Após o bem recebido remake dos dois primeiros jogos do skatista mais legal do planeta, o público já aguardava ansiosamente por uma continuação com o terceiro e o quarto título. Após cinco anos, e o fechamento da Vicarious Visions, responsável por THPS 1+2, coube à Iron Galaxy produzir Tony Hawk’s Pro Skater 3+4.
O resultado foi uma mescla das coisas boas dos jogos 3 e 4 com algumas novidades, porém com exclusões questionáveis.
A turma do “Gavião” cresceu
Estruturalmente, em THPS 3+4, há a mesma apresentação que em 1+2. Temos uma campanha livre, na qual podemos usar qualquer um dos 30 skatistas do elenco para progredir pelas fases, que estão separadas em seus jogos de origem.
Veteranos como Tony Hawk, Steve Caballero e Rodney Mullen se juntam a novos nomes da cena, como Yuto Horigome, Nora Vasconcellos e a nossa fadinha Rayssa Leal. Combine toda essa galera com os seis personagens secretos e os quatro skatistas que podem ser criados pelo jogador e a lista fica ainda mais extensa e diversa.
Por falar em personagens secretos, temos a estreia de Michelangelo, das Tartarugas Ninjas, e o Insepulto, da série DOOM. Eles vêm para fazer companhia ao sempre presente Officer Dick — ou melhor, Agente Richard —, Bam Margera e ao próprio Doom Guy, que era um desbloqueável na versão de PC de THPS 3.
Os comandos e movimentos especiais ainda roubam a cena, misturando a criatividade real com momentos em que a física claramente é ignorada. Desde flips simples até meditação em cima da prancha, tudo é possível para alcançar as maiores pontuações usando seu arsenal de movimentos. Consequentemente, a precisão dos controles mais uma vez não desaponta. Claro que os novatos de plantão podem contar com um tutorial completo narrado pelo próprio Tony Hawk para descobrir como começar.
Ao todo, são 19 fases, com uma batelada de objetivos para serem cumpridos, que vão desde as básicas pontuações e encontrar a fita secreta até aos que exigem manobras específicas em certos lugares de cada local. Para aumentar o fator replay, foram inseridas as “missões Pró”, liberadas após concluirmos a lista básica dos dois jogos. Elas são bem mais difíceis, trazendo metas que envolvem combinações de mais de um gap com uma manobra específica e coletar as letras da palavra COMBO em apenas uma sequência.
Há também outras seis listas de desafios, que nos levam a explorar cada fase ao máximo. Essas missões envolvem espantar pássaros, destruir bonecos de neve, esbarrar em policiais pelo caminho e até encontrar pichações escondidas. Agora as fitas de cada skatista são liberadas ao realizarmos um combo de 250 mil pontos que envolva uma determinada manobra especial da sua lista. Isso torna mais acessível liberar o acervo de vídeos do que nos demais jogos, e é uma maneira bacana de incentivar o uso de cada membro do elenco.
Outro adendo interessante é que as trapaças de equilíbrio infinito, pontuação dobrada e um limite de tempo superior a dois minutos podem ser acionados logo de cara, o que é uma mão na roda para quem ainda estiver perdido pelos cenários. Essas artimanhas podem ser utilizadas livremente no modo Carreira, mas não são permitidos para os desafios mais difíceis, nas sessões individuais e nem na parte de speedrun, pois, senão, ficaria tudo muito fácil.
Quanto ao uso de trapaças, a única observação negativa que tenho a fazer é que as fases de torneio, que naturalmente duram um minuto, não podem ter seu tempo estendido. Por mais que o objetivo delas seja só conquistar a medalha de ouro, obter seus colecionáveis exige reiniciar várias vezes, diferente das demais, nas quais podemos alongar o relógio em até uma hora.
Se depois de tudo isso você ainda achar que o universo de Tony Hawk não é o bastante, mostre ao mundo sua criatividade ao criar sua própria pista. Há uma lista enorme de rampas, half pipes, kickers, corrimões e objetos “grindáveis” para fazer seu próprio skate park. Além disso, para deixar as coisas mais interessantes, também podemos inserir nossos próprios objetivos, iguaizinhos aos do modo Carreira.
Nossa pista pode ser postada na comunidade e baixada por outros jogadores, assim como nós também podemos experimentar várias e até criar uma lista com nossas favoritas. Seja para elevar o nível das suas habilidades, ou até conseguir uma mãozinha com os troféus, há novos circuitos para todos os gostos.
Um capote bem feio
Algo que foi muito criticado assim que as primeiras informações sobre THPS 3+4 saíram foi que as fases do quarto jogo obedeceriam ao esquema antigo, de uma corrida de dois minutos para concluir todos os objetivos. Quem jogou Tony Hawk’s Pro Skater 4 em sua época original lembra que seu principal diferencial foi ter ambientes abertos, com NPCs pelo caminho que davam um objetivo para fazermos ali na hora. Essa proposta foi levada adiante na série com mais ênfase, como em Underground 1 e 2, American Wasteland e Project 8.
