20 anos de Yakuza: as dez melhores lutas da série

Kazuma Kiryu e companhia já brigaram com muita gente. Quais são os combates mais marcantes?

em 13/10/2025

A franquia Yakuza, que de uns tempos para cá também passou a se chamar de Like a Dragon (longa história), completa 20 anos em 2025 — duas décadas lotadas de porradaria de norte a sul do Japão e além. Quer melhor forma de comemorar o legado do Dragão de Dojima e aliados do que listar as dez lutas mais memoráveis, cheias de homens sem camisa e belas tatuagens simbólicas nas costas? 

Levamos em consideração a cinematografia e contexto dentro da narrativa de cada briga e compilamos esta humilde lista. Já que tratamos de momentos importantes no enredo dos jogos, fica aqui um aviso geral de spoilers para toda a série: não vamos exatamente contar o final de nenhum título, mas recomenda-se discrição mesmo assim. Bora lá?

10 - Goro Majima vs Homare Nishitani (Yakuza 0)

Para começar os trabalhos, um confronto que representa muito bem o papel narrativo que estes servem: um bom combate em Yakuza é um estudo de personagem. O hedonista Homare Nishitani, “inimigo amigável” do pobre-coitado Goro Majima durante seu pedaço do enredo de Yakuza 0, é um dos personagens mais amados da franquia, o que muito se deve à eletrizante primeira impressão que ele nos fornece.

Nishitani tem a cara de pau de alugar o cabaré Grand inteiro só para poder lutar com Majima, que é gerente do lugar sob um regime que beira a escravidão. Antes, durante e depois da trocação de socos, um forte tom sexual toma a atmosfera: primeiro, o oponente se excita na presença das profissionais da noite presentes, e, depois, ele diz que enfrentar Majima gera esse mesmo sentimento em seu coração (e outras partes do corpo, mas esse é um site de família). O fato de ser um dos poucos personagens abertamente LGBTQ+ da série também alimenta sua fama.

No contexto maior da mitologia da série, é depois de conhecer Nishitani que Majima decide por se tornar o surtado obcecado pelo “Kiryu-chan”, papel que assume na maioria de suas aparições — porém que não é tão natural a ele quanto um dia foi ao yakuza maluco que conheceu nos anos 1980. Essa é uma briga sobre um ponto que literalmente mudou o curso da história, mesmo que de forma retroativa aqui no mundo real.

9 - Kazuma Kiryu vs Takumi Someya (Yakuza 6: The Song of Life)

Yakuza 6: The Song of Life foi inicialmente pensado como o fim da história do protagonista Kazuma Kiryu. Nos anos seguintes, veríamos a controversa anulação desse conceito; apesar disso, é importante discutir este capítulo da maneira que foi concebido. O antagonista que mais representa a ideia de que Kiryu já era pré-histórico em 2016 é Takumi Someya, um yakuza que enxerga o próprio trabalho como puro negócio.

Uma anedota pessoal, agora: foi quando eu ouvi o YouTuber irlandês Super Eyepatch Wolf falar sobre essa luta específica que meu interesse em Yakuza surgiu pela primeira vez. Embora presa em uma narrativa que não é das mais inventivas na série, o conceito por trás é novo. Já se faziam 11 anos de socar as caras de mafiosos desprezíveis com tatuagens intrincadas (irezumi) nas costas; por isso, o que mais surpreende sobre Someya é que ele não quer nenhuma tinta ali.

A decisão de deixar o corpo do personagem em branco, ironicamente, é uma mensagem alta e clara. Sua existência em um substrato social que tanto alega valorizar a honra, especialmente pelo meio das irezumi (que representam a pessoa que um yakuza deseja se tornar: por exemplo, o dragão que Kiryu carrega, quando tatuado, refletia sua ânsia pelo topo da cadeia alimentar), é marcada pela falta de vontade de “vestir a camisa”: um meio para um fim, nada mais. Ter um significante de associação com o crime na pele seria péssimo para os negócios.

Por ironia, várias horas de jogo depois, Kiryu se atracará com um homem a quem a posição de yakuza foi negada, mas que a cobiça tanto que decidiu ir atrás de uma irezumi mesmo assim. Someya e este tal personagem, cujo mero nome estragaria a surpresa do final, são visões radicalmente opostas, capitalismo e idolatria. O Dragão de Dojima discorda das duas — e demonstra seu argumento com os punhos, como sempre. 

