Análise: Word Play promete ser o novo roguelike favorito de quem fez cursinho de inglês

Segundo jogo do YouTuber britânico Mark Brown tem uma única ideia, mas uma muito bem desenvolvida.

em 21/07/2025

O roguelike é um dos gêneros de maior ascensão nos últimos tempos: desde o sucesso estrondoso de games como o mitológico/isométrico Hades e o pôquer fake Balatro, todo desenvolvedor sonha em conquistar corações com sua própria experiência aleatorizada baseada em tentar chegar ao final com as ferramentas fornecidas. Apesar da definição de um roguelike ter se tornado nebulosa com o passar dos anos (há o argumento de que os jogos citados sejam roguelites, na verdade, mas eu não me apego às minúcias), essa é a ideia-base.

Assim é o cenário em que Mark Brown, jornalista, estudioso de game design e dono do excelente canal do YouTube Game Maker’s Toolkit, apresenta Word Play, seu segundo título após sua estreia como dev solo no fim de 2024, o jogo de plataforma Mind Over Magnet. Conforme esperado de alguém que conhece tão bem o que faz de um jogo algo divertido, este roguelike de soletração é primorosamente polido.

É “infrepático” ou “infra-hepático”?

O conceito de Word Play é simples: a cada rodada, recebemos 16 letras aleatórias para formar palavras com até 10 caracteres (ou mais, se a seleção permitir). Quanto maior a palavra e mais raras as letras, mais pontos são angariados. É tudo muito básico a princípio, mas o que realmente impressiona é o quão profundamente essa ideia é explorada.

A brincadeira está disponível em cinco dificuldades principais: Fácil, Médio, Difícil, Lendário e Maratona. O que muda entre elas é o número de rodadas e de jogadas por vez, a quantidade de redefinições das letras disponíveis e a pontuação necessária para passar de nível. Também há um modo “Jogo Rápido”, no qual devemos chegar a uma certa pontuação com ferramentas que mudam a cada 4 palavras.

A parte roguelike entra na história com a adição de vantagens, presentes e atualizações, que permitem fazer com que as palavras rendam ainda mais pontos. A cada rodada, podemos escolher entre modificadores que podem aumentar a pontuação de palavras que começam e terminam com a mesma letra, transformar todos os “Q”s em “Qu”s, entre outros. Também temos letras com propriedades especiais, como as feitas de esmeralda, que têm uma chance fixa de pontuarem o quíntuplo de seu valor base. 

É aqui o ponto em que Word Play mais brilha. A pedra fundamental da gameplay recebe todo tipo de alterações que fazem com que cada run seja única — algo que, claro, é de praxe em qualquer roguelike, mas se torna especialmente notável quando a base é só um Soletrando. Você pode estar pensando “quanto tempo isso consegue se manter divertido?”. Com tanta variedade a se explorar, ainda não cansei. 

Às vezes, em pontos específicos de cada dificuldade, aparecem as rodadas especiais, nas quais temos de escrever palavras sob alguma condição. Na foto abaixo, a primeira letra já está decidida e vale 0 pontos, por exemplo, o que faz necessário criar uma palavra ainda maior do que de costume para compensar a perda. 

Outro destaque é a variedade de modos de controle: podemos clicar em cada caractere para adicioná-lo à chamada barra de envio, arrastá-los à mão ou simplesmente digitar a palavra que vier à mente. Também é possível jogar com um controle (infelizmente, o Pro Controller sofre com a confusa inversão dos botões A e B). 

Mark Brown é um designer extremamente preocupado com acessibilidade em videogames, já tendo feito uma série de vídeos a respeito, e essas inclusões (além de uma série de opções extras, como fonte para disléxicos, fundo chapado e auxílio gramatical) refletem muito bem a causa. 

Apenas um problema: no teclado, os botões 2 e 3 misturam as letras ou trazem outras novas da “bolsinha”. A escolha dessas teclas é difícil de assimilar para novos jogadores: por acaso eu só posso misturar duas vezes? Não, é ilimitado. Associar essas opções com outras teclas, como Tab ou Shift, diminuiria a confusão.

The book is on… como era mesmo?

O grande obstáculo para nós, gamers brasileiros, é bem óbvio: Word Play só está disponível em inglês. Existem ferramentas oficiais de mods que permitem a adição de dicionários de outras línguas, mas a estrutura geral da brincadeira é claramente pensada com a língua inglesa em primeiro lugar, e uma localização completa para outro idioma precisaria repensar grande parte do conteúdo. 

Apesar disso, Brown se esforça para incluir a comunidade de todo jeito que sua posição permite. No postmortem em vídeo do jogo, ele destaca que o projeto pôde ser realizado em apenas sete meses graças ao apoio e sugestões de várias pessoas; mesmo após o lançamento, esse cuidado com a opinião pública segue.

O aspecto mais notável no que diz respeito a ouvir o feedback dos jogadores é a opção de pedir para adicionar uma palavra. Foi surpreendente ver quantos termos são aceitos pelo jogo, incluindo até gírias que não marcariam pontos em outros do gênero. Lembre-se, entretanto, de que a maioria dos nomes próprios não conta (“India” não vale, mas “Texas” pode, por algum motivo; mas se o nome for uma palavra na língua inglesa, como “china”, é mais passível de aceitação). 

Finalmente, um último elogio: a trilha sonora de Word Play é um gol de placa. Assinada pelo compositor Zach Jones, o mesmo de Mind Over Magnet, as poucas faixas grudam na cabeça e ajudam muito na criação de um tom relaxante e de stress relativamente baixo (mas tenta lembrar como se escreve “lengthening” pra você ver).

F-A-N-T-Á-S-T-I-C-O

Word Play não precisa de muito para divertir — e o faz com maestria, provando que todas as horas de pesquisa de seu desenvolvedor a respeito de game design não foram à toa. Uma base sólida e um bom ouvido para as sugestões dos fãs são ingredientes que, com certeza, farão deste um dos grandes roguelikes casuais da década.

Prós

  • Estimulante sem ser muito difícil;
  • Várias opções de controle;
  • Extremamente aberto ao feedback da comunidade;
  • Ótima trilha sonora.

Contras

  • Associar alguns elementos da IU às teclas de número pode ser confuso;
  • Disponível oficialmente apenas em inglês.

Word Play — PC — Nota: 8.5

Revisão: Johnnie Brian
Análise produzida com cópia digital cedida por Game Maker’s Toolkit

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Hiero de Lima
Jornalista formada pela PUC-SP e eterna apaixonada por videogames, especialmente aqueles japoneses de mistério. Sempre tem alguma redação gigante para escrever depois que zera um Yakuza.
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