O remake em si é bem bonito, com ambientes detalhadamente recriados, cheios de detalhes e segredos, porém nitidamente se nota a proposta diferente dos dois jogos. THPS3 tem as áreas fechadinhas e mais propícias para coletarmos tudo dentro dos dois minutos. Até mesmo as cidades mais abertas, como Canadá e Los Angeles, são fáceis de nos situarmos.
Já as de THPS4 são bem mais amplas, então parece que nunca vai dar tempo de vasculhar o que precisamos. Outra questão é que THPS4 originalmente não tinha fases de competição, e para 3+4 foram adaptadas Kona e o Zoológico, que ficaram bem diferentes do que eram originalmente, mais curtas. Isso acabou tirando um pouco da personalidade que elas tinham.
Além dessas alterações, THPS4 também sofreu com a perda de duas fases da sua lista principal: Carnival e Chicago. Elas foram substituídas pelo Estúdio de Filmagem e o Parque Aquático, criações originais para o remake, assim como o estágio bônus Pinball. Não sei dizer ao certo se todas essas mudanças foram motivadas pela troca de estúdio, já que é a primeira vez da Iron Galaxy conduzindo a franquia, mas parece que eles quiseram colocar sua impressão no remake em vez de só refazer os jogos no 1/1.
Dá para fazer mais uma lista de coisas que poderiam ter sido incluídas. Eu mesmo joguei muito os títulos originais no PS1, então, particularmente, senti falta das fases Downhill, de THPS3, que era uma descida ao pé do Cristo Redentor, e Little Big World, do THPS4, que era nada mais do que uma cozinha gigantesca.
As fases novas são bem legais, principalmente o Parque Aquático, que tem obstáculos bem pensados e reflete bastante o que os skatistas têm feito nos Estados Unidos, de aproveitar lugares como esses para manobras insanas. Entretanto, nada justifica a ausência dessas fases clássicas no remake.
Outra parte do conteúdo que fez muita falta foi a trilha sonora original de ambos os títulos. Entre as mais de 60 faixas, apenas 10 do conjunto clássico foram trazidas de volta. Alguns artistas até foram representados com canções diferentes, como no caso de Agent Orange, De La Soul, Iron Maiden, KRS-One, Sex Pistols, The Cult e Toy Dolls. No mais, clássicos como Shimmy, TNT, Wave 3, entre outros, ficaram completamente de fora sem mais nem menos.
O próprio Tony Hawk já declarou que sua intenção foi a de dar destaque para novas músicas que têm a cara do momento atual do skate, e a nova lista tem ótimas pedradas auditivas, inclusive até algumas vindas de DOOM. Claro que questões de direitos autorais também podem ter influenciado o uso da discografia antiga, mas, ainda assim, é uma ausência sentida, ainda mais se comparado que THPS1+2 trouxe quase todas as músicas dos títulos originais, além de adicionar outras muito boas.
Um caso curioso que também vale citar é que o artista brasileiro Marcelo D2 foi incluído nos anúncios dessa nova leva de canções que estariam em THPS 3+4 com o hit “Vai Vendo”. Entretanto, após o lançamento do game, a faixa não estava na lista e não houve nenhuma justificativa sobre sua ausência — pelo menos até a publicação deste texto.
Um voo quase impecável
Tony Hawk’s Pro Skater 3+4 é um excelente jogo que continua muito bem o que o remake anterior começou: a revitalização da franquia. O vasto elenco de skatistas, liberdade para fazer suas criações como bem entender e grande quantidade de desafios promete muitas horas de gameplay para os mais variados públicos.
Porém, por se tratar de um remake que vem para ser a sequência de uma obra que aproveitou 99% do material original, reduzir cenários, não incluir a maior parte da trilha sonora original e não preservar a estrutura de missões de THPS4 realmente acaba pesando contra, principalmente com quem veio pela nostalgia dos títulos daquela época.
Prós
- A jogabilidade que alterna entre o real e o fisicamente impossível sempre diverte e abusa da criatividade dos jogadores;
- As fases refeitas estão muito bem detalhadas, e os novos objetivos se aproveitam muito bem disso;
- Toneladas de desafios e opções de criação proporcionam um longo fator replay;
- Os novos circuitos são bacanas;
- As novas músicas combinam com a vibe do skate, mas sair pelas pistas com a trilha de DOOM é impagável.
Contras
- Ausência da maior parte da trilha sonora clássica;
- Algumas fases clássicas de Tony Hawk’s Pro Skater 4 foram deixadas de fora, enquanto outras foram estranhamente alteradas;
- Seria legal se a estrutura de missões diferente de THPS4 fosse mantida ou, pelo menos, aparecesse como um modo extra.
Tony Hawk's Pro Skater 3+4 — PC/PS4/PS5/Switch/Switch 2/XBO/XSX — Nota: 8.5Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise feita com cópia digital cedida pela Activision















