Análise: PowerWash Simulator 2 é uma continuação sem muitos floreios — ainda bem

Retorno a Sujeirânia e arredores melhora muito o processo de limpeza e descoberta que consagrou o original.

em 28/10/2025

Ah, a sequência. É (quase) sempre gostoso quando um título amado ganha aquele belo “2” do lado de seu nome. Quais serão as inevitáveis novidades que ele traz? Novas histórias, novos sistemas, novos modos de jogo, novos problemas — como pode um único número representar tantas possibilidades? E quando ele vem a se unir a um game que não parecia muito propício a uma sequência, o que sequer fará ali?

Essa era a pergunta na mente da pessoa que vos escreve quando PowerWash Simulator 2 foi anunciado em março. Como grande fã do original, foi uma notícia animadora, apesar de intrigante: a base é simplesmente “limpar coisas sujas”. Não é um ambiente que convida muita inovação. Será que os ingleses da FuturLab conseguiriam justificar a nova empreitada? 

Tudo eu nessa casa 

Em time que está ganhando não se mexe: a base de PowerWash Simulator 2 é a mesmíssima coisa do original. Você controla o mesmo personagem na mesma situação, ainda lavando coisas de todo tipo em troca de dinheiro para lavar mais coisas de modo mais eficaz. As principais mudanças estão nas ferramentas concedidas.

Em primeiro lugar, a melhor novidade de todas: o novo modelo de lavadora de pressão, o SwirlForce Surf Ace. Ele, que funciona como um esfregão elétrico, permitindo limpar chãos e paredes com eficiência invejável e pressão de água perfeita, virou meu melhor amigo durante minha jornada, e suspeito que será o de quase todos que a seguirem também.  

A segunda novidade é o sistema de sabão, que substitui o enfadonho processo de aplicar um produto de limpeza específico para cada superfície (e que, ainda por cima, precisava ser comprado repetidamente); essa mecânica impopular do primeiro título fez tanta falta que só fui perceber sua ausência quando já tinha 11 horas de jogo. O sabão, diria, é mil vezes melhor — recarrega automaticamente e faz com que qualquer bocal, até o mais fraco, consiga tirar a sujeira como se não fosse nada.

Por último, mas não menos importante, ganhamos dois auxílios importantes na mobilidade: um rapel e um elevador. Assim como o andaime já conhecido dos fãs, estes dois só aparecem em fases que precisam dele (ainda assim, devo confessar que, em certo ponto, senti falta do rapel; ter de limpar um silo de grãos tão aos pouquinhos foi uma forma estranha de tortura).

Isso tudo funciona a serviço do verdadeiro apelo da série PowerWash Simulator. Quem já jogou sabe que o poder desses jogos não se resume ao mero conceito de brincar de lavar coisas imundas, mas também ao que se consegue por meio disso: descobrir o que a sujeira esconde, o que, na maioria das vezes, cai em uma teia intrincada de fofocas de cidade pequena.

Você falou em… fofoca? Quente e na manteiga? 

Em PowerWash Simulator 2, somos guiados por todo o condado de Caldera, onde a imunda cidade de Sujeirânia, palco também do primeiro jogo, está localizada. O diabólico ex-prefeito Jeff Jefferson XIII, que agora governa toda Caldera, organiza um concurso de “Cidade do Ano” que nada mais é do que uma desculpa para que nosso personagem tenha de limpar tudo à vista, entre Detergento e o Vale das Esponjas (paródia do Vale do Silício, na Califórnia, EUA).

Cada fase a se limpar vem com a própria história por trás. Às vezes, é uma coisa mais contida, como uma anedota sobre o desastre que sujou o carro X a ponto de precisar dos nossos serviços; às vezes, é um retalho da colcha de intrigas políticas, históricas e mitológicas acontecendo na narrativa. Tudo isso já estava presente no jogo original, e a sequência só faz aumentar o espetáculo.

Como sempre, é o enredo acontecendo no fundo que faz com que os jogos PowerWash Simulator passem de mera curiosidade no eternamente desonroso gênero de simulação a algo singular e merecedor de mais atenção. Só bem que podia ter uma musiquinha no fundo, levinha que fosse; é meio desconcertante ficar limpando tudo e lendo eventuais discussões acaloradas dos personagens na solidão e silêncio (apesar deste pode ser aplacado com um podcast ou playlist externos, se quiser).

Operação Cata-Bagulho

Além dos dois pilares já consagrados, PowerWash Simulator 2 busca justificar o já citado número ao lado de seu nome com a criação de um quartel-general para os Serviços de Lavagem de Pressão, que junta todas as fases já jogadas em uma simpática prateleira de miudezas, recolhe mais migalhas do enredo em um quadro de cortiça tipo de detetive, e é (quase) plenamente decorável. 

É assim: quanto mais jogamos no modo carreira, mais objetos antigos e sujos aparecem para ser comprados. Limpe cada um e poderá usá-los para adornar seu QG… mas só uma metade do andar de baixo, algo que não é muito bem comunicado pelo jogo.

O que não ajuda é que muitos desses objetos não combinam em nada entre si. Entre as coleções desbloqueáveis, temos, por exemplo, a “Futurista”, toda preta e angular, e a “Exótica”, colorida e espalhafatosa. São universos totalmente diferentes que não ornam lado a lado, o que não impede o jogo de exigir que você os faça habitarem um mesmo espaço. 

O fato de cada um ser essencialmente uma mini-fase de limpeza pode até ser charmoso; ainda assim, não justifica a crueza desse modo, que parece ter sido colocado só para poder dar mais conteúdo ao jogo. Por outro lado, a FuturLab já prometeu uma série de atualizações (incluindo DLCs pagos em colaboração com outras PIs, como já faziam no primeiro título); é possível que, com o tempo, essa parte ganhe mais substância. 

(Algo que não precisam alterar é o carinho nos três gatinhos Ulysses, Bolinha e Sujinho, os quais podem ser encontrados em todas as fases andando por aí. Essa parte é legal.)

De lavar a alma

PowerWash Simulator 2 resgata tudo o que havia de melhor em seu antecessor e o expande, como toda boa sequência deve fazer. Apesar de se dar a alguns luxos desnecessários, o game é focado, espirituoso e sabe bem o que o gamer médio mais quer: a fantasia de poder em um mundo no qual passar a Wap no carro é simples, divertido e seco.

Prós

  • Gameplay tunada maximiza a natureza relaxante de seu loop;
  • Sistema de sabão remove estresse desnecessário;
  • Processo de limpeza é aliado da descoberta e surpreende a cada fase;
  • Mundo rico e satírico da série recebe boas expansões de história.

Contras

  • Não há qualquer música;
  • A “base pessoal” é uma adição supérflua e mais restritiva do que divertida.

PowerWash Simulator 2 — PC/PS5/XSX — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PS5

Revisão: Thomaz Farias
Análise produzida com cópia digital cedida pela FuturLab 

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Hiero de Lima
Jornalista formada pela PUC-SP e eterna apaixonada por videogames, especialmente aqueles japoneses de mistério. Sempre tem alguma redação gigante para escrever depois que zera um Yakuza.
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