Agora, a obra clássica retorna em uma nova edição chamada System Shock 2: 25th Anniversary Remaster. Se, por um lado, a versão busca reapresentar o jogo para uma nova geração com gráficos atualizados, por outro ela se mantém bastante fiel à experiência original.
Uma nave em uma grave crise
42 anos após os eventos de System Shock, a humanidade lança uma espaçonave chamada Von Braun. Criada por uma parceria entre o protetorado UNN e a TriOptimum Corporation, trata-se de um produto de alta tecnologia capaz de viajar muito rapidamente pelo espaço.No jogo, assumimos o papel de um dos integrantes da tripulação que se vê diante de uma grave crise. Os sistemas de segurança da nave foram tomados por uma espécie de consciência coletiva chamada “The Many”, que também infectou vários indivíduos e eliminou aqueles que tentaram resistir.
Cabe ao jogador, então, seguir as instruções da Dra. Polito para tentar sobreviver e lidar com o problema, explorando as várias áreas da nave. Inicialmente, boa parte das áreas está ainda inacessível e será necessário encontrar cartões de identificação que liberam a entrada nesses pontos da nave, além de realizar algumas tarefas específicas para avançar.De forma geral, a trama é muito interessante, conseguindo explorar um contexto clássico de ficção científica com um forte senso de urgência e claustrofobia reforçado pela atmosfera sombria. Boa parte da experiência é contada pelo próprio ambiente desolado e destruído, o que é acompanhado primariamente por datalogs em áudio que reconstroem os eventos do ponto de vista dos membros da tripulação enquanto seguimos explorando.
Os gráficos atualizados são bem trabalhados com modelos mais arredondados e texturas modernizadas. Os corpos ainda possuem elementos poligonais que podem saltar aos olhos e é possível notar alguns defeitos pequenos, como clipping com o fundo, mas são detalhes realmente pouco relevantes de forma geral.Pessoalmente, tive um pequeno problema com o fato de o jogo ser muito escuro porque realmente chegou em um ponto em que eu não conseguia enxergar nada. Felizmente, temos um sistema de ajuste de vídeo bem detalhado que permite, entre outras coisas, alterar o Gamma para deixar o jogo mais claro, o que facilitou enormemente a minha experiência. É possível também alterar o driver de vídeo, FPS máximo, resolução e desligar aspectos como anti-aliasing, oclusão de ambientes e bloom se o jogador preferir.
Crescendo com o tempo
System Shock 2 mistura elementos de FPS e RPG, então, a experiência envolve confrontos em primeira pessoa e um gerenciamento do inventário e do crescimento do nosso personagem. O início do jogo envolve escolher as nossas proficiências em uma espécie de tutorial que cobre alguns conceitos importantes de forma rápida.Conforme exploramos os ambientes, vamos encontrar vários recursos, incluindo itens e nanites (dinheiro). Em particular, conforme concluímos missões, conseguiremos cyber modules, um objeto raramente encontrado durante a exploração. Com ele, podemos aumentar nossas proficiências em armas, uso de habilidades tecnológicas ou psiônicas e atributos como agilidade e força utilizando máquinas específicas encontradas em pontos da nave.
O inventário também é um ponto importante para se ter em mente porque o seu espaço é bastante limitado, com armas e armaduras ocupando mais vagas do que itens consumíveis. Um ponto curioso e um pouco frustrante é que não dá para simplesmente usar um item do ambiente, é sempre necessário adicioná-lo ao inventário. Por conta disso, o gerenciamento de espaço é importante.Ao mesmo tempo, felizmente o jogo mantém salvas as posições de itens “descartados”, então o jogador pode simplesmente abandonar os seus itens em qualquer lugar para liberar espaço rapidamente e buscá-los depois. Porém, a sensação que fica é a de que esse gerenciamento é mais bagunçado do que deveria, sendo funcional, mas nada elegante.
