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Análise: Saviorless (Multi) é um conto sobre ser o dono de sua própria história

Desbrave um mundo belo e sangrento em um platformer simples, mas ainda cativante.


Saviorless é o primeiro jogo produzido pelo estúdio indie cubano Empty Head Games. Nesta aventura que captura de imediato nossa atenção por conta de seus belíssimos visuais, guiamos o jovem Antar em uma odisseia para alcançar um local mágico. Entretanto, sua viagem lhe reserva perigos inimagináveis e um destino ainda incerto sobre sua própria existência.

Choque de protagonistas

Antar é um Protagonista. Seu destino está eternamente selado pelo controle de entidades míticas denominadas Narradores. Estes seres têm a responsabilidade de narrar e recontar histórias, todas elas destinadas a ter um desfecho invariável. Contudo, um dia, o Narrador de Antar adormeceu enquanto contava mais uma vez a história do garoto que aspirava alcançar as Ilhas Sorridentes.


Diante desse descuido, seus dois jovens pupilos, exaustos de ouvir repetidamente a mesma narrativa, infringiram uma regra primordial de sua profissão: eles inseriram Nento, um caçador implacável e violento, como outro personagem na história do garoto, transformando-o também em um Protagonista. Essa transgressão perturbou o equilíbrio natural deste universo, criando assim dois seres em busca de um desfecho comum para suas histórias.

Agora, incumbidos dessa nova tarefa, devemos guiar o jovem Antar rumo a um destino agora desconhecido enquanto desbrava paisagens exuberantes e inimigos bizarros e grotescos. Nossa missão é ajudar o garoto a tecer sua nova narrativa, uma jornada que pode conduzi-lo à desgraça ou à redenção, em meio à súbita mudança que se abateu sobre sua existência.

Páginas de um livro ainda sendo escrito

Saviorless é um jogo de plataforma com visão lateral que se destaca pela sua deslumbrante direção de arte totalmente feita à mão. Os modelos dos personagens e os cenários são verdadeiros deleites visuais para os apreciadores desse aspecto nos videogames. A beleza contrastante com o tom grotesco de certos cenários e inimigos pode ser chocante e impressionante ao mesmo tempo.

Esse cuidado meticuloso também se estende às cutscenes e à trilha sonora. As melodias melancólicas permeiam a maior parte da história, com momentos de destaque durante as etapas com mais tensão, como fugas de inimigos ou confrontos contra chefes.

A gameplay é simples: as principais ações de Antar incluem saltar para evitar armadilhas, superar obstáculos e inimigos e interagir com mecanismos e objetos no cenário, como alavancas e plataformas móveis. Inicialmente, o jovem não possui meios de defesa, o que direciona a jogabilidade para a habilidade de navegar pelo ambiente e resolver os quebra-cabeças integrados ao cenário.


Um dos principais desafios para o jogador em Saviorless é a coleta dos fragmentos de páginas espalhados pelos "capítulos" do jogo. São cinco no total, e a obtenção de todos é crucial para determinar o desfecho da história do garoto. Esse elemento aumenta consideravelmente o fator replay, já que o final "bom" ou "ruim" será determinado pelo sucesso, ou não, dessa atividade.

Como mencionado anteriormente, Antar não pode atacar. No entanto, em um dado momento, ele adquire a capacidade de se tornar um Salvador, uma força quase imparável, ao interagir com pequenos altares que o transformam temporariamente em um ser com habilidades de luta comparáveis às de seus inimigos. Contudo, por ser um poder temporário, o jogador precisa estar atento para não deixar a barra de status do rapaz se esvaziar antes do momento desejado; caso contrário, a morte será certa e dolorosa.

Quando transformado, Antar pode desferir poderosos ataques corpo a corpo e realizar investidas que aumentam sua mobilidade. Alguns quebra-cabeças do cenário e seções de plataforma só podem ser concluídos quando o rapaz está nessa forma, digamos, "bestial".

Belo, porém básico e pouco memorável

A jornada em Saviorless não é das mais longas, com uma duração média de cerca de três horas. No entanto, esse tempo pode variar dependendo da frequência com que morremos, da exploração adicional dos cenários em busca das páginas mencionadas e da habilidade do jogador em resolver os enigmas e enfrentar os chefes.


O nível de desafio do jogo fica entre básico e intermediário. As seções de plataforma são bem-elaboradas, aproveitando as habilidades do jogador, e os quebra-cabeças são acessíveis, mas ainda assim exigem um pouco de astúcia, mesmo para aqueles menos familiarizados com esse aspecto.

Os momentos de combate, especialmente contra os chefes, são bem-desenvolvidos, desde os confrontos em que Antar não pode se transformar, exigindo que o jogador utilize o ambiente para se defender, até os embates finais — com destaque para o chefe final —, que requerem a aplicação das habilidades adquiridas ao longo da história para serem vencidos.


Após a primeira jogatina e a exibição de um dos finais, o jogo não oferece muitos extras que incentivem uma segunda partida. No entanto, é válido jogar novamente para experimentar o outro desfecho da história e tirar suas próprias conclusões sobre qual preferiu. Uma terceira jornada pode interessar apenas aos jogadores mais dedicados.

A ausência de uma opção de seleção de capítulos é sentida, especialmente quando um único fragmento impede a obtenção do final "bom". A necessidade de rejogar todo o jogo por causa desse pequeno detalhe pode desmotivar um pouco, apesar de fornecer uma desculpa para jogar novamente.


Um ponto digno de nota é um problema técnico que afetou a versão para PC e, segundo relatos, também a versão para PS5 de Saviorless e, creio eu, as dos demais consoles. Ao selecionar o idioma português, os diálogos durante a gameplay eram exibidos em espanhol. Embora uma atualização já tenha corrigido esse problema no meu caso, é importante estar ciente disso, especialmente para quem está pensando em adquirir o jogo no lançamento para jogar nos consoles.

Escolha seu destino

Saviorless oferece uma experiência cativante e visualmente deslumbrante aos apreciadores de jogos de plataforma. Com sua direção de arte única, trilha sonora envolvente e mecânica de jogo simples, mas ainda desafiadora, o título consegue prender a atenção do jogador do início ao fim da jornada de Antar. Apesar de alguns pequenos poréns, o título da Empty Head Games se destaca como uma proposta sólida, entregando uma jornada visualmente deslumbrante através de um mundo intrigante e cheio de desafios.

Prós

  • A arte totalmente feita à mão é um verdadeiro deleite visual;
  • A trilha sonora melancólica contribui para a imersão na história;
  • Jogabilidade simples, mas eficaz, que se concentra na habilidade do jogador em navegar pelo ambiente e resolver quebra-cabeças;
  • Momentos de combate bem trabalhados, especialmente os confrontos contra chefes, que exigem um mínimo de estratégia e habilidade;
  • O elemento de replay é valorizado pela busca dos fragmentos de páginas para determinar o desfecho da história.

Contras

  • A duração da campanha pode não satisfazer os jogadores que procuram uma experiência mais longa;
  • Ausência de extras ou conteúdo adicional que incentive múltiplas jogatinas além da busca pelos diferentes finais;
  • Ausência de uma opção de seleção de capítulos, o que causa incômodo a jogadores que precisam rejogar tudo para agilizar o acesso ao desfecho alternativo.
Saviorless — PC/PS5/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Dear Villagers

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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