Assim é o cenário em que Mark Brown, jornalista, estudioso de game design e dono do excelente canal do YouTube Game Maker’s Toolkit, apresenta Word Play, seu segundo título após sua estreia como dev solo no fim de 2024, o jogo de plataforma Mind Over Magnet. Conforme esperado de alguém que conhece tão bem o que faz de um jogo algo divertido, este roguelike de soletração é primorosamente polido.
É “infrepático” ou “infra-hepático”?
O conceito de Word Play é simples: a cada rodada, recebemos 16 letras aleatórias para formar palavras com até 10 caracteres (ou mais, se a seleção permitir). Quanto maior a palavra e mais raras as letras, mais pontos são angariados. É tudo muito básico a princípio, mas o que realmente impressiona é o quão profundamente essa ideia é explorada.
A brincadeira está disponível em cinco dificuldades principais: Fácil, Médio, Difícil, Lendário e Maratona. O que muda entre elas é o número de rodadas e de jogadas por vez, a quantidade de redefinições das letras disponíveis e a pontuação necessária para passar de nível. Também há um modo “Jogo Rápido”, no qual devemos chegar a uma certa pontuação com ferramentas que mudam a cada 4 palavras.
A parte roguelike entra na história com a adição de vantagens, presentes e atualizações, que permitem fazer com que as palavras rendam ainda mais pontos. A cada rodada, podemos escolher entre modificadores que podem aumentar a pontuação de palavras que começam e terminam com a mesma letra, transformar todos os “Q”s em “Qu”s, entre outros. Também temos letras com propriedades especiais, como as feitas de esmeralda, que têm uma chance fixa de pontuarem o quíntuplo de seu valor base.É aqui o ponto em que Word Play mais brilha. A pedra fundamental da gameplay recebe todo tipo de alterações que fazem com que cada run seja única — algo que, claro, é de praxe em qualquer roguelike, mas se torna especialmente notável quando a base é só um Soletrando. Você pode estar pensando “quanto tempo isso consegue se manter divertido?”. Com tanta variedade a se explorar, ainda não cansei.
Às vezes, em pontos específicos de cada dificuldade, aparecem as rodadas especiais, nas quais temos de escrever palavras sob alguma condição. Na foto abaixo, a primeira letra já está decidida e vale 0 pontos, por exemplo, o que faz necessário criar uma palavra ainda maior do que de costume para compensar a perda.
Outro destaque é a variedade de modos de controle: podemos clicar em cada caractere para adicioná-lo à chamada barra de envio, arrastá-los à mão ou simplesmente digitar a palavra que vier à mente. Também é possível jogar com um controle (infelizmente, o Pro Controller sofre com a confusa inversão dos botões A e B).Mark Brown é um designer extremamente preocupado com acessibilidade em videogames, já tendo feito uma série de vídeos a respeito, e essas inclusões (além de uma série de opções extras, como fonte para disléxicos, fundo chapado e auxílio gramatical) refletem muito bem a causa.
Apenas um problema: no teclado, os botões 2 e 3 misturam as letras ou trazem outras novas da “bolsinha”. A escolha dessas teclas é difícil de assimilar para novos jogadores: por acaso eu só posso misturar duas vezes? Não, é ilimitado. Associar essas opções com outras teclas, como Tab ou Shift, diminuiria a confusão.
The book is on… como era mesmo?
O grande obstáculo para nós, gamers brasileiros, é bem óbvio: Word Play só está disponível em inglês. Existem ferramentas oficiais de mods que permitem a adição de dicionários de outras línguas, mas a estrutura geral da brincadeira é claramente pensada com a língua inglesa em primeiro lugar, e uma localização completa para outro idioma precisaria repensar grande parte do conteúdo.
Apesar disso, Brown se esforça para incluir a comunidade de todo jeito que sua posição permite. No postmortem em vídeo do jogo, ele destaca que o projeto pôde ser realizado em apenas sete meses graças ao apoio e sugestões de várias pessoas; mesmo após o lançamento, esse cuidado com a opinião pública segue.O aspecto mais notável no que diz respeito a ouvir o feedback dos jogadores é a opção de pedir para adicionar uma palavra. Foi surpreendente ver quantos termos são aceitos pelo jogo, incluindo até gírias que não marcariam pontos em outros do gênero. Lembre-se, entretanto, de que a maioria dos nomes próprios não conta (“India” não vale, mas “Texas” pode, por algum motivo; mas se o nome for uma palavra na língua inglesa, como “china”, é mais passível de aceitação).
Finalmente, um último elogio: a trilha sonora de Word Play é um gol de placa. Assinada pelo compositor Zach Jones, o mesmo de Mind Over Magnet, as poucas faixas grudam na cabeça e ajudam muito na criação de um tom relaxante e de stress relativamente baixo (mas tenta lembrar como se escreve “lengthening” pra você ver).
F-A-N-T-Á-S-T-I-C-O
Word Play não precisa de muito para divertir — e o faz com maestria, provando que todas as horas de pesquisa de seu desenvolvedor a respeito de game design não foram à toa. Uma base sólida e um bom ouvido para as sugestões dos fãs são ingredientes que, com certeza, farão deste um dos grandes roguelikes casuais da década.
Prós
- Estimulante sem ser muito difícil;
- Várias opções de controle;
- Extremamente aberto ao feedback da comunidade;
- Ótima trilha sonora.
Contras
- Associar alguns elementos da IU às teclas de número pode ser confuso;
- Disponível oficialmente apenas em inglês.
Word Play — PC — Nota: 8.5
Revisão: Johnnie Brian
Análise produzida com cópia digital cedida por Game Maker’s Toolkit









