou só eu que gosto dessas coisas — a Kaizen Game Works também. Cada parte do maquinário de Promise Mascot Agency é um elogio a tudo que o faz funcionar, entre vídeos de mascotes japoneses passando por perrengues e os temas de redenção e reconstrução no cerne dos vários arcos de personagem. Apesar da escrita não apostar muito em profundidade a nível individual, o coletivo de Kaso-Machi traz uma forte verossimilhança à cidadezinha. 

Em geral, é um jogo que dá certo pela humanidade envolvida: suas veias expostas tornam possível ver bem tudo que o move. O pano de fundo japonês criado por britânicos deixa de cair na exotização não só pelo respeito e envolvimento de nativos, como também por um profundo senso de autorreconhecimento. Algumas coisas, como ver sua terra natal deixar de florescer por causa de corrupção política e facções criminosas, não conhecem nacionalidade. 

The Hundred Line -Last Defense Academy-

Quando eu publiquei minha análise de The Hundred Line -Last Defense Academy-, não estava nem na metade do jogo ainda. Levou um bom tempo até conseguir os 100 finais dessa mistura de visual novel e RPG tático (mais de 200 horas, para ser específica); nem mesmo um mês de antecedência foi o bastante para meu ritmo, embora tenha conseguido fechar algumas rotas, incluindo a que desvenda quase todos os mistérios do enredo principal.

Não considero essa confissão, contudo, prova de que meu texto original estava incompleto. É mais uma visão do pedaço da narrativa que a maioria das pessoas terá saco para desbravar (até porque não me foi permitido citar nada além do prólogo). Nem todo mundo tem o tempo, a paciência e/ou a vontade de mandar Takumi Sumino fazer todas as decisões que aparecem em seu caminho só para ver o que vai acontecer. Completar a jornada, ao meu ver, foi entender a visão de mundo do game em sua totalidade, pedaço por pedaço, o que não é estritamente necessário, mesmo que seja uma boa escolha.

Hundred Line é frustrante às vezes; humor besta de anime, segmentos repetitivos entre rotas (a esmagadora maioria presume ser o primeiro novo caminho do jogador), qualidade inconsistente de escrita e um protagonista que eu caridosamente descrevo como “um dos piores seres humanos que já controlei” (não vou dizer que isso não é uma decisão consciente dos roteiristas, por outro lado) o fazem uma experiência que, como tudo que Kazutaka Kodaka assina, não vai e nem quer agradar todo mundo. Quem quiser se aventurar por aqui apesar disso vai encontrar uma excelente história, personagens inesquecíveis e uma tese muito bem desenhada sobre a banalidade do mal. 

Wanderstop

Creio eu que minha análise de Wanderstop explicou bem o porquê de eu ter gostado tanto deste título. Do criador de The Stanley Parable, é o melhor tipo de “cozy game”: aquele que te deixa desconfortável às vezes. A protagonista, Alta, faz o papel da parte da audiência que acha que a famosa fantasia de ir plantar florzinhas no meio do nada é besteira, coisa rasa, que não ajuda ninguém; o jogo se empenha bastante em provar que ela está errada.

É claro que brincar de fazenda virtual não conserta ninguém por conta própria. Wanderstop sabe disso — o personagem Boro, que guia Alta por sua jornada obrigatória de descanso e relaxamento (apesar de ser uma guerreira, ela atualmente sequer consegue levantar a própria espada), diz com todas as letras que o novo trabalho da pupila fazendo chá para estranhos não é nenhuma cura milagrosa do burnout. Diminuir o ritmo só ajuda. Quem tem de querer dar o próximo passo é ela.

Atado a um excelente elenco, humor afiado e ambientação perfeita (entre os gráficos, cores saídas de um sonho, e a música suave de C418), é uma obra difícil de esquecer. Até quem é como Alta e odeia jogos mais lentos deveria dar uma chance.

Pokémon Legends: Z-A

Eu sou robô de Pokémon. Pronto, falei. Não tenho nenhum problema com o estado atual da franquia; essa energia negativa eu destino à série Yakuza pós-Nagoshi. Joguei Violet logo quando saiu, em toda sua feiura e bugs, e amei cada minuto. Só não tenho a capacidade mental de defender Sword e Shield ou os remakes de Sinnoh (eita joguinhos medíocres). Ainda bem que Pokémon Legends: Z-A, único desta lista que tive de comprar com meu pobre dinheirinho, não precisa de nenhum parágrafo defendendo seus méritos.

Ambientado na região de Kalos, palco de uma geração cujas palavras-chave são “potencial desperdiçado”, a nova aventura da Game Freak busca consertar essa injustiça; nem sempre dá certo, algo visto na quantidade de coisas dos games originais que foram jogadas para escanteio, o que não quer dizer que o que temos não é magnífico. 

A abordagem de um RPG de ação em “cidade aberta”, seguindo os passos de Pokémon Legends: Arceus, serve muito bem à série. Também se destacam, claro, as novas Mega Evoluções. Finalmente voltamos ao melhor conceito marketável de todos! Gigantamax who? (A melhor é a Clefable. Fofinha.)

