Um duelo de mentes utópicas entre Cave Johnson (Portal 2) e Andrew Ryan (Bioshock)

em 19/01/2014

Para algumas pessoas, viver em uma sociedade como a nossa e seguir as regras que nos são impostas nem sempre é o bastante. São esses v... (por Anônimo em 19/01/2014, via GameBlast)

Para algumas pessoas, viver em uma sociedade como a nossa e seguir as regras que nos são impostas nem sempre é o bastante. São esses verdadeiros gênios que tem a coragem de quebrar os padrões e colocar as suas idéias em prática em prol de um mundo melhor. É exatamente dessa forma que podemos entender o que motiva Cave Johnson, o fundador da companhia científica Aperture Science de Portal 2 que segue pelo lema de “O futuro começa com você”, e Andrew Ryan, fundador da metrópole subaquática Rapture de Bioshock que defende a lei de “Sem deuses nem reis, apenas homens”.

Ambas personalidades foram responsáveis por darem o primeiro passo em uma nova direção para a humanidade, assim como enfrentar conflitos pelo caminho e eventualmente cair em ruínas. Por coincidência, também passamos a conhecer a história de ambos através de mensagens gravadas, deixadas ao longo da aventura em seus respectivos jogos. De qualquer maneira, mesmo com seus destinos sendo tão parecidos quanto seus prestígios e méritos, decidiremos nesse Blast Battle qual dos visionários leva a melhor nesse confronto intelectual. Que começe a luta!
Atenção: este texto possui revelações sobre o enredo (spoilers) da série Portal e da série Bioshock. Leia por sua conta e risco!

Round 1: Os Ideais 

Cave Johnson e Andrew Ryan, apesar de compartilharem o objetivo de melhorar o mundo de alguma forma, perseguem essa meta através de ideais diferentes. Nessa rodada, vence aquele que tiver os ideais mais realistas, concretos e benéficos diante da sociedade.

Andrew Ryan passou a primeira parte de sua vida em seu país natal, a Rússia, sob o nome de Andrei Rianofsk e vivendo a repressão da Revolução Russa enquanto formava sua opinião sobre o mundo que, na sua visão, era governado por homens que devem lutar para chegar aonde querem. Em 1919, Andrei se tornou Andrew Ryan e passou a viver nos Estados Unidos, onde novamente presenciou injustiça ao ver que, muitas vezes, as pessoas possuíam coisas que elas mesmas não conquistaram. Para Andrew, a gota da água que motivou a construção de Rapture veio na forma da bomba de Hiroshima, na qual ele acreditava que os homens usavam o poder da ciência para destruir aquilo que não podiam ter ou conquistar. Rapture, uma cidade no fundo do oceano atlântico construída com a fortuna de Andrew, serviu como uma resposta para essas atitudes, reunindo as pessoas mais esclarecidas do mundo em uma sociedade utópica livre de censura e repressão, exilando-as dos “parasitas” da superfície.

Rapture pode ser uma maravilha da engenharia humana, mas ainda assim seus propósitos de existência são um tanto equivocados
Cave Johnson, por sua vez, é filho de um professor de agricultura e desde cedo, através das lições de seu pai, passou a ser um empresário bem-sucedido, vendendo cortinas de banheiros de alta tecnologia para segmentos tanto militares quanto públicos dos Estados Unidos através da Aperture Fixtures, tornando-se bilionário em pouco tempo. Em 1947, Cave já possuía uma imensa mina de sal que logo se transformaria nos escritórios e câmaras de sua companhia, agora rebatizada de Aperture Science, buscando um foco mais científico, e ganhando o prêmio de Melhor Nova Companhia de Ciência do ano. Em 1950, a Aperture Science já prosperava com suas invenções, e o Centro de Enriquecimento foi criado para efetuar testes das mais novas tecnologias da companhia em cobaias selecionadas, como astronautas e atletas. Durante esse período, Cave Johnson foi auxiliado por sua fiel assistente Caroline e a companhia já passava pelo processo de desenvolvimento de um substituto dietético de pudim, que viria a ser o Gel de Repulsão, e do Dispositivo de Tunelamento Quântico, que se tornaria a Portal Gun.