8 - Taiga Saejima vs Goro Majima (Yakuza 4)

Voltemos a Majima por um momento: depois de três jogos fazendo o papel de maluco (e um período de depressão profunda quando o Kiryu-chan foi embora), Yakuza 4 decidiu que daria dimensão ao personagem. Isso acontece pela introdução de Taiga Saejima, seu irmão de juramento (kyodai) que acaba de fugir de uma sentença de 25 anos de cana, a fim de não receber a pena de morte. 

Quando Majima e Saejima se encontram de novo, é sob a noção (falsa) de que o Cachorro Louco de Shimano havia traído seu amado kyodai lá atrás, no incidente que levou à prisão de Saejima. Os dois caem na porrada com uma boa quantidade de instinto assassino, no mesmo centro de beisebol que costumavam frequentar juntos. O objetivo, apesar de tudo, é que consigam se entender: que tipo de pessoas são os dois agora, marcados por tanta violência e perda ao longo dos anos? É possível que voltem a ser amigos?

Spoiler: sim. É na porradaria que eles conseguem se comunicar, e, mais importante, perdoar um ao outro. Aqui renasce a dupla mais mortífera da série — quem jogou um certo RPG de turno, que pode ou não aparecer nesta lista mais tarde, sabe o quão assustador é ter de lutar contra os “Jimas”, mesmo quando não usam sua força total. Vida longa aos dois! 

7 - Kazuma Kiryu vs Rikiya Shimabukuro (Yakuza 3)

Em Yakuza 3, cansado da vida do crime, Kiryu se muda para Okinawa e funda o orfanato Glória da Manhã, cuja arquitetura e localização na frente da praia trazem à mente o filme Sonatine (Adrenalina Máxima), de Takeshi Kitano. Assim como em sua aparente inspiração cinematográfica, a paz de espírito do protagonista e sua nova família não dura muito: a yakuza local bate à porta mesmo assim. 

Esta é representada pelo jovem Rikiya Shimabukuro, que, apesar de ter apenas 20 anos, já é o capitão da Família Ryudo, um grupo pequeno, mas de grande influência na comunidade. Sendo o primeiro chefão de Yakuza 3 após a chegada de Kiryu em Okinawa, Rikiya age como o “porteiro” dessa seção do jogo: ao derrotar a Víbora Lutadora, como é chamado, o Dragão de Dojima prova que merece continuar existindo naquele espaço.

Vencido, Rikiya se torna o melhor amigo de Kiryu por estas bandas: companheiro leal, o chama de “aniki” (irmão mais velho, título de respeito entre yakuza) para cima e para baixo, seguindo o Dragão por qualquer conflito que apareça e defendendo o Glória da Manhã junto do resto da Família Ryudo (a terra do orfanato está bem no meio de dois planos bilionários de construção, que atraem o governo, o submundo e até a CIA para tentar tirar o novo lar de Kiryu dali). 

A segunda vez que a dupla troca socos também é notável — não é por raiva, mas por amor. O “Máscara de Dragão” e o “Ricky Mask” se encontram em um ringue de brincadeira, dedicados a dar um belo show para o pequeno Taichi, cujo sonho de ser lutador livre foi derrubado após descobrir ser asmático (o que, na verdade, foi um erro médico, por sorte). Quem não curte 15 minutos de porrada sem perder a amizade? Agora é ver se o Kiwami 3 e seu controverso novo Rikiya farão jus à dinâmica…

6 - Tatsuo Shinada vs Daigo Dojima (Yakuza 5)

Dependendo de quem está falando, o polêmico Yakuza 5 pode ser considerado o melhor ou o pior jogo da franquia. Ou é um espetáculo camp, ou é uma bagunça completa. Uma coisa, contudo, é fato: as sequências de luta são das mais bombásticas já oferecidas pelo Ryu Ga Gotoku Studio. Entre elas, se destaca a vez em que o ex-jogador de beisebol e atual jornalista da vida noturna Tatsuo Shinada, personagem que só aparece no quinto título, saiu na mão com o sexto presidente do Clã Tojo, Daigo Dojima.

Nem sempre uma troca de socos em Yakuza representa inimizade; por exemplo, aqui, o objetivo é fazer com que Shinada tome de volta o controle da própria vida. Afundando em dívidas e com o nome manchado após uma série de acusações falsas contra sua finada carreira de atleta, coisas envolvidas em esquemas muito maiores do que consegue conceber, ele recebe uma oferta do ex-colega de ensino médio Daigo: pegue essa quantia absurda de dinheiro e ganhe uma segunda chance.

