Gatos são pop. Eles conquistaram cada vez maior participação na cultura popular de nosso século e nos videogames não poderia ser diferente. Há jogos de gatos de todos os tipos: gatos piratas (Cat Quest III), gato em armadura robótica (Gato Roboto), gato sanguinolento (Gori: Cuddly Carnage), gatos escondidos (A Castle Full of Cats), café para gatos (Calico), gato em mundo de robôs (Stray), gato detetive (Blacksad), gato chato (Bubsy), lesmas-gatos (Rain World) e até mesmo - pasmem - sátira política com gato de presidente dos EUA (Socks the Cat Rocks the Hill).
Há também jogo de gato comum, fazendo coisas de gato em uma cidade também comum (exceto pelos animais que conversam entre si): Little Kitty, Big City.
Um microcosmo urbano para um felino brincar
A ideia é prosaica, tranquila e confortável: guiar um gato perdido de volta para casa pelas ruelas, muros, quintais, lojinhas e becos de um subúrbio de cidade grande japonesa. Poderia ser uma tarefa simples, mas gatos e jogadores têm uma coisa em comum: por mais claro que seja o objetivo principal, eles se distraem e perdem o foco com qualquer sidequest que aparecer pela frente.A questão não é que o prédio onde o gato vive seja distante. Rapidamente, navegamos pelo pequeno mundo aberto até o local certo, mas, como o apartamento é lá no alto, a missão principal é comer quatro peixes para conseguir energia suficiente para a escalada de volta.
Com tantas coisas interessantes para fazer, a vida do gato doméstico não será tediosa (nem focada).
Há muitos colecionáveis e interações para completar, como miar para obter carinho, se esgueirar por buracos nos muros, revirar dez lixeiras, capturar passarinhos (só para soltar em seguida, sem nada drástico), distrair cachorros para passar por eles (e abrir atalhos no mundo do jogo), fazer pessoas que andam olhando para o celular tropeçarem, derrubar a esmo objetos frágeis, descobrir locais perfeitos para se aninhar em sonecas, colocar latas na lixeira reciclável, encontrar tranqueiras e patinhos perdidos, e, ainda, juntar uma grande coleção de 42 chapéus equipáveis, unicamente por motivo de fofura.Ou seja: fazer coisas de gato, mas de uma maneira mais interessante e orgânica que o que vimos em Stray, por exemplo.
Para pegar tudo isso, porém, o gato andará sobre muros, subirá em condensadoras, alcançará telhados, escalará trepadeiras e evitará as poças de água a todo custo. Os movimentos dele são elegantes (bem como devem ser), quase relaxantes, mas os pulos mais precisos podem ser problemáticos, com alguns resultados desajeitados que são incompatíveis com a agilidade que o felino apresenta na maior parte do tempo.
Para contornar isso, o jogo tem uma mecânica de Pulo Preciso, em que manipulamos uma linha tracejada para mirar bem a trajetória desejada. O sistema conta também com uma boa mira automática que detecta a beirada mais próxima com uma ótima margem de acerto em deduzir nossas intenções, o que evita que a parte de mirar bem se torne uma quebra maior do movimento fluido do nosso protagonista.
Para contornar isso, o jogo tem uma mecânica de Pulo Preciso, em que manipulamos uma linha tracejada para mirar bem a trajetória desejada. O sistema conta também com uma boa mira automática que detecta a beirada mais próxima com uma ótima margem de acerto em deduzir nossas intenções, o que evita que a parte de mirar bem se torne uma quebra maior do movimento fluido do nosso protagonista.
Entre tanuki e akitas inu
Nem tudo é “realista”, uma vez que o bichano pode conversar com outros animais maravilhosamente excêntricos em diálogos que, talvez, algumas pessoas achem que se estendem além do necessário. Tem o corvo interesseiro, mas leal; o camaleão que acha que é ilusionista, o cão (akita inu) exagerado; o gato pomposo e preguiçoso e,entre outros, o pato contador de histórias com déficit de atenção.O texto pode realmente parecer interrupção do fluxo da gameplay, mas o humor nonsense da (falta de) lógica desses bichos peculiares é também parte da essência de Little Kitty, Big City.