Os primeiros anos de Aperture Science foram um próspero negócio, e Johnson faz questão de exibir isso para todas as suas cobaias convidadas para seus testes
Mesmo que ambos tenham tomado a opção de se esconder debaixo da terra ou da água, existe uma diferença notável: Cave Johnson apenas utilizava o espaço como propriedade particular (e possivelmente secreta), enquanto Andrew fazia de Rapture um recanto longe das crises do mundo. Nesse contexto, Andrew segue a lei do “os incomodados que se retirem”, fugindo para um verdadeiro exílio onde nada de ruim do exterior poderia afetar ele e seu sonho, mas onde ele também não poderia contribuir de volta, preferindo fugir dos problemas ao invés de encará-los.
Vencedor do Round 1: 
Por buscar melhorar a vida das pessoas através do poder da ciência ao invés de “fugir” dos problemas através de um exílio subaquático utopicamente perfeito.

Round 2: As Rivalidades 

É impossível agradar à gregos e à troianos ao mesmo tempo e é natural que as idéias de Cave Johnson e Andrew Ryan fossem recebidas com criticismo e descrença por alguns opositores. O vencedor dessa rodada é aquele que conseguiu suportar a oposição mais forte e superá-la da melhor forma possível.

Um dos maiores adversário de Cave Johnson foi a companhia concorrente Black Mesa, ilustrada de diversas perspectivas diferentes durante a saga de Half-Life. Partes do mesmo universo, a rivalidade entre a Aperture Science e a Black Mesa começou em meados de 1968, quando a Aperture começou a sofrer dificuldades para se manter no mercado enquanto tinha vários de seus produtos removidos das prateleiras por violarem os requisitos de saúde e segurança enquanto diversos outros estavam empacados em fase de testes. A falência repentina obrigou Cave Johnson a recrutar moradores de rua, crianças, idosos e até mesmo seus próprios funcionários como cobaias enquanto preferia culpar a concorrência da Black Mesa por roubar suas ideias quando, na verdade, a culpa era simplesmente sua por ter deslizado em alguns testes um tanto anti-éticos e imorais.

Algumas câmaras precisaram ser seladas para  que os experimentos mais grotescos não fossem descobertos
Andrew Ryan, em contrapartida, teve uma oposição bem mais rigorosa e direta quando a atividade intelectual de Rapture chegou ao seu ápice pela descoberta do ADAM, por Brigid Tenenbaum. A venda de Plasmids, substâncias que alteram o material genético do consumidor e lhe concede poderes extraordinários, não foi apoiada por Andrew em um primeiro momento, mas o maior perigo estava em seu desconhecimento do emergente mercado negro, comandado sigilosamente por Frank Fontaine, que esse produto criaria. A influência desse tipo de negócio, aliadas às condições sociais de desemprego de uma sociedade que não queria se submeter à “cargos inferiores” levou Fontaine a fundar a “Casa para o Pobre de Fontaine”, um dos primeiros passos para uma ascensão política que desafiaria o comando de Andrew Ryan sob a cidade.