Sendo eu quem sou, devo dizer, minha parte favorita foi o Rust Syndicate, o “time do mal” da vez (que nem é tão do mal assim, convenhamos). Só imagino a conversa na criação do GDD desse jogo: “A gente devia botar a yakuza na França”? Genial. Adorei. Na minha cabeça, minha personagem, a Melon, estava reagindo de maneira totalmente inapropriada às ameaças do Corbeau a respeito da dívida do sonso do Urbain. “AAAHHHH MEUDEUS KAICHOU [presidente, em japonês] TE AMO!!!!”, coisa do tipo. 

No Sleep For Kaname Date - From AI: THE SOMNIUM FILES

Eu sou muito fã da série AI: The Somnium Files. Quando No Sleep For Kaname Date foi anunciado, naquela Nintendo Direct anterior à do Switch 2, foi uma baita surpresa — como assim, um spin-off?! Devo admitir que não estava muito otimista a princípio, no entanto; não gosto nada da direção que os jogos mais recentes tomaram com a personagem Iris Sagan, e vê-la em uma roupa de coelhinho ridícula, em uma nave espacial cheia de teorias da conspiração no perigosíssimo limiar entre a doideira e o preconceito, não foi muito animador.

Fiquei, logo, imensamente grata ao encontrar um título bom de verdade escondido atrás de um marketing pouco favorável. Eu não sei quem foi o abençoado que decidiu que meu favorito Moma Kumakura tinha de ser um dos novos personagens jogáveis nesta aventura, mas muito obrigada. OK que isso não exatamente se traduziu em uma narrativa bem-escrita para ele (meus amigos, eu chorei lágrimas de pura raiva na última cena que essa criatura tem)... eu só decidi coletar minhas vitórias onde ainda as consigo. 

Destacam-se também as poucas novidades: a adorável e atrapalhada engenheira Hina Tsukiyono protagoniza um excelente arco, que conversa bem com o foco inesperado (e merecido) que “No Sleep” dá a um certo colega dela. Quando o criador original da série, Kotaro Uchikoshi, disse que este game, mesmo não sendo de autoria dele, foi feito por pessoas que realmente amam AI: The Somnium Files, eu acredito que não é só encheção de linguiça. É a pura verdade.

PowerWash Simulator 2

Por fim, mais uma entrada inesperada em uma série de que gosto muito. Eu estava lá quando a FuturLab anunciou PowerWash Simulator 2 ao mundo e tive de apelar para o “vai, é quase meu aniversário, deixaaaaa” na disputa pela cópia de análise aqui do site. Não me arrependo de nada. O time entregou tudo o que eu mais queria: PowerWash Simulator de novo, só que melhor.

Entre fases novas recheadas de fanservice e equipamentos infinitamente superiores ao que o primeiro jogo oferece (sério, não sei como um dia vivemos sem o SwirlForce Surf Ace), afirmo com convicção que esta é a forma final da série — ou, pelo menos, o será até um eventual PowerWash 3. Também, claro, deve ser destacada a verdadeira força vital que faz tudo funcionar: fofoca de cidade pequena. 

Assim como em Promise Mascot Agency, é um mundo que, apesar de ancorado em loucura pura (uma sociedade alternativa na qual lavadores de pressão são praticamente deuses vivos), diz muito sobre a realidade. Talvez um dia, quando eu tiver tempo, paciência e uma tese melhor estruturada, saia algum texto meu sobre as ideias políticas da série; é esse tipo de escrita que separa PowerWash Simulator de uns 99% dos jogos que têm “Simulator” no nome. Recomendadíssimo. 

Menções honrosas

Nesta seção, gostaria de dedicar um espaço a outros jogos incríveis que analisei pelo Blast este ano; como já escrevi sobre estes, vou me resumir a dar o link da análise e apresentá-los em poucas palavras-chave. São estes:

  • Lost Records: Bloom & Rage (Tape 1 e Tape 2): aventura narrativa, “amizade colorida” entre quatro meninas adolescentes, dos criadores de Life is Strange.
  • to a T: pequeno mundo aberto, formato que imita desenho animado, mensagem pró-diversidade, do criador de Katamari Damacy.
  • Word Play: roguelike inspirado em Balatro, soletração de palavras em inglês, criado pelo YouTuber e designer de jogos Mark Brown.
  • MakeRoom: sandbox de criação de cômodos, centrado na liberdade criativa, do famoso artista e designer de assets Kenney.
  • Detective Instinct: Farewell, My Beloved: visual novel de mistério, inspirada em séries seminais do Nintendo DS, balanceia humor e discussões filosóficas.

