Análise: Yakuza 5 HD (PS4) é o mais diversificado e mal escrito jogo da franquia

Atingindo o ápice de um mundo vivo e repleto de coisas novas a se fazer, o jogo tropeça em sua narrativa principal.

em 16/03/2020

Como o quinto jogo da série, e o último a sair exclusivamente para o PS3 em sua data de lançamento original, Yakuza 5 se configura como uma mistura interessante de diversos conceitos. Sendo um dos maiores títulos da franquia, a Sega realmente queria fazer justiça ao importante marco que havia atingido, recheando o jogo de conteúdo.

Um tour pelo Japão

O destaque inicial vai à quantidade surpreendente de ambientes exploráveis no título. Em Yakuza 5, podemos ir na clássica Kamurocho, a Sotenbori, que retorna de Yakuza 2, e às estreantes Nagasugai, Tsukimino e Kineicho, inspiradas em cidades nas províncias Fukuoka, Sapporo e Nagoya. Apesar das cidades possuírem quase os mesmos estabelecimentos, como lojas de conveniência, karaokê, e outros minigames, a mudança de ares é extremamente bem-vinda, principalmente vindo de Yakuza 4, com apenas uma cidade explorável.


 Na verdade, apenas caminhar por um ambiente diferente já é bastante satisfatório, contando cada um com as suas particularidades, como as ruas cobertas de neve em Tsukimino. E, nesse sentido, as 5 cidades presentes também possuem personagens para populá-las, sendo eles Kazuma Kiryu, o protagonista da franquia, Taiga Saejima e Shun Akiyama, que retornam do título anterior; e dois novatos, Haruka Sawamura e Tatsuo Shinada.


 No entanto, o que torna os segmentos de cada personagem únicos não é a sua campanha principal. Mesmo com os ambientes novos, Yakuza 5 repete erros básicos, que parecem ser artificialmente colocados para estender o tamanho de seu tempo de jogo. O porquê disso? Partes consideráveis dos capítulos ainda se resumem a andar do ponto A para o B, assistir a uma cutscene e ter um minigame introduzido ao jogador de alguma forma que conecte à história principal.

Esta fórmula, principalmente para veteranos da franquia, se torna incômoda e exaustiva, pois sabe-se a ordem na qual que os acontecimentos se darão em cada trama, o que só se agrava à medida que o jogador avança na jogatina.

A profundidade essencial do conteúdo extra

 A sorte de Yakuza 5 é a de seus extras serem incrivelmente profundos e variados. Por isso, essas seções de introdução deles por meio de tutoriais se tornam mais interessantes, justamente pela criatividade e novidade que trazem à mesa. Cada personagem tem uma história secundária exclusiva, que é apresentada na campanha principal. 

A fim de entrar em detalhes em cada uma delas, pois são uma das melhores implementações do jogo, comecemos por Kiryu. Em Yakuza 5, devido a motivos revelados na história, Kiryu acaba se tornando um motorista de táxi, o que gera, por consequência, uma história secundária sobre isso. Extremamente divertido, o objetivo é dirigir de forma rigorosa, acelerando e freando corretamente, dando sinais para fazer conversões, parando nos sinais.




Desta forma, é necessário manter um diálogo com o cliente, como todo bom taxista, fazendo um autêntico simulador da profissão. Misturando elementos de simulação veicular com simulação social, o time de desenvolvimento acertou em cheio na originalidade, mantendo a variação na gameplay de acordo com as demandas de cada passageiro, o que pode fazer com que o jogador passe horas e mais horas aqui. Para apimentar a história ainda mais, existem seções de corrida, em um estilo que remete a jogos da série Initial D e Wangan Midnight.














Além disso, as outras histórias secundárias não ficam muito para trás: com Saejima, Yakuza 5 inclui mecânicas de um shooter, no contexto de caça, com uma leve presença de stealth. Já Shinada tem uma versão totalmente exclusiva do minigame de baseball, com o devido aprofundamento das mecânicas, fazendo com que, por exemplo, as rebatidas sejam mais precisas.













Um universo de minigames

Fora das histórias secundárias, o jogo dá um show no quesito minigames. Trazendo a esmagadora maioria dos minigames da série de volta, com novos toques dados a eles, como a inclusão da maravilhosa música “Baka Mitai” no karaokê, e a presença do jogo de ritmo Taiko no Tatsujin no arcade, que é complementada por Virtua Fighter 2. Temos também o Winter Combat, que simula uma batalha de bolas de neve com a visão em primeira pessoa, e o Tatsuya Noodles, em que se deve memorizar e preparar o pedido dos clientes a tempo, em um restaurante de lámen. A variedade é imensa!










O que rouba a cena, contudo, são as seções em que Haruka é a protagonista. Mesmo não tendo tanta relevância no roteiro principal, tudo é muito diferente do que a franquia havia feito antes. Na jornada de Haruka para o estrelato como idol, não temos o combate tradicional dos jogos, mas sim diversas atividades diferentes, sendo a principal um jogo de ritmo, ao lado de outros criativos minigames. Exemplos como o de simular um meet and greet, e até formar uma dupla de comédia tradicionalmente japonesa, o owarai, em que a escolha das falas corretas é essencial para o sucesso, parecem simples na superfície, mas são incrivelmente viciantes.