Como se isso não bastasse, Andrew também teve outros problemas em setores distintos. Sofia Lamb, uma psiquiatra convidada por Andrew Ryan para o tratamento de problemas psicológicos relacionados ao ambiente recluso do fundo do mar, passou a ter uma postura desafiadora diante do líder, pregando uma filosofia altruísta e travando debates públicos com Andrew, o que concedia a ela ainda mais seguidores e apoiadores de sua causa.
O asilo criado por Fontaine era apenas uma forma de adquirir mais apoio da população em prol de seu próprio objetivo
A decisão desse round não será tão difícil: está mais do que claro que, nesse caso, Andrew Ryan sempre teve muito mais antagonismo em seus planos e, apesar disso, sempre tentou manter “a Grande Corrente” em um estado firme e favorável à ele, incentivando a sua nação à repudiar o abuso de ADAM e condenando a atividade ilegal com penas severas. Por outro lado, Cave Johnson enfrentou dificuldades como a concorrência com a Black Mesa, mas praticamente caiu sozinho ao utilizar meios impróprios para teste de seus produtos, além de vender produtos com segurança questionável.
Vencedor do Round 2: 
Por enfrentar mais opositores e traidores de seus planos e mesmo assim manter sua postura e ética filosófica de sua utopia, evitando sucumbir nos próprios erros.

Round 3: Os Relacionamentos

Não existe um gigante sem um calcanhar de aquiles, e com esses dois pensadores não seria diferente. Mesmo com projetos tão grandiosos e ousados, ambos deixaram o amor invadir parte de sua vida em níveis diferentes. Nesse round, o vencedor é aquele que cultivou o melhor e mais leal relacionamento, mantendo-o equilibrado com seus projetos utópicos.

Andrew Ryan sempre teve uma vida amorosa turbulenta e cheia de complicações, provavelmente por ter que liderar uma metrópole inteira sozinho. Uma das poucas amantes que Andrew Ryan teve foi Diane McClintock, que, inicialmente, apoiava seus ideais e objetivos completamente e até mesmo pretendia ter um filho com ele. Mas com o surgimento do mercado negro de ADAM e as intrigas políticas, Andrew se tornou cada vez mais megalomaníaco, chegando ao ponto de fazer Diane se perturbar com ele e sua filosofia, acabando por se aliar à Fontaine, o próprio rival de Ryan, momentos antes do estouro da guerra civil em Rapture.

Outro deslize fundamental cometido por Andrew foi engravidar uma sedutora dançarina do Jardim de Eva chamada Jasmine Jolene. Completamente ignorante do fato, Andrew abriu uma brecha para que Fontaine comprasse o embrião de Jolene e utilizasse seu código genético, que era parecido com o de Ryan, para ter todo o acesso à segurança e ao controle de Rapture. Quando Ryan descobriu a “traição” de Jolene, ele a matou pessoalmente em um surto de fúria e descontrole.
A cena do crime cometido friamente, por impulso e cólera, pelas mãos de Andrew
Cave Johnson pode aparentar que teve uma história parecida, sendo o dono de uma corporação cientifica tão grande e a beira de um desastre tão infortuno. Mas a realidade é que Johnson sempre foi um homem bastante focado em seus negócios e não se deixava distrair por frivolidades. A sua única parceira mais próxima, que agia como um leal braço direito, era Caroline, sua secretária pessoal. Mais do que ninguém, Caroline conhecia os problemas que a Aperture Science de Cave Johnson passava, e mesmo assim nunca desistia em honrar seu sonho de “tudo em prol da ciência” que Johnson usava para conduzir seu empreendimento. Pelo ano de 1982, próximo ao seu leito, Johnson instrui seus engenheiros a inventarem uma forma de enganar a morte através de um computador que pudesse armazenar a inteligência e a personalidade de um indivíduo em disco, da mesma forma que uma música é gravada em um CD. Temendo o pior, Cave também ordenou para que, caso viesse a falecer antes da conclusão dessa invenção, que Caroline se tornasse a nova diretora da Aperture Science, e tivesse a sua própria consciência transferida para um computador, mesmo contra a vontade dela.

