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Análise: Valiant Hearts: Coming Home (Multi): retornando à Primeira Guerra Mundial com velhos conhecidos e novas perspectivas

A continuação de The Great War se situa no período em que os Estados Unidos entraram no conflito.

Desenvolvido pela Old Skull Games e publicado pela Ubisoft, Valiant Hearts: Coming Home é uma sequência direta do elogiado Valiant Hearts: The Great War, que foi lançado em 2014. Reintroduzindo três personagens do seu predecessor e apresentando três novos indivíduos jogáveis, este título oferece uma narrativa envolvente situada nos últimos dois anos da Primeira Guerra Mundial.

Cinco indivíduos (e um cachorro) em um contexto terrível

Coming Home nos transporta para 1917, ano em que os Estados Unidos ingressaram na Primeira Guerra Mundial. O primeiro protagonista com quem nos deparamos é James, um jovem afro-americano que, impulsionado por seu patriotismo e pelo ardente desejo de reencontrar seu irmão Freddie, decide se alistar no exército.

Sem dúvida, o percurso desse indivíduo é um dos mais profundos do jogo, pois através de sua perspectiva somos confrontados não somente com os horrores da guerra, mas também com a implacável segregação racial, que persistiu firme mesmo dentro dos batalhões. Além de James, os outros dois estreantes são o piloto George e o mergulhador Ernst. Completando o elenco, temos o retorno da enfermeira Anna, do já mencionado Freddie e, é claro, do adorável cachorro Walt.

A história se desenrola ao longo de três capítulos, cada um deles subdividido em pequenos arcos que alternam o foco entre esses cinco personagens. Nesse sentido, Coming Home entrega uma trama sensível que aborda esse grande conflito sob diferentes perspectivas, mas sem romantizar esse período destrutivo em nenhuma delas. Assim como na guerra, não há muito espaço para esperança, restando ao jogador apenas a opção de tentar fazer com que esses protagonistas sobrevivam em meio a tanto caos e destruição.

Puzzles simplificados

A jogabilidade de Valiant Hearts: Coming Home se apresenta no formato side-scrolling e traz diversos quebra-cabeças para resolvermos durante a jornada. No entanto, esses segmentos de desafios são bastante simplificados em comparação com os que eram vistos no título anterior.

Particularmente, considero essa mudança muito positiva, pois, como já mencionei em outras ocasiões, me incomoda quando aventuras narrativas incluem muitos trechos interativos com o único objetivo de prolongar a duração da campanha, o que acaba quebrando o ritmo da narrativa e criando situações pouco naturais. 




Embora a maioria dos quebra-cabeças de The Great War fossem divertidos, alguns deles eram um tanto mirabolantes e envolviam muitas etapas, comprometendo a verossimilhança e a urgência do momento. Além disso, certas seções eram desnecessariamente longas e repetitivas, como as situações em que tínhamos que escapar utilizando um automóvel. Nessa perspectiva, graças a essa simplificação, a história de Coming Home flui de forma mais contínua.

O interessante é que, mesmo sendo descomplicada, essa entrada consegue oferecer variações de gameplay para cada personagem. Para exemplificar, enquanto os trechos com George se concentram em furtividade ou fugas com aviões, com Anna percorremos áreas recentemente atacadas auxiliando os feridos em interações similares a quick-time events.

Outro ponto que merece destaque é o retorno de Walt. Além de desempenhar um papel narrativo significativo, o adorável cachorro aparece com frequência ao longo dos capítulos e acompanha diferentes personagens. Sua função geralmente consiste em coletar e interagir com objetos em espaços mais apertados.


Uma fonte valiosa de informações

Como se não bastasse sua envolvente trama, Valiant Hearts: Coming Home oferece uma abundância de informações sobre a Primeira Guerra Mundial. Esse conhecimento fica acessível em uma galeria composta por fatos históricos e objetos colecionáveis encontrados ao longo da campanha.

