Análise: Old World (PC) é um 4X repleto de história e qualidade

Enriquecido pela expansão Heroes of the Aegean, o jogo carrega o potencial de entreter grandemente os fãs de sua proposta.

em 07/12/2022
Lançado em julho do ano passado, exclusivamente na Epic Games Store e mais cedo neste ano via Steam e GOG, Old World é mais um representante do subgênero 4X histórico a agraciar os PCs. Mas, em um segmento que se define pela complexidade e ultimamente não tem estado carente de boas opções, será que o game desenvolvido pela Mohawk Games tem o que é suficiente para se destacar? Confira a seguir em nossa análise. 

Explorar, expandir, conquistar e…?

Caso você nunca tenha ouvido falar do termo 4X, muito conhecido no exterior entre os fãs de títulos de estratégia, aqui vai uma breve explicação sobre o termo que julgo ser apropriada, devido ao fato de que Old World é uma nova franquia.

Cunhado na década de 1990 para definir jogos de computador cujas propostas giravam em torno do conceito explore, expand, exploit and exterminate (explorar, expandir, conquistar e exterminar, em tradução livre), o 4X designa um subgênero complexo de estratégia (por turnos ou em tempo real) no qual o foco está geralmente em construir um império virtual.

Para isso, diversos cenários e elementos são apresentados ao jogador como obstáculos em sua jornada até a supremacia. Por sua dificuldade natural, jogos de 4X são comumente comparados com jogos de Grande Estratégia, como Crusader Kings III (Multi) e o recente Victoria 3 (PC), embora estes últimos geralmente careçam de um dos quatro atos que, como citado, definem o estilo de jogo.

Assim, alguns exemplos bem-sucedidos de 4X são as franquias Stellaris, Total War e Civilization. Novato no pedaço, Old World foi encabeçado pelo veterano Soren Johnson, uma das mentes criativas por trás dos clássicos Civilization III (PC) e Civilization IV (PC). Por isso, não é de se espantar que a saga contenha influências da obra de Sid Meier — mas, ao contrário do que um olhar desatento possa insinuar, isso não é necessariamente algo ruim.

Reescrevendo a história do seu jeito

Dito tudo isso, Old World incumbe a difícil missão de erguer e liderar um império através de várias gerações, construindo um legado que perdurará por muito mais tempo do que a sua existência virtual inicial. Para isso, você escolherá e controlará um de vários grandes líderes clássicos, como Nabucodonosor, Assurbanipal e Rômulo, e os sucessores que vier a gerar. 

Apesar de contar com opções pré-definidas, a partir do momento em que você escolhe seu personagem, os rumos da História antiga estarão em suas mãos: se na vida real Assurbanipal foi um dos reis mais longevos da antiguidade, falecendo com estimados 54 anos, aqui basta se envolver em guerras e tramas de forma incauta para que o assírio pereça com facilidade. 

Isso ocorre porque, assim como no excelente Crusader Kings III, lançamento que também tive a oportunidade de analisar, há em Old World um foco bem-vindo nos personagens e em suas relações interpessoais. Ao longo dos 200 turnos que cada partida do jogo da Mohawk oferece, você tentará alcançar as condições necessárias para que seu império alcance a vitória; frequentemente isso contará com a sua habilidade de arranjar casamentos, desenvolver seus herdeiros e se relacionar com as pessoas mais influentes do mundo.

Essas decisões são regidas pela mecânica chamada de eventos, que leva em conta as decisões que você toma e as interações que procura no mapa para gerar cenas e situações de forma dinâmica e contínua. Na prática, juntamente com o sistema de escolhas, isso quer dizer que é bem difícil que uma partida do game seja igual à anterior.

De fato, considerando que o fator replay é um dos grandes apelos do gênero 4X, Old World já começa marcando pontos positivos. Mas, como nem só de contos sobrevive um líder, é preciso logo partir para a parte administrativa do game, que se sobressai pela complexidade. 

Civilizações antigas

Desconsiderando a ênfase nas relações pessoais, Old World é bem similar a Civilization, de modo que em grande parte do seu tempo de jogo você estará construindo e desenvolvendo cidades, conquistando terras e estabelecendo focos de pesquisa para sua sociedade.

Como é possível ver pelas capturas de tela que adornam esta análise, há uma série de aspectos que precisam do seu aval para ocorrer durante uma partida. É precisamente nesse ponto que o jogo começa a abraçar uma complexidade bem interessante — construções, por exemplo, comumente requerem uma série de materiais diferentes para serem erguidas, como madeira, metal, pedras e mais. Isso sem contar a mão de obra.