Um insistente calcanhar de Aquiles

De um lado, temos um festival de criatividade e diversificação, e de outro, o mesmo fantasma da estagnação e da repetição ainda assombra. O que impede Yakuza 5 de ser o melhor da franquia, uma verdadeira obra de arte, são exatamente estes aspectos. Com uma queda substancial na qualidade da escrita, a história é arrastada e desnecessariamente grande, pois o autor constantemente coloca obstáculos na forma de inimigos que não são ameaça alguma, como se estivesse artificialmente atrasando os personagens de chegar a conclusões que o jogador já chegou a tempos.

Diante disso, os vilões também são os mais fracos da série. Por trás desta falha, estão as introduções rápidas a eles, com pouca exposição de suas motivações e origens, necessárias para que o jogador os veja como uma verdadeira ameaça. Basicamente, um personagem que nunca foi alguém tão relevante vira, repentinamente, um dos vilões mais importantes do jogo, e isso ainda mostra o vício do autor em criar choques vazios na trama.








Além disso, o combate dos personagens já conhecidos se mantém pouco distinto de suas versões anteriores, não sendo, portanto, tão relevante quanto em Yakuza 4. Outros elementos foram acrescentados com o objetivo de adicionar mais camadas aos combates, como um sistema de níveis para a proficiência com armas, mas, ainda assim, pouca diferença faz no cenário geral. 










O resultado de anos de prática

Sendo um jogo do final da vida do PS3, a equipe de desenvolvimento já estava bastante familiarizada com o hardware. Por isso, Yakuza 5 é lindo: os modelos dos personagens principais são incrivelmente detalhados, principalmente nas cutscenes. Da mesma forma são as animações, que receberam atenção especial para pequenos detalhes neste título, como o fato de se ter uma animação específica para subir e descer escadas, o que adiciona no capricho da obra.

Desta forma, o jogo atinge os seus melhores visuais na versão remasterizada, com 1080p e 60fps. Nesse mesmo sentido, há também uma clara intenção de mostrar a capacidade de processamento da plataforma original em Yakuza 5, algo visível nas partes focadas no beat’em up.









Em determinadas partes, por exemplo, ficam tantos inimigos na tela ao mesmo tempo que a impressão que tive foi parecida com a de um jogo da série Warriors, famosa por seu número exorbitante de combatentes no campo de batalha, só que em uma escala menor, obviamente. Os adversários aparecem em maiores quantidades em todo o jogo, o que realmente impressiona, mas também há um lado negativo: as batalhas podem ficar extremamente monótonas, pois, apesar de serem muitos, há poucas mudanças entre um e outro. Portanto, frequentemente encontra-se um prolongamento desnecessário do combate.

Uma verdadeira faca de dois gumes








Yakuza 5 com certeza é um jogo divisivo. O que por um lado é um dos títulos da franquia que mais arrisca — e acerta —, esbanjando criatividade e originalidade no seu conteúdo secundário, também é o que executa a sua campanha principal da pior forma. Com uma narrativa desnecessariamente longa, técnicas falhas de prolongamento de tempo de jogo, e a persistência do roteirista em criar impactos provindos de personagens vazios e desinteressantes, ele faz com que a história principal seja a pior parte do jogo.

Sendo assim, há de se dar o devido destaque às novidades introduzidas aqui, que poderiam ter se tornado um padrão para a série, se não tivessem sido tão deixadas de lado pelos desenvolvedores. Por isso, e também pela ótima execução delas, Yakuza 5 conquista quem o joga, e vai para o topo como o mais único e diversificado jogo da franquia.

Prós

  • Com maior experiência com o hardware original, o time de desenvolvimento faz muito bem o uso de seu processamento, colocando mais inimigos em batalha;
  • Cinco cidades exploráveis trazem a maior variedade de ambientes que a franquia já teve;
  • Histórias secundárias são divertidíssimas, mudando consideravelmente a jogabilidade e se destacando mais que a principal, como na simulação de táxi;
  •  Variedade imensa de minigames, tanto novos quanto antigos, não permite que o jogador enjoe do jogo tão cedo;
  • Atenção a pequenos detalhes nas animações dá um ótimo toque charmoso ao jogo;
  • Modelos 3D nas cutscenes continuam incríveis, mesmo anos depois do lançamento original;
  • Toda a campanha da Haruka;

Contras

  • A campanha ainda possui objetivos repetitivos, como caminhar do ponto A ao ponto B, ou matar um grupo de inimigos;
  • Inclusão de minigames na história, na forma de tutorial, faz com que os capítulos se prolonguem mais do que o necessário;
  • Falha na criação de reviravoltas, por causa da pouca exposição e construção dos vilões;
  • Apesar das tentativas de diversificação, o combate continua repetitivo e existem poucos estímulos para utilizar as novas mecânicas;
  • A estrutura do roteiro pode ficar cansativa com o tempo, pois os acontecimentos ocorrem bastante nas mesmas ordens de uma parte a outra;
Yakuza 5 HD - PS4 - Nota: 8.0

Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Sega

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