Nosso amigo beisebolista, contudo, é orgulhoso demais para tanto; ele já perdeu tudo porque alguém armou contra ele, então ganhar a vida de volta só pelo dó que partiu de outra pessoa, em sua visão, não faz sentido e o humilharia ainda mais. É um capítulo que representa Shinada se tornando senhor de seu destino, depois de tanto tempo sendo fantoche de outros. O começo do fim de um excelente arco.  

5 - Ichiban Kasuga vs Yosuke Tendo (Yakuza: Like a Dragon)

Yakuza: Like a Dragon, reboot suave da série (até não ser mais), tem dois chefões finais. O último de todos serve como uma forma de terminar a narrativa e é um combate bem simples; é no penúltimo que o desafio técnico mora de verdade. É a luta de Ichiban Kasuga e amigos contra Yosuke Tendo, um personagem que não é dos mais únicos por si só, mas brilha no mano a mano e nos fornece um dos combates obrigatórios (isto é, descontando os superchefões do clã Amon) da história da série.

Nos RPGs de turno japoneses, existe uma tradição: o jogador frequentemente vai acabar matando um deus, por motivos religiosos e políticos destrinchados em um excelente vídeo do americano Moon Channel. Tendo é o equivalente disso no enredo mais ou menos fora do sobrenatural do sétimo Yakuza. Seu sobrenome literalmente significa “filho dos céus”, e ele com certeza tem a força para carregar tal título: um ex-boxeador, ele se vê envolvido com a Aliança Omi, eterna rival do Clã Tojo, e usa sua posição na yakuza para ser tão cruel quanto seu coração deseja.

Para nós, do outro lado da tela, o que isso representa é uma batalha tensa. Tendo é o único oponente; ele não chama mais capangas, apesar de estar num quatro-contra-um, porque sequer precisa deles. Sozinho, o rombo que é capaz de fazer nas defesas do grupo de Ichiban já é colossal. Quem passou por essa luta com certeza se lembra da “Mão Direita de Deus”, o ataque que arranca todo o HP de qualquer personagem que tenha a infelicidade de recebê-lo. 

Por tudo o que representa — a teimosa velha guarda da yakuza, a corrupção capitalista, a arrogância de brincar de Deus —, esses punhos de ferro fazem sentido. Melhor ainda é conseguir derrubar o cara de vez. 

4 - Takayuki Yagami vs Família Matsugane (Judgment)

A escolha menos ortodoxa da lista vai para o jogo menos ortodoxo da série. No segundo capítulo de Judgment, spin-off de mistério de assassinato que ainda se passa em Kamurocho, o detetive e ex-advogado Takayuki Yagami é emboscado pela Família Matsugane, um pequeno grupo yakuza com o qual tem uma relação próxima e complicada. 

Depois de ser obrigado a ajudar a defender o capitão e “irmão mais velho” Kyohei Hamura no tribunal, Yagami se torna convencido de que os tais crimes não param por ali; embora seja inocente naquela acusação específica, Hamura com certeza está envolvido em algum tipo de esquema muito maior. A resposta vem no soco: o capitão recria todas as circunstâncias sob as quais teria cometido aquele assassinato original (que pouco tinha a ver com ele), finge que vai matar Yagami de vez, e coloca toda a responsabilidade de realmente o fazê-lo nas costas de seus capangas, enquanto assiste tranquilo, sentado em uma cadeira.

É uma luta que tem todo o peso narrativo das conspirações mais mirabolantes da franquia — apesar de, em seu cerne, se tratar de uma briga num beco entre uma meia dúzia de delinquentes e um civil, nada que preocupe muita gente. Judgment brinca com as expectativas do resto de Yakuza e aplica o espetáculo a escalas muito menores, algo que seguirá fazendo com maestria por todo o jogo.

3 - Kazuma Kiryu vs Kosei Shishido (Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name)

Iniciamos agora o pódio; peço perdão, mas, spoilers, o top 3 é todinho de Kiryu. Na verdade, minto: o terceiro lugar vai para um tal de “Joryu”, não sei se o conhecem, que fecha o sem-sal Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name com uma luta maravilhosa contra o antagonista-surpresa Kosei Shishido, vivido pelo gigante Yasukaze Motomiya.

