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Telefrag VR (PC/PSVR) diverte com jogatina simples e dinâmica, mas está longe de ser perfeito

O novo FPS focado em multiplayer da Anshar Studios é fluido e até criativo, mas peca onde mais deveria acertar: no multiplayer.

Não é exagero dizer que o gênero mais bem sucedido na realidade virtual até o momento são os FPS. Vários são os exemplos de jogos de tiro relevantes para a plataforma, sejam eles focados em mecânicas diferenciadas, na história ou no multiplayer. Esse mês tivemos mais um acréscimo para a coletânea do gênero com Telefrag VR (PC/PSVR), um FPS divertido com inspirações em jogos mais clássicos do gênero como Doom e Quake, mas com a sua dose de inovação que deixa o jogo com uma cara própria.


O jogo possui um visual bem agradável, com jogabilidade fluida, controles relativamente fáceis e configurações personalizáveis que agradam bastante. Porém, quando temos um jogo tão focado no multiplayer online temos uma faca de dois gumes bem complicada no que tange a sua comunidade. Mas vamos aos poucos para falar sobre isso nessa análise.

Agilidade que assuta, mas diverte

Se podemos definir Telefrag VR em uma única palavra, essa seria “rápido”. Isso porque o jogo possui essa característica em vários elementos diferentes. O tutorial é o primeiro deles, bem rápido e cheio de informação. Infelizmente, aqui, temos o primeiro ponto negativo do jogo, pois este tutorial não é nem um pouco didático, tendo um excesso de informação problemático e uma falta de linearidade que incomoda. Felizmente, os controles do jogo são confortáveis o suficiente para você aprender na prática.

Mas além da velocidade do tutorial, temos também a jogabilidade por si só, bem rápida e dinâmica, com muita movimentação tiros e itens sendo usados ao mesmo tempo. Aqui, a agilidade é um ponto positivo, pois a dinamicidade das partidas é um dos maiores acertos de Telefrag VR. Juntamente com as mecânicas de combate, temos também o lobby do jogo e a transição entre partidas, igualmente rápidos.



Após um tempo entendendo o tutorial, o jogo te dá algumas opções como criar uma partida privada, jogar contra um bot ou ir para as partidas online rápidas; e é isso. Em menos de cinco minutos você abre o jogo e já começa a trocar tiros com adversários indiscriminadamente. Essa agilidade de começar partidas é outro fator interessante do jogo, pois mantém um ritmo bacana e não deixa o jogador se desanimar, pois sempre está atirando em alguma coisa.

Toda essa informação jogada de forma muito atropelada no jogador iniciante pode assustar bastante. É realmente muita informação, muita adrenalina e muitas mecânicas para entender ao mesmo tempo em um curtíssimo período de tempo. Entretanto, o que nos assusta à primeira vista acaba sendo o que faz Telefrag VR mais simpático em médio prazo, pois este ritmo acelerado do jogo é bastante divertido.


Armas, tiros e Telefrag!

Telefrag VR é focado em ação. Ele não se preocupa com munição, não tem habilidades distintas entre personagens e os elementos dispostos pelo cenário se resumem em portais, recuperação de vida e recuperação de armadura. Essa simplicidade é um dos elementos que mais lembra os jogos clássicos de franquias como Doom e Quake. Porém, ao contrário delas, em Telefrag já temos disponível em nosso personagem todas as armas do jogo (cinco no total) e escolhemos duas delas para começar a partida.

Pode parecer uma variedade bem baixa de armas, mas as diferenças consideráveis entre elas dão uma sensação de variedade muito boa para a jogatina. Além de um design bem exótico para cada arma, temos uma discrepância bem divertida do tipo de tiro que cada uma possui, como lança-foguetes, tiros de plasma entre outras. Mas, além disso, temos principalmente a característica de cada arma possuir uma habilidade específica e uma forma de teleportar o jogador. Teleporte este que é o diferencial da jogatina de Telefrag. 



Além das movimentações básicas e uso dos portais, podemos nos teleportar entre plataformas usando tiros especiais que cada arma possui. Essa habilidade acrescenta ainda mais dinamicidade aos confrontos e também certa estratégia, pois é uma habilidade comum a todos mas que pode ser utilizada com criatividade interessante, inclusive para matar os inimigos nos materializando para dentro deles. Quando isso ocorre, a jogada é chamada de Telefrag.

Ambientes criativos, mas limitados

Outro ponto chave do jogo são os seus cenários. Com um design bem peculiar, com plataformas que desafiam a gravidade e obrigam o jogador a prestar atenção em ângulos que em outros jogos ele iria ignorar completamente. Este é um fator que deixa as partidas de 1 vs 1 do jogo bem interessantes, pois é fácil se esconder e fugir, ao mesmo tempo que se torna bem desafiador perseguir alguém dessa forma.



