Algo que sempre me impressionou no ramo caseiro de criação de jogos, são os ROM Hacks. Seja para adicionar alguma mecânica nova, mudar coisas mínimas como arte ou mesmo montar um jogo inédito em cima de uma base, esses trabalhos nos dão novas formas de experimentar algo familiar.
Na última parte, foquei em fangames e projetos de portar títulos antigos para PCs atuais. Nesta continuação, vamos falar sobre esses esforços artesanais com Sonic e o que a comunidade aprontou para os jogadores.
Time Sonic e Chaotix do Mega Drive (Sonic Classic Heroes)
ROM hack de Sonic 2 que une tanto a campanha dele quanto a do primeiro título do Mega Drive num pacote só. A diferença é que jogamos as aventuras acompanhado do trio Sonic, Tails e Knuckles ao mesmo tempo, podendo trocar entre eles a qualquer momento. Apesar de dar para utilizar os personagens em lançamentos oficiais mais recentes como Sonic Origins, alternar em tempo real dá uma abordagem alternativa para a exploração.
Como se não bastasse jogar com o Time Sonic, o Time Chaotix também é jogável, com Espio, Charmy e Vector reprisando suas habilidades de Knuckles’ Chaotix. Além disso, vários elementos de Sonic 3 & Knuckles, como os escudos elementais, foram adicionados, assim como o Golden Shield de Sonic 3D Blast. É uma das melhores formas de revisitar as origens do ouriço.
Enfrentando demônios da noite (Hellfire Saga)
Qual seria o resultado de juntar o blue blur e temáticas de horror? Hellfire Saga é a resposta mais fácil disso. Mesmo sendo criado nas bases de Sonic 3 & Knuckles, a Red Miso Studio criou uma aventura totalmente inédita, com um novo trabalho de áudio, história, visuais e mecânicas.
Unindo elementos de Castlevania, Ghost ‘N Goblins e outras franquias da mesma temática, é bem interessante ver o herói correndo em ambientes pouco convencionais à série, como florestas mal assombradas e cidades infernais. As novas mecânicas também levam a temática em consideração, como a ideia de substituir os anéis por uma barra de vida, além das batalhas contra chefes que são bem únicas.
Se deseja uma nova experiência com a base de Sonic e, especialmente, uma ambientação bem singular e amedrontadora, Hellfire Saga é um dos melhores nessa proposta.
Um clássico da cena de ROM hacks (Sonic 1 Megamix)
Bem conhecido entre os aficionados em ROM hacks, Sonic 1 Megamix pega o primeiro título de Mega Drive e cria novas fases em cima, também unindo elementos de Sonic 2 e 3. A diferença é que os personagens principais — Sonic, Shadow e Mighty — apresentam habilidades especiais que deixam a velocidade da jogabilidade mais frenética que os jogos originais.
Com level design interessante, embora caótico, e bons remixes musicais de várias obras do Mega Drive, o Team Megamix criou uma base sólida, mas que, infelizmente, não foi finalizado. Mesmo assim, o que tivemos é uma das aventuras mais legais de apenas pegar e jogar.
Correndo de anéis de cebola (Sonic 2 XL)
Sendo mais uma brincadeira com um conceito que algo para se levar a sério, Sonic 2 XL transforma os anéis tradicionais da franquia e os transforma no pior pesadelo para o ouriço: cebolas empanadas. Cada 5 anéis obtidos engorda Sonic, dificultando sua mobilidade até ficar totalmente estático por obesidade mórbida, o que resulta na perda de uma vida.
Sonic 2 fica bem difícil com esse detalhe para lidar, especialmente em sessões que há muitos anéis em sequência num momento de velocidade, no entanto, existe uma forma de lidar com a gordura acumulada correndo ou pegando monitores especiais. É um pouco irritante, porém dá para se divertir com a ideia inusitada.
Uma conquista técnica para o 16 bits (Sonic The Hedgehog: The Next Level)
Este também se trata de uma prova de conceito, contudo, de um mais técnico. Sonic the Hedgehog: The Next Level é um ROM hack de somente uma zona, feito em cima de Sonic 1, mas apresenta uma fase completamente nova e psicodélica, mecânica de gravidade e várias sessões de velocidade alucinantes.