Johnson não resistiu e morreu com agravamentos de sua doença antes do projeto ser terminado, mas Caroline, mesmo que forçadamente, tornou-se uma das mais brilhantes inteligências semi-artificiais, mas igualmente faminta por ciência, que a história dos games já veria: GLaDOS, o Sistema Operacional em Forma de Vida Genética e Disco, rival da protagonista silenciosa, Chell.
Mesmo com as desavenças sobre seu projeto de transferência mental, Caroline foi obrigada a aceitar essa incumbência possivelmente pelo carinho que Johnson tinha à sua fiel ajudante
Outra vez, fica claro decidir quem leva a melhor do Round: Mesmo tendo poucos relacionamentos, Andrew Ryan não teve o cuidado nem a sensibilidade para lidar com esses casos e acabou causando ainda mais problemas do que já tinha com sua oposição por conta dessas traições. Por outro lado, Cave Johnson deixou uma bela herança, assim como vida praticamente eterna, para uma secretária que não explicitamente o amava, mas que pelo menos era a mulher que mais o compreendia.
Vencedor do Round 3: 
Por literalmente eternizar a consciência de sua suposta amada por um período indefinido de tempo, passando toda a sua herança científica e patrimônio para ela com isso, e evitando cair em traições e armadilhas que poderiam ter sido usadas contra ele.

Round 4: A Ruína 

Com tantas adversidades, oposições, rivalidade e traições, mesmo os maiores dos gênios está fadado a cair. Todo ser humano é suscetível a errar, e foram um acúmulo de erros que levaram Cave Johnson e Andrew Ryan à ruína de seus respectivos sonhos. Nessa rodada, o vencedor será aquele que demonstrar o menor acúmulo de erros por sua própria conta em contraste com as complicações de outros lados indomináveis e fora de seu controle.

Como já foi dito, Cave Johnson passou por dificuldades financeiras depois que o “boom” científico da Aperture Science passou e o deixou com problemas em sua linha de produção. Além de propor a Iniciativa de Testes Perpétuos baseando-se na sua teoria de multiverso para se aproveitar de Apertures financeiramente mais estáveis de outros universos, Johnson também deu seu último e desesperado passo comprando aproximadamente setenta milhões de dólares em pedras lunares na esperança de um novo produto de sucesso. Apesar de descobrir que o pó lunar servia como um ótimo condutor de portais e passar a produzir os Géis de Conversão com ele, Cave contraiu uma grave doença pela exposição prolongada à esse pó, o que lhe causou problemas respiratórios e insuficiência renal.

Esse erro mais tarde lhe custaria a própria vida e, como uma forma de prevenção, ele instruiu para que Caroline tomasse o seu lugar na forma digital de GLaDOS. Cometendo outro grave engano, Cave Johnson acabou por destruir todo o resto de seu sonho ao ordenar tal feito, visto que, com a consciência cheia de remorso de Caroline, GLaDOS nunca hesitava em tentar exterminar seus colegas de trabalho de qualquer forma que pudesse. Isso exigiu o anexo de vários Núcleos de Personalidade à consciência artificial para poder controlar essa compulsão, mas isso infelizmente não a impediu de matar todos os cientistas e suas filhas infestando todo o escritório com neurotoxinas quando foi reativada durante o dia anual de Traga sua Filha ao Trabalho, passando a usar os sobreviventes como reféns para cobaias de testes no Centro de Enriquecimento.
Em sua fuga, Chell pôde revisitar a exposição do dia do Traga sua Filha ao Trabalho e descobrir um de seus próprios trabalhos de quando ainda era criança
Por outro lado, Andrew Ryan não teve muitas condições de agir diante da queda de Rapture, mas se manteve firme nas poucas alternativas que tinha até o fim. O ápice do confronto idealista contra Fontaine (agora escondido pelo nome “Atlas”) culminou com um ataque de seus aliados revolucionários à um baile de máscaras da elite de Rapture durante a noite do ano novo de 1959. Esse foi o primeiro passo para a explosão da Guerra Civil de Rapture, onde o ADAM agora era usado em uma verdadeira corrida armamentista genética que resultou em diversos Plasmids de combate, além de Tônicos Genéticos que melhoravam as habilidades do utilizador. O abuso dessas substâncias durante esse confronto, entretanto, alterou psicologicamente e fisicamente a maioria dos cidadãos que acabaram por se tornar criaturas selvagens e sedentas por ADAM conhecidas como Splicers.

