Jogamos

Análise: Super Bullet Break (Multi): garotas-bala lutam para salvar o mundo dos jogos

O novo jogo da PQube Games é um roguelike deckbuilder com garotas-bala.

Desenvolvido pela japonesa BeXide e publicado pela PQube, Super Bullet Break é um roguelike deckbuilder inspirado por jogos gacha, aqueles títulos usualmente free to play feitos para celular em que uma das mecânicas centrais é a invocação de aliados, o que muitas vezes serve como uma forma de tirar dinheiro do jogador. Em uma obra com grande carga de metalinguagem, cabe ao jogador lutar para salvar os mundos de vários games da ameaça de uma IA.

Um meta-mundo de jogos

Super Bullet Break coloca o jogador na pele de um trio de garotas gamers que está passando por uma crise tremenda: todos os seus jogos no celular estão bloqueados. Algum bug parece estar tornando eles inacessíveis, deixando-as entediadas. Porém, elas recebem uma mensagem da misteriosa Nayuta, que parece saber o que está acontecendo e promete guiá-las para que possam resolver o problema.

Com a ajuda de Nayuta e de um gato preto virtual, as personagens vão explorar os mundos virtuais dos jogos para corrigir os bugs e derrotar as servas da IA que estão causando toda a situação. Ao seu dispor, o jogador contará com balas antropomórficas baseadas nas personagens dos jogos ficcionais.

Em termos gerais, a história brinca com a perspectiva meta, com uma narrativa que faz piadas com elementos típicos de vídeo games e algumas personagens que ganham consciência de sua existência ficcional. Há algumas tiradas engraçadas e um tom descontraído que pode até ser adequado, mas o jogo não consegue explorar a fundo esses elementos, mantendo-os em um nível superficial.

O elemento meta não é pensado como uma crítica aos clichês de gênero, mas sim uma celebração do que eles fazem. Mesmo o gacha e a presença exclusiva de personagens femininas são tratados com naturalidade, valorizando a obtenção de mais garotas com uma sequência de invocação, algo tradicional de títulos mobile desse estilo. O resultado é uma experiência agradável para quem curte obras focadas em fanservice, mas que não tenta ir além disso.

Gostaria de destacar que após ver os eventos de história, o jogador precisa ir até a galeria (Field Guide) se desejar revê-los, pois eles não acontecem novamente in-game. Além deles, a transição entre áreas também conta com pequenos diálogos via celular que explicam o contexto e desenvolvem um pouco das personalidades de cada protagonista.

Garotas, balas e bugs

Super Bullet Break é dividido em fases, cada uma representando o universo de um jogo específico. A ideia aqui é que o jogador deve escolher o seu caminho pelo mapa optando por seguir reto, ir para a esquerda ou para a direita. A restrição às adjacências é importante, exigindo um bom planejamento da movimentação levando em conta o posicionamento e a força dos inimigos, as lojas e outros eventos. O design de todas as áreas é simples e a movimentação é sempre para frente em direção ao chefão do mapa.

Para o combate, é utilizado um arsenal de balas pré-definido para cada área, que pode ser expandido e alterado ao longo da campanha. É possível gerar um auxiliar de forma aleatória antes de começar a fase e escolher a protagonista, cujos parâmetros, como HP e quantidade inicial de balas, podem ser diferentes. Porém, a sensação geral é a de um início bem restritivo, que deixa o jogador à mercê da sorte, algo que é até comum para um roguelike (diferente de um rogue-lite), mas pode incomodar algumas pessoas.

O combate é baseado em um sistema de turnos, em que cada bala custa uma certa quantidade de “tempo” para ativar. Tendo em mente a próxima ação do inimigo, cabe ao jogador projetar sua próxima sequência de ataques. Cada bala possui não apenas um valor de dano, mas também efeitos variados que podem ser fundamentais para avançar, como escudos e armaduras para reduzir o dano sofrido, restauração de vida ou causar envenenamento ou confusão.

Dependendo das balas utilizadas, é possível ter efeitos condicionais que precisam ser avaliados, como o ganho de ataque proporcional a quantas cartas foram usadas naquele turno. Há também habilidades passivas associadas aos “cartuchos” das balas, adornos que enfeitam os projéteis e mudam dependendo da opção de personagem. Os efeitos incluem o aumento de dano ou a redução de custo para balas de determinadas categorias (aquelas associadas a um determinado jogo, por exemplo), o adiamento do turno do adversário, e várias opções mais técnicas.

Explorar a sinergia entre as balas e suas capacidades especiais permite a construção de um arsenal empolgante para o combate. Um bom exemplo disso são as balas da área Phoenix Gunner, que brincam com o uso de drones. Cada golpe implica não apenas em dano para o inimigo, mas também na criação de um mini-exército de robozinhos que auxiliam no combate criando escudos, atacando e regenerando a vida do seu personagem a cada transição do turno do jogador para o do adversário. Saber usar essas opções de forma estratégica é crucial para a experiência.

Porém, há aqui um problema que honestamente é o mais grave contra a experiência ao mesmo tempo que pode parecer pequeno. Devido à necessidade do controle estratégico, o jogador precisa ter sempre o máximo de informação possível em mãos, mas infelizmente nem sempre isso é possível.

Durante o combate e na hora de adquirir novas balas na loja, algumas informações são omitidas, como os efeitos dos cartuchos. Para as batalhas em especial, mesmo sendo possível procurar os detalhes em um menu secundário, a ausência de clareza na tela principal pode impactar negativamente a estratégia do jogador.

Quanto aos aspectos audiovisuais, a trilha sonora é alegre, combinando com o tom do jogo, mas não chama a atenção. Por outro lado, destaco as ilustrações das personagens, feitas por diversos artistas. Apesar de todas terem um estilo facilmente associável aos ilustradores japoneses de mangá e anime, há uma boa variedade de traços, indo de materiais mais realistas a desenhos mais fofos e outros com um charme similar ao de obras de gerações passadas, todas sempre bem detalhadas e carismáticas.

Assim como em obras gacha, essa variedade faz parte da graça do jogo, com um apelo especial para o jogador encontrar a sua “waifu”. Além da questão dos traços variados, há versões diferentes de um mesmo personagem com roupas comemorativas, alterando também o seu funcionamento. A sexualização das personagens pode variar bastante, com algumas ilustrações mais insinuativas e outras muito mais inocentes e simples. Há também alguns monstrinhos, mas todos os personagens humanos são mulheres.

Diversão sem compromisso

Super Bullet Break é um roguelike deckbuilder confortável de se jogar e que definitivamente pode agradar a pessoas que curtem obras cujo foco principal é o fanservice. Infelizmente, a obra não tenta ir muito além disso, o que, junto com os seus pequenos defeitos de qualidade de vida, faz com que a experiência não seja nada excepcional. Ainda assim, é um título que pode entregar várias horas de diversão descompromissada.

Prós

  • Atmosfera agradável com garotas fofinhas e pequenas piadas de metalinguagem;
  • Grande variedade de efeitos e elementos estratégicos para explorar;
  • Independentemente da vitória ou derrota na missão, o jogador irá desbloquear novos personagens e efeitos, ampliando seu leque de opções;
  • As balas contam com ilustrações variadas e de alta qualidade.

Contras

  • Muito pouco controle sobre o baralho inicial de cada área;
  • A interface omite informações essenciais durante a batalha e aquisição de novas balas;
  • Apesar de confortável, a história acaba sendo superficial.

Super Bullet Break – PC/PS4/Switch – Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela PQube Games


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google