Análise: The Last Case of John Morley é uma curta jornada pouco memorável

Apesar de apresentar algumas reviravoltas interessantes, a experiência como um todo não consegue ir além da mediocridade.

em 15/12/2025

Desenvolvido pelo estúdio Indigo Studios - Interactive Stories e distribuído pela JanduSoft, The Last Case of John Morley é um jogo investigativo que nos coloca dentro da mente de John Morley, um detetive à beira de encerrar sua carreira em seu último caso. Ao longo da jornada, exploramos locais esquecidos, reconstruímos cenas de um assassinato misterioso e nos deparamos com reviravoltas que conduzem a uma verdade enterrada há décadas.

Texto livre de spoilers.

O assassinato

Após resolver um caso difícil, acordamos em um hospital meses depois. Perdemos nossa secretária, Penny, mas ainda assim recebemos um recado: uma condessa precisa urgentemente de nossos serviços. De volta ao escritório, ela nos conta que, vinte anos atrás, sua filha foi assassinada e que a polícia acabou prendendo a pessoa errada. Insatisfeita com a injustiça, a condessa busca finalmente a verdade. Aceitamos o caso e partimos para a mansão abandonada da família.


Conforme exploramos o local, encontramos pistas que permitem a John deduzir gradualmente o que realmente aconteceu. É a partir desse processo de investigação que a narrativa se constrói. Embora haja alguns tropeços, como deduções quase sobrenaturais do protagonista ou momentos em que ele presume a existência de fofocas sobre certos personagens sem uma base clara, a trama flui bem, e suas reviravoltas conseguem manter o interesse. Esse é, sem dúvida, o maior ponto forte do jogo.

Ainda que se trate de um caso de mistério, não há escolhas significativas. Mesmo que em algumas conversas com NPCs possamos selecionar perguntas, isso não gera qualquer impacto narrativo real, o que poderia ter enriquecido a experiência. No geral, a jornada é curta, porém a sensação de tempo se arrastando é perceptível, já que a jogabilidade oferece pouco além da exploração básica, e nem mesmo os puzzles conseguem se destacar.



Explore e explore

O título é em primeira pessoa e oferece pouquíssimas ações ao jogador, limitando-se basicamente a andar, correr e usar a lanterna — que, por incrível que pareça, possui um controle bastante problemático, desligando-se automaticamente sempre que inspecionamos algum objeto. No geral, a exploração se resume a encontrar chaves ou códigos para abrir portas; algumas exigem a resolução de puzzles, mas nada muito complexo ou desafiador.

A investigação é dividida em duas frentes: os personagens e as pistas do caso. Mesmo fornecendo um norte geral, com descrições das pessoas envolvidas, dúvidas levantadas e comentários do protagonista sobre as pistas encontradas, o jogo se recusa a organizar arquivos ou itens-chave coletados. Cabe ao jogador memorizar informações importantes, o que me levou diversas vezes a retornar para reinspecionar papéis apenas para relembrar uma senha.


As deduções, por sua vez, ficam destacadas em verde nos cenários e, na prática, basta caminhar pelos ambientes e interagir com tudo que exibe algum ícone. Inicialmente, exploramos a mansão da família em busca de pistas. O level design funciona de forma competente, e o ritmo do jogo raramente nos deixa perdidos. Ainda assim, há momentos pouco orgânicos, como usar um pé de cabra claramente de ferro para arrancar tábuas e pregos da parede sem qualquer resistência aparente. O que realmente pode travar o progresso é não saber como resolver o próximo objetivo, mesmo após termos a sensação de já ter explorado tudo.

Grande parte da jogabilidade soa desengonçada e mal executada. A exploração carece de desafios reais, limitando-se a puzzles simples, enquanto o jogador acaba “batendo a cabeça” pelos cenários em busca de pistas. Além disso, muito do texto apresentado pouco acrescenta além de worldbuilding, sem impacto real na narrativa. Considerando que a campanha dura cerca de duas horas, isso não chega a comprometer totalmente a experiência, contudo, tampouco contribui para enriquecê-la. Faltou mais cuidado e esmero nesse aspecto.



Artisticamente competente

The Last Case of John Morley é uma produção visualmente bonita e artisticamente bem executada. Os cenários funcionam muito bem e conseguem transmitir de forma eficiente a ambientação dos anos 40, período em que a história se passa. Não há uma grande variedade de modelos de personagens, mas os que estão presentes cumprem bem seu papel. A baixa expressividade facial não chega a ser um problema, já que o jogo não exige grandes momentos dramáticos ou atuações mais intensas.


Por outro lado, é bastante perceptível o uso de inteligência artificial em alguns elementos do cenário. Em certos momentos, isso se torna tão evidente que acaba quebrando um pouco a imersão, chamando mais atenção do que deveria.

No aspecto audiovisual, o jogo também entrega um trabalho competente. A trilha sonora consegue criar tensão e transmitir angústia quando necessário, contribuindo para o clima investigativo. No entanto, há problemas pontuais com o design de som. Alguns efeitos, como o barulho ao abrir portas de ferro, são reutilizados de forma excessiva: todas emitem o mesmo som agudo e extremamente alto, o que acaba se tornando cansativo, especialmente considerando a grande quantidade dessas portas ao longo da experiência.


Vale a pena?

Mesmo com alguns pontos positivos na narrativa e no aspecto visual, The Last Case of John Morley apresenta problemas demais para ser facilmente recomendado. A jogabilidade é pobre, pouco inspirada, e somam-se a isso falhas graves na localização para o português, como erros de concordância de gênero, especialmente quando personagens femininas estão falando, algo que compromete a imersão.

É um jogo que claramente merecia mais cuidado e polimento para conseguir se destacar e superar essas limitações. Ainda assim, por se tratar de uma experiência curta, muitos desses problemas acabam não se tornando tão evidentes quanto poderiam, o que pode tornar a jornada mais tolerável para quem busca apenas uma narrativa rápida.


Prós

  • As reviravoltas da narrativa são interessantes;
  • Visualmente competente e artisticamente bem executado;
  • A trilha sonora é de boa qualidade e contribui para a ambientação.

Contras

  • Os puzzles são simples demais e pouco interessantes;
  • O jogo não registra informações importantes encontradas, como senhas;
  • Os comandos da lanterna são inconsistentes e nem sempre funcionam corretamente;
  • Alguns efeitos sonoros são excessivamente agudos e altos;
  • Há elementos visuais claramente gerados por inteligência artificial no cenário;
  • Certos pontos da narrativa, como as deduções do protagonista, soam pouco orgânicos e, por vezes, forçados.
The Last Case of John Morley — PS5/XSX/PC — Nota: 6.0
 Versão usada para análise: PC
Revisão: Thomaz Farias
Análise produzida com cópia digital cedida pela JanduSoft
OpenCritic
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Matheus Bigai Ferreira
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