Muito além de simplesmente descrever algum momento do conflito, a obra da Ubisoft nos apresenta em riquíssimos detalhes as condições que os soldados tinham que enfrentar e o impacto direto e indireto que esse momento terrível teve na vida dos envolvidos e na sociedade como um todo. Nesse sentido, o jogo triunfa ao destacar como protagonistas e heroínas as inúmeras almas sacrificadas durante o conflito, independentemente de suas nacionalidades.




Devido a esse aspecto, explorar minuciosamente cada área em busca dos colecionáveis acaba ganhando uma importância significativa, já que somos recompensados com uma contextualização que nos instiga a refletir sobre esse período histórico e nos apegar ainda mais aos protagonistas. Além disso, é extremamente gratificante o fato de Valiant Hearts  estar completamente legendado em português, o que não só facilita, mas incentiva a leitura de todos os textos que o título oferece.

Outro ponto muito positivo é que Coming Home facilita bastante a vida do jogador que deseja preencher toda a galeria. Isso porque conseguimos verificar quantos artefatos estão faltando em cada arco e revisitar diretamente cada um deles.

Algumas ressalvas

Apesar de todos os méritos, Valiant Hearts possui algumas ressalvas que merecem ser mencionadas. Em primeiro lugar, creio que a obra não desenvolve George e Ernst com a mesma qualidade e profundidade que os demais personagens. Embora esses dois indivíduos sejam intrigantes e possuam suas próprias motivações, são Anna, Freddie e James que vivenciam os momentos mais memoráveis.

Devido a esse aspecto, esta entrada acaba sendo pouco recomendável a quem não experienciou The Great War. Apesar de o jogo fornecer um certo contexto sobre alguns acontecimentos passados, um conhecimento completo da trajetória dos protagonistas que regressam nesta obra faz com que o enredo possua um peso emocional muito maior.

Por fim, embora eu particularmente prefira a simplificação de gameplay introduzida em Coming Home, é certo que esse aspecto pode incomodar algumas pessoas, principalmente aquelas que apreciavam o razoável desafio proporcionado pelos puzzles presentes no título anterior.

Uma sensível e realista viagem ao passado

Valiant Hearts: Coming Home apresenta uma narrativa emocionante que oferece uma perspectiva realista e comovente da Primeira Guerra Mundial, destacando os desafios enfrentados por aqueles que viveram esse período histórico. Apesar da simplicidade da jogabilidade, que pode não agradar a todos os jogadores, trata-se de uma experiência que vale a pena ser vivenciada, especialmente por aqueles que já passaram pela obra anterior.

Prós

  • Narrativa envolvente e emocional que mergulha profundamente nos horrores da Primeira Guerra Mundial, oferecendo uma visão realista e comovente do conflito, sem glorificá-lo ou romantizá-lo;
  • Embora seja simples, a jogabilidade consegue proporcionar uma experiência variada para cada personagem;
  • A simplificação dos quebra-cabeças e dos momentos interativos em comparação com seu antecessor contribui para uma experiência de jogo mais fluida, mantendo o foco sempre na narrativa;
  • A inclusão de uma galeria de informações históricas e objetos colecionáveis não apenas enriquece a trama, mas também oferece uma oportunidade única de aprendizado sobre a Primeira Guerra Mundial e o seu impacto;
  • Legendado em português.

Contras

  • Desenvolvimento menos profundo de George e Ernst em comparação com outros protagonistas, o que pode diminuir a conexão emocional do jogador com eles;
  • Para uma apreciação mais profunda e significativa da narrativa e dos personagens que recebem maior foco, é altamente recomendável que o jogador tenha experienciado o título anterior;
  • A simplificação dos quebra-cabeças pode desapontar os jogadores que apreciavam o desafio oferecido pelo título anterior.
Valiant Hearts: Coming Home — PC/Mobile/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ubisoft

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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