Andrew Ryan, contudo, não se deixou levar pelo abuso e, aliado com o doutor Yi Suchong, acabou por permitir que uma forma de controle mental por ferormônios fosse incluída na estrutura dos Plasmids comercializados. Isso era obviamente contra a filosofia de livre arbítrio da Rapture de Andrew Ryan, mas sua visão de que a vitória de Atlas os tornaria escravos de qualquer forma prevaleceu e o obrigou a tomar medidas drásticas. Com sorte, isso foi um ponto de virada na guerra contra Atlas, que, com poucos seguidores livres do controle de Ryan, decidiu apelar para sua carta na manga: trazer Jack, o filho perdido de Andrew e Jasmine, de volta a Rapture para lutar a seu favor, já que ele passara por experiências de controle mental depois que Fontaine o comprou de Jolene, ainda na forma de um embrião.
Andrew não previa que os ilustres moradores sucumbiriam ao vício de uma substância como o ADAM e teve que assistir sua cidade ser arruinada como consequência
Como podemos ver, a queda de ambos é bastante bruta, mas um teve mais oportunidades e controle desperdiçado do que o outro. Enquanto Ryan era obrigado a ver seu sonho ser destruído pela ganância de poder de homens sem ideais e se manteve forte ao lado de seus objetivos mesmo que isso custasse o livre arbítrio de um povo que ele apenas quis proteger, Johnson foi quem teve a ganância de sucesso e prosperidade científica quando desesperadamente adquiriu muito mais materiais do que podia pagar e acabou adoecendo pela exposição ao material. Além disso, a última tentativa de prolongar seu esforço foi a de transferir Caroline para o que praticamente se tornou uma máquina mortífera e que levou a Aperture Science à ruína ainda mais depressa.
Vencedor do Round 4:
Por ser obrigado a lamentar a frágil natureza humana quando o abuso de ADAM se proliferou durante uma guerra civil que buscava usurpar sua liderança, ao contrário de permitir que seja afetado pelo excesso de materiais nocivos (seja ADAM ou pó lunar) ou que uma criação sua destruísse ainda mais seu sonho.

Último Round: O Legado  

Tanto Andrew como Cave tiveram um destino desagradável e foram obrigados a ver seus sonhos sucumbirem enquanto eles mesmos lutavam para prolongar a efetivação de suas filosofias. Nesse turno decisivo de desempate, o vencedor desse Blast Battle é aquele que deixou para trás o maior e mais rico legado para que futuras gerações pudessem retomar ou pelo menos conhecer seus ideais dentre os escombros.