Entretanto, mesmo que os cenários sejam muito interessantes e divertidos, sua pouca variedade, ao contrário das armas, é sentida facilmente. Basta algumas horas de jogo pra você ter percorrido todos os cinco cenários vezes o suficiente para achá-los um pouco limitados. Claro que este elemento pode ser facilmente corrigido com futuras atualizações do game acrescentando mais conteúdos nesse quesito, mas neste momento isso torna a experiência levemente repetitiva.

Os problemas do multiplayer

Telefrag tem uma premissa de ser uma disputa de gladiadores futuristas pela supremacia nas arenas de combate do império intergaláctico. Por isso a variedade exótica de armas combinada com arenas tão complexas e abstratas. Isso dá uma justificativa rasa e divertida para os combates, mas tantas mecânicas divertidas e dinâmicas pediam um multiplayer um pouco mais arrojado do que o que experimentamos no título até o momento.



Isso porque Telefrag VR é focado apenas em combates 1x1. Desse modo, a confusão de tiros e digladiação gratuita fica um tanto quanto limitada. Com armas cheias de habilidades interessantes e arenas que desafiam o sentido lógico de estruturação espacial, combates com 2x2 ou até 3x3 seriam interessantes de serem vistos. Mais do que isso de fato poderia gerar uma confusão tamanha em tela que poderia remover completamente o senso de diversão que o jogo possui. Mas manter o foco apenas em combates individuais limita demais a experiência.

Como se não bastasse essa limitação até contra bots, os servidores do jogo encontram-se consideravelmente vazios até então, ao menos no PSVR, onde o jogo foi testado. Com isso, encontrar partidas contra outros jogadores se torna um desafio a parte. Felizmente, tal como outros jogos focados em multiplayer como Megalith (PSVR), ao não encontrar um oponente online, o sistema insere um bot como adversário para não deixar o jogador parado esperando por muito tempo. Porém, quando você está esperando por uma partida contra outros jogadores para testar suas habilidades e se depara repetidamente com um “Gladiator.Bot” como adversário, isso pode ser frustrante.


Simplicidade demais pode atrapalhar

Mas para além do multiplayer limitado de Telefrag, seu principal problema é a simplicidade exagerada em certos pontos. Isso porque não temos absolutamente nada além das partidas 1x1 no jogo até o momento. Fora das partidas, não temos senso algum de progressão, formas de personalizar nosso personagem ou armas, nem se quer dados sobre nosso histórico de partidas. Pontuação adquirida por partida para trocar por algo? Skins ou conteúdo desbloqueável que justifique uma espécie de grind? Não, nada.

Isso acaba atrapalhando bastante a experiência de se jogar Telefrag VR. Pois as partidas rápidas por si só, com poucos jogadores humanos disponíveis e exclusivamente em disputas de 1x1 acabam tornando o jogo repetitivo. Algum elemento de crescimento entre partidas como o que vemos, por exemplo, em EVE: Valkyrie - Warzone (PC/PSVR) ou um esquema simplório de compra de skins como o do já citado Megalith já seria o suficiente para dar um conteúdo extra cativante ao jogo.


Divertido, mas com muito para melhorar

Não se enganem, Telefrag VR (PC/PSVR) é bastante divertido e pode agradar bastante principalmente os amantes de um shooter ou FPS mais rápido. Seus controles simples, movimentação fluida e possibilidade de configurar a tela para diminuir os riscos de cinetose são muito bem-vindos, bem como o design das poucas arenas disponíveis e estilo próprio de cada arma disponível até então. Porém, ainda falta um pouco de conteúdo para o jogo chamar mais a atenção do público.

Talvez com futuras atualizações, acrescentando mais modos de jogo, mais arenas, mais armas e quem sabe um sistema de administração de conta mais interessante, o jogo possa angariar mais jogadores e, aos poucos, tornar seus servidores minimamente povoados, tal qual outros tantos jogos de realidade virtual dão conta de fazer. Por enquanto, Telefrag VR é mais uma aposta em um bom projeto, além de uma experiência rápida e divertida.


Prós

  • Boa variedade de armas e habilidades;
  • Cenários não lineares são interessantes;
  • Mecânica de teleporte aumenta dinamicidade das partidas;
  • Visual agradável e bem colorido;
  • Comandos fluidos e adaptáveis;
  • Jogatina rápida agrada bastante;
  • Bem confortável para um jogo na realidade virtual.

Contras

  • Pouca variedade de cenários;
  • Nenhum recurso de progressão incomoda;
  • Servidores bem vazios dificultam a jogatina;
  • Alguns bugs de cenário;
  • Tutorial solto e com excesso de informação confunde.
Telefrag VR - PC/PSVR - Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PSVR
Análise produzida com cópia digital cedida pela Anshar Studios.

Gilson Peres é Psicólogo e Mestre em Comunicação pela UFJF. Está no Blast desde 2014 e começou sua vida gamer bem cedo no NES. Atualmente divide seu tempo entre games de sobrevivência e a realidade virtual.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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