Muitos dentro do fandom de Yakuza se referem a este combate como uma versão melhorada do chefão final do quinto jogo, um cara sem qualquer peso narrativo que recebeu uma briga muito mais estilosa e envolvida do que tinha qualquer direito de participar. Shishido traz o interesse que faltava: assim como Someya, ele é um dos únicos personagens dentro da yakuza que não tem respeito algum pela lenda do Dragão de Dojima, que se ressente do homem por ser um relativo “nepo baby” e não empatizar com os sofrimentos de seu oponente.

É um contraponto refrescante a toda a mitologização de Kiryu, por anos reverenciado como o “Quarto Presidente” do Clã Tojo, independentemente de ter desistido do título meros minutos depois de recebê-lo. Pena que o personagem é expulso da história sob termos terríveis: depois de derrotado, vira escravo de uma certa organização junto do próprio estuprador. Talvez seja isso o que o curso da história faz com quem vai contra seus heróis.

2 - Kazuma Kiryu vs Daisaku Kuze — no esgoto (Yakuza 0)

Se é para qualquer jogo ter duas entradas nesta lista, não poderia ser outro além de Yakuza 0. A intenção é representar ambos os protagonistas, além de, sejamos francos, puxar um pouco o saco do título mais famoso da série — em todo caso, não listar pelo menos um dos trocentos encontros com Daisaku Kuze teria sido um erro crasso. 

Interpretado pelo famosíssimo ator de filmes de yakuza Hitoshi Ozawa, Kuze é um dos antagonistas mais icônicos da série. Há vários motivos para tanto: sua introdução magnífica, seu status como rival e “mentor” (entre várias aspas) do futuro Dragão de Dojima, sua excelente música-tema Pledge of Demon… O principal, contudo, é o fato de que esse homem teimoso protagoniza cinco lutas contra Kiryu ao longo do jogo. Ele não sabe quando parar.

De fato, é essa filosofia que Kuze expõe verbalmente quando caça nosso menino até os esgotos de Tóquio com uma motocicleta e um cano de metal: “o jogo da yakuza não é que nem o boxe”, diz, fazendo referência a seu passado no ringue. “Quem perde não é quem vai à lona. É quem não consegue aguentar até o final.” E aguentar é o que os dois fazem: esse combate emblemático não está nem perto de ser o último entre esses personagens na história de Yakuza 0. Com certeza, contudo, é o melhor deles — só não pense muito no cheiro.

1 - Kazuma Kiryu vs Akira “Nishiki” Nishikiyama (Yakuza Kiwami)

Para fechar a lista, a briga mais clássica e emblemática da saga de Kazuma Kiryu: seu confronto final contra Akira Nishikiyama, o Nishiki, no último andar da Millennium Tower, lá no Yakuza original de 2005. Aqui, contudo, selecionamos especificamente a versão do remake Yakuza Kiwami, pois ela conta com a peça final que faltava à primeira tentativa: contexto. 

Além de trazer a história do progenitor da franquia a consoles modernos e adicionar uma série de novos minigames e missões secundárias, Kiwami concede a Nishiki cerca de 20 minutos de cutscenes, apresentadas pouco a pouco durante o enredo, que detalham sua história de fundo, motivações e a raiz de seu ódio pelo outrora melhor amigo Kiryu. 

Somadas à aparição do personagem em Yakuza 0, que se passa logo antes de Kiwami, conseguimos uma ótima imagem da psiquê de um antagonista que já foi considerado fraco e pouco desenvolvido. Nishiki não é o único que se beneficia: a Família Kazama inteira, afetada pela prisão injusta de Kiryu, ganha novas dimensões quando conseguimos ver como seus membros trataram o filho mais ignorado do chefe Shintaro Kazama. 

O resultado é uma luta final que não é culpa, estritamente, de nenhum dos dois; é do jeito que ambos foram tratados, o “menino de ouro” e a “vergonha do pai”. É um verdadeiro arco de redenção (apesar de fazer o contrário de redimir Nishiki dentro da história); o trabalho feito aqui traz a esperança de que Yakuza Kiwami 3 e seu spin-off Dark Ties, a serem lançados em fevereiro de 2026, façam o mesmo por um certo vilão principal de presença reduzida… Dedos cruzados!

E você? Qual sua luta favorita de Yakuza? Achou que faltou alguma? Discorda de alguma escolha? Deixe sua opinião nos comentários!

Revisão: Thomaz Farias

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Hiero de Lima
Jornalista formada pela PUC-SP e eterna apaixonada por videogames, especialmente aqueles japoneses de mistério. Sempre tem alguma redação gigante para escrever depois que zera um Yakuza.
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