Já sabemos que depois da morte de seu idealizador, a Aperture Science passou por um período de dificuldades ao continuar o desenvovimento da Portal Gun, o produto que certamente poderia competir com a concorrência da Black Mesa, mas que teve seu progresso interrompido depois do genocídio de GLaDOS. Poucos sobreviventes resistiram às neurotoxinas e ficaram confinados nos laboratórios aguardando um resgate que provavelmente nunca viria, já que o mundo lá fora tinha seu foco voltado para a recente invasão da raça Combine no planeta Terra, como mostra Half-Life 2. Graças aos planos de Cave Johnson de construir seu empreendimento em uma mina de sal de mais de quatro quilômetros de profundidade, o perigo da invasão alienígena nunca passou perto dos laboratórios da Aperture, mas o contrário também é verdade: a tecnologia da Portal Gun, que foi gradualmente aprimorada por GLaDOS através de suas cobaias reféns, nunca chegou a ver a luz do dia. Já Chell, a heroína que enfrentou os testes de GLaDOS mais de uma vez e que, na verdade, é uma das crianças que sobreviveu ao ataque do dia de “Traga sua Filha ao Trabalho“, também nunca teve a chance de levar as ideias de Cave Johnson para além das câmaras de teste da Aperture Science, mas isso sequer estaria nos planos dela, já que seu objetivo primordial era sobreviver e fugir dessa prisão. Também devemos levar em consideração que GLaDOS efetivamente deleta sua parte “Caroline” de sua consciência artificial durante o final de Portal 2, destruindo qualquer evidência de sua origem, liberando Chell, em seguida, para viver no que restou do mundo além dos portões da Aperture apenas com seu “leal” Cubo de Peso Companheiro.
O que sobrou para Chell depois dos eventos de Portal 2, além de céu aberto e ar livre de um planeta Terra totalmente dominado pela invasão Combine?
O caso de Andrew Ryan foi mais sofrido, mas leal, já que ele teve que assistir seu sonho ser destruído pelas forças opositoras de Atlas enquanto fazia de tudo para salvar o que restava de sua utopia. Andrew apenas foi derrotado com o golpe baixo de Atlas que utilizava uma forma de indução subconsciente através das palavras hipnóticas “Por gentileza” sobre o próprio filho Jack, que era o único com o código genético para chegar até Ryan. Jack foi induzido por Atlas a matar Ryan, que não ofereceu resistência por saber que sua ideologia de “um homem escolhe, um escravo obedece” havia consumido a si mesmo. Apenas depois de dominar Rapture que Jack descobre a verdadeira identidade de Atlas, mas ele felizmente pôde ser salvo de sua prisão hipnótica através da ajuda das Little Sisters e da doutora Brigid Tenenbaum. No final, Jack tem a opção de salvar as Little Sisters de sua terrível mutação que as mantêm ligadas aos Big Daddies e levá-las de volta à segurança da superfície ou sucumbir ao abuso de ADAM e espalhar o caos dos Splicers iniciado em Rapture para todo o resto do mundo, e essas opções dependem das próprias decisões morais tomadas ao longo da viagem de Jack controlado hipnoticamente por Atlas através de Rapture.

Independente da escolha moral que decidir fazer durante sua jornada em Rapture, a maior importância que o protagonista tem diante dessa utopia é a de retornar à cidade para descobrir os segredos de sua origem por seus próprios olhos
Quem sabe um dia ainda possamos ver o que aconteceu com Chell e que fim teve a tecnologia tão curiosa da Portal Gun mas, por hora, podemos dizer que seu legado morreu cedo e em desconhecimento. Especialmente levando em consideração que o universo de Portal e Half-Life passou por uma invasão alienígena, a chance de que a vida e obras de Cave Johnson se perpetuassem pela história foi nulificada.

Em contrapartida, mesmo com as desavenças, Ryan pôde pelo menos deixar o que restou de sua utopia para que seu próprio filho percebesse que suas memórias foram manipuladas e que ele estava sendo usado como apenas um soldado em meio a um antigo conflito de poder. A capacidade de Jack de poder tanto resgatar as Little Sisters de Rapture quanto liberar o terror do abuso de ADAM para o resto do planeta são consequências tanto boas como ruins, mas pelo menos são uma continuidade do trabalho iniciado por Andrew Ryan ou, em outras palavras, uma extensão ao seu legado.
Vencedor desse Blast Battle:
Por tentar e, até certo ponto, suceder na criação de uma verdadeira utopia política, intelectual e filosófica no fundo do Oceano Atlântico, permanecendo forte contra todos seus opositores e traidores de seus ideais e por fim morrendo pelas mãos do próprio filho para mostrá-lo a verdade sobre sua origem. Que seu lema de “Sem deuses nem reis, apenas homens” ecoe eternamente por infinitas dimensões de constantes e variáveis!
Revisão: Ramon Oliveira de Souza
Capa: André Perez Segato
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