Bônus: não são deste ano, mas joguei em 2025

  • Este ano, praticamente encerrei minha jornada pelos Yakuza modernos (só faltam Ishin Kiwami, Pirate Yakuza in Hawaii, e o jogo do Fist of the North Star, que o colega João Pedro indicou enfaticamente). Como veterana sazonada da série, achei que Lost Judgment (2021) entregou a melhor gameplay desde o divisivo Yakuza 5, com um sistema de combate soberbo e uma deliciosa variedade de conteúdo extra. O problema é que a história sofreu em compensação — talvez um dia saia o Judgment perfeito, combinando as melhores partes da duologia… Se não puderem trazer o Yagami de volta, pode ser o Kaito ou o Higashi, poxa!
  • Terminei Slay the Princess: The Pristine Cut (2023) no começo do ano e gostei bastante. O maior trunfo da Black Tabby Games não é a quantidade de princesas que encontramos em nossa jornada para matar a dita-cuja: é a sensação de que a entidade do outro lado da tela é uma pessoa com a qual podemos conversar, apesar dela, claro, ser só um punhado de linhas de texto. Como escritora, é um tour de force invejável. 
  • Após me deparar com uma boa promoção na PlayStation Store, finalmente consegui jogar Control (2019) por conta própria. Já conhecia a história por ter visto as lives do querido Alanzoka na época — este ano, contudo, tive a chance de parar e ler todos os arquivos que ele pulava em nome de manter o ritmo da stream. Valeu muito a pena. É sempre muito gostoso poder embarcar em um mundo bizarro e cheio de detalhezinhos feitos para serem encontrados… embora o combate não seja lá essas coisas.
  • Ainda que só tenha recebido uma versão em inglês este ano, o gacha Umamusume: Pretty Derby não conta para a lista dos melhores de 2025, pois já estava disponível no Japão desde 2021. A ideia é “simples”: cavalos de corrida do mundo real são reencarnados como meninas de anime, e é a missão dos jogadores ajudá-las a recriar versões fantasiosas das carreiras de suas contrapartes, por meio de gameplay roguelike nos moldes da série Princess Maker. É daquelas coisas que parecem ridículas, mas, quando em ação, entender o apelo é muito fácil: é até educativo, porque os interessados acabam aprendendo várias coisas sobre lendas do hipismo japonês no formato de cultura de massa (para quem quiser cair de vez na toca do coelho branco, recomendo fortemente o blog gringo Umadacchi Densetsu). Vai, Taiki Shuttle, detona elas!!!!

Expectativas para 2026

  • No meio do ano, a Spike Chunsoft anunciou Danganronpa 2x2 do mais absoluto nada. Para quem não me conhece, prazer, meu nome é Hiero, e Danganronpa 2: Goodbye Despair é um dos meus jogos favoritos de todos os tempos — apesar de não ser uma experiência que eu recomendo a todo mundo (é necessário ter certas sensibilidades), é uma visual novel que me impactou como poucas, com um elenco excelente e mistérios estimulantes. Agora, de modo a celebrar o 15º aniversário da franquia, o original receberá um remake que também inclui uma história totalmente nova, ao lado da que já existe e, dizem, mais ou menos do mesmo tamanho. Medo define. Estarei lá haja o que houver.
  • Paralives foi adiado para o ano que vem — o time decidiu usar esse tempo extra para polir o game um pouco mais, citando especialmente o fato do mundo aberto não estar tão interativo quanto os playtesters gostariam em seu estágio atual. Para quem já está esperando pelo lançamento faz alguns bons anos, o que são mais uns meses? Sigo na expectativa, especialmente após a venda da EA a um grupo que talvez ameace a direção mais progressista da franquia The Sims no futuro. É sempre bom ter opções.
  • Muitos de meus amigos são fãs gigantes da franquia Tomodachi Life, uma daquelas que nunca me apeteceu tanto assim. Em 2026, talvez eu busque conferir Tomodachi Life: Living the Dream no Nintendo Switch (só compro o 2 quando o meu filhote de 6 anos der pau): a promessa de customização mais detalhada e a possível adição do tão esperado casamento homoafetivo parecem bons. Só não sei se vai ser compra de primeiro dia; vou deixar que meus chegados deem suas opiniões.
  • Não é um jogo e nem DLC, mas a versão 3.0 de Animal Crossing: New Horizons, um de meus games favoritos (já são mais de 400 horas e a mesma ilha desde 2020, a orgulhosa terra de nome Kakyoin), vai com certeza abalar o meu mundinho. Literalmente no dia anterior ao anúncio, me peguei pensando “puxa, todo mundo quer mais uma atualização, só que o que sequer viria nela?”. Que tal um hotel, novas decorações, collabs com outras franquias da Nintendo e — mais importante de tudo — um sistema de criação de itens que não seja um saco?! Vem logo, janeiro!

E você, aí do outro lado da tela? Qual foi seu jogo favorito do ano? Conhecia todos os mencionados aqui? Espero, como sempre, ter inspirado pelo menos uma pessoa a ir atrás de algo novo. Boas festas!

Revisão: Thomaz Farias

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Hiero de Lima
Jornalista formada pela PUC-SP e eterna apaixonada por videogames, especialmente aqueles japoneses de mistério. Sempre tem alguma redação gigante para escrever depois que zera um Yakuza.
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