Catto’s Post Office, trabalho de estreia dos australianos In Shambles Studio, não se presta a resolver esse debate. De fato, talvez sua mera existência como artefato dentro do controverso gênero cozy game possa servir de argumento ao lado do “não”: tudo aqui é pensado para não fazer a audiência pensar em nada além de “ownnn, gatinho fofinho”. Quem quiser ter raiva da positividade vazia do jogo pode o fazer com tranquilidade — porém não é esse o tom desta análise.
Aqui, gatinho, gatinho
Nosso protagonista é o titular Catto, um frajolinha que trabalha de carteiro. Hoje é o aniversário dele, mas ninguém na diminuta cidade onde mora parece ter se lembrado disso: todo mundo segue trabalhando como sempre, e nosso amigo felino acaba tendo de fazer o mesmo.
O trabalho de Catto — e, por extensão, o do jogador — é simples: entregar pacotes pela vizinhança. Há um punhado de coisas a mais para se fazer, como procurar por patos colecionáveis ou jogar latas espalhadas pela rua no lixo, mas nada necessário para progredir a curta narrativa.
Também não há um “game over”; no máximo, a tarefa mais complexa envolve lembrar alguma senha. No entanto, o jogo é bem leniente e deixa adivinhar várias vezes em seguida (uma das conquistas envolve errar de propósito, inclusive).
Catto’s Post Office funciona melhor como o sandbox simples que é: sair fazendo as tarefas opcionais é muito mais divertido do que a secura da campanha principal. A comparação mais imediata seria com outros jogos de gatinhos, esse subgênero tão popular dentro do cozy game, contudo, na prática, é mais parecido com um game de outro canto do reino Animalia: a trilogia Frog Detective, que retrata as aventuras igualmente curtas de, bem, um sapo detetive.A diferença é que, por lá, a comédia nonsense e os temas sutis fizeram o Detetive Sapo ter perdurado por mais tempo do que o de uma daquelas risadas que é só um arzinho saindo pelo nariz. Aqui, em contraste, todo o humor vem das piadas que todo dono de gato já conhece como a palma da pata: entrar em caixas, quebrar coisas “de propósito”, miar para o nada etc. É uma produção cuja maior ambição é perguntar “e se você fosse um gato?”, algo que diversos outros títulos no mercado já fazem.
Veja o pires de leite meio cheio
Por outro lado, quando encaramos Catto’s Post Office pelos próprios méritos, o game certamente cumpre com o que promete. É difícil gastar energia o suficiente para se irritar com um joguinho tão simpático e tão curto. A identidade visual ajuda a vender o charme: a vizinhança de Catto e amigos felinos tem o charme low-poly de uma construção feita de plastilina, brilhante, arredondada e amigável.
O In Shambles Studio também acerta no escopo: tendo uma base pouco ambiciosa, seria fácil se ressentir da empreitada se ela durasse tempo demais, mas o tempo do jogador é plenamente respeitado. No total, a brincadeira dura menos de uma hora e requer, no máximo, um único replay caso o jogador queira a desejada marca de 100% no Steam.
No fim das contas, este é um jogo que entende seu lugar no mundo e sabe bem quem quer agradar. Talvez não seja o primeiro cozy game a se recomendar, porém essa não parece ser a intenção do projeto. Temos aqui claramente um trabalho feito por amor, que chega até a incluir as fotos dos gatos que o inspiraram no topo dos créditos — não há jeito de nutrir muita raiva por isso.Quem é a coisa mais fofa da mamãe?
Catto’s Post Office não é daquelas obras que vai morar no seu cérebro por meses. No máximo, gera uma tarde divertida e uma risadinha de canto — e isso é tudo o que precisa fazer. Sua falta de substância não é exatamente um ponto negativo, mas quem gosta de narrativas complexas e gameplay intrincada talvez deva ir atrás de outro título.
Prós
- Explorar a cidade é divertido;
- Gráficos agradáveis combinam com a premissa;
- Não dura mais do que deveria.
Contras
- Comédia se apoia demais em clichês relacionados a gatos;
- Pouco memorável em linhas gerais.
Catto’s Post Office — PC — Nota: 6.5
Revisão: Thomaz Farias
Análise produzida com cópia digital cedida pela CULT Games








