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Análise: FAR: Changing Tides (Multi) oferece uma serena e meditativa viagem

Parta em uma aventura solitária por um mundo devastado neste título indie focado em sensações.


Um garotinho controla, sozinho, um estranho barco e explora um vasto oceano em FAR: Changing Tides. No decorrer da jornada, aparecem complicações e obstáculos na forma de puzzles, mas, na maior parte do tempo, nada acontece — a intenção é justamente mergulhar na atmosfera bela e singular desse mundo desolado. O jogo é a continuação de FAR: Lone Sails e expande muitas das ideias do antecessor, porém momentos de marasmo e complicações desnecessárias atrapalham a experiência.

Navegando por oceanos solitários

Um garoto se encontra completamente sozinho em uma cidade inundada. Explorando as redondezas, o menino encontra uma roupa de mergulho e um estranho barco. O veículo está em mau estado, mas ainda funciona. Mexendo nos controles, o menino consegue içar as velas e assim começa uma viagem solitária por um planeta que parece estar completamente desolado. Muitas perguntas aparecem pelo caminho: o que, afinal, aconteceu com o mundo? Qual é o destino final da jornada? A trama não é clara e alguns elementos visuais dão dicas do que pode ter acontecido.


O controle da embarcação é feito de forma completamente manual. Para erguer as velas, por exemplo, precisamos levantar o mastro, escalá-lo, pegar um gancho no topo, prendê-lo no local correto e, por fim, ajustar a inclinação por meio de uma alavanca. Já para operar o motor, é necessário colocar algum objeto dentro da fornalha para servir de combustível, acender a chama e pular continuamente em um fole para aumentar a temperatura. As ações, em sua maioria, são intuitivas e fáceis de executar, e novas mecânicas são introduzidas aos poucos.

Na maior parte do tempo, o objetivo é operar o navio de forma que ele avance continuamente para a direita. Porém, em muitos trechos do caminho, aparecem obstáculos que impedem o avanço, como imensos portões ou até mesmo intempéries que danificam severamente partes do veículo. Nesses momentos, o garoto precisa explorar as proximidades para encontrar uma maneira de desobstruir o caminho, o que significa resolver alguns puzzles simples.


No decorrer da jornada, o veículo recebe melhorias que expandem as possibilidades de exploração. A mais notável delas o transforma em um submarino, o que nos permite desbravar o oceano em busca de segredos e rotas alternativas. Navegar pelas águas é, inclusive, a grande novidade em relação ao jogo anterior, que se desenrolava completamente em terra.

Mergulhando em um ritmo contemplativo

Acompanhar o garotinho em sua viagem em FAR: Changing Tides é uma experiência meditativa e singular. Isso se dá pela atmosfera suave e introvertida: na maior parte do tempo, o barco atravessa cenários belíssimos e expansivos, mas também repletos de solidão, afinal não aparecem outras pessoas pelo caminho. Parte do apelo está nos elaborados aspectos audiovisuais. Os cenários são repletos de detalhes, com elementos majoritariamente nas cores marrom e vermelho, com leves toques de azul, o que traz identidade ao mundo do jogo. Já a música é pontual e ajuda a fortalecer as cenas mais impactantes, como a primeira vez que vemos animais em uma planície ou quando precisamos atravessar uma tempestade feroz.


A ambientação, de longe, é uma das características mais notáveis da aventura: fiquei completamente envolvido com os cenários e com o andamento suave. O tom é tranquilo, quase bucólico, mas há também algumas cenas intensas e reviravoltas surpreendentes. Destaco o fundo do oceano, que conta com trechos estonteantes com ruínas submersas e criaturas marinhas exóticas.

Mecanicamente, FAR: Changing Tides é simples com suas ações e seus puzzles descomplicados. Andar pelo veículo executando diferentes tarefas pode parecer um pouco intimidador no começo, mas logo eu consegui fazer várias coisas simultaneamente, o que resultava em uma progressão tranquila. Os quebra-cabeças ajudam a trazer variedade, por mais que não sejam nada memoráveis por serem simples demais. Mesmo assim, apreciei a presença deles, principalmente por causa de algumas interações interessantes.



Em momentos de marasmo

É aparente que o foco de FAR: Changing Tides esteja em oferecer uma experiência calma e contemplativa. O jogo alcança esse objetivo com sucesso, mas alguns detalhes atrapalham o ritmo da aventura.

Para começar, nem sempre é divertido controlar o navio. O motivo disso é que muitas das ações são repetitivas, desinteressantes ou desnecessariamente complicadas. Abrir as velas, por exemplo, exige passos enfadonhos, e desmontá-las também não é fácil — muitas vezes bati em obstáculos por não conseguir reagir a tempo.


Em comparação com o jogo anterior, Changing Tides tem várias novas mecânicas, mas o resultado é contraditório: há mais variedade, porém sua complexidade demasiada atrapalha a atmosfera contemplativa. Além disso, algumas ideias são subutilizadas, como o oceano: até é possível sair do veículo e explorar as águas, porém não há praticamente nada para ver, fora itens que podem ser utilizados como combustível.

É relaxante observar os belos cenários, no entanto chega um momento que a ausência de atividades torna as coisas um pouco enfadonhas. Entre um puzzle e outro não há muito o que fazer além de alimentar o motor ou controlar a vela. Isso se torna cansativo com o passar do tempo, pois os quebra-cabeças ficam bem distantes entre si. Acredito que trechos mais enxutos ajudariam a melhorar o ritmo.



Uma viagem razoável

FAR: Changing Tides encanta com sua jornada contemplativa por um mundo abandonado. Controlar manualmente um veículo que é simultaneamente barco e submarino é bem intuitivo, e os vários puzzles pelo caminho ajudam a trazer diversidade. Cenários belíssimos e uma trilha sonora bem colocada potencializam as emoções, como solidão e pequenez diante da vastidão das localidades.

Essa sequência de FAR: Lone Sails tem mecânicas e conceitos inéditos, o que aumenta a longevidade da aventura. No entanto, essas novidades não são de todo positivas: o ritmo é enfadonho em alguns momentos e algumas tarefas de controle da máquina cansam com sua repetitividade, além de outras questões. No fim, FAR: Changing Tides consegue criar uma experiência agradável, mesmo que longe de perfeita.

Prós

  • Ambientação ímpar que consegue transmitir sensações por meio de aspectos audiovisuais;
  • Controles e mecânicas intuitivos;
  • Puzzles simples, mas agradáveis.

Contras

  • Problemas de ritmo, com a presença de muitos trechos enfadonhos;
  • Algumas ideias são desnecessariamente complexas e repetitivas demais;
  • Certos conceitos são subutilizados, como a exploração do oceano.
FAR: Changing Tides — PC/PS4/XBO/Switch — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela Frontier Foundry

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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