Análise: Gex Trilogy — O retorno da lagartixa mais sagaz dos games em três atos

Bocudo e piadista, Gex volta aos consoles em uma coletânea que resgata sua trilogia da melhor forma, recheada de nostalgia.

No longínquo ano de 1995, uma lagartixa falastrona tentava disputar os holofotes dos mascotes virtuais com Sonic, Mario e Crash. Gex foi criado para ser a cara do 3DO, um dos consoles da época que não conseguiu se destacar na batalha entre Sega, Nintendo e, a então novata, Sony. Ainda assim, com seu título lançado para Saturn e PlayStation, Gex conseguiu marcar seu carisma em um mercado bastante disputado.

A prova cabal disso é que cá estamos, 30 anos depois, recebendo Gex Trilogy: um compilado com os três títulos do pequeno réptil verde que pode não ter gerado uma franquia longa, mas merece ser relembrado com a devida nostalgia.

Zoando na TV

Gex é uma lagartixa com uma peculiaridade: ele gosta MUITO de assistir televisão. Seu hobby é interrompido por Rez, que obriga nosso herói grudento a entrar na “dimensão da mídia” e a navegar pelos canais, como se fossem fases. Essa trama dá o tom dos três jogos da série, que são:

Gex (1995) — A primeira aventura foi lançada primeiramente para 3DO, e depois chegou ao Saturn e ao PlayStation. Aqui conhecemos Gex e suas habilidades provenientes de sua espécie, como grudar em paredes, acertar os inimigos com sua calda e usar sua língua para pegar insetos que podem dar poderes momentâneos, como invencibilidade, super velocidade e a capacidade de cuspir bolas de fogo, gelo e elétricas. É o único jogo bidimensional da franquia.

Gex: Enter the Gecko (1998) — A continuação mudou radicalmente a jogabilidade. Agora temos mundos tridimensionais amplos, que precisam ser explorados nos mínimos detalhes para a conclusão de três objetivos, mas vale ressaltar que só é possível completar um por vez. O uso de poderes especiais foi excluído, ficando apenas o chicote de rabo e o uso da língua para agarrar coisas. A personalidade de Gex ganhou mais destaque, com ele soltando várias piadas e usando trajes que fazem referência a obras cinematográficas, como Bruce Lee, Indiana Jones e Cheech and Chong.

Gex 3: Deep Cover Gecko (1999) — O título que fecha a trilogia manteve o ritmo do anterior, desde a exploração até a jogabilidade. Ainda temos que realizar três objetivos em cada fase para coletar controles remotos e progredir, assim como a necessidade de concluir cada uma delas três vezes, uma para cada missão. Os trajes temáticos para cada cenário ainda se mantém como um dos chamarizes da aventura, bem como as tiradas sempre bem pensadas da lagartixa.

Para esta coletânea, o pessoal da Limited Run manteve o mesmo padrão de conteúdo trazido em outros compilados, como Ninja Five-O e Rendering Ranger. Além dos jogos, contamos com uma jukebox para curtirmos as músicas de cada título, e uma galeria que traz manuais, rascunhos e artes conceituais.

Este conjunto de arquivos é bem bacana para preservar a memória desse personagem que, embora eclipsado pelos mascotes mais famosos, acompanhou o ritmo da evolução da época, migrando do 2D para o 3D de maneira até que bastante satisfatória — levando em consideração a tecnologia dos anos 90.

Uma preservação sem evolução

A equipe da Limited Run se esforçou ao máximo para preservar a essência de cada ROM, usando a Carbon Engine. O resultado foi uma emulação perfeita, inclusive com direito ao uso dos códigos de trapaças originais, que garantem invencibilidade, vidas infinitas e seleção de fases. Até o menu de debug pode ser acessado.

Foram incluídos alguns recursos modernos, como a possibilidade de salvar a qualquer momento e rebobinar, para poder refazer alguma ação ou impedir a perda de uma vida por um pulo mal calculado. Entretanto, o rewind não é feito por segundo e sim por quadros. Então, é necessário cuidado para não acabar voltando demais no tempo.

Por fim, temos filtros de tela e diferentes disposições, que vão do 4:3, das antigas televisões de tubo, até o 16:9, das atuais. Mesmo com sua média de idade de três décadas, os jogos tridimensionais até que ficam bastante agradáveis na disposição mais moderna, não ficando tão esticados no ecrã. O mesmo não pode-se dizer de Gex 1, que é melhor de ser jogado no fullscreen antigo, preenchendo as laterais com algum papel de parede.

Ainda assim, a dúvida máxima é: ainda vale a pena se aventurar com Gex? A resposta é sim, se você for um jogador mais velho e sem medo de relevar alguns defeitos da época em nome da nostalgia.

O primeiro jogo de todos é um típico plataforma 2D, com alguns trechos bifurcados e batalhas de chefes até que bacanas, mas há seções de saltos que são um pouco sofríveis. Os hitboxes também são um pouco estranhos, pois mesmo de perto há momentos em que inimigos e objetos irão acertar Gex mesmo após realizar um comando para atacar ou se movimentar.

Enter the Gecko, que foi o que mais joguei por causa de um daqueles CDs de demonstração que vinham no PlayStation, é o que mais apresenta problemas crônicos. Há uma grande quantidade de áreas escuras, o que mostra que seria bacana poder ajustar a iluminação como opção extra. 

Por se tratar de uma experiência tridimensional em uma época que padrões ainda estavam sendo estabelecidos, a câmera de controle livre às vezes começa a rotacionar descontroladamente, principalmente quando estamos em algum canto ou caminho estranho. O zoom automático também é algo que atrapalha bastante. Essas questões influenciam diretamente em sessões com muitas plataformas, pois é fácil errar o cálculo e acabar caindo por não ter um bom ângulo de visão.

Por fim, Deep Cover Gecko corrige os problemas de iluminação e câmera do jogo anterior, tornando-se uma experiência mais agradável e fortemente colorida. Entretanto, manter o esquema de concluir um mesmo estágio três vezes, uma para cada objetivo, em vez de poder resolver tudo numa tacada só torna as duas aventuras tridimensionais um pouco arrastadas para os padrões atuais.

Vai aposentar ou vai voltar?

Gex Trilogy retira do ostracismo um mascote que esbanja carisma e criatividade, mas que não foi bem tratado pelo tempo. Com as diversas opções que temos atualmente, seja de nomes consagrados ou produtoras indies, fica difícil ver como essa tríade teria apelo com o público de hoje. Essa coletânea tem seu charme, mas é provável que atraia apenas os gamers mais velhos puramente pelo seu apelo nostálgico.

Prós

  • A emulação dos três jogos é praticamente perfeita, sem a ocorrência de bugs;
  • Inclusão de scans dos manuais e artes originais na galeria, além da jukebox;
  • É possível utilizar os códigos de trapaças originais dos consoles da época;
  • Não deixa de ser uma maneira interessante de conhecer um dos mascotes pioneiros da transição do 2D para o 3D.

Contras

  • O primeiro Gex tem hitboxes um pouco confusos;
  • Gex: Enter the Gecko tem problemas sérios de iluminação e câmera;
  • O recurso de rebobinar volta em quadros e não em segundos, o que pode levar o jogador a retroceder demais acidentalmente.
Gex Trilogy — PC/PS5/Switch/XSX — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Johnnie Brian
Análise feita com cópia digital cedida pela Limited Run Games
OpenCritic
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Carlos França Jr.
é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no @carlos_duskman
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