Em termos de combate, podemos conseguir armas de curto alcance e armas de fogo. Armas específicas possuem pré-requisitos diferentes, além de detalhes que são importantes considerar. Por exemplo, armas de fogo estragam com o uso, sendo necessário fazer manutenção, mas elas têm um alcance realmente longo, podem ser equipadas com balas de tipos diferentes e são extremamente úteis para lidar com câmeras de segurança antes de elas detectarem a sua posição e alertarem os inimigos.Pessoalmente, dei ênfase para hacking nas minhas habilidades, o que permite fazer várias coisas no jogo, como desabilitar as câmeras temporariamente em algumas áreas e alterar a programação de torretas. Também é possível usar essa proficiência para entrar no sistema de algumas outras máquinas, abrir baús trancados, entre outras coisas. Já os poderes psiônicos são como magias que podem ter efeitos ofensivos, defensivos, de cura e fazer outras coisas variadas.
Além de jogar sozinho, é possível aproveitar o modo multiplayer, que permite criar salas para jogar com os amigos. Basta criar uma sala e compartilhar o código com outras pessoas para aproveitar.
Uma experiência fidedigna
Um ponto importante para se ter em mente com System Shock 2: 25th Anniversary Remaster é que se trata de um relançamento bastante fiel ao original. Embora haja atualizações gráficas (que podem inclusive ser removidas no menu de mods antes de começar o jogo), a experiência de gameplay é a mesma em seu cerne.Há elementos de qualidade de vida o suficiente para que o jogo seja até bem simples de aproveitar, como o fato de que a lista de missões é atualizada mesmo se o jogador não abrir os áudios obtidos. Porém, lidar com os vários elementos de gameplay pode ser um tanto complexo para jogadores acostumados a experiências modernas mais intuitivas.
Por exemplo, pode ser inconveniente ter que voltar para áreas específicas do mapa para usar o sistema de upgrade em vez de simplesmente interagir com um menu próprio. Da mesma forma, embora seja possível usar controles, o inventário e os vários pequenos elementos da interface foram pensados para o mouse e são muito mais fáceis de explorar com a ajuda dele, com o mapa até tendo mais informações se passamos o mouse em cima dele.
Esses detalhes são em parte escolhas intencionais de gameplay, mas em parte também elementos potencialmente frustrantes com os quais o jogador precisa aprender a lidar. Isso não significa que eles são ruins (muito pelo contrário, a experiência como um todo é de alto nível), mas é uma experiência que exige mais esforço inicial do que muitos outros títulos e é importante que o jogador esteja disposto a aprender e explorar.Além de tudo, temos o Vault, que é um menu com galeria de artes, áudios, documentos de produção do jogo e vários materiais promocionais. Como um remaster, esse tipo de adição é sempre muito bem-vinda e a quantidade de conteúdos é realmente rica como deveria ser para preservar a memória da produção do jogo.
Um clássico retorna
System Shock 2: 25th Anniversary Remaster é uma excelente oportunidade para conhecer um clássico. Embora conseguir lidar com alguns detalhes do jogo possa demandar mais dedicação do que títulos mais modernos, a experiência como um todo é de alta qualidade e o remaster faz um bom trabalho em mantê-la de forma inegavelmente fidedigna.
Prós
- Trama envolvente de ficção científica contada com a ajuda de vários audiologs;
- Boa variedade de habilidades e proficiências para selecionar de acordo com as preferências do jogador e que afetam tanto o combate quanto a exploração;
- Vault cheio de materiais sobre a produção do jogo;
- Possibilidade de jogar a versão original e optar por outros mods de forma simples no menu inicial e ajustes gráficos simples e detalhados nas Options.
Contras
- Apesar das melhorias gráficas, a experiência de gameplay se mantém como no original, com complexidades nem sempre apresentadas de forma clara e que podem não ser convidativas para jogadores acostumados a obras modernas mais intuitivas;
- Impossibilidade de usar itens de consumo rápido sem adicioná-los ao inventário de espaço limitado.
System Shock 2: 25th Anniversary Remaster — PC/PS5/XSX/Switch — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nightdive Studios