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Análise: Yakuza 4 HD (PS4) é repleto de tentativas falhas de prender o interesse dos jogadores

Superficialmente ambicioso, Yakuza 4 busca, a todo custo, chocar o jogador com sua narrativa, enquanto se afoga na reutilização de conteúdo e repetitividade em sua ambientação e mecânicas.


Em seu quarto título, a série Yakuza amadurece tecnicamente, com seu time de desenvolvimento já familiarizado com o hardware da época, o PS3. Com melhores animações, modelos 3D, cutscenes, texturas, há um claro progresso visual aqui. Entretanto, apesar deste progresso, a Sega esqueceu o resto da bagagem essencial para a construção de um bom jogo.

Os poderosos heróis enfrentam um roteiro desinteressante 

Um dos principais elementos deste jogo, que pode ser considerado essencial até para a sua estrutura de design, é o fato do “4” no título não se referir apenas a uma sequência. Em Yakuza 4 temos quatro personagens jogáveis: o protagonista da franquia, Kazuma Kiryu; Shun Akiyama, um desleixado agiota que teve a sua vida transformada por um acaso; Saejima Taiga, condenado à pena de morte por um massacre; e Masayoshi Tanimura, um detetive da polícia que busca saber a verdade sobre a morte de seu pai.

Nesse mesmo sentido, todos os protagonistas da história partem de uma premissa interessante. No entanto, os esforços palpáveis e artificiais que o roteiro faz para que elas se conectem retiram consideravelmente a credibilidade da narrativa. Sabe-se que há um problema quando a presença de Kiryu nos acontecimentos de Yakuza 4 não parece natural, mas sim estranha e mandatória. É como se “ele precisasse estar lá, afinal é a cara da série.” mesmo não encaixando muito bem nas ocorrências e reviravoltas.

















Além disso, os 17 capítulos que constituem o jogo estão regados de conveniências incômodas no roteiro, utilizadas à exaustão, bem mais do que qualquer outro Yakuza. Personagens que convenientemente estão com coletes a prova de balas; armas que não estão com balas “reais,” mas sim de borracha; sobrevida de personagens após tomarem vários tiros. 

Isso cria uma descrença incrível com o drama e as reviravoltas da trama, afinal o que acontece não convence de forma alguma. Mortes desnecessárias, traições que não fazem sentido algum… os escritores parecem buscar o choque a qualquer custo aqui, mas se esquecem de que, para que aconteça qualquer impacto, é necessário que o público esteja envolvido no que se passa na tela.

Uma variedade insatisfatória

Tratados os problemas de escrita do título, o estúdio acerta na jogabilidade, mas de forma parcial. Cada um dos quatro personagens jogáveis possui o seu próprio estilo de combate. Kiryu conta com o clássico e balanceado estilo de luta dos jogos anteriores, misturando socos e chutes. Saejima foca em ataques brutos e lentos, enquanto Akiyama possui ataques de chutes ágeis. Tanimura é um personagem lento e focado no uso correto dos especiais e esquivas, tendo mecânicas mais “técnicas,” por assim dizer. 

Essa variedade que o jogo traz é bastante bem-vinda, e, de fato, cada personagem traz uma experiência de batalha distinta, o que ajuda a quebrar a monotonia dos capítulos repletos de caminhada e tutoriais. 

Enquanto o jogo ganha com a variedade dos estilos de combate, ele peca na dificuldade, sendo o mais fácil de toda a franquia. Os inimigos mal reagem contra os ataques, fazendo com que a maioria das batalhas se resolvam com o famoso button mashing, até mesmo as contra chefes. Embora nos outros jogos fosse necessária a utilização de alguns itens de recuperação nas batalhas, em Yakuza 4 essas ações são reduzidas a raras ocasiões. 

Fugas e dojos tentam dar vida a um ambiente já conhecido

Da mesma forma que os combates principais, as perseguições introduzidas em Yakuza 3 estão de volta, mas com uma novidade: as fugas. Agora, além de perseguir os inimigos, mesmo que com poucas mudanças em relação ao título anterior, também existem fugas, em que, desviando de pessoas e demais obstáculos, o jogador faz a sua escapada. As perseguições e fugas se tornam uma importante forma de diversidade durante a progressão dos capítulos e são bastante bem-vindas, principalmente nos usos mais criativos que o título faz delas durante a história.

Os tutoriais em Yakuza 4 se tornam, mais do que nunca, uma prática incorporada frequentemente na progressão da história principal. Diversas são as vezes que o jogador terá que passar por sessões introdutórias, na forma de tutorial, de outros aspectos do jogo, misturando com partes da narrativa. Por exemplo, para introduzir e ensinar o jogador a interagir com o minigame de treinamento de hostess, o jogo dedica metade de um capítulo inteiro. Para jogadores mais apressados e exigentes, ou até mesmo com uma tolerância menor para fillers, esses segmentos podem ser problemáticos.

Apesar de todo o jogo se passar apenas no já conhecido bairro de Kamurocho, o que é uma pena, cada personagem possui suas especificidades na interação com o mapa. Akiyama, como agiota que é, possui sidequests tão exclusivas quanto desinteressantes sobre os seus vários clientes. Saejima, como um criminoso, tem que se locomover pelo subterrâneo (o que pode ser extremamente irritante quando se deseja chegar a algum lugar específico de forma rápida), mas, mesmo assim, o esforço de se construir uma Kamurocho subterrânea, como estacionamentos e esgotos repletos de marginais, é um esforço louvável. 

Diante disso, Tanimura, como detetive, também tem missões específicas, como procurar por criminosos na cidade. Essa atividade o que quase sempre se resume a: ir para o local onde o meliante está, que é mostrado em uma caixa de texto; persegui-lo; e, por fim, capturá-lo — fim, missão cumprida. A repetitividade é real, e, o que pode parecer uma “montanha de conteúdo,” na verdade se disfarça de diversas missões secundárias parecidas, tanto em execução quanto em premissa. 

Novas ideias divertidas vs. reutilização indiscriminada

A repetitividade não se limita às missões, Yakuza 4 também traz de volta diversos minigames com poucas alterações, como baseball, mahjong, shogi, treinamento de hostess, etc. No entanto, os minigames  novos de fato são bastante divertidos, como os jogos de ping pong, e, mesmo se tornando enfadonhos com facilidade, ainda são legais de se jogar de vez em quando. O karaokê também possui grande variedade de músicas, inclusive com a adição de uma das mais épicas de toda a franquia, “Machine Gun Kiss.” E, apesar de confusos no começo, os jogos de pachislot, as máquinas de caça-níquel japonesas misturadas com videogames, também podem ser um passatempo interessante.

Embora os novos minigames sejam sólidos, o que rouba a cena é o de administração de um dojo, na campanha de Saejima. O objetivo é treinar discípulos por meio do estabelecimento de rotinas de exercícios, aumentando seus parâmetros e enviando-os para torneios. Ao ganhar esses torneios, o dojo é premiado com prêmios em dinheiro, utilizados para melhorar a sua estrutura. Mesmo parecendo simples no papel, o jogo pode ser tão viciante quanto um simulador de negócios convencional.

A união de uma premissa intrigante com tentativas falhas de se manter interessante

Em conformidade com  o que se espera desta nova versão, o jogo roda a 1080p e 60fps. Contudo, essas alterações não se destacam tanto quanto no jogo anterior, Yakuza 3, por também não possuir alguns de seus aspectos mais primitivos, como o menor realismo dos modelos dos personagens nas cutscenes, baixa qualidade das texturas, e outros aspectos visuais. Mesmo assim, as cutscenes e o trabalho de captura facial do estúdio continuam impecáveis, apresentando as cenas em sua melhor forma até hoje.

Em suma, Yakuza 4 é um jogo que será tão deslumbrante para novatos, em termos de conteúdo, como qualquer outro da série. Entretanto, jogadores veteranos poderão se sentir desmotivados para explorar o que o jogo tem a oferecer, pois muito do que está presente aqui é semelhante ao que já foi feito. Com um claro problema de repetição, que compromete o interesse do jogador em se aprofundar em seus elementos principais ou secundários, o quarto título da franquia ameniza a sensação de familiaridade extrema, com os icônicos personagens principais e a variedade que trazem para o jogo, apesar de estarem imersos em um roteiro previsível, inconsistente e artificialmente conectado.










Prós

  • Os quatro protagonistas jogáveis são carismáticos e trazem uma variedade muito bem-vinda para o combate;
  • Interação com a cidade é consideravelmente diferente sob a perspectiva de cada personagem;
  • As cutscenes se aproveitam majestosamente da melhora na resolução;
  • Adições sólidas de minigames, como o de administração de um dojo,  mostram que a Sega ainda tem muita criatividade para depositar em Yakuza;
  • Uso criativo da mecânica de fuga durante a campanha é um alívio para as sessões de exposição aprofundada de aspectos da história;

Contras

  • Narrativa inconsistente, que busca o choque em detrimento da consistência;
  • Artificialidade da conexão de alguns personagens à história, o que fere a credibilidade da trama;
  • O roteiro faz uso constante de conveniências narrativas para prosseguir com a história;
  • Os minigames que retornam possuem pouquíssimas alterações;
  • Dificuldade drasticamente reduzida em relação aos outros títulos;
  • Clamando por uma nova área, Kamurocho possui poucas novidades e, mesmo com a existência do subterrâneo, é o mesmo lugar de sempre;
  • A reutilização da ambientação traz uma sensação de que já se conhece pelo menos metade do que é explorável no mapa;
  • Mesmo com muito conteúdo, uma parte considerável dele se constitui de tarefas repetitivas e muito similares entre si.
Yakuza 4 HD - PS4 - Nota: 6.5

Revisão: Farley Santos
Análise produzida com uma cópia digital cedida pela Sega

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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