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Análise: Balatro (Multi) transforma pôquer em um surpreendente e viciante roguelike

Perca-se em um carteado atrativo neste título indie incrível.


Balatro se inspira no pôquer para criar um excepcional roguelike de construção de baralhos. As regras principais são simples de entender, porém uma infinidade de modificadores oferecem inúmeras possibilidades durante as partidas. Assim como no jogo de origem, a sorte e o blefe são motivos de empolgação e decepção, mas a agilidade e a variedade fazem com que a experiência seja viciante.

Montando combinações de cartas para vencer

Em cada estágio (ou Blind) de Balatro, o objetivo é utilizar diferentes combinações de cartas para alcançar uma pontuação específica. O valor dos arranjos varia de acordo com as mãos do pôquer, como Par, Dois Pares, Trinca, Flush e Full House, sendo possível descartar cartões na esperança de obter uma seleção melhor — composições mais complexas valem mais. O número de jogadas por fase é bem restrito, então é importante pensar com cuidado cada movimento.

No decorrer da partida, melhoramos nosso baralho com inúmeras opções. Os Curingas provêm vantagens diversas, como multiplicar a pontuação ao fazer ações específicas, fortalecer naipes ou gerar dinheiro sob certas condições. Outra possibilidade é aplicar efeitos às cartas, adicionar novas cópias ou destruir os cartões indesejados. As mãos de pôquer também podem ser aprimoradas, resultando em pontuações maiores ao serem utilizadas.


As partidas são divididas em Antes, que contam com três estágios de dificuldade crescente. O último deles é sempre um chefe, que apresenta alguma complicação, como diminuir o valor de certas cartas, desabilitar multiplicadores ou esconder a face dos cartões. A mecânica do mestre é mostrada de antemão, o que nos permite planejar com antecedência nossa estratégia. Lojas com melhorias aparecem entre as fases e é possível obter itens especiais ao pular estágios — em contrapartida, não há recompensa em dinheiro.

Balatro é um roguelike, ou seja, as características e possibilidades mudam a cada tentativa. Além disso, perder significa recomeçar tudo desde o início com um novo baralho. Novas cartas e opções são liberadas entre as partidas, ajudando a manter a sensação de novidade.



Curingas e habilidades em um carteado variado

Balatro me surpreendeu com a profundidade de sua simplicidade. Parece contraditório falar algo assim, mas é justamente isso que acontece durante as partidas. Selecionar até cinco cartas para montar uma mão é trivial, mas o desafio é conseguir pontuações suficientes. Para avançar, é essencial criar um bom baralho em conjunto a modificadores que fazem sentido naquele momento.

Nas primeiras tentativas, falhei miseravelmente, apesar de conseguir jogar algumas mãos interessantes. No entanto, aos poucos, entendi as nuances e consegui montar sinergias poderosas que me permitiram chegar cada vez mais longe — quando dei por mim, já estava completamente viciado. Confesso que nunca joguei pôquer e que não conheço as suas regras, mas isso não foi um problema, pois o título só se inspira no carteado clássico, contando com mecânicas próprias e informações claras e abundantes.


A melhor característica do jogo, sem dúvidas, é a sua imensa variedade de modificadores, o que torna cada partida única. Em uma tentativa, fui muito longe com a ajuda de um Curinga que multiplicava por 8 o valor de todas as cartas ímpares da mão; em outra, foquei em fazer sequências decrescentes, pois aumentei muito o valor desse tipo de arranjo; em uma terceira, acumulei dinheiro e coloquei muitas cartas especiais no meu baralho. Também é importante adaptabilidade, pois os chefes costumam diminuir justamente o poder da estratégia mais utilizada durante a partida atual.

As opções de sinergia são impressionantes: além das habilidades dos Curingas, há cartas de Tarô com efeitos diversos, cartões de Planeta que aumentam a pontuação das mãos, tíquetes com poderes passivos poderosos e muito mais. Há também baralhos com características únicas, desafios especiais e dificuldades mais avançadas. Conteúdo inédito é desbloqueado o tempo todo, expandindo as opções com frequência — com tudo isso, Balatro é capaz de surpreender por horas.



Suscetível ao poder do acaso

O pôquer é um jogo com doses de sorte, aposta e blefe, e Balatro tenta trazer um pouco disso com pitadas de imprevisibilidade. Durante as partidas, é comum se perguntar se vale a pena arriscar remover algumas cartas da mão torcendo para vir outras melhores ou então apostar em alguma estratégia específica que parece boa. Algumas vezes isso funciona, outras não, e está tudo bem, pois é algo comum esperado de um roguelike.

Porém, às vezes o jogo parece ser desbalanceado e injusto. Nas minhas várias tentativas, acabei em situações extremamente complicadas, como um chefe poderoso demais que anulou quase que completamente a minha estratégia atual ou então uma seleção particularmente fraca de melhorias. Também cheguei a perder por simplesmente ter recebido mãos ruins, apesar de ter um baralho enxuto e tática sólida.


Apesar da frustração inicial, isso não chega a ser um grande problema: as partidas são ágeis e muito distintas entre si, o que minimiza o amargor da derrota. Mesmo assim, é importante estar disposto a perder e aprender com os erros para avançar, afinal a dificuldade é alta e só é possível ganhar com planejamento prévio e estratégia.

O roguelike inspirado no pôquer usa o passado na sua ambientação com visual em pixel art e um filtro que simula TVs antigas. Mesmo que simples, o resultado é agradável, em especial com os inúmeros Curingas com expressões irônicas e as animações estilosas. O áudio aposta no synthwave para reforçar a atmosfera retrô, mas falha ao consistir em uma única faixa para todo o jogo. A música até se altera de acordo com a situação, mas isso não é suficiente para acabar com a sensação de repetição.



Uma reimaginação sensacional do pôquer

Balatro emerge como um exemplar cativante no gênero roguelike, misturando habilmente os elementos do pôquer com a estrutura de construção de baralhos. A simplicidade de suas regras, combinada com a profundidade estratégica oferecida pelos variados modificadores, cria uma experiência envolvente. A capacidade de adaptar táticas em resposta aos desafios apresentados em cada partida, juntamente com a introdução constante de novos conteúdos, garante que cada tentativa no jogo seja única e estimulante.

Contudo, o jogo não está isento de desafios e frustrações, principalmente devido ao seu elemento de aleatoriedade e situações de desequilíbrio percebidas durante as partidas: ocasionalmente, a sorte desempenha um papel tão crítico que pode levar a derrotas inesperadas. Felizmente, a agilidade das partidas e a diversidade de conteúdo ajudam a minimizar as frustrações.

No fim, Balatro se destaca com com sua mescla única de pôquer e construção de baralhos. Para aficionados por jogos de estratégia, fãs de roguelikes, ou mesmo para quem nunca se aventurou no pôquer, o título oferece uma experiência rica, desafiadora e, acima de tudo, divertida, prometendo horas de desafio e satisfação.

Prós

  • O sistema de jogo inspirado em pôquer consegue ser simples e complexo ao mesmo tempo;
  • Inúmeros modificadores possibilitam estratégias e partidas diversas;
  • Vasta quantidade de conteúdo para desbloquear e dominar;
  • Visual em pixel art agradável.

Contras

  • Alguns momentos e partidas podem ser desbalanceados e dependentes de sorte;
  • Há uma única música, que se torna repetitiva rapidamente.
Balatro — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Playstack

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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