Além disso, recursos abstratos, como cultura e poderio militar, podem influenciar seus planos para ações básicas. Junte isso a um sistema de ordens, no qual você precisará gerenciar os comandos dispensados às suas unidades, que também podem sofrer de fadiga, e você começará a entender um pouco o que Old World demanda de seus apreciadores.

Se a dificuldade do game — que, convém mencionar, pode ser personalizada através de várias opções individuais — é um de seus grandes atrativos, é uma pena que a interface colabore pouco com o jogador. Apesar do tutorial ser satisfatório para os padrões do gênero, não foram poucas as vezes em que me senti um pouco perdido no meio de tantos menus.

Com tantas coisas para gerenciar, como objetivos pessoais de cada líder, família, cidades, rotas e possíveis guerras, parece que Old World só começa a fazer sentido de verdade depois das dez horas de jogo. Embora isso não seja tão incomum para o gênero, a minha crítica contundente (além, é claro, da grave ausência de suporte a português brasileiro) é uma só: temo que alguns jogadores não aguentem esperar tudo isso para seguir em frente.

É uma pena, pois sem dúvidas há aqui uma obra capaz de entreter os fãs de sua proposta. Só é preciso observar se o protagonismo que os diálogos assumem desde o início é ou não uma característica positiva no âmbito particular.

Heroes of the Aegean e aspectos técnicos

Tendo sido lançado no ano passado, Old World recebeu sua primeira (e até então única) expansão Heroes of the Aegean em maio deste ano no Steam, GOG e Epic Games Store. Neste conteúdo extra, que se passa na Grécia Antiga, o jogador poderá controlar mais personagens históricos em eventos icônicos, como a Batalha das Termópilas.

Adquirir o DLC concede acesso a seis cenários com objetivos próprios, o que se traduz em mais momentos de diversão para aqueles que já usufruíram do jogo base. O interessante destes desafios é que oferecem experiências muito  distintas entre si: protagonizar a redenção da Macedônia com Filipe II é bem diferente de controlar sua esposa Olímpia em sua jornada administrativa antes da ascensão de Alexandre, o Grande.

Além de tais cenários, adquirir a expansão também adiciona os hititas e seu rei Hatusil I à campanha original. Considerando o baixo número de líderes iniciais no jogo base (um ponto negativo, aliás), a adição de mais um personagem é bem-vinda, apesar de não ser revolucionária. 

Aliás, essa é uma descrição apropriada para Heroes of the Aegean: embora em nenhum momento seu oferecimento flerte com o extraordinário, sua existência torna a experiência de Old World melhor, e isso não pode ser subestimado.

Por fim, abordando os aspectos técnicos do título, Old World e Heroes of the Aegean solicitam ambos uma GTX 1060 ou uma RX 5500 XT para a configuração recomendada, indicando que requisitos de hardware não deverão ser um problema para a maioria dos jogadores de PC. De fato, não tive problemas para jogar o game em suas configurações mais altas em 1080p, e seus mapas detalhados continuaram a me impressionar mesmo depois da primeira dezena de horas de jogo.

Realmente, minha única recomendação nesse sentido seria instalar o jogo em um SSD. Com tantos turnos dentro de uma partida, logo os segundos poupados com um armazenamento mais veloz se acumulam formando minutos e horas mal aproveitados; mantenha o fator replay em mente e considere esse upgrade caso ainda esteja usando um HDD em seu PC.

Um velho, mas convidativo, mundo a ser explorado

Ao investir tanto nas relações interpessoais quanto na complexidade de seus elementos, Old World e sua expansão Heroes of the Aegean impressionam; mesmo a interface confusa para os padrões modernos do gênero e a baixa quantidade de líderes iniciais não são suficientes para impedir uma recomendação. A verdade, então, é que entusiastas de 4X que buscam algo novo não precisam procurar tão longe: o velho mundo ainda é capaz de oferecer histórias tão boas quanto as de qualquer época.

Prós

  • Foco nas relações entre personagens virtuais rende bons momentos;
  • Eventos e mecânica de escolhas narrativas aumentam o fator replay do jogo;
  • As partidas possuem duração e objetivos fixos, proporcionando uma experiência coesa;
  • Trilha sonora destacada;
  • Suporte nativo a mods via Oficina Steam;
  • Expansão Heroes of the Aegean complementa o jogo base com cenários desafiadores, mas sobretudo divertidos;
  • Leve e bem otimizado em requisitos de hardware.

Contras

  • Grande quantidade de textos e ênfase na narrativa podem afastar jogadores que prefiram ações mais diretas;
  • Mesmo com os tutoriais pode ser confuso;
  • Interface poderia ser melhor trabalhada;
  • Baixo número de líderes iniciais se comparado a outros jogos do gênero.
Old World — PC — Nota: 8.0
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Hooded Horse
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