O realismo mágico fica ainda mais claro quando vemos uma tanuki que experimenta com distorções do espaço-tempo para transformar bueiros decorados em portais de viagem rápida (sim, bueiros decorados realmente existem no Japão).
Por sinal, a viagem rápida é bastante generosa para um mundo aberto tão pequeno e denso, contando com nove bueiros de teletransporte que respeitam nosso tempo e nos incentiva a engajar nas muitas missões e conquistas que envolvem encontrar itens espalhados por toda parte.
Sem se alongar mais que o devido, pode levar cerca de três ou quatro horas para o gatinho conseguir voltar até o apartamento de sua humana, chegando a cinco ou seis horas para completar todas as missões e mais um pouco para todas as conquistas listadas no menu.
Sem se alongar mais que o devido, pode levar cerca de três ou quatro horas para o gatinho conseguir voltar até o apartamento de sua humana, chegando a cinco ou seis horas para completar todas as missões e mais um pouco para todas as conquistas listadas no menu.
Não senti falta de mais conteúdo e, inclusive, dediquei-me a conseguir o troféu de platina no PS5 – isso sim pode parecer mais trabalho que diversão, especialmente quando vejo que preciso reciclar 100 latinhas e, ao final da aventura, só tinha feito isso com dez delas. Mesmo assim, é muito agradável passear por aquele bairro tranquilo na pele de um gato esguio de animações fluidas e ágeis.
Meu filho de seis anos também começou uma campanha para si mesmo e, enquanto escrevo esta parte, a minha menina de quatro anos está rindo alto enquanto joga no meu arquivo de salvamento finalizado e faz o trabalhador perseguir e expulsar o gato do canteiro de obras (espero que ela também esteja reciclando latinhas). Sim, a coisa toda também lembra Untitled Goose Game, mas com muito mais colecionáveis, plataforma e sem uma fração da agressividade dos gansos raivosos (um jogo ótimo para se divertir em co-op com crianças).
Gato pequeno, vizinhança concisa, diversão grande
Em seu pequeno e denso mundo aberto, Little Kitty, Big City tem diversão de sobra. O pacato subúrbio é um lugar bem planejado para que cada cantinho tenha algo a descobrir ou um animal comicamente excêntrico a conhecer, provendo uma liberdade relaxante em que o próprio ato de passear e se distrair com detalhes se torne um atrativo para querer ser um gato ágil, fofo e curioso, para quem o bairro é um grande e adorável parquinho.Prós
- Uma experiência relaxante de exploração e movimento na pele de um gato que passeia por sua vizinhança tranquila;
- O pequeno mundo aberto é muito bem estruturado, com conteúdo em toda parte e um bom sistema de viagem rápida;
- As missões secundárias envolvem outros bichos, adoravelmente excêntricos;
- Textos em português brasileiro.
Contras
- O pulo pode ser impreciso e, embora seja muito bem compensado por uma mecânica de mira, ela ainda representa uma quebra da fluidez que a gameplay apresenta em geral;
- A duração, de cerca de cinco horas para fazer tudo, pode afastar quem deseja uma experiência mais longa;
- Parte do público pode achar que os diálogos, mesmo divertidos, são muito longos para esse tipo de jogo que preza pelo movimento, liberdade e ludicidade;
- Algumas tarefas opcionais são trabalhosas e requerem fazer determinada ação mais vezes do que a diversão permite.
Little Kitty, Big City — PC/PS5/PS4/XSX/XBO/Switch — Nota: 8.5Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Double Dagger Studio
Análise produzida com cópia digital cedida pela Double Dagger Studio