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Análise: Trinity Trigger (Multi): deuses, armas e três personagens jogáveis

RPG de ação com três personagens jogáveis brinca com um sistema de múltiplas armas.

Desenvolvido pela Three Rings e publicado pela FuRyu, Trinity Trigger é um novo RPG de ação que envolve algumas figuras relevantes do gênero, como o designer de personagens Raita Kazama (Xenoblade) e o escritor Yura Kubota (Octopath Traveler). Com clara inspiração na série Mana, o jogo apresenta um combate fluido bem similar em sua execução, mas com ênfase na alternância de armas.

Uma terra de conflitos entre deuses

Trinity Trigger se passa no continente de Trinitia, uma terra profundamente afetada pela disputa entre os deuses da Ordem e do Caos que ocorreu há séculos. Com ambos os lados causando muita devastação, essas entidades divinas decidiram eleger representantes entre os mortais que teriam que travar disputas violentas por sua supremacia.

O jovem Cyan vivia tranquilamente em um vilarejo com sua irmã até o dia em que ele é atacado por assassinos e descobre ser um Guerreiro do Caos. Junto com seu recém-despertado parceiro Trigger (uma criaturinha capaz de se transformar em arma), Cyan agora precisará partir em uma jornada para descobrir mais sobre a história do mundo e seu próprio passado.

No caminho, ele contará com a ajuda de dois personagens, Elise e Zantis, que decidem ajudar o protagonista por conta de suas motivações pessoais. Francamente falando, a história é o ponto mais fraco de Trinity Trigger, que conta com vários personagens clichês e uma narrativa genérica e muito mal conduzida. Embora tente ser ágil em sua trama principal, os diálogos são sem vida, rasos e o mundo em si é pouco desenvolvido. Há opção de dublagem em inglês e japonês, mas as boas escolhas de atores não conseguem superar esse problema do roteiro.

Ação com múltiplas armas

Trinity Trigger é um RPG de ação com uma equipe máxima de três personagens. O combate é fluido, tendo especial ênfase na cadência dos ataques consecutivos e das esquivas. Cabe ao jogador entender os padrões dos inimigos e entender como se posicionar para lidar com eles. Em especial, quando ataques muito poderosos estão sendo carregados, barras vermelhas no chão indicam a sua área de alcance e o tempo que falta para que o ataque comece, dando ao jogador uma boa janela de oportunidade para evitá-lo.

Um detalhe que chama a atenção em Trinity Trigger é a variedade de armas que todos os personagens podem usar. Cyan começa com sua espada, Elise, com um arco e flecha e Zantis, com um machado. Porém, a exploração das várias localidades do jogo (especificamente, as dungeons conhecidas como Armas) liberam novas opções, fazendo com que todos os personagens sejam bem maleáveis e possam explorar as fraquezas dos inimigos.

Curiosamente, é possível alternar entre as armas ou usar itens durante o combate utilizando um menu circular que paralisa temporariamente a ação. Essa técnica de Ring Menu é uma característica bem conhecida da série Mana, tendo sido introduzida por Secret of Mana (SNES). No caso dos itens, eles são primeiro categorizados em “restauração de vida”, “cura de efeitos”, “buff de atributos” e “boost de ganhos [de experiência e outros pontos]”. Uma vez escolhido o tópico, uma lista completa, incluindo itens que o jogador não possui, aparece no novo menu.

Um ponto importante das armas é a capacidade de customizar os seus padrões de ataque. Os combos são baseados no uso de três golpes consecutivos e cada um desses possui duas versões diferentes para cada personagem. Essas variações afetam a área de alcance, a quantidade de dano, os efeitos adicionais, entre outras coisas. Às vezes, um padrão específico pode ser mais indicado para lutas contra vários inimigos, sendo melhor trocar ao encontrar um grande chefão.

Ao derrotar os inimigos, além da experiência que aumenta o nível de força dos aliados, o jogador recebe pontos que podem ser alocados para fortalecer seus ataques. Com o avanço da história, níveis maiores são desbloqueados até ser possível alcançar o poder máximo de cada golpe. Esse é o ponto mais fundamental da build dos personagens, mas também é possível equipar acessórios chamados Manatites, que adicionam vários tipos de efeitos como aumentos de HP e ataque ou a capacidade de restaurar sua vida ao derrotar um inimigo.

Conseguir mais desses upgrades é uma boa motivação para explorar o mundo, assim como os tesouros espalhados por todos os mapas. Vale destacar que a quantidade de baús disponíveis em um determinado local é indicado logo abaixo do mapa, ajudando a guiar o jogador para a exploração de áreas secretas. Outro ponto importante para expandir o conteúdo são as quests opcionais, que dão boas recompensas ao serem concluídas.

A trindade de personagens jogáveis

Um dos pontos centrais do jogo é a possibilidade de controlar os três personagens jogáveis embora a história gire em torno de Cyan. Basta apertar um botão para alternar entre eles, mas também dá para distribuir os aliados entre outros jogadores em co-op local para duas ou três pessoas a partir do momento em que Zantis entra para a equipe.

Infelizmente, jogá-lo em single player traz um incômodo considerável com a IA dos aliados. Francamente falando, ela é muito ruim, fazendo com que eles fiquem na frente dos inimigos que estão preparando golpes poderosos e morram com muita facilidade. Além disso, eles acabam ficando limitados, não podendo alternar suas armas nem usar habilidades especiais. Se o co-op local for possível para você, é melhor ativá-lo para evitar essa frustração.

Outro aspecto que pode ser negativo é a forma como o jogo marca de forma inconsistente os objetivos no mapa. Em alguns momentos, há pontos marcados no mapa, em outros, apenas uma descrição textual; especialmente quando o jogador está em uma área diferente e precisa ir a um novo mapa, seria interessante ter isso bem indicado. O jogo também não conta com log, fazendo com que os diálogos se percam facilmente e contribuindo para que o jogador fique perdido.

Por fim, gostaria de destacar também que o estilo gráfico do jogo é um tanto questionável. O título opta por um visual chibi “fofinho” com os modelos de personagem pouco detalhados em suas feições faciais, contornos e linhas bem marcados e uma iluminação inconsistente. O resultado é que eles acabam parecendo malfeitos e sujos em alguns momentos, em vez de capturar o charme desejado.

Uma experiência agradável

Trinity Trigger é um RPG de ação cujo combate oferece boa maleabilidade e uma quantidade razoável de conteúdo. Infelizmente, a narrativa genérica e a IA ruim dos aliados são fatores consideravelmente negativos para a experiência e, junto a alguns detalhes de polimento, deixam o jogo aquém do que poderia oferecer. Ainda assim, quem gosta muito do gênero provavelmente saberá apreciar a jornada.

Prós

  • Gameplay de ação fluida com mecânica de esquivas e indicações de área de alcance de ataques mais poderosos;
  • Boa variedade de armas;
  • Quests opcionais e a busca por tesouros e upgrades oferecem uma expansão significativa da experiência e boas recompensas;
  • Opção de co-op local para até três jogadores.

Contras

  • IA muito ruim limita consideravelmente a capacidade de ação dos aliados;
  • Narrativa genérica e mal conduzida;
  • Modelos de personagens pouco detalhados e com um estilo gráfico estranho que parece sujeira;
  • Marca objetivos no mapa de forma inconsistente;
  • Ausência de log.

Trinity Trigger — PC/PS4/PS5/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela XSEED Games


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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