O que impressiona aqui é o trabalho na apresentação. A animação do ouriço correndo é absurdamente fluida, os cenários são super detalhados, o background conta com várias camadas de parallax, além de haver alguns efeitos de cores e distorção bem raros no Mega Drive.
Como se não bastasse, a trilha sonora é um showcase do quão poderoso pode ser o hardware de som do 16 bits da Sega, carregando conversões de músicas eletrônicas dos anos 1980 e 1990 para o videogame. É realmente uma pena que MarkeyJester não tenha evoluído mais essa ideia, apesar disso, o que tivemos já é nada menos que impressionante.
O multiverso inusitado (Yoshi/Mega Man X in Sonic 2)
Há diversas modificações que colocam personagens nos jogos de Sonic, mas dois deles merecem um destaque especial. O primeiro adiciona Yoshi como personagem jogável, que carrega o “Baby Sonic” na carcunda e apresentando as mecânicas de Yoshi Island, ou seja, engolir inimigos para transformá-los em ovos e os atirá-los. E, claro, ele vem com seu pulinho flutuante e a clássica bundada para ajudar contra chefes.
Já Mega Man X é o robozinho azul do Super Nintendo no lugar do ouriço azul, utilizando sua X-Buster para disparar nos inimigos, tendo a possibilidade de grudar na parede, além do sempre útil avanço rápido (dash). Como se não bastasse, o bombardeiro também obtém habilidades ao derrotar chefes, e podemos escolher a ordem das fases livremente por isso.
Claro que o level design de Sonic 2 não é totalmente compatível com a forma de jogar desses personagens, porém só o esforço de programação de colocar ambos os heróis num lugar completamente diferente com a jogabilidade de origem já vale uma olhada.
O clímax em sua versão definitiva (Sonic 3 Complete)
Esse é mais básico. Sonic 3 & Knuckles é uma junção funcional, já Sonic 3 Complete adiciona algumas mínimas opções para quem é atento a detalhes. Dá para restaurar as músicas e conteúdos do 3 original na campanha toda; utilizar as músicas da beta de Ice Cap, Carnival Night e Launch Base; e até acessar o minigame Blue Sphere no menu.
Aliado a consertos de bugs, pequenos detalhes visuais e a ordem da Flying Battery pós Carnival Night — como planejado originalmente — torna essa hack a maneira definitiva de jogar esse clássico no hardware original.
Sem tempo para ficar parado (Sonic Boom)
Hack de Sonic 2 com uma única zona, o foco de Sonic Boom é totalmente na velocidade. Além de ser consideravelmente mais rápido do que se espera, o design das fases é criado para premiar aqueles que conseguem passar pelos inimigos e armadilhas com bons reflexos, sem quebrar o ritmo.
É uma experiência que impressiona de rodar no Mega Drive, já que são raros os momentos de slowdown. A última fase em especial é catártica por precisarmos fugir de uma parede de fogo nos perseguindo, e é tão acelerado que muitas vezes a câmera nem consegue acompanhar o ouriço adequadamente. Curto, mas bem divertido!
Zoando Sonic 4 de forma inusitada (Sonic 2 Dimps Edition)
Hack satírico dos jogos da Dimps, desenvolvedora de Sonic 4 (e dos jogos de portáteis da Nintendo), Sonic 2 Dimps Edition emula como o clássico do Mega seria desenvolvido por eles. Além da física alterada para parecer com o título de 2010, speed boosters ficam espalhados desnecessariamente pelas fases, o homing attack é obrigatório para passar de certas sessões, assim como a música e os efeitos sonoros são estranhos.
Claro que é um título que escracha o trabalho da Dimps, já que alguns dos jogos mais divertidos da série são de autoria do estúdio, mas é engraçado um clássico com os defeitos que amaldiçoaram a iniciativa episódica do azulão.
E ainda há mais!
Como é uma cena existente desde o início da internet, há dezenas de ROM hacks saindo anualmente. A qualidade e complexidade varia, contudo, dá para perder muitas horas explorando uma biblioteca numerosa de novas aventuras do Sonic — algumas até melhores que vários títulos oficiais da Sega. E claro, abordarei mais algumas experiências em partes futuras.
Revisão: Thomaz Farias