Narrativa perdida
A história começa com o jogador na pele de uma entidade rara que chega a um hotel decadente. Ao lado do fantasma do antigo dono e de alguns funcionários fiéis, a missão é restaurar a antiga glória do lugar. No papel, a narrativa funciona; na prática, perde impacto logo nas primeiras horas.
O jogo apresenta uma boa variedade de personagens e raças, como o fantasma Gustav e o cozinheiro Maklo, um Makloviano, mas a condução da história é estranha. Apesar de sermos um personagem inserido no enredo, as conversas frequentemente são direcionadas ao jogador, mesmo quando deveriam ocorrer entre os próprios NPCs.
A escolha de dublagem em uma língua fictícia poderia ser charmosa, como no The Sims, mas aqui soa pouco agradável e, combinada com diálogos bobos e sem peso narrativo, acaba enfraquecendo o enredo. Cutscenes mal animadas reforçam essa sensação de trabalho inacabado. No fim, dificilmente o jogador se manterá preso à história, sobrando apenas as mecânicas, que também enfrentam seus próprios problemas.
Grande conteúdo, grandes bugs
Hotel Galactic quer ser um simulador de gestão espacial cheio de charme, mas no acesso antecipado ele entrega mais dor de cabeça que diversão. As mecânicas são ambiciosas: coletar recursos, expandir o hotel, montar cardápios e gerenciar funcionários. No papel, tudo parece divertido; no controle, é um exercício de paciência.
A maior frustração está na equipe: funcionários ignoram ordens, abandonam tarefas ou simplesmente ficam presos no cenário. A cozinha, que deveria ser o coração do jogo, é uma maratona de cliques e microgestão em que qualquer deslize quebra o ritmo. O jogador não sente que gerencia, apenas sugere, torcendo para que algo funcione.
A construção é o sistema mais estável e até oferece bons momentos, como montar quartos pensados para diferentes espécies. Mas até ela sofre com bugs ocasionais que impedem o progresso. E, com tantas falhas técnicas, qualquer estratégia mais elaborada acaba soterrada pelo improviso forçado.
No fim, nem mesmo a direção artística inspirada nas animações do estúdio Ghibli consegue salvar a experiência.
Arte
O visual inspirado no estúdio Ghibli é, sem dúvida, um dos maiores atrativos do jogo. Infelizmente, a execução não acompanha a ambição. O cel shading é inconsistente e, em certos momentos, chega a ser desagradável, especialmente nos closes de personagens. A ambientação, por outro lado, brilha em alguns cenários, criando uma atmosfera realmente charmosa.
Esse encanto, porém, desaparece nas animações: os funcionários se movem de forma travada, com movimentos mecânicos e repetitivos. Um estilo mais cartunesco e fluido, como o de Cuphead, talvez se encaixasse melhor.
No som, as trilhas são agradáveis e ajudam na imersão. Os efeitos sonoros cumprem seu papel. Já a dublagem, além de irritante e repetitiva, não acrescenta nada de relevante à experiência.
Existe potencial aqui?
Sim. Apesar das críticas, Hotel Galactic tem uma base sólida para, no futuro, se tornar um jogo divertido e desafiador. No entanto, no estado atual, não é algo que eu possa recomendar.
A boa notícia é que a equipe de desenvolvimento demonstra comprometimento: atualizações têm sido frequentes e, se esse ritmo for mantido, é possível que boa parte dos problemas seja corrigida. Caso isso aconteça, o título pode finalmente entregar a experiência mágica que promete, mas, por enquanto, vale aguardar.
Revisão: Beatriz Castro


