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Análise: Wildfrost (PC/Switch) traz carisma e caos em um congelante roguelike de cartas

Um combate complexo e empolgante espera aqueles que decidirem enfrentar os desafios deste título indie.


Em Wildfrost, um inverno perpétuo se formou depois que o sol congelou. Agora, heróis de diferentes tribos enfrentam os perigos deste mundo gélido em uma aventura focada em batalhas com cartas e em construção de baralhos. O jogo explora mecânicas consagradas do gênero em partidas repletas de combates criativos, sendo a variedade de táticas um dos maiores destaques. Às vezes, as coisas ficam caóticas e imprevisíveis demais, mas o carisma da atmosfera de desenho animado e as novidades constantes nos incentivam a continuar.

Peregrinando por um mundo congelado

Na prática, Wildfrost é um roguelike de construção de baralhos bem tradicional. No início de cada partida, escolhemos um de três líderes e partimos em uma jornada em busca de uma maneira para interromper o inverno eterno. A aventura é estruturada em um mapa com eventos diversos, como combates, lojas ou oportunidades de obter cartas e aliados. O andamento é bem direto e linear, porém há bifurcações no caminho que nos permitem fazer escolhas leves.

O foco do jogo está nos combates, que usa mecânicas de posicionamento para trazer novos ares a ideias consagradas. As arenas são divididas em duas fileiras, nas quais há espaços para os heróis e inimigos — começamos a batalha posicionando nosso líder, e podemos invocar aliados no decorrer do embate. A cada turno, é possível utilizar uma carta para atacar inimigos, convocar heróis ou aplicar efeitos positivos ou negativos. O objetivo é derrotar todos os oponentes enquanto protegemos nosso líder.


Um detalhe importante é que tanto os aliados quanto os inimigos só agem depois de alguns turnos: um número na parte de baixo da carta indica quando aquele personagem executará alguma ação. Normalmente, o ataque tem como alvo o primeiro oponente da mesma fileira, ficando protegido quem está atrás. Sendo assim, para sobreviver, é essencial mudar os personagens de lugar para diminuir ou anular o dano. Por sorte, podemos alterar a posição dos aliados livremente durante nosso turno.

Pelo caminho, fortalecemos nossa caravana com cartas de ação e aliados. Além disso, pingentes com efeitos diversos podem ser amarrados aos cartões, o que aumenta as possibilidades estratégicas. É importante montar a seleção com cuidado, pois as oportunidades de remover cartas são raras, por mais que neste título o baralho seja bem enxuto em relação a outros roguelikes. Ser derrotado significa recomeçar desde o início com um novo herói, mas novo conteúdo é desbloqueado para partidas futuras.






Carteado inventivo e repleto de nuances

Já experimentei inúmeros roguelikes de construção de baralhos e são poucos que tentam trazer algo único ao gênero. Wildfrost é um dos que ousam com seu engenhoso sistema de batalha que me prendeu desde o início. O principal motivo é o dinamismo do combate, cujo andamento é rápido e demanda uma necessidade constante de adaptação para dar conta dos desafios.

A ideia central é básica, mas há várias mecânicas que tornam as coisas bem interessantes. O posicionamento é um dos elementos cruciais: as batalhas começam simples, bastando mover aliados para defender unidades feridas ou atacar; mas logo aparecem complicações, como inimigos que atacam toda a fileira ou que acertam oponentes distantes, nos forçando a agir diferente. Cartas e habilidades nos permitem atrasar ou acelerar quando um personagem vai agir, o que rapidamente se revela um elemento tático importante.


Wildfrost oferece diversidade estratégica por meio de personagens, cartas e poderes. Há muitas sinergias para explorar, sendo que várias delas também levam em conta o posicionamento. Por exemplo, um guerreiro com armadura de noz, ao receber dano, automaticamente aplica escudo nos aliados que estão atrás dele. Um dispositivo mágico recupera a vida do grupo quando alguém recebe dano, porém ele é extremamente frágil e precisa ser protegido. Já um lobo espectral tem sua força aumentada após algum aliado ser derrotado.

O conteúdo é liberado aos poucos, o que expande as opções táticas. Além de novas cartas e personagens, há  três tribos com estilos de jogo bem diferentes: um grupo focado em congelar inimigos para atrasá-los, guerreiros capazes de invocar aliados espectrais e inventores especializados em usar dispositivos para obter vantagens. Os baralhos de cada clã são muito distintos e me diverti explorando as possibilidades de cada um deles.


A terra gélida é implacável, o que resulta em uma jornada bem difícil. Pelo caminho, enfrentamos inúmeros inimigos, cada qual com habilidades e mecânicas únicas. Isso, em conjunto à grande quantidade de oponentes, faz com que raramente atacar de qualquer jeito seja uma opção, bastando momentos de desatenção para ser derrotado. Sendo assim, para sobreviver, é imprescindível montar estratégias para contornar ou anular as habilidades perigosas dos inimigos.

A combinação de todos esses elementos torna Wildfrost complexo e rico, repleto de situações complicadas que eu descreveria como puzzle estratégico. Fiquei em constante estado de tensão ao enfrentar os inimigos, pensando com muito cuidado os meus passos. Mas é também recompensador conseguir montar uma estratégia efetiva ou então encontrar alguma sinergia poderosa — há muito espaço para isso neste jogo.



Chateando-se na imprevisibilidade que vem da neve

Roguelikes são conhecidos por serem difíceis, e Wildfrost não é diferente. Parte da graça está em justamente entender as nuances e superar os desafios complicados, porém, neste caso, algumas características atrapalham a experiência.

Os embates do jogo são acelerados e intensos, com mudanças de ritmo constantes. É um elemento interessante para nos forçar a tomar cuidado e trazer sensação de novidade, mas aqui a dose passou um pouco do ponto. O andamento das batalhas é caótico e imprevisível, o que nos tira a sensação de controle. A interface influencia nisso, pois não há informações suficientes para a tomada de decisões, como uma prévia do dano e indicação de quem será atingido naquele turno. Por causa disso, foram inúmeras as vezes que eu perdi aliados ou fui derrotado por não entender exatamente o que estava acontecendo.


A dificuldade é inconsistente e com influência significativa de sorte: muitas vezes fui derrotado já na segunda batalha por causa de uma configuração muito poderosa de inimigos e uma mão ruim de cartas. Além disso, é difícil prever que tipo de desafio virá em seguida, e nem sempre nosso baralho está preparado. É frustrante encontrar um grupo de inimigos com alguma combinação poderosa de poderes que nossa estratégia não dá conta de anular.

Mesmo assim, o jogo me entreteve com seus sistemas. Claro, os pontos negativos incomodam e trazem um pouco de frustração, mas as partidas de curta duração e boa diversidade de inimigos amenizam os problemas.



Na companhia de viajantes que transbordam simpatia

O mundo está tomado pela neve, mas isso não quer dizer que o tom é sombrio, pelo contrário: Wildfrost é colorido e encantador. A direção de arte lembra um desenho animado matinal com personagens caricatos que esbanjam personalidade com seu visual. Tudo é representado por cartas, cujas ilustrações têm várias camadas que criam a ilusão de tridimensionalidade. A junção dessas qualidades resulta em um universo belo e expressivo.

Em contrapartida, o jogo sofre com conteúdo limitado. Mesmo com três tribos com baralhos distintos e inúmeros desbloqueáveis, há a sensação de que não há muito para ver. Em comparação com outros títulos similares, ficou faltando mais eventos e elementos para diferenciar as partidas. Para tentar compensar isso, existem desafios e partidas diárias, mas não são suficientes para manter o título interessante a longo prazo. Torço para que no futuro mais conteúdo seja adicionado.



Cartas e frio em uma jornada singular

Wildfrost é uma carismática e envolvente aventura de construção de baralhos. Os combates, que misturam cartas, manipulação de turnos e posicionamento, são empolgantes e repletos de nuances interessantes. Há boa variedade de cartões, aliados e poderes, o que torna divertida a atividade de explorar as possibilidades táticas e montar sinergias.

Caos e imprevisibilidade são constantes nas partidas, deixando os embates intensos e difíceis, nos forçando constantemente a improvisar. No entanto, esses são também os maiores defeitos do jogo: é comum encontrar situações aparentemente impossíveis ou injustas. Além disso, o conteúdo é um pouco limitado a médio prazo. Porém, atualizações futuras podem amenizar esses problemas.

Com um combate inventivo e um universo cativante, Wildfrost é para aqueles que procuram um roguelike de cartas um pouco diferente, só é necessário estar preparado para encarar os seus desafios.

Prós

  • Combate ágil e com muitas características interessantes;
  • Boa diversidade de armas, magias e habilidades, o que permite montar diferentes combos a cada partida;
  • Boa diversidade de conteúdo para explorar;
  • Ambientação charmosa e com ótimo visual.

Contras

  • Variedade limitada de conteúdo;
  • Dificuldade caótica e com muitos momentos desbalanceados e imprevisíveis;
  • Ausência de certas informações na interface atrapalham na tomada de decisões.
Wildfrost — PC